segunda-feira, 16 de maio de 2011

A Infidelidade é natural?

Leandro Costa Nogueira, Natalia Borges Bonan, Priscilla Lucena de Oliveira, Sirlene Maria Vudala

Graduandos do Curso de Biologia PUCPR

A infidelidade é tida como um custo da vida social dos animais, sendo muito comum em aves, animais tradicionalmente considerados monogâmicos (Barash; Limpton, 2007), e um tema no qual atrai a curiosidade de muitos humanos, já que muitos já passaram, ou passarão por isso um dia, mesmo sem o seu conhecimento (Magalhães, 2009). A infidelidade está associada com os sistemas de acasalamento das espécies e para entender esse mecanismo reprodutivo é importante saber os conceitos destes sistemas.

A monogamia é onde macho e fêmea se unem (são fiéis) no período reprodutivo ou por toda a vida, ambos cuidam dos ovos e/ou dos filhotes. Este cuidado da prole por ambos os pais ocorre em poucas espécies. Este sistema é comum em aves, mas já foi demonstrado que acasalamentos extra-casais também são comuns. O cuidado parental por parte da fêmea é mais freqüente em espécies com fertilização interna e por parte do macho quando a fertilização é externa. Isto indica que a infidelidade é uma estratégia para o sucesso reprodutivo.

Na poliginia, geralmente a fêmea é a responsável pelo cuidado parental, então acasala-se com um único macho, porém ele se acasala com muitas fêmeas. Como os machos não dão cuidado parental, pode ocorrer variação nos sistemas de acasalamento devido a diferenças na dispersão de recursos que, por sua vez, influenciam na dispersão das fêmeas e na economia de defesa por parte dos machos. Essa economia dependerá da distribuição das fêmeas no tempo e no espaço e quanto mais agregados no espaço estiverem os parceiros sexuais ou os recursos, maiores as oportunidades para a poliginia. Quando todas as fêmeas procriam em sincronia (todas ao mesmo tempo), há poucas chances de um macho se acasalar com mais de uma fêmea, cujo exemplo é do sapo Bufo bufo, onde todas as fêmeas desovam em uma semana e o macho consegue fertilizar no máximo os ovos de duas fêmeas. Na poliandria ocorre o inverso, a fêmea é que copula com vários machos e, neste caso freqüentemente o macho é que fornece o cuidado parental, um exemplo é a Drosophila melanogaster. Na promiscuidade, ambos acasalam-se muitas vezes com diferentes indivíduos e qualquer um dos dois pode cuidar dos ovos ou dos filhotes. A poligamia é um termo usado para casos em que indivíduos de qualquer sexo se acasalam mais de uma vez.

Um macho pode aumentar seu sucesso reprodutivo encontrando e fertilizando muitas fêmeas. Isto se observa em mamíferos, no qual em muitas espécies, as fêmeas levam muitos meses gerando um filhote, sendo mais difícil para ela, a infidelidade. E depois do nascimento ela ainda precisa amamentar e cuidar do filhote, cuja sobrevivência não depende do cuidado do pai.

Nos mamíferos, os diferentes sistemas de acasalamento decorrem do tamanho do grupo de fêmeas, da área de ação das fêmeas (movimentação) e sazonalidade da reprodução. Quando o esforço parental é mais ou menos igual, como em aves monogâmicas, em que a sobrevivência do filhote depende do macho e da fêmea, o macho precisa ser fiel. Nesse caso números iguais de indivíduos de ambos os sexos entram em atividade reprodutiva ao mesmo tempo, favorecendo a monogamia, sendo desnecessária a competição sexual e impossibilitando a infidelidade. Muitos insetos são bons exemplos de lutas por sucesso reprodutivo. Fêmeas de libélulas acasalam com vários machos e estocam o esperma na espermateca para uso futuro. O pênis do macho de Orthetrum cancellatum possui um flagelo farpado que raspa o esperma deixado anteriormente por outros machos antes de injetar o próprio esperma. O macho de alguns outros insetos obstrui a abertura genital da fêmea depois da cópula para impedir que outros machos a fertilizem.

Porém há casos de aves que entram no período reprodutivo de maneira assincrônica, onde poucos machos controlam um número grande de fêmeas, havendo intensa competição sexual. Contudo, até o mundo monogâmico das aves tem sido cada vez derrubado, já que, como todos os animais, incluindo os humanos, procuram sucesso reprodutivo, reproduzindo e misturando seus genes com os que também possuem ótimos genes, sendo que é cada vez mais provado que não apenas o macho se dedica a infidelidade, mas as fêmeas também têm procurado melhores genes para seus filhotes (Barash; Limpton, 2007). Segundo Barash e Limpton (2007) as fêmeas investem muito mais na reprodução, visto que possuem poucos gametas e levam a gestação durante um longo período, o que torna vantajoso a reprodução com vários machos, para que o melhor espermatozóide possa fecundar seu óvulo. Isto acaba causando um “ciúme sexual”, pois muitos parceiros machos gastam muita energia na guarda de sua companheira, apesar de ainda possuir interesse em repassar seus genes, através de seus espermatozóides para outras fêmeas. Existem também outros mecanismos de garantia do repasse de seus genes, alguns machos ao copular, deixam uma espécie de tampão na fêmea, para o caso desta procurar outro parceiro, este outro macho não obtenha sucesso em depositar seus espermatozóides em sua fêmea. No verme acantocéfalo Moniliformes dubius, os machos produzem um tipo de “cinto de castidade” além de obstruírem as fêmeas. Há machos também, como no caso dos lobos, que acabam ficando presos à fêmea, através de um “nó pós-copulatório” que evitam que outro macho copule com esta fêmea, garantindo que seu espermatozóide seja o único a fecundar a fêmea, garantindo também que os filhotes sejam seus.

Dentre todos os animais, os primatas são os mais praticam a monogamia social, onde mesmo apresentando infidelidade, os casais continuam juntos cuidando de suas proles e dispensando maior cuidado parental (Barash; Lipton, 2007). Dentre os primatas, o ser humano é um animal que tende ao “ciúme sexual”, mesmo existindo vários exemplos em outros animais, porque se foge tanto do assunto? Fácil, porque a fidelidade e infidelidade não são apenas idéias abstratas, partindo da idéia que fidelidade nos dá a sensação de bem estar, conforto, enquanto que a infidelidade é acompanhada de mal estar, dúvida e desconforto, é uma estrutura importante na vida dos humanos, sendo citados em várias áreas, incluindo as artes como teatros, novelas, livros (Curado, 2005).

Pelos humanos, a infidelidade é muitas vezes vista no âmbito de infidelidade conjugal, onde entra o jogo os valores, atitudes e padrões de comportamento em face ao casamento (Santos, 2008), porém não devemos esquecer a infidelidade é algo natural, visto que muitos animais socialmente monogâmicos, naturalmente não o são (Barash; Limpton, 2007). Também está associada com os sistemas de acasalamento das espécies e para entender esse mecanismo reprodutivo é importante saber os conceitos destes sistemas.

Muitas pessoas julgam a monogamia como algo normal numa união, sendo difícil para uma pessoa falar que uma pessoa trai ou que foi traída. Isso porque no caso dos humanos, aprendemos que a monogamia é a regra para a sociedade, sendo que quando acontece a infidelidade vemos como uma falha pessoal da pessoa infratora, muitas vezes nos julgando culpados e procurando os possíveis erros para o acontecido (Vaughan, 1991). O tema abordado é polêmico entre humanos, se tratando de preceitos religiosos e sociais. Nós consideramos a infidelidade como uma situação natural, sendo que á partir desta é possível aumentar a variabilidade genética e proporcionar um maior número de descendentes com os genes parentais. Porém

Esse ensaio foi elaborado na disciplina de Etologia e baseado nos seguintes textos:

BARASH, D. P.; LIPTON, J. E. O Mito da Monogamia: Fidelidade e infidelidade entre pessoas e animais, Ed. Record, Rio de Janeiro, 2007.

CURADO, M. Infidelidade, Conferência realizada nos VII Colôquios de Outono, Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, Braga, 2005.

MAGALHÃES, M. M. A infidelidade conjugal e seus mitos: uma leitura gestáltica, Revista IGT na Rede, v. 6, n. 10, p.58-90, 2009

SANTOS, F. Infidelidade conjugal: Classe social e Gênero, III Congresso português de sociologia, 1996.

VAUGHAN, P. O Mito da Monogamia: uma nova visão dos relacionamentos e como sobreviver a eles, Ed Record, Rio de Janeiro, 221p, 1991.

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