Produção Independente, Independente mesmo?






A novela “Caminho das Índias” está levantando um tema polêmico: “a produção independente”. Dificuldades nos relacionamentos, entrada no competitivo mercado de trabalho, idade avançada, falta de realização pessoal, cobrança da sociedade, instinto materno... Inúmeras são as explicações para a necessidade incontrolável de ser mãe a qualquer custo. Mas, como a autora da novela considera: “melhor ter um filho sozinha, pois daí eu crio como eu quiser”. E, daí? Será o final da monogamia social? Tantos milhões de anos de evolução para que a mulher da caverna conseguisse fisgar o seu homem para ajudá-la com a prole e agora... vamos dispensar? Será que o biológico e o social estão preparados para essas mudanças? A sociedade será monoparental? (ver reportagem Mente e Cérebro 193)

Em primeiro lugar precisamos ter em mente que em uma população de qualquer espécie nem todos os indivíduos se reproduzem, caso isso ocorresse teríamos sérios problemas de superpopulação. Por isso mesmo na natureza além de haver “seleção sexual” e “seleção social” há animais mais ou menos propensos para serem pais ou mães. Desta forma, é esperada a ocorrência de indivíduos inférteis ou com pouca chance de lograr uma fertilização.

Se o problema for a Infertilidade masculina e feminina..... recorremos a fertilização in vitro

Em humanos inúmeras pesquisas apontam para o aumento da infertilidade (atualmente em torno de 10%), sendo que em cerca de 90% dos casos é possível o diagnóstico. A taxa de infertilidade em humanos é grande para tendo em vista seu baixo índice reprodutivo quando comparados a outros animais. Porém, deve-se levar em consideração que somos uma espécie extremamente abundante representadas atualmente por 6,5 bilhões de pessoas, com uma projeção de 9 bilhões até 2050. Mesmo assim, alguns países europeus se preocupam com a diminuição na taxa de natalidade, fornecendo benefícios para quem tiver filhos.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que os homens são responsáveis por 40% dos casos de esterilidade, estando relacionado com a qualidade ou quantidade de espermatozóides. Além dos fatores genéticos, os fatores ambientais como hábitos de vida pouco saudáveis, poluição do ar, má qualidade da água podem estar contribuindo para esse aumento. Há, inclusive, a possibilidade de que o convívio com um excessivo número de eletrodomésticos possa colocar o indivíduo em contato com fontes de irradiação eletromagnética de diferentes níveis de potência e freqüência. Esse contato pode causar além de distúrbios na reprodução, também doenças degenerativas, efeitos psiquiátricos e psicológicos, alterações citogenéticas, alterações no sistema cardiovascular, nervoso e neuroendócrino, bem como nos parâmetros biológicos e bioquímicos.

A infertilidade feminina é um pouco mais complexa de ser diagnosticada, e além dos fatores genéticos (cistos, disfunções hormonais déficit na quantidade de hormônios, estrógeno ou progesterona, insuficiências em glândulas como a hipófise, as supra-renais ou a tireóide) e ambientais (inflamações, doenças, medicamentos), deve-se considerar o psicológico, muitas vezes responsáveis pela não ovulação ou impedimento da nidação do embrião, uma vez que o sistema imunológico da mulher precisa se adaptar a gravidez.

Desde o primeiro bebê de proveta - a cerca de 30 anos - a fertilização in vitro vem se aperfeiçoando e logrando sucesso até mesmo com homens considerados inférteis. O paradoxo é que apesar da população global estar aumentando em uma velocidade muito grande tornando o planeta quase inabitável, no Brasil, até mesmo o SUS e os planos de saúde deverá dar assistência para que os casais que não consigam ter filho. Dados do Ministério da Saúde apontam que quase 200 mil casais em idade fértil têm dificuldade de ter filhos. A orientação é que um casal cuja mulher tem menos de 35 anos e não conseguiu engravidar no período de 12 meses deve procurar um tratamento. O preço de um tratamento fica em torno de 15 mil reais.

No hospital das Clinicas de São Paulo a taxa de sucesso de gravidez após um tratamento de fertilização in vitro é de 30%, sendo que cada casal tem 3 chances. Novos estudos têm mostrado que a presença de uma proteína no endométrio é fundamental para nidação. O uso de uma das 50 proteínas presentes no endométrio tem aumentado para 88% o sucesso da técnica.

No Brasil, até o momento dessa publicação, as técnicas de Reprodução Assistida são regulamentadas apenas pelas normas éticas definidas pela resolução do Conselho Federal de Medicina de novembro de 1992 (nº 1358/92). Logo devem ser debatidas e legalizadas questões como vinculo matrimonial para aplicação das técnicas, doação de gametas, número de embriões transferidos, criopreservação dos embriões e diagnóstico genético pré-implantação.

E quando o problema é o útero.... Recorremos à barriga de aluguel

A "barriga de aluguel" já gerou polêmica e até uma novela global. Atualmente só pode ser feita entre parentes de até segundo grau, irmãs ou primas, para que não haja incompatibilidade sanguínea. Inclusive a pouco tempo no Japão uma senhora de 61 anos deu a luz ao seu neto. No Brasil nem a doadora nem a que empresta o útero podem receber pagamento, ao contrário de outros países (EUA), porém é possível que a mãe seja responsável pelo tratamento da outra mulher, mas não diretamente.

Se o problema for falta de parceiro.... Banco de espermas e Banco de óvulos

Deve-se considerar que nem todo mundo que quer ter um filho tenha ou queria ter um parceiro para ajudar. Neste caso, pode-se recorrer a um banco de esperma ou de óvulo. A doação de gametas só é permitida por lei se o doador for anônimo. Os doadores devem passar por uma bateria de testes biológicos, genéticos, de saúde e psicológicos. É comum modelos e jovens universitárias serem abordadas para doação de óvulos. Os EUA são o único país que considera legal o comércio de células reprodutivas. Na internet é possível encontra propostas de até US$ 15 mil por óvulos de mulheres com as mais diversas características físicas e intelectuais. A concepção de um filho por esses meios levanta a questão legal, caso a criança mais tarde venha pleitear a paternidade biológica.

E se o problema for não achar o parceiro.... Congelamento de óvulos, Clonagem ou Reprodução assexuada! Você escolhe...

Congelamento de óvulos

O congelamento de óvulos pelo processo de vitrificação tem sido sugerido para mulher que precisa passar por algum tratamento invasivo que comprometa suas células reprodutivas (como quimioterapia). Porém, mulheres que estão adiando a maternidade sejam devido à carreira profissional ou dificuldade em encontrar um parceiro, têm se beneficiado da técnica. Um estudo dirigido por Ri-Cheng Chian, da Universidade McGill, de Montreal (Canadá), tem sugerido que inicialmente o desconcegelamento (50% de sucesso) não representa perigo para o eventual bebê, sendo o índice de problemas de nascença entre as crianças fruto de óvulos vitrificados é de 2,5%, porcentagem comparável ao de nascimentos naturais. O congelamento custa no Reino Unido entre US$ 3.913 e US$ 5.870, mais um valor anual pelo armazenamento dos óvulos. Porém, ao contrário do esperma, que pode ser facilmente congelado, descongelado e usado em tratamentos de fertilidade, os óvulos são frágeis e, muitas vezes, acabam sendo danificados ao serem descongelados. No entanto, novas técnicas têm tido melhores resultados.

Clonagem

A clonagem de seres vivos tem sido um vasto campo de experimentos científicos e de discussões éticas. O nascimento da Dolly - em 1997 - quebrou o dogma segundo o qual uma célula adulta jamais poderia ser reprogramada para gerar um novo indivíduo. Muitos outros animais foram clonados e o mundo balançou frente à possibilidade de um ser humano ser clonado, o que gerou a interferência dos governos de vários países limitando as pesquisas. Nessa técnica se retira o óvulo de uma doadora e remove o núcleo. Então, uma célula contendo DNA é retirada de quem está sendo clonado. Por meio de eletricidade, o óvulo sem núcleo é fundido com a célula contendo o DNA. Forma-se o embrião, que é implantado na mãe de aluguel, aquela que forneceu o óvulo. Caso o procedimento seja bem-sucedido, a mãe de aluguel dará à luz à uma cópia exata do clonado.

Reprodução assexuada – Não precisamos mais dos espermatozóides! E agora que será dos homens?


A reprodução assexuada é comum na natureza e a primeira forma de replicação criada. Porém perdeu cenário para a reprodução sexuada diante da diversidade genética proporcionada com mais rapidez por esta. A reprodução assexuada nada mais é que uma forma de clonagem e entre a mais comum está a partenogênese, em que a fêmea produz um óvulo que não precisa ser fertilizado. Não há registro natural da partenogênese em mamíferos, porém uma nova técnica de clonagem propõe a eliminação do sexo masculino, marcando com o nascimento de uma fêmea de camundongo chamada Kaguya que tem duas mães e nenhum pai. O nascimento desse camudongo foi considerado o fato mais revolucionário na biologia reprodutiva desde a clonagem da ovelha Dolly.

Na formação de espermatozóides e óvulos certos genes fundamentais são desligados por uma série de marcações químicas. Para produzir Kaguya, Tomohiro Kono e sua equipe desenvolveram uma espécie de truque biológico, manipulando o núcleo do óvulo de uma das fêmeas para masculinizá-lo através da criação de camundongas transgênicas cujos óvulos têm ativado o gene IGF-2, normalmente ativo nos espermatozóides. Assim, o núcleo do óvulo de uma camundonga transgênica foi transferido para um óvulo normal, esse óvulo com dois núcleos foi cultivado em laboratório, crescendo e se dividindo. A técnica ainda é altamente ineficiente, uma vez que de 457 óvulos reconstruídos apenas Kaguya e uma irmã nasceram vivas. E somente Kaguya chegou à idade adulta. A experiência tem desdobramentos biológicos e éticos, uma vez que o ser humano chega a um nível inédito na capacidade de mudar a geração de seres vivos. Agora, casais de lésbicas podem ter filhas geneticamente aparentadas de ambas - sempre filhas, já que sem o cromossomo sexual masculino Y é impossível gerar meninos

E a adoção?


A adoção entre os animais ainda não é algo compreendido seria apenas a compensação por um filhote perdido? Um instinto de cuidar? Ou altruísmo?. O caso mais clássico é relatado no livro “o parente mais próximo” (lista ao lado) em que uma macaca adora um filhote da mesma espécie, após perder os seus bebês e exemplos mais modernos como o casal de pingüim gay relatado dias atrás neste blog. Existem também inúmeros relatos de adoções heteroespecíficas como macaca que adota gato (http://franpage.blogspot.com/2008/08/macaco-adota-gato.html), gata que adota coelho (http://porcamandioca.com/2009/05/gata-adota-filhote-de-coelho/), porca que adota tigre (http://www.achetudoeregiao.com.br/noticias/animal0215.htm), cão que adota veado (http://www.angelamoura.com/Nova/cao_adota_veado.htm), leão (http://adestramento.wordpress.com/2008/05/10/cachorro-adota-filhotes-de-leo/) e macaco (http://www.seucachorro.com/cachorro-adota-macaco-em-mocambique/).
Os seres humanos também adotam outras espécies como filhos (cães, gatos, macacos, aves...) tem gente que adota ate objetos. A adoção de crianças não é um processo tão fácil, atualmente milhares de casais heterossexuais, homossexuais e solteiros (só no Rio de Janeiro são 450 casais) estão na fila de adoção. Normalmente buscam por crianças brancas, recém-nascidas e saudáveis. Deve-se considerar também que muitas das crianças presentes em abrigos não estão disponíveis para adoção, os pais deixam-as ao por não terem como cuidar, mas não abrem mai do pátrio poder. A maioria atinge a maior idade nesses abrigos sem terem a oportunidade de terem uma família (http://www.adocaobrasil.com.br/news007.asp).

Para saber mais:
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=17963
http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/story/2004/04/040421_dnarato.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u413152.shtml
http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1046649-EI296,00.html
http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/19395
http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI3682666-EI238,00.html
http://www.minhavida.com.br/materias/saude/e+preciso+conhecer+as+causas+da+infertilidade+masculina.mv
http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mulher/mat/2009/05/22/o-sonho-da-maternidade-em-parcelas-755986011.asp
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u389469.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/equi20000826_gravidez40_04.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u118224.shtml
http://www.crh.com.br/crh.asp?pasta=33&livro=1&txt=15