sábado, 30 de julho de 2011

Ficção ou Realidade... O homem ainda tem medo de perder o controle sobre suas criações?

É incrível como o homem ainda teme perder o controle sobre as suas criações. Hoje tive acesso a duas matérias e mais a divulgação de um novo filme que trata do tema.

Na primeira matéria da BBC Brasil cientistas ingleses solicitaram ao governo que regras estritas sejam estipuladas para pesquisas genéticas envolvendo animais, não preocupados com seu bem-estar, mas sim que experimentos que envolvem transplante de células acabem criando anomalias, como macaco com a capacidade de pensar e falar. Muitos experimentos em ratos transplantam células cancerígenas para testar novas drogas, lesões similares a causada por derrames e até implante de cromossomo com síndrome de Down. O problema não são os testes feitos em ratos, mas sim nos macacos e embora na Inglaterra sejam proibidas pesquisas com macacos de grande porte como gorilas, chipanzés e orangotango, em outros países como os Estados Unidos, são liberadas. O professor Thomas Baldwin teme que a introdução de um grande número de células cerebrais humanas no cérebro de primatas e que isso, de repente, faça com os que os primatas adquiram algumas das capacidades que se consideram exclusivamente humanas, como a linguagem e a consciência. Na área de reprodução, recomenda-se que embriões animais produzidos a partir de óvulos ou esperma humano não se desenvolvam além de um período de 14 dias. A reportagem mostra que o campo mais polêmico é o de animais com característica humanas, considerando que criar características como a linguagem ou a aparência nos amimais levanta questões éticas muito fortes.

Na outra reportagem publicada na "Behavioural Processes" Pesquisadores da Universidade de Durham, no Reino Unido, filmaram um macaco mandril do zoológico de Chester manipulando um pequeno galho e construindo uma ferramenta capaz de tirar a sujeira debaixo das suas unhas, habilidade até pouco tempo, considerada exclusiva dos humanos.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Curso de Bem-Estar animal e enriquecimento ambiental


Objetivo: Propiciar ao aluno conceitos éticos, legais, históricos e práticos da ciência e bem-estar animal bem como métodos de avaliação das condições de bem-estar animal - domésticos e selvagens - mantidos sob a tutela do homem submetidos ou não às técnicas de Enriquecimentos Ambiental com base nos sistemas emocionais e qualificação comportamental.

Carga Horária: 30h

Data Do Evento: 22/09/2011 a 01/10/2011 HORÁRIO: 22/09; 23/09; 24/09; 29/09; 30/09 e 01/09 - quinta e sexta - 19h às 22h e sábado das 9h às 12h e das 13h à 17h

Local: PUCPR - CAMPUS CURITIBA - CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

Participantes: Graduados de qualquer curso e profissionais técnicos e formados que trabalhem diretamente e indiretamente com animais

Data De Inscrição: 01/07/2011 a 19/09/2011

Coordenador(Es): Marta Luciane Fischer e Marcia Cziulik

Valor: R$ 101,00

Vagas Ofertadas: 40

Informações: marta.fischer@pucpr.br - https://wwws.pucpr.br/sistemas_s/pucpr/academico/InscricaoExtensao/index.php?eve=8087&ehinternacional=N&idioma=105

Você já cometeu o pecado do antropomorfismo???


Certamente sim! Embora o antropormofismo seja considerado um dos maiores pecados no meio científico - principalmente na área de comportamento animal - parece fazer parte da nossa evolução e provavelmente foi um dos elementos promovedores da forma como nosso cérebro se estruturou. Procuramos nos reconhecer na natureza: animais, plantas e até objetos inanimados. O Antropormofismo é o uso de características humanas para descrever ou explicar o comportamento de animais não humanos bem como a atribuição de características humanas a criaturas não humanas ou objetos inanimados.

Bernard Rollin é um filósofo moderno que debate - sem receios - sobre os sentimentos dos animais e em sua obra sobre a senciência da dor ressalta que a aversão ao antropormofismo é uma herança do legado de Descartes. Os cientistas usaram a visão dos animais como máquinas complexas para endossar suas manipulações invasivas como a vivesecção sem anestesia. A falta de crença na capacidade mental dos animais e a consciência de si e do meio, inclusive da dor, era apoiado pela incapacidade de ser provada cientificamente, embora seja óbvio inferir que um animal está ou não sofrendo diante de uma injúria física ou psicológica. Desta forma, a “ideologia científica” da ciência e filosofia subseqüente passou a adotar essa visão como um dogma, não criticado, nem discutido, apenas imposto aos jovens cientistas sem levar em consideração a própria continuidade filogenética Darwiniana - que mostrou que o homem compartilha a morfologia, fisiologia e os processos mentais com outros animais. A noção que a ciência é livre de valores e livre de interação com a ética e o senso popular, também foi utilizada como justificativa para ferir os animais sem a promoção de nenhum controle da dor. Segundo Rollin, a ciência moderna – ao contrário da Aristotélica – não sente nenhuma necessidade de estar de acordo com o bom senso ou a experiência do cidadão comum – por isso Descartes colocou em dúvida o que sabíamos pela experiência, ou seja, apenas o que era observável e testável era real para ciência, devendo ser excluído julgamentos éticos e relacionados a experiências subjetivas. Antes de Descartes, nenhum pensador negou a senciência dos animais, porém embora, reconheciam a dor animal como real, não lhe era creditada importância ética. E mesmo hoje o ceticismo continua mesmo diante de estudos bioquímicos evidenciando a presença de endorfinas em animais (substâncias anestésicas naturais), em que anestésicos e analgésicos são testados em animais, similaridade do comportamento da dor e nossa empatia com um ser com dor. Deve-se ressaltar que o pensamento igualitário foi raro antes do iluminismo, e nem mesmo aos humanos era conferido um status moral igualitário, como exemplo tem-se a pequena preocupação com a dor dos escravos. O autor faz uma referência muito interessante à forma como os animais eram tratados desde os tempos bíblicos segundo a prática do “bom-pastor” e como os animais passaram a ser tratados como “produtos” dentro de uma escala industrial.

Essa visão mecanicista e esse distanciamento do homem diante da natureza ainda é uma realidade muito forte. Talvez assustadoramente mais forte entre os cientistas do que entre a comunidade “leiga” – a qual pode usar e abusar do antropomorfismo entendendo as emoções dos animais por desenvolverem uma empatia e uma compaixão se colocando naturalmente no lugar deles. Cientistas matam sem dó os animais em prol de suas pesquisas – obviamente que muitas delas visando a manutenção da espécie – mas a um custo individual muito alto. Ao se referir ao tema Bem-Estar-Animal, esses cientistas consideram como uma pseudociência, algo equivalente à parapsicologia para psicologia. Nos estudos comportamentais atribuir qualquer sentimento ou emoção – as quais crêem serem exclusivamente humanas – ou dar nomes aos animais objetos de estudo é condenado aos berros.

Alexandra Horowitz e Marc Bekoff publicaram um belíssimo artigo sobre a reflexão do antropormofismo através da observação da interação do homem com o cão. Segundo os autores, o antropormofismo deve ter se consolidado em nossa mente - como um drive ou mapa mental – a pelo menos 40.000 anos, quando o homem primitivo passou a representar o humano na forma animal e vice-versa. Porém, bem antes disso, uma caçada bem sucedida era decorrente da previsão do comportamento da presa, processo mental que culminou no cérebro moderno, se constituindo de um produto da seleção natural na tentativa de adaptação ao ambiente. Logo, o antropormofismo - como uma forma de identificarmos nossas emoções nos outros animais – é um processo mental consolidado pela natureza que nos permitiu estabelecer as inter-relações com espécies distintas. Inclusive pessoas com lesões bilaterais nas amídalas não consegue antropormofizar. Assim, a identificação dos elementos de comunicação no comportamento do outro animal leva o ser humano a atribuir compreensão a eles, uma vez que o animal apresenta os mesmos elementos que efetivam a comunicação entre humanos. Obviamente que alguns animais são mais propensos a antropormifização do que outros, o que está relacionado à proximidade filogenética e à propensão à domesticação. Logo, os cães se encaixam no melhor modelo para esse tipo de estudo seguindo o pensamento de que a domesticação produziu espécies adaptadas à interpretar e produzir sinais compreensíveis para os humanos, favorecendo um dialogo entre os comportamentos visíveis e os aparentemente inacessíveis - como estados internos dos animais.

A resistência em reconhecer que os animais têm emoções análogas às nossas - e que essas foram fixadas pela seleção - devido seu valor na sobrevivência do animal - é uma herança do legado de Descartes, uma negação velada, para justificar as atrocidades que são feitas com os animais, para subsidiar a sobrevivência e o conforto da vida dos humanos, o desenvolvimento tecnológico, a vaidade da beleza e da subjugação de feras selvagens e, mais atualmente, a própria conservação da natureza. Precisamos ser mais honestos, humildes e abertos para as novas descobertas das neurociências e refletirmos sobre o quanto da nossa humanidade é exclusivamente nossa e por que a natureza nos brindaria apenas nós com a consciência da felicidade, da tristeza, da raiva.

domingo, 10 de julho de 2011

Os animais ainda são torturados e sacrificados em rituais religiosos?


Outro tema polêmico permeia as discussões na nossa comunidade: os cultos religiosos têm o direito de sacrificarem e torturarem os animais em nome de suas crenças (veja o trabalho de Yannick Yves Andrade Robert)? A liberdade religiosa de um país laico está condicionada ao direito de fazerem os animais sofrerem? Será que tanta dor e sofrimento pode trazer uma “energia positiva” que toda religião prega? Sabemos que na Bíblia tem-se referência a sacrifício de animais – os quais na época eram os bens mais preciosos que as pessoas ofereciam a Deus em nome de sua fidelidade. Mas esses atos são cabíveis nos nossos dias? (veja a opinião da Artigo da ecologista Leatrice Borges Piovesan) Devemos considerar toda burocracia para coletarmos, estudarmos e fazermos experimentos científicos nas universidades. Devemos submeter nossos projetos aos comitês de ética além de termos autorizações de coleta e captura emitidas por órgãos competentes. E Ressalvo - que para maioria de nós - o que queremos é o bem para os animais. Tempos atrás quando estudava os caramujos Megalobulismos paranaguenses – nosso lindo caramujo gigante brasileiro, presente na lista de animais em risco de extinção – fiquei sabendo que as crianças do local vendiam exemplares raríssimos a R$ 5,00 para serem utilizados em rituais.

No Rio Grande do sul o deputado Edson Portilho do PT criou em 2008 uma lei que permite a tortura e o sacrifício dos animais em ritos religiosos. Enquanto que na Holanda uma lei proíbe o sacrifício de animais em rituais - mesmo indo contra oposição dos partidos cristãos e das organizações muçulmanas e judaicas. Na Holanda existe um Partido para os Animais (que possui duas cadeiras no Parlamento) e que aceitou um acordo criando uma emenda que permite às organizações muçulmanas e judaicas realizar sacrifícios caso demonstrem cientificamente que seu método causa menos dor ao animal do que as formas "regulares" de sacrifício. A pesquisa acadêmica foi de grande importância para que a proposta de lei contasse com a maioria do Parlamento. De acordo com especialistas, cerca de 2 milhões de animais são sacrificados anualmente em rituais na Holanda (imagina no Brasil!). Ao aprovar a lei, a Holanda se soma a Suécia, Noruega, Áustria, Estônia e Suíça, que também contam com leis que proíbem este tipo de práticas.

O que você pensa a respeito dos videogames violentos?

Os Games violentos estão na mira de pais e educadores sendo alvo de um debate se estimulam ou não comportamentos violentos e se intensificam ou dissipam o impulso agressivo dos jogadores. Pelo menos em adulto do sexo masculino vejo que traz um benefício enorme na dissipação do impulso agressivo originário do estresse do dia-a-dia. Um novo estudo publicado na American Psychological Association sugere que podem ajudar a controlar o diabetes, asma e a dor, e funcionam como complemento para a psicoterapia. Alguns pesquisadores, porém ressaltam que embora jogos violentos sejam inofensivos para a maioria das crianças pode ser prejudicial para uma pequena minoria com problemas de personalidade ou saúde mental pré-existentes. Inclusive Pesquisas recentes têm indicado que crianças americanas e européias têm mostrado menos problemas de comportamento e violência além de saírem melhor nos testes. Inclusive no nosso debate na disciplina de Etologia vimos um exemplo real!. Mas a pergunta é se seria possível prever se uma determinada criança sofreria ou não influência negativa desses games. Segundo Patrick Markey, da Villanova University, na Pensilvânia, se alguém se irrita, se deprime ou se zanga facilmente, ou é indiferente aos sentimentos alheios, viola as regras e não cumpre promessas, a probabilidade de que seja hostil depois de jogar videogames violentos é maior.

sábado, 2 de julho de 2011

O que você pensa sobre os zoológicos?


Para quê servem os Zoológicos? Conservação de espécies ou vitrine de animais? O que busca alguém que vai ao Zoo no domingo com toda a família? Aprender sobre o comportamento dos animais ou ver um animal feroz dominado pelo homem? Se for conhecer o comportamento do animal e proporcionar a eles boas condições de bem-estar muita coisa precisa ser revista. Felizmente esse tema vem sendo mais debatido, cada vez mais alunos da Biologia desenvolvem seus trabalhos de conclusão de curso sobre o tema e meus alunos da Psicologia também têm mostrado sensibilidade para a questão. Semana passada o caderno Planeta Terra do jornal O Globo trouxe uma matéria mostrando que apenas 44 dos 111 zoológicos nacionais cumprem a legislação. A matéria foi motivada pela crise que o ZooNit (Zoológico de Niterói) tem passado e que tem motivado a perda de vários animais. Os zoológicos brasileiros têm sérios problemas nas instalações (tamanho e enriquecimento), na equipe técnica (o ideal seria terem além de veterinários: biólogos, zootecnistas, nutricionistas, educadores ambientais), na dieta e até com outros animais que invadem o recinto como os urubus e pombos. Manter um zoológico não é barato, os dados apresentados pela matéria, registram que o ZooNit precisa de até R$ 60.000 por mês. E outra questão que levantamos é a cobrança de taxa de visitação e o direcionamento dessa verba para melhoria dos recintos e contratação de monitores e técnicos para fazerem o enriquecimento ambiental, alimentar, sensorial, cognitivo e social desses animais. A matéria também alerta para a questão de que animais raros e bonitos são preferidos e animais comuns ou que demandam muito custo - como leões que precisam de mais de 5 kg de carne por dia além de um recinto grande – além de rejeitados acabam indo parar nos CETAS ficando nesses locais de passagem por tempo indeterminado. Países do primeiro mundo mostram que é possível sim ter bons zoológicos, promover educação ambiental e principalmente bem-estar para os animais. O Zoo de San Diego apresenta recintos em que os visitantes são isolados dos animais por passagens a prova de cheiro, sons e visão e possuem monitores de diferentes nacionalidades (vejam o site que show: conservação, educação, vídeos...). Muitos de meus alunos da disciplina de Etologia aplicam seu etograma em animais presentes no Zoo de Curitiba e apesar das adequações que ainda são necessárias fazer, a presença de profissionais que respeitam os animais e o público é o ponto fundamental e eu tiro o meu chapel. Os alunos relataram terem sido assessorados e suas dúvidas esclarecidas tanto pela Bióloga quanto pelos tratadores que muito contribuíram para sua formação.