segunda-feira, 16 de maio de 2011

O QUE É MORAL?

Thierry Betazzi Lummertz

Acadêmico do curso de Biologia PUCPR

A moral pode ser vista como um comportamento instintivo. Segundo alguns autores como Wallace (1985) e Schwartsman (2007) a bases da moral são construídas em cima da sexualidade e da reprodução como forma de garantira da sobrevivência da espécie através do imperativo reprodutivo. Exemplos como adultério, formicação, masturbação, transgressões sexuais, são condenados pelo imperativo reprodutivo, pois impedem a reprodução bem sucedida. A discussão sobre o que é moral e imoral acompanha a historia evolutiva dos seres humanos, travando conflitos sociais, reflexos da evolução humana, sendo que ao longo do tempo ocorreram grandes mudanças não só sociais, mas também culturais e comportamentais. Essas mudanças aconteceram depois da revolução agrícola, já que as sociedades eram divididas em grupos familiares pequenos que sobreviviam do que a terra proporcionava. Essas mudanças sociais não tiveram tempo de modelar nossa constituição genética, já que o corpo humano tem aproximadamente 100.000 anos e suas interações culturais e sociais são recentes e talvez por isso nossas tradições e valores morais tivessem se desenvolvido desses grupos primitivos (WALLACE, 1985; SCHWARTSMAN, 2007)

O Córtex cerebral foi uma grande mudança fisiológica humana que trouxe versatilidade e capacidade de lidar com situações complexas da vida na terra, mas ao mesmo tempo limitou os humanos a dependência desse órgão revolucionário. Com o Córtex cerebral surgiu também a comunicação, permitindo assim que os homens deixassem para as futuras gerações seus valores. Essa comunicação acarretou uma grande sobrecarga nas futuras gerações, pois cada geração vive situações e influências diferentes do meio. Atualmente os seres humanos focam seus interesses em seu próprio comportamento e de seus antepassados e estes construíam as suas existências pautadas na perpetuação de sua espécie. O cérebro moderno proporcionou uma diversidade de indivíduos diferentes em seu comportamento, mas sempre seguindo as regras do imperativo reprodutivo, pois indivíduos que não se reproduziam eram rapidamente eliminados. A Vantagem evolutiva dos pais é ver seus filhos reproduzirem, por isso a homossexualidade é considerado anormal, já que os genes não são passados para as futuras gerações. O gene da homossexualidade foi mantido, porque indivíduos homossexuais foram tolerados pelos grupos, devido o fato de esses indivíduos ajudarem na criação dos filhotes de outros pais (WALLACE, 1985)

Com o tempo, naturalmente, características que estavam perpetuamente presentes nas sociedades bem sucedidas reprodutivamente, se fortaleceram sendo codificadas nas tradições, como leis, religião, códigos, éticas, mas cada sociedade mesmo mantendo padrões universais, possui suas singularidades, diferindo uma das outras (WALLACE, 1985; SCHWARTSMAN, 2007) Todas as ações que contrariam o imperativo reprodutivo são abominadas pelas leis morais, devido a essas características prejudicarem a reprodução, por isso, exemplos como sexo entre crianças, gravidez na adolescência e pedofilia, são imorais, pois crianças e adolescentes não estão aptos e nem maduros para passar seus genes adiantes, tornando assim uma grande perda de energia e fazendo com que seus pais e a própria sociedade aumente os cuidados com seus filhos e principalmente suas filhas (WALLACE, 1985) Mas nem todos os termos considerados imorais são relacionados a sexo. Traição e fraude, por exemplo, são imorais para as sociedades, onde ao longo do tempo, estratégias foram criadas para evitar traições e fraudes, como o reconhecimento do erro e a vergonha (WALLACE, 1985; FISCHER, 2009)

A unidade familiar é de grande importância para a reprodução bem sucedida, pois tradicionalmente os papeis dos sexos se tornaram distintos. As mulheres são geralmente, menores, mais fracas e mais vagarosas do que o homem e seu papel foi de colhedora de alimento vegetal, enquanto o homem caçava alimentos ricos em proteínas e nutrientes. A mulher foi forçada a permanecer com os filhos e dependente de um macho, o homem se concentrou em ter seus esforços em proteger uma única mulher e seus filhos. Muitas vezes casais ficam juntos pela segurança do relacionamento e cuidado com os filhos e não necessariamente pelo amor entre eles. O homem tornou-se mais preocupado com a mulher, para que assim ela não possa traí-lo e assim o macho não tenha que cuidar e sustentar filhotes que não levem seus genes. Umas das estratégias para evitar a traição é o ciúmes, pois mulheres precisam garantir que ela e seus filhotes são os únicos beneficiados com os serviços do macho e o macho precisa garantir que não criará cromossomos de outros machos. Muitos animais na natureza que utilizam o harém como estratégia, são forçados constantemente a lutar pela liderança, e quando a mesma é conquistada ocorre um infanticídio, pois o macho conquistador sabe que aqueles filhotes não são dele e que enquanto as fêmeas estiverem amamentando elas não estarão prontas para acasalar novamente. As fêmeas por sua vez acasalam com o assassino de seus filhotes por ser vantajoso, já que a maioria de seus filhotes serão machos, gerando futuros assassinos de filhotes e podendo passar seus genes (WALLACE, 1985, FISCHER, 2009)

Todas as nossas ações e valores passados durante anos, sempre são focados na proteção dos indivíduos e seus genes, portanto as regras, tradições e éticas que crescem em torno das sociedades não apareceram de um vácuo histórico e sim cada um assumiu seu lugar no sistema de valores à medida que se foi aprendendo como tudo contribuía para a reprodução (WALLACE, 1985).

Esse ensaio foi elaborado na disciplina de Etologia e baseado nas obras:

WALLACE, R.A. Sociobiologia O fator genético. Ibrasa. 1985. 1° Edição

LinkSCHWARTSMAN, H. (2007. 27 de abril) Re: Animais Morais. Obtido em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/ult510u351566.shtml

FISCHER, M. (2009. 29 de outubro) Re: Trapaças – Moral – Vergonha – Perdão. Obtido em: http://etologia-no-dia-a-dia.blogspot.com/search?q=vergonha



A Infidelidade é natural?

Leandro Costa Nogueira, Natalia Borges Bonan, Priscilla Lucena de Oliveira, Sirlene Maria Vudala

Graduandos do Curso de Biologia PUCPR

A infidelidade é tida como um custo da vida social dos animais, sendo muito comum em aves, animais tradicionalmente considerados monogâmicos (Barash; Limpton, 2007), e um tema no qual atrai a curiosidade de muitos humanos, já que muitos já passaram, ou passarão por isso um dia, mesmo sem o seu conhecimento (Magalhães, 2009). A infidelidade está associada com os sistemas de acasalamento das espécies e para entender esse mecanismo reprodutivo é importante saber os conceitos destes sistemas.

A monogamia é onde macho e fêmea se unem (são fiéis) no período reprodutivo ou por toda a vida, ambos cuidam dos ovos e/ou dos filhotes. Este cuidado da prole por ambos os pais ocorre em poucas espécies. Este sistema é comum em aves, mas já foi demonstrado que acasalamentos extra-casais também são comuns. O cuidado parental por parte da fêmea é mais freqüente em espécies com fertilização interna e por parte do macho quando a fertilização é externa. Isto indica que a infidelidade é uma estratégia para o sucesso reprodutivo.

Na poliginia, geralmente a fêmea é a responsável pelo cuidado parental, então acasala-se com um único macho, porém ele se acasala com muitas fêmeas. Como os machos não dão cuidado parental, pode ocorrer variação nos sistemas de acasalamento devido a diferenças na dispersão de recursos que, por sua vez, influenciam na dispersão das fêmeas e na economia de defesa por parte dos machos. Essa economia dependerá da distribuição das fêmeas no tempo e no espaço e quanto mais agregados no espaço estiverem os parceiros sexuais ou os recursos, maiores as oportunidades para a poliginia. Quando todas as fêmeas procriam em sincronia (todas ao mesmo tempo), há poucas chances de um macho se acasalar com mais de uma fêmea, cujo exemplo é do sapo Bufo bufo, onde todas as fêmeas desovam em uma semana e o macho consegue fertilizar no máximo os ovos de duas fêmeas. Na poliandria ocorre o inverso, a fêmea é que copula com vários machos e, neste caso freqüentemente o macho é que fornece o cuidado parental, um exemplo é a Drosophila melanogaster. Na promiscuidade, ambos acasalam-se muitas vezes com diferentes indivíduos e qualquer um dos dois pode cuidar dos ovos ou dos filhotes. A poligamia é um termo usado para casos em que indivíduos de qualquer sexo se acasalam mais de uma vez.

Um macho pode aumentar seu sucesso reprodutivo encontrando e fertilizando muitas fêmeas. Isto se observa em mamíferos, no qual em muitas espécies, as fêmeas levam muitos meses gerando um filhote, sendo mais difícil para ela, a infidelidade. E depois do nascimento ela ainda precisa amamentar e cuidar do filhote, cuja sobrevivência não depende do cuidado do pai.

Nos mamíferos, os diferentes sistemas de acasalamento decorrem do tamanho do grupo de fêmeas, da área de ação das fêmeas (movimentação) e sazonalidade da reprodução. Quando o esforço parental é mais ou menos igual, como em aves monogâmicas, em que a sobrevivência do filhote depende do macho e da fêmea, o macho precisa ser fiel. Nesse caso números iguais de indivíduos de ambos os sexos entram em atividade reprodutiva ao mesmo tempo, favorecendo a monogamia, sendo desnecessária a competição sexual e impossibilitando a infidelidade. Muitos insetos são bons exemplos de lutas por sucesso reprodutivo. Fêmeas de libélulas acasalam com vários machos e estocam o esperma na espermateca para uso futuro. O pênis do macho de Orthetrum cancellatum possui um flagelo farpado que raspa o esperma deixado anteriormente por outros machos antes de injetar o próprio esperma. O macho de alguns outros insetos obstrui a abertura genital da fêmea depois da cópula para impedir que outros machos a fertilizem.

Porém há casos de aves que entram no período reprodutivo de maneira assincrônica, onde poucos machos controlam um número grande de fêmeas, havendo intensa competição sexual. Contudo, até o mundo monogâmico das aves tem sido cada vez derrubado, já que, como todos os animais, incluindo os humanos, procuram sucesso reprodutivo, reproduzindo e misturando seus genes com os que também possuem ótimos genes, sendo que é cada vez mais provado que não apenas o macho se dedica a infidelidade, mas as fêmeas também têm procurado melhores genes para seus filhotes (Barash; Limpton, 2007). Segundo Barash e Limpton (2007) as fêmeas investem muito mais na reprodução, visto que possuem poucos gametas e levam a gestação durante um longo período, o que torna vantajoso a reprodução com vários machos, para que o melhor espermatozóide possa fecundar seu óvulo. Isto acaba causando um “ciúme sexual”, pois muitos parceiros machos gastam muita energia na guarda de sua companheira, apesar de ainda possuir interesse em repassar seus genes, através de seus espermatozóides para outras fêmeas. Existem também outros mecanismos de garantia do repasse de seus genes, alguns machos ao copular, deixam uma espécie de tampão na fêmea, para o caso desta procurar outro parceiro, este outro macho não obtenha sucesso em depositar seus espermatozóides em sua fêmea. No verme acantocéfalo Moniliformes dubius, os machos produzem um tipo de “cinto de castidade” além de obstruírem as fêmeas. Há machos também, como no caso dos lobos, que acabam ficando presos à fêmea, através de um “nó pós-copulatório” que evitam que outro macho copule com esta fêmea, garantindo que seu espermatozóide seja o único a fecundar a fêmea, garantindo também que os filhotes sejam seus.

Dentre todos os animais, os primatas são os mais praticam a monogamia social, onde mesmo apresentando infidelidade, os casais continuam juntos cuidando de suas proles e dispensando maior cuidado parental (Barash; Lipton, 2007). Dentre os primatas, o ser humano é um animal que tende ao “ciúme sexual”, mesmo existindo vários exemplos em outros animais, porque se foge tanto do assunto? Fácil, porque a fidelidade e infidelidade não são apenas idéias abstratas, partindo da idéia que fidelidade nos dá a sensação de bem estar, conforto, enquanto que a infidelidade é acompanhada de mal estar, dúvida e desconforto, é uma estrutura importante na vida dos humanos, sendo citados em várias áreas, incluindo as artes como teatros, novelas, livros (Curado, 2005).

Pelos humanos, a infidelidade é muitas vezes vista no âmbito de infidelidade conjugal, onde entra o jogo os valores, atitudes e padrões de comportamento em face ao casamento (Santos, 2008), porém não devemos esquecer a infidelidade é algo natural, visto que muitos animais socialmente monogâmicos, naturalmente não o são (Barash; Limpton, 2007). Também está associada com os sistemas de acasalamento das espécies e para entender esse mecanismo reprodutivo é importante saber os conceitos destes sistemas.

Muitas pessoas julgam a monogamia como algo normal numa união, sendo difícil para uma pessoa falar que uma pessoa trai ou que foi traída. Isso porque no caso dos humanos, aprendemos que a monogamia é a regra para a sociedade, sendo que quando acontece a infidelidade vemos como uma falha pessoal da pessoa infratora, muitas vezes nos julgando culpados e procurando os possíveis erros para o acontecido (Vaughan, 1991). O tema abordado é polêmico entre humanos, se tratando de preceitos religiosos e sociais. Nós consideramos a infidelidade como uma situação natural, sendo que á partir desta é possível aumentar a variabilidade genética e proporcionar um maior número de descendentes com os genes parentais. Porém

Esse ensaio foi elaborado na disciplina de Etologia e baseado nos seguintes textos:

BARASH, D. P.; LIPTON, J. E. O Mito da Monogamia: Fidelidade e infidelidade entre pessoas e animais, Ed. Record, Rio de Janeiro, 2007.

CURADO, M. Infidelidade, Conferência realizada nos VII Colôquios de Outono, Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, Braga, 2005.

MAGALHÃES, M. M. A infidelidade conjugal e seus mitos: uma leitura gestáltica, Revista IGT na Rede, v. 6, n. 10, p.58-90, 2009

SANTOS, F. Infidelidade conjugal: Classe social e Gênero, III Congresso português de sociologia, 1996.

VAUGHAN, P. O Mito da Monogamia: uma nova visão dos relacionamentos e como sobreviver a eles, Ed Record, Rio de Janeiro, 221p, 1991.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Distintos Aspectos da Agressividade

Elen Dias Accordi, Elizabeth Cristina Rodrigues e Nicole Dellatorre Braggio Carreira

Graduandas de Biologia da PUC-PR

“A história da humanidade é repleta de atos considerados violentos e agressivos,já descritos até mesmo na Bíblia e na filosofia clássica, a exemplo de Platão (1990), no Livro IX da República. Nele, Platão faz um retrato do “homem tirânico, o mais violento dos homens, já que é hospedeiro de todos os vícios” (FERRARI, 2006).

A agressividade é um comportamento definido como a disputa por um recurso limitado, seja ele alimento, território ou fêmeas. A intensidade da agressividade é regulada por vários fatores ambientais e fisiológicos, como o período reprodutivo, o estágio de desenvolvimento do organismo a disponibilidade de habitats favoráveis e de alimentos. Devido à eminente possibilidade de sofrimento de injúrias, o reconhecimento antecipado da superioridade do adversário foi evolutivamente mantido. Nos mamíferos o comportamento é regulado principalmente pela região do hipotálamo, porém pode ser observado em todos os grupos de animais. Podendo ser dividida em duas estratégias comportamentais distintas a primeira como a do gavião, no qual, os animais se comportam de maneira agressiva, o que lhes garantem maiores chances de conquista do recurso, entretanto dando margem a possibilidade de sofrimento de injúrias, ou ainda como a dos pombos, que de maneira pouco agressiva lhes assegurando menores chances de injurias e a escolha do padrão está relacionada com o conhecimento do oponente (WOLKERS, 2010).

Johnsson e Akerman (1998) identificaram que em trutas arco-íris, Oncorhynchus mykiss (), o padrão comportamental poderia ser escolhido após a observação de uma competição prévia, ou seja, após um combate os indivíduos competidores foram colocados no mesmo ambiente que animais que observaram a disputa inicial, aos vencedores as trutas observadoras exibiam sinais se submissão imediata e os derrotados eram enfrentados pelos observadores. O padrão de hierarquia também foi observado em Calomys callosus, uma espécie de roedor (), utilizada frequentemente em laboratórios, na qual, os dominantes possuíam um controle do ambiente e dispunham de maiores quantidade de água e alimentos que os submissos, entretanto essa organização foi ao decorrer de um período de tempo e as agressões foram diminuindo de acordo com o estabelecimento da hierarquia (PÓVOA, 2007).

Apesar dos seres humanos possuírem os mesmos estímulos biológicos de os outros animais, a interpretação da agressividade não leva em consideração apenas aspectos etológicos e, na maioria dos casos, prioriza os aspectos culturais, deixando a etologia em segundo plano.

Começando por Monteiro (2009) que em seu trabalho classifica a agressividade humana quanto ao alvo, sendo estas: agressividade direta, onde o comportamento agressivo dirige-se à fonte que o originou; agressividade deslocada, na qual o comportamento agressivo dirige-se para o alvo que não é o responsável pelo desencadear da agressão; e a autoagressão, onde a emoção é dirigida para o próprio, que se torna agressor e agredido ao mesmo tempo. Quanto à maneira de expressão há a agressão aberta, aonde a agressão é explícita seja física ou psicológica; agressão inibida, que não se manifesta para o exterior e dirige-se para si próprio; e a agressão dissimulada, quando o agressor decide expressar a agressividade de forma disfarçada, recorrendo a processos irônicos. Há diferença entre violência e agressividade está no fato de que a primeira causa dano direto ao outro ou a um objeto e o segundo está na vontade da conduta que leva ao dano.

Há uma visão diferente da agressividade mostrada por Bach e Goldberg (1978), que descrevem o mito dos bonzinhos. Eles defendem a ideia de que a conduta “boa” acaba tendo um preço difícil de ser entendido tanto para o “bom” como a pessoa com ela envolvida. Quando a agressividade é expressa ou os confrontos com as pessoas são reprimidos, seja consciente ou por desejo de ser “bonzinho”, esse sentimento não se perde, ao contrário, são impelidos a clandestinidade, e voltam transformados por trás das máscaras aceitáveis socialmente. Por exemplo, a criança que foi ensinada a considerar perigosos os sentimentos agressivos com o propósito de se proteger aprende a bloqueá-los. Uma vez reprimidos, ao se tornar adulto irá se isolar cada vez mais do contato íntimo, a fim de evitar colisão com esse sentimento, que resultou em consequências ruins. Os autores dizem que a agressividade reprimida pode produzir desde enxaquecas até depressão, ou em casos extremos a esquizofrenia.

De acordo com Kristensen et al. (2003), a agressividade não era um domínio exclusivo da etologia. Os autores afirmam que, embora Freud, especialmente na parte inicial de sua obra, não tenha atribuído muita relevância ao tema, a partir da “virada de 1920” percebe-se um escalonamento no estudo do comportamento agressivo, concluindo que a agressividade começa a se formar junto ao desenvolvimento do indivíduo, logo podendo ser avaliada do ponto de vista psicológico.

Sob um enfoque diferente, no qual a agressividade não depende de impulsos internos nem é provocada pela frustração, Albert Bandura (1973, citado em Kristensen, 2003) desenvolveu a teoria da aprendizagem social. Para ele, a maior causa da agressão é o incentivo e as recompensas oferecidas pelo ato. A pessoa, frente a uma situação identificada, pesa os benefícios e os custos potenciais em expressar um comportamento agressivo. Caso os benefícios sejam maiores, ela optará pela agressão, a fim de atingir os seus objetivos.

Segundo Minayo & Souza (1997), algumas teorias, fundamentadas na premissa de que a violência é natural e inevitável, substituem a ideia de processo social e histórico pelo conceito de "agressão", que provém da biologia, etologia, genética e medicina. Nestas disciplinas, a agressividade é entendida como parte do instinto de sobrevivência e forma natural de reação dos animais em certas condições e situações, tendo, portanto, conotação de 'neutralidade' e 'naturalidade', sendo considerada por alguns como essencial para sobrevivência.

Em um ensaio sobre Winnicott, grande estudioso da agressividade, Dias (2000) lembra que o autor diz que, embora inerente, a violência só se desenvolverá, e se tornará parte do indivíduo, se lhe for dada a oportunidade de experienciá-la de acordo com a sua necessidade e emergência no processo de amadurecimento.

Para Winnicott, é a atitude do ambiente com relação à agressividade do bebê que influencia de maneira determinante o modo como este irá lidar com a tendência agressiva que faz parte da sua natureza humana. O autor diz que a principal ideia que este estudo da agressão veicula é que, se a sociedade está em perigo, a razão não se encontra na agressividade do homem, mas na repressão da agressividade pessoal nos indivíduos.

Fazendo uma comparação com o presente e o passado, Lessa (2004) observa algumas diferenças e semelhanças entre os padrões de violência e, consequentemente, no comportamento agressivo dos indivíduos. Um exemplo é a violência contra a criança, cometida na forma de espancamentos e sem relação com aspectos rituais. Este tem se revelado um fenômeno essencialmente moderno, não tendo sido observado nas séries esqueletais pré-históricas. Apesar de que esse fato pode ser explicado devido a falta de controle em liberação da violência, que quando liberada é feita sem controle e segue-se até que se esgote. O fato vem sendo interpretado como produto da falta de vigilância proporcionada por um controle social deficiente, associada ao anonimato urbano.

Por outro lado, a perpetuação de uma prevalência muito mais alta de violência interpessoal entre os homens jovens do que entre outros subgrupos, ao longo da história da humanidade, aponta para uma tendência de comportamento que extrapola as especificidades do contexto cronológico e cultural particular de cada sociedade.

O grupo compartilha da ideia de que a agressividade é algo natural e inato aos seres humanos e às outras espécies, sendo que a maneira como o indivíduo é criado e o ambiente onde ele vive, junto com suas experiências, irão ditar a maneira como essa agressividade se manifesta ou é canalizada para ser liberada de maneiras não violentas. Em alguns casos, crianças pequenas, criadas em um ambiente tranquilo e pacífico, apresentam comportamento extremamente agressivo, superior ao considerado normal. Nestes casos, na maioria das vezes, essas crianças possuem transtornos mentais que causam estas manifestações graves de violência. O grupo acredita que o ser humano, ao contrário dos outros animais, é uma espécie que tende a manifestar a agressividade de uma forma mais frequente e por coisas banais, mas que acionam um mecanismo natural, mas a grande maioria dos animais, entretanto, possui uma agressividade que pode ser controlada na maior parte do tempo e que apenas se manifesta em casos onde há busca por alimento, habitat, parceiros, enfim, onde é preciso ser agressivo para continuar a busca pela sobrevivência.

Esse ensaio foi elaborado na disciplina de Etologia e baseado nas seguintes obras:

BACH, G.R.; GOLDBERG, H.; (1978); Agressividade Criativa. Editora Rio de Janeiro.

DIAS, O. E.; (2000); WINNICOTT: Agressividade e teoria do amadurecimento. Natureza Humana. V. 2, n. 1. São Paulo. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1517-24302000000100001&script=sci_arttext

FERRARI, F. I. (2006). Agressividade e Violência. Psic. Clin., V. 18, n. 2, Rio de Janeiro. http://www.scielo.br/pdf/pc/v18n2/a05v18n2.pdf

KRISTENSEN, H. C.; LIMA, S. J; FERLIN, M. 2003. Fatores etiológicos da agressão física: uma revisão teórica. Estudos de Psicologia. V. 8, n. 1, Rio Grande do Sul. http://www.scielo.br/pdf/epsic/v8n1/17248.pdf

JOHHNSSON, J.I.; AKERMAN, A; (1998) Watch and learn: preview of the fighting ability of opponents alters contest behaviour in rainbow trout. Animal behaviour, v.56, p. 771-776. http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6W9W-45KKV82-13&_user=10&_coverDate=09%2F30%2F1998&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=gateway&_origin=gateway&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1741908605&_rerunOrigin=google&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=6f6098bbadcdcfa17500e7dcced2f5c3&searchtype=a

LESSA, A; (2004). História, Ciências, Saúde-Manguinhos. V.11, n.2, Rio de Janeiro.

MINAYO, S. C. M. & SOUZA, R. E; (1997). Violência e saúde como um campo interdisciplinar e de ação coletiva. História, Ciências, Saúde— Manguinhos. V. 4, n. 3. Rio de Janeiro. http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v4n3/v4n3a06.pdf

MONTEIRO, M. M.; FERREIRA, P. T.; (2009); “Ser Humano” – 2ªParte – Psicologia B – 12ºAno, Porto, Porto Editora.

PÓVOA, CP; BRANDERBURGO; (2007); Study of the social hierarchy and territoriality of Calomys callosus Rengger, 1830 (Rodentia: Cricetidae); Braz. J. Biol.; Uberlândia, Brasil; 67 (3): 429-432; http://www.scielo.br/pdf/bjb/v67n3/06.pdf

WOLKERS, C.P.; (2010) Controle Neuroendocrino do comportamento agressivo de juvenis de matrinxã (Bryon amazonicus); Tese apresentada a Universidade Estadual Paulista- UNESP; Jaboticabal, Brazil. http://www.caunesp.unesp.br/Publicacoes/Dissertacoes_Teses/Dissertacoes/Dissertacao%20Carla%20Patricia%20Bejo%20Wolkers.pdf

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Altruísmo: Ser ou não ser?

Ariane S. Rodrigues, Eduardo Lozano, Jaqueline Duarte, Marthin Borba e Rafael Amorim.Link

Graduandos do Curso de Biologia PUCPR

O termo “altruísmo” vem do latim “alter”, que significa “outro”, conceito usado pelo filósofo e sociólogo Augusto Comte, considerando o altruísmo como o antônimo de egoísmo (EBRAHIM, 2001). O altruísmo é considerado um comportamento designado a atender às necessidades dos outros, envolvendo escolhas em que os indivíduos colocam menos valor em resultados pessoais, podendo colocar a sua sobrevivência em risco. O primeiro conceito que começou a responder as perguntas sobre esse comportamento foi a teoria da vantagem inclusiva, criado por Willian D. Hamilton, que argumentava que o altruísmo tinha evoluído com mais probabilidade entre animais aparentados do que entre animais sem parentesco, o que consistiria em um egoísmo genético, pois parentes partilham de um código genético mais semelhante do que em não aparentados, o que significa que um ato benéfico a um individuo aparentado aumentaria as chances de reprodução dos genes comuns, e quanto maior for o grau de parentesco, maior o grau de altruísmo, e assim a conduta altruísta pode ser herdada (LANCASTRE, 2010). Porém essa teoria não explica o fato de animais arriscarem sua sobrevivência, diminuindo seus recursos com um ato de altruísmo com animais sem nenhuma ligação genética, mas um estudo foi feito em 1971, por Robert Trivers, que explica que os genes para comportamento altruísta poderão ser selecionados se os indivíduos forem diferencialmente altruístas com aquelas que foram altruístas com consigo próprio. .

Como exemplo, podemos utilizar os Morcegos-vampiro, que toda noite alguns indivíduos saem para se alimentar, enquanto outros ficam para cuidar do território, quando os animais que saíram para se alimentar voltam eles regurgitam metade do sangue que beberam e dão aos que ficaram, como esse é um comportamento comum entre essa espécie, o indivíduo pode contar que no momento em que ele ficará para cuidar do território, o outro irá trazer alimento para ele também, sendo estes aparentados ou não pois possuem um mecanismo de reconhecimento individualizado, que funciona como um receptor que identificará aquele que por sua vez o alimentou. Essa teoria foi chamada de Altruísmo Recíproco e é aplicado a humanos também e considerada a teoria do jogo ou do dilema do prisioneiro, que funciona da seguinte forma: dois suspeitos de um crime são interrogados, se ninguém se acusar eles ficam presos por um ano, se os dois se acusarem ficam presos por 3 anos e se um dos suspeitos apontar o outro como criminoso, este fica livre enquanto o outro passa cinco anos na cadeia. Apesar da possibilidade de acusar o outro e, em um comportamento egoísta, ser livre, não há como saber qual será a atitude do outro suspeito, podendo os dois pagar pelo crime, então ambos cooperam um com o outro (LANCASTRE, 2010).

Segundo os autores Nowak, Tarnita e Wilson (2010), há uma outra proposta para explicar a cooperação em grupo (eussocialidade): Primeiro a espécie tem que formar grupos dentro das populações, seja para alimentação, reprodução ou por grupos formados ao acaso, na segunda etapa ocorre a radiação adaptativa, que através da seleção natural comum há um acúmulo de características de predisposição a eussocialidade quando esses animais são forçados a convivência. Então, mutações e recombinações devem fixar genes ligados ao comportamento eussocial, esses genes ainda são desconhecidos, mas para uma espécie de formiga, Solenopsis invicta, já se sabe que o gene Gp-9 está associado ao reconhecimento de operárias de outros formigueiros. A partir desse ponto a seleção natural age novamente favorecendo e estabilizando as características emergentes de interações entre os organismos eussociais, formando um superorganismos, aonde cada um tem sua função, e por ultimo estes superorganismos podem sofrer uma seleção natural entre si.

O comportamento altruísta extremo é observado em pelo menos quatro grupos diferentes, nos himenópteros (formigas, vespas, abelhas), nos camarões parasitas das esponjas dos mares de coral, nos ratos-toupera pelados e nos primatas, mas acredita-se que esse comportamento foi separadamente fixado distintas vezes na filogênese dos animais pluricelulares. Não há nenhum antecessor comum entre essas espécies que o tenha incorporado à linhagem como traço primitivo, é então considerao uma homoplasia, um traço que coincide somente por razões de convergências na adaptação separada e não tem nenhuma significação de proximidade evolutiva (FERNANDEZ, 2007).

Em Humanos, segundo Mulligan (1996), a formação do comportamento de um altruísta vem de uma composição familiar, analisando o tamanho da família, a ordem de nascimento e outras variáveis da infância, sendo que as educações formais e informais favorecem a orientação altruísta. A adoção tardia, que é a adoção de crianças mais velhas, também é vista como um comportamento altruísta, pois quando há certa educação recebida pela família, o altruísta terá estabilidade e maturidade emocional que influenciaram o modo como os indivíduos respondem às necessidades dos outros. Sendo assim, adotantes tardios normalmente são casais com filhos, que já tiveram a experiência de criar um bebe, ou pessoas solteiras ou viúvas que querem construir uma família, mas que não tem tempo de se dedicar a um recém-nascido. Enquanto casais mais novos que não podem ter seus próprios filhos, tem a necessidade de adotar recém-nascidos para que possam ter a experiência de criar (EBRAHIM, 2001).

Estudos mostram que a oxitocina, hormônio produzido no hipotálamo e liberado na corrente sanguínea, responsável pelo vínculo social entre os indivíduos e também pela sensação de prazer durante a maternidade, também pode ser responsável pelo comportamento de heroísmo e solidariedade nos humanos, favorecendo a necessidade de o indivíduo agir em benefício de um grupo em detrimento de seu bem estar pessoal. Um experimento foi realizado comparando o comportamento de indivíduos que receberam doses de oxitocinas com indivíduos que não receberam e foram apresentados a um jogo que apresentava consequências a si mesmo e ao grupo. Os indivíduos que receberam a oxitocina demonstraram maior preocupação com o cuidado e com a defesa do grupo, estimulando no grupo sentimentos de cooperação para resolução dos conflitos. Os pesquisadores sugerem que esse hormônio desempenha um papel de defesa na condução do grupo, e que a confiança pessoal aumenta quando a dose de oxitocina é maior.

A bondade é algo necessário em todo o reino animal para que possa haver cooperação entre os indivíduos, sendo essa cooperação para garantir que os genes passem para frente ou para resolver os problemas que o ambiente trás e que sozinho não haveria como enfrentar. Para os humanos a bondade e a compaixão são extremamente necessárias para a definição de princípios éticos como para a educação para os valores sociais e ambientais.


O presente ensaio foi elaborado na disciplina de Etologia e baseado nas seguintes obras:

ALMEIDA, E. A.; FILHO, J. M. The precocius contact mother-child and its contribution to the success of breast feeding. Revista Ciênc. Méd., Campina 13(4):381-388, out/dez, 2004.


CARVALHO, A. M. A. Etologia e comportamento social. IV Encontro Nacional de Psicologia Social–ABRAPSO/UFES, 1988.

EBRAHIM, S. G. Adoção tardia: altruísmo, maturidade e estabilidade emocional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2001, 14 (1), PP. 73-80.

FERNANDEZ, A.; FERNANDEZ, M. O gene altruísta e o sentido de justiça pode levar a seleção natural à solidariedade? Revista Jus Vigiliantibus, 8 de agosto de 2007

LANCASTRE, M. P. A. Bondade, Altruísmo e Cooperação. Considerações evolutivas para a educação e a ética ambiental. Revista Lusófona de Educação, 2010, 15, 113-114

NOWAK, M. A.; TARNITA, C. E.; WILSON, E. O. The evolution of eusociality. Nature, 466 (7310): 1057-1062, agosto de 2010.