Por Marta L. Fischer
A visita técnica realizada hoje 27 de novembro de 2025 marcou mais um passo na internacionalização das ações da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) no âmbito das Blue Communities. Como Blue University desde 2023, a instituição recebeu Filippo Bellini, operador socio-sanitário e ativista do Forum Italiano dei Movimenti per l’Acqua, interessado em conhecer de perto o modelo brasileiro de universidades comprometidas com a gestão ética e comunitária da água. A visita teve como propósito compreender as práticas já consolidadas na PUCPR e avaliar a viabilidade de adaptação dessas iniciativas ao contexto italiano, onde apenas uma experiência-piloto de comunidade azul está em andamento. Fellipo foi recebido por representantes diretamente envolvidos na pauta hídrica da universidade: a professora Dra. Marta Fischer (PPGB), o professor Dr. Elias Wolff (PPGT), Thierry Lummertz, coordenador do Clube da Água, e a equipe da Diretoria de Operações de sustentabilidade representada por Elaine Kurscheidt, Jonas Kossar e Gustavo Ceschin Silva de Liz. Ao longo do encontro, realizou um tour institucional pelas instalações, conhecendo laboratórios, museus, iniciativas acadêmicas, projetos de extensão e práticas de sustentabilidade presentes no campus. O momento de maior destaque ocorreu à margem do Rio Belém, rio urbano que integra a identidade territorial da PUCPR e da comunidade vizinha. Longe de ser tratado como um estigma, o rio foi apresentado como um símbolo pedagógico e ético: suas águas ainda comprometidas revelam o desafio formativo de unir técnica e responsabilidade socioambiental, preparando profissionais capazes de atuar com competência e compromisso real com a vida das pessoas e dos ecossistemas. Assim, o Rio Belém foi compreendido como um eixo de pertencimento e como campo de aprendizagem, onde a recuperação da mata ciliar e os esforços de monitoramento ambiental caminham lado a lado com ações comunitárias e acadêmicas.
Na sequência, a equipe apresentou ao ativista italiano uma síntese das práticas que sustentam o selo Blue University, fundamentadas nos três pilares das Blue Communities: reconhecimento da água como direito humano, gestão pública e comunitária dos recursos hídricos e eliminação de garrafas plásticas descartáveis. A PUCPR vem avançando em todas essas dimensões, seja por meio de ações estruturais — como monitoramento semestral da qualidade da água, sistemas de redução de consumo, manutenção técnica contínua, tecnologias sustentáveis e produção de 95% da água utilizada internamente —, seja por meio de iniciativas educativas integradas à comunidade, incluindo educação ambiental, engajamento estudantil e cooperação internacional. Esses elementos também estão alinhados ao que o artigo científico “Somos uma Blue University, e agora?” apresenta sobre o papel das instituições de ensino superior no movimento global das Blue Communities, reforçando que universidades ocupam posição estratégica no desenvolvimento de tecnologias, práticas de sensibilização e modelos de governança da água baseados na justiça socioambiental. Fellipo relatou que, na Itália, o Fórum Italiano dos Movimentos pela Água tem buscado ampliar a mobilização popular e a educação para o uso sustentável da água, especialmente entre jovens de 14 a 30 anos. O país vive, assim como outras regiões europeias, uma intensificação das crises hídricas provocadas pelas mudanças climáticas, o que torna urgente o desenvolvimento de iniciativas educacionais e comunitárias capazes de reduzir o consumo e aumentar a resiliência local.
A experiência brasileira, especialmente a da PUCPR, mostrou-se relevante exatamente pela articulação entre ciência, ética, extensão universitária, espiritualidade e participação comunitária — características que, na avaliação do visitante, são essenciais para a expansão das comunidades azuis no contexto europeu. Também foram discutidas iniciativas de engajamento estudantil como o Clube Universitário da Água, que promove ações de preservação, atividades formativas e campanhas de conscientização alinhadas aos princípios do movimento internacional. O ativista demonstrou especial interesse por essa dimensão formativa, considerando que a atuação dos jovens tem sido um dos principais motores da comunidade azul italiana. A integração entre território, universidade e espiritualidade também chamou atenção do visitante, que destacou a importância das instituições de ensino superior na promoção de políticas baseadas na justiça hídrica e no reconhecimento da água como bem comum. A visita encerrou-se com a perspectiva de ampliar a cooperação entre universidades brasileiras e italianas, fortalecendo a troca de experiências e contribuindo para a adaptação do modelo de Blue University à realidade europeia. Para a PUCPR, o encontro reforça seu papel como agente de transformação socioambiental e revela a relevância internacional das ações que vêm sendo desenvolvidas desde a certificação em 2023. A experiência reforça a missão da PUCPR como uma universidade comprometida com o cuidado da casa comum, com a justiça socioambiental e com a construção de respostas éticas, técnicas e comunitárias para os desafios globais da água.
Mais informações sobre as iniciativas citadas podem ser encontradas em:
– Fórum Italiano dos Movimentos pela Água Pública: https://www.acquabenecomune.org
– Projeto italiano de comunidades azuis (CEVI): https://www.cevi.coop
– Artigo “Somos uma Blue University, e agora?”: http://dx.doi.org/10.7213/cda13n22p158180
- FISCHER, Marta Luciane; WOLFF, Elias; DA SILVA, Luciana Caetano. Somos uma Blue University, e agora?. Caminhos de Diálogo, v. 13, n. 22, p. 158-180, 2025. (clique aqui)
repercussão: https://blue-community.net/blue-university-visit-in-brazil/
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