domingo, 7 de junho de 2009

A Pílula para Lembrar? Pílula para esquecer?



Qual você vai tomar hoje?


Uma questão polêmica está em pauta: usar medicamentos para melhorar o desempenho intelectual em pessoas saudáveis (em algumas universidades até 25% dos estudantes e professores consomem) com o intuito de turbinar o cérebro. Essa atitude tem contado com o apoio de alguns cientistas renomados (área de neurociência, saúde pública, direito e ética) e repulsa por outros. Alguns adeptos assinaram um manifesto na revista científica Nature, justificando que artifícios para aperfeiçoar o desempenho cerebral - seja por educação, alimentação ou meditação - são métodos e não trapaças, análogos ao uso desses remédios.



Steven Rose em sua obra "o Cérebro no século XXI" (lista ao lado) traz um ponto de vista bem interessante ao questionar o uso dos novos conhecimentos advindos com o avanço das neurociências. Ao invés do homem usar o conhecimento para compreensão do comportamento (animal e humano) ele visa deter o controle e ultrapassar a genética trazendo promessas como a “pílula da inteligência"; "Máquinas que lêem o cérebro"; "Estimuladores do cérebro", "Genes da psique"; "Controle do estresse".


Há muito tempo se pesquisa a melhoria dos sintomas de doenças que provocam danos cognitivos - capacidade de aprendizado, memorização, compreensão, linguagem, distúrbios de sono - como o mal de Alzheimer, esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade (TDAH) e mal de Parkinson. Drogas como a Ritalina, Adderall, modafinil, donepzil, têm trazido melhoras no quadro clínico. No entanto, além de não se conhecer os efeitos colaterais a longo prazo, não há estudos concretos como o cérebro funciona, quanto aumenta nosso QI, nem os efeitos dessas drogas sobre o cérebro em formação. Também não se é sabido se o uso desses compostos provoca apenas uma melhora temporária ou permanentes.



A questão ética levanta vários pontos que devem ser debatidos com a sociedade - a administração de drogas sem o conhecimento ou consentimento da pessoa pode possibilitar a homogeneização das pessoas ou a criação de máquinas para servir a determinados aspectos? Por exemplo: transformar soldados em máquinas de matar - patrão obrigar funcionário a usar para melhorar desempenho - o doping mental em um concurso seria uma trapaça? Qual a implicação social se todos os seus elementos se tornassem inteligentes? Será que essas pílulas seriam uma maximização de estratégias mais tradicionais para o aumento de concentração (como o cafezinho ou o guaraná; Cuidado com alimentação, meditação e exercícios físicos). Será que poderíamos considerar um procedimento desleal a competição entre um indivíduo nascido rico e com boa nutrição durante seu desenvolvimento e boa educação com um que passou a infância desnutrido? Nesse cenário poderíamos considerar essas drogas uma contribuição para redução das desigualdades sociais? Quais seriam então as implicações sociais e evolutivas disto?

Rotina ou Novidade?

A natureza nos dotou de um cérebro para resolvermos nossos problemas, nossa memória foi moldada para medida das nossas necessidades. Evoluímos em um ambiente altamente mutável - o qual somado a nossa longa longevidade e estrutura social com muitos integrantes - exigia uma capacidade de memorização de eventos e indivíduos de forma extremamente interligada. Assim, a rotina não despertava a atenção do cérebro como as novidades. Pesquisadores ingleses mostram que o Hipocampo serve tanto para fixar quanto para reativar as memórias, sendo ele o verdadeiro detector de novidades. A Dopamina é a substância que permite a formação da memória. Esses conhecimentos podem ser incorporados pela pedagogia para o desenvolvimento de procedimentos pedagógicos que favoreçam a fixação da memória usando os mecanismos naturais do cérebro.

Socialmente existem os Novelly seekers – buscadores de novidades – como Chris McCandless cuja vida foi relatada no filme Na natureza selvagem (veja trailler). Essas pessoas têm uma ânsia pelo novo, não se adaptam à rotina. Segundo neurocientistas alemães seus cérebros possuem pouca dopamina. Em um cérebro normal quando uma pessoa vê um rosto, o hipocampo procura nos arquivos de rostos, caso não encontre nada parecido aciona o alarme “estranho” e aumenta a atenção. Em pessoas com altas dosagens de dopamina tudo é novidade, então conseguem viver facilmente com a rotina, (são mais amáveis, estáveis emocionalmente e têm mais consciência de si). Já as pessoas que têm baixa dosagem, nem estimulo novo satisfaz (são sociáveis, ativas, atraídas por novidades e exploradoras). A novidade é um paradoxo, pois ao mesmo tempo que fascina, também assusta, pois o conhecido nos dá segurança. Embora sempre a novidade excite a todos, tente a ser maior na juventude. Deve-se considerar, ainda, que embora precisamos da consciência para aprendermos muitas coisas, alguns processos cognitivos ocorrem inconscientemente, num processo chamado de aprendizado implícito.

Mas seria saudável lembrar de tudo?

Paralelamente às pesquisas que visam desenvolver drogas que nos façam lembrar de TUDO - de uma tempestade de 30 anos atrás até o telefone novo memorizado a meia hora - outros pesquisadores tentam desenvolver tecnologias para que possamos apagar memórias que nos fazem mal. Yadín Dudai, chefe do Departamento de Neurobiologia do Instituto de Ciências Weizman, da cidade israelense de Reho descobriu que a proteína, a enzima PKN-zeta, atua como u ma pequena máquina que a mantém viva e também pode apaga a memória. A descoberta pode tanto fortalecer a memória de pessoas idosas quanto remover lembranças traumáticas. Esta enzima é encontrada na sinapse, sendo capaz de modificar algumas facetas na estrutura deste contato. Dudai e Shema expuseram a descoberta na edição da revista "Science" - entenderam que se a PKN-zeta for "silenciada" na sinapse a mudança produzida pela enzima poderia ser revertida. Veja o vídeo e comente.



Para saber mais

http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/041006/trecho_cerebro.html
http://www.unesp.br/aci/clipping/231208i.php
http://consciencianodiaadia.com/2008/07/06/pilulas-para-turbinar-o-cerebro-onde-estamos-e-onde-podemos-chegar/
http://hypescience.com/dez-maneiras-de-manter-a-mente-afiada/
http://claudioalex.multiply.com/links/item/1227/1227

http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/a_busca_da_pilula_da_inteligencia.html

http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/6845

http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1842276-EI8147,00.html

http://www.insanus.org/mondoestudo/2007/03/cientista_apaga_memoria_de_roe.html

Revista Mente e Cérebro 193 – Doidos por novidades!

2 comentários:

  1. Os remédios citados na matéria são muito fortes e causam sérios efeitos colaterais, e nenhum remédio é totalmente seguro para ser usado para sempre, imagine utilizá-los sem necessidade.
    Fora que penso que ao invés de isso ser uma solução para as desigualdades, pelo contrário, se de fato ficar provado que as drogas funcionam, pode ser uma concorrência desleal quanto aqueles que não podem ou não querem se utilizar desses métodos.
    é claro que para casos extremos e patológicos deve ser algo a ser aproveitado. Porém com esse bombardeio de novidades que recebemos todos os dias, não tem como saber até que ponto isso é vantagem para nós, e o que pode acontecer com alguém que se lembre de TUDO.

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  2. Dayana- acredito que a descoberta do cientista a respeito de apagar uma parte de memória só trará benefícios caso seja realmente utilizada para o tratamentos de doenças como o mal de alzheimer, mas discordo completamente quanto ao fato de ser usada para apagar situações ruins de nossa vida, se elas acontecem e ficam retidas na memória é porque possuem uma finalidade que fará bem ao indivíduo, caso contrário esse mecanismo não existiria, como por exemplo pessoas que se expoem a riscos grandes de morte, imagine se essas pessoas esquecessem de uma dessas situações? Após certo tempo poderiam se ver imersas nessas situações novamente pois esqueceram da experiencia passada. Temos que nos atentar às consequencias dessas descobertas e entender que algumas coisas não devem ser mudadas.

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