Thierry Betazzi Lummertz
Acadêmico do curso de Biologia PUCPR
A moral pode ser vista como um comportamento instintivo. Segundo alguns autores como Wallace (1985) e Schwartsman (2007) a bases da moral são construídas em cima da sexualidade e da reprodução como forma de garantira da sobrevivência da espécie através do imperativo reprodutivo. Exemplos como adultério, formicação, masturbação, transgressões sexuais, são condenados pelo imperativo reprodutivo, pois impedem a reprodução bem sucedida. A discussão sobre o que é moral e imoral acompanha a historia evolutiva dos seres humanos, travando conflitos sociais, reflexos da evolução humana, sendo que ao longo do tempo ocorreram grandes mudanças não só sociais, mas também culturais e comportamentais. Essas mudanças aconteceram depois da revolução agrícola, já que as sociedades eram divididas em grupos familiares pequenos que sobreviviam do que a terra proporcionava. Essas mudanças sociais não tiveram tempo de modelar nossa constituição genética, já que o corpo humano tem aproximadamente 100.000 anos e suas interações culturais e sociais são recentes e talvez por isso nossas tradições e valores morais tivessem se desenvolvido desses grupos primitivos (WALLACE, 1985; SCHWARTSMAN, 2007)
O Córtex cerebral foi uma grande mudança fisiológica humana que trouxe versatilidade e capacidade de lidar com situações complexas da vida na terra, mas ao mesmo tempo limitou os humanos a dependência desse órgão revolucionário. Com o Córtex cerebral surgiu também a comunicação, permitindo assim que os homens deixassem para as futuras gerações seus valores. Essa comunicação acarretou uma grande sobrecarga nas futuras gerações, pois cada geração vive situações e influências diferentes do meio. Atualmente os seres humanos focam seus interesses em seu próprio comportamento e de seus antepassados e estes construíam as suas existências pautadas na perpetuação de sua espécie. O cérebro moderno proporcionou uma diversidade de indivíduos diferentes em seu comportamento, mas sempre seguindo as regras do imperativo reprodutivo, pois indivíduos que não se reproduziam eram rapidamente eliminados. A Vantagem evolutiva dos pais é ver seus filhos reproduzirem, por isso a homossexualidade é considerado anormal, já que os genes não são passados para as futuras gerações. O gene da homossexualidade foi mantido, porque indivíduos homossexuais foram tolerados pelos grupos, devido o fato de esses indivíduos ajudarem na criação dos filhotes de outros pais (WALLACE, 1985)
Com o tempo, naturalmente, características que estavam perpetuamente presentes nas sociedades bem sucedidas reprodutivamente, se fortaleceram sendo codificadas nas tradições, como leis, religião, códigos, éticas, mas cada sociedade mesmo mantendo padrões universais, possui suas singularidades, diferindo uma das outras (WALLACE, 1985; SCHWARTSMAN, 2007) Todas as ações que contrariam o imperativo reprodutivo são abominadas pelas leis morais, devido a essas características prejudicarem a reprodução, por isso, exemplos como sexo entre crianças, gravidez na adolescência e pedofilia, são imorais, pois crianças e adolescentes não estão aptos e nem maduros para passar seus genes adiantes, tornando assim uma grande perda de energia e fazendo com que seus pais e a própria sociedade aumente os cuidados com seus filhos e principalmente suas filhas (WALLACE, 1985) Mas nem todos os termos considerados imorais são relacionados a sexo. Traição e fraude, por exemplo, são imorais para as sociedades, onde ao longo do tempo, estratégias foram criadas para evitar traições e fraudes, como o reconhecimento do erro e a vergonha (WALLACE, 1985; FISCHER, 2009)
A unidade familiar é de grande importância para a reprodução bem sucedida, pois tradicionalmente os papeis dos sexos se tornaram distintos. As mulheres são geralmente, menores, mais fracas e mais vagarosas do que o homem e seu papel foi de colhedora de alimento vegetal, enquanto o homem caçava alimentos ricos em proteínas e nutrientes. A mulher foi forçada a permanecer com os filhos e dependente de um macho, o homem se concentrou em ter seus esforços em proteger uma única mulher e seus filhos. Muitas vezes casais ficam juntos pela segurança do relacionamento e cuidado com os filhos e não necessariamente pelo amor entre eles. O homem tornou-se mais preocupado com a mulher, para que assim ela não possa traí-lo e assim o macho não tenha que cuidar e sustentar filhotes que não levem seus genes. Umas das estratégias para evitar a traição é o ciúmes, pois mulheres precisam garantir que ela e seus filhotes são os únicos beneficiados com os serviços do macho e o macho precisa garantir que não criará cromossomos de outros machos. Muitos animais na natureza que utilizam o harém como estratégia, são forçados constantemente a lutar pela liderança, e quando a mesma é conquistada ocorre um infanticídio, pois o macho conquistador sabe que aqueles filhotes não são dele e que enquanto as fêmeas estiverem amamentando elas não estarão prontas para acasalar novamente. As fêmeas por sua vez acasalam com o assassino de seus filhotes por ser vantajoso, já que a maioria de seus filhotes serão machos, gerando futuros assassinos de filhotes e podendo passar seus genes (WALLACE, 1985, FISCHER, 2009)
Todas as nossas ações e valores passados durante anos, sempre são focados na proteção dos indivíduos e seus genes, portanto as regras, tradições e éticas que crescem em torno das sociedades não apareceram de um vácuo histórico e sim cada um assumiu seu lugar no sistema de valores à medida que se foi aprendendo como tudo contribuía para a reprodução (WALLACE, 1985).
Esse ensaio foi elaborado na disciplina de Etologia e baseado nas obras:
WALLACE, R.A. Sociobiologia O fator genético. Ibrasa. 1985. 1° Edição
SCHWARTSMAN, H. (2007. 27 de abril) Re: Animais Morais. Obtido em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/ult510u351566.shtml
FISCHER, M. (2009. 29 de outubro) Re: Trapaças – Moral – Vergonha – Perdão. Obtido em: http://etologia-no-dia-a-dia.blogspot.com/search?q=vergonha