sábado, 30 de agosto de 2025

Por que minha pesquisa sobre Engajamento Ambiental e Social importa para a Sociedade?


Por Ana Carolina de Campos

 

O crescimento rápido das cidades, especialmente nos países em desenvolvimento, traz sérios desafios ambientais, sociais e econômicos. Ao mesmo tempo em que as cidades precisam se modernizar e usar tecnologias para melhorar a vida das pessoas, também é fundamental pensar em sustentabilidade e em como incluir a população nas decisões que afetam seu dia a dia. Exemplos como a cidade de Curitiba mostram avanços importantes, mas também revelam que ainda há muito a ser feito para aproximar cidadãos da natureza e da gestão urbana. Além disso, a participação social em espaços como conferências e conselhos é essencial para influenciar políticas públicas, embora esses mecanismos ainda enfrentem problemas de representatividade e transparência. Sendo assim, a pesquisa partiu da ideia de que diferentes grupos de pessoas, como ambientalistas, movimentos sociais, estudantes ou cidadãos que não participam de nenhuma causa, enxergam de maneiras distintas o que os motiva ou dificulta a se engajar. A expectativa era de que quem já participa de causas ambientais percebesse mais motivações do que barreiras, enquanto aqueles que não se envolvem em nenhuma causa identificariam mais obstáculos do que incentivos. A questão central do estudo foi entender quais fatores estimulam ou limitam o engajamento social e ambiental entre diferentes grupos de brasileiros. Para isso, foram analisados tanto os fatores que incentivam quanto os que dificultam essa participação, unindo reflexões da Bioética Social e Ambiental com os conhecimentos da Psicologia.
A dissertação foi dividida em duas partes: Na 1ª etapa  Grupos focais online reuniram ambientalistas, engajadores em causas sociais, estudantis e não engajados. Os valores de solidariedade, cuidado com a vida e justiça apareceram como raízes do engajamento. Já as fragilidades emocionais (como ansiedade, cansaço, descrença política) e sociais (desigualdades de tempo, recursos e acesso à informação) surgiram como obstáculos que dificultam a participação. O grupo de não engajados apresentou maior percepção de barreiras, enquanto os ambientalistas mostraram mais potencialidades e confiança na transformação coletiva.
Na 2ª etapa foi construído um Curso de extensão universitária a partir das vulnerabilidades identificadas nos grupos, o curso foi pensado para atuar com jovens universitários temas como empatia, regulação emocional, diálogo, deliberação e bioética ambiental. Funcionará como espaço educativo e reflexivo, fortalecendo habilidades internas (autonomia, manejo das emoções) e coletivas (cooperação, construção de sentido, cidadania ativa).

🌍 Onde entra a Bioética nisso tudo? A pesquisa articulou diferentes vertentes da bioética para analisar o engajamento: - Bioética Ambiental 🌳: reforça a responsabilidade ética com a natureza e as futuras gerações; - Bioética de Intervenção ✊: olha para desigualdades sociais e busca justiça para os mais vulneráveis; - Bioética Deliberativa 🗣️: valoriza o diálogo, a escuta e a busca de consensos possíveis; - Bioética Social 🤝: integra ciência, cidadania e cuidado coletivo. Com esse olhar interdisciplinar, foi possível compreender que o engajamento não depende apenas de motivações individuais, mas também de contextos históricos, sociais e emocionais que precisam ser reconhecidos e cuidados. Como fruto da pesquisa, surgiu a proposta de criar um Comitê de Bioética Ambiental dentro da universidade. Esse espaço funcionaria como fórum ético para apoiar e qualificar os debates coletivos, complementando iniciativas já existentes, com o papel de  Promover formação ética para estudantes e conselheiros;  Estimular reflexões interdisciplinares; Fortalecer a deliberação e a corresponsabilidade socioambiental; Garantir que princípios como justiça, equidade, cuidado e precaução orientem as decisões.

Por que isso importa?

A pesquisa mostrou que cidadania ativa não se constrói apenas com leis ou tecnologias, mas também com emoções, valores e espaços de diálogo. Reconhecer fragilidades, cultivar potencialidades e criar instâncias éticas permanentes pode transformar a forma como participamos da vida pública.
👉 O futuro será coletivo: e cada gesto de engajamento conta.

Essa pesquisa te interessou? Te convido para assistir a defesa da minha dissertação de mestrado!



E também te convido a conhecer um pouquinho mais sobre minha produção científica durante os dois anos de mestrado!

FISCHER M. L., CAMPOS, A. C. de, & SANTOS-JR R. J. dos. (2025). Educação ambiental para a coexistência: superando a biofobia para um futuro sustentável. Ambiente & Educação: Revista De Educação Ambiental, 30(1), 1–25. https://doi.org/10.63595/ambeduc.v30i1.17978. Disponível em: https://periodicos.furg.br/ambeduc/article/view/17978

FISCHER, Marta Luciane; FARIAS, Marina Kobai; AMORIN, Amanda Zanatta; CAMPOS, Ana Carolina de. Cães errantes no campus da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. In: Viver em harmonia: sobre o convívio de humanos e não-humanos nas universidades. Capítulo 2.

FISCHER, Marta Luciane; CAMPOS, Ana Carolina de; SANDRINI, Carina del Pino; SANTOS, Daihany Silva dos. O direito de os animais conviverem nas cidades: um debate entre a bioética ambiental e as cidades inteligentes.Disponível em: https://editorial.tirant.com/free_ebooks/E000020005901.pdf.

SANTOS, Daihany Silva dos; CAMPOS, Ana Carolina de; SANDRINI, Carina Del Pinto; SUTILE, Viviane Maria; FISCHER, Marta Luciane. A importância do engajamento comunitário na bioética social e ambiental. In: O E-caminho do diálogo V: A deliberação coletiva em busca da humanização em saúde integral na era digital. Capítulo 19. E-book. Disponível em: https://atenaeditora.com.br/catalogo/ebook/e-caminho-do-dialogo-v-a-deliberacao-coletiva-em-busca-da-humanizacao-em-saude-integral-na-era-digital.

SANTOS, Daihany Silva dos; CAMPOS, Ana Carolina de; TOZO, Julio Rodrigues; FAGUNDES, Maria Leticia; SCHIAVON, Poliana; FISCHER, Marta Luciane. Grupo FOCAL: Qual a causa que te move? In: O E-caminho do diálogo V: A deliberação coletiva em busca da humanização em saúde integral na era digital. Capítulo 20. E-book. Disponível em: https://atenaeditora.com.br/catalogo/ebook/e-caminho-do-dialogo-v-a-deliberacao-coletiva-em-busca-da-humanizacao-em-saude-integral-na-era-digital.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

A participação cidadã nas políticas públicas ambientais em cidades inteligentes: um espaço para a bioética ambiental?

Por Daihany Santos


Por que minha pesquisa sobre conselhos ambientais importa para a sociedade?



Os Conselhos Municipais de Meio Ambiente são espaços onde representantes da sociedade civil e do poder público se reúnem para discutir e decidir sobre políticas ambientais. Em teoria, são instrumentos de democracia participativa: lugares onde a população pode ter voz nas decisões que afetam a qualidade de vida de todos e até a forma como as cidades crescem. Mas a dúvida é se na prática a voz da sociedade é ouvida.

Dessa forma, a pesquisa investigou a participação cidadã nas políticas públicas ambientais no contexto das cidades inteligentes, com foco nos conselhos municipais de meio ambiente como espaços institucionais de deliberação, controle social e engajamento comunitário.

Se propôs fazer a interação entre a bioética, especialmente nas vertentes: ambiental, de intervenção, deliberativa e urbana, juntamente com o direito ambiental, visando uma abordagem interdisciplinar para compreender os desafios éticos e políticos da governança ambiental municipal.

 O ponto de partida: cidades inteligentes e meio ambiente

Nos últimos anos, as chamadas cidades inteligentes têm ganhado destaque. Não há m único critério universalmente aceito para definir o que são as cidades inteligentes, mas pode-se dizer que são espaços urbanos que usam tecnologia e inovação para melhorar a mobilidade, a segurança, a gestão de recursos e a qualidade de vida, juntamente com a sustentabilidade, visando a preservação do meio ambiente. Curitiba/PR é um exemplo, foi considerada por diversos rankings como a cidade mais inteligente do mundo, sendo referência em sustentabilidade.

Mas há um risco: muitas vezes o discurso da inovação esconde desigualdades, exclui populações vulneráveis e coloca os interesses econômicos acima dos sociais e ambientais.


🔎 O que a pesquisa mostrou?

O objetivo geral foi caracterizar a produção científica nacional sobre conselhos municipais e engajamento social, com foco nos conselhos ambientais e na sua relação com a sociedade, para isso a pesquisa foi dividida em duas partes:

No primeiro estudo, uma revisão integrativa, foi realizada uma busca em três bases de dados, CAPES, Oasisbr e Google Acadêmico, utilizando os descritores “conselhos municipais” e “engajamento comunitário”. A análise dos artigos revelou que os conselhos de meio ambiente são menos representados na produção científica nacional quando comparados a outras áreas, como saúde e educação, apresentando fragilidades como baixa transparência, desigualdades entre representantes do governo e da sociedade civil (como conhecimento sobre informações técnicas, acesso a recursos financeiros – os representantes do poder público participam das reuniões durante o expediente de trabalho, enquanto os representantes da sociedade participam da reuniões em seu tempo livre, ou adaptam seus horários de trabalho) e limitações na efetividade da participação. No entanto, quando bem estruturados, demonstram potencial para fortalecer a participação social, assessorar o poder público, promover práticas participativas e ampliar a transparência. Já o engajamento comunitário foi compreendido como um processo político, coletivo e contínuo, que valoriza o conhecimento local, incentiva redes de solidariedade e fortalece a defesa de direitos.

No segundo estudo, uma pesquisa exploratória documental, que mapeou os conselhos municipais e as políticas públicas ambientais de Curitiba/PR, sob a perspectiva de cidade inteligente, com ênfase no Conselho Municipal de Meio Ambiente de Curitiba (CMMA). Os dados foram obtidos por meio de páginas oficiais, como o site da Prefeitura Municipal de Curitiba e o site do portal dos conselhos municipais. O CMMA demonstrou cumprir no geral a finalidade da sua criação, realizando reuniões com frequência, adotando práticas de transparência em relação a seus atos e deliberações. Dessa forma, Curitiba, considerada referência em urbanismo, mostrou ter uma estrutura mais robusta para a governança ambiental. Mas mesmo em uma cidade considerada como inteligente persistem desafios como à efetiva inclusão social, à equidade nas deliberações e à corresponsabilidade ambiental.


🌍 Onde entra a Bioética nisso tudo?

A Bioética é uma área que ajuda a refletir sobre dilemas éticos envolvendo vida, saúde e meio ambiente. Foram exploradas quatro vertentes dela:
Bioética Ambiental – coloca a natureza no centro do debate;
Bioética de Intervenção – dá prioridade aos mais vulneráveis e busca justiça social;
Bioética Deliberativa – valoriza o diálogo e a decisão coletiva;
Bioética Urbana – olha para os desafios éticos da vida nas cidades.

A bioética, portanto, revela-se uma ferramenta fundamental para analisar os conflitos de valores presentes nas políticas ambientais, orientar decisões justas e sustentáveis e ampliar a corresponsabilidade entre os diversos atores sociais envolvidos na construção de cidades mais humanas e ecologicamente comprometidas.

💡 A proposta: Comitês de Bioética Ambiental

A partir dos resultados, propõe-se a criação de um Comitê de Bioética Ambiental. Esses espaços funcionariam como fóruns éticos para apoiar os conselhos. Nessa perspectiva, o Comitê complementa os conselhos, funcionando como um espaço transversal de assessoramento ético. Sua função é qualificar os debates, promover formação ética dos conselheiros, ampliar a reflexão interdisciplinar e garantir que princípios como justiça, equidade e precaução estejam presentes nas decisões. Seria um espaço deliberativo e consultivo, com função formativa, e não normativa ou deliberativa como os conselhos.

A ideia é simples: se os conselhos já têm dificuldade de equilibrar interesses, um espaço de reflexão ética poderia fortalecer a participação social e qualificar os debates, ajudando as cidades a se tornarem não apenas inteligentes, mas também humanas e sustentáveis.

Se interessou para o Tema te convido para assistir a defesa da minha dissertação 


e Também Te convido a conhecer um pouco mais sobre  a minha produção científica:

FISCHER, Marta Luciane; CUNHA, Thiago Rocha da; SANTOS, Daihany Silva dos; STRAMANTINO, Jaqueline; CORRADI-PERINI, Carla. A simulação realística como ferramenta pedagógica no ensino da bioética: uma pesquisa-ação na modalidade presencial e remota. Revista Iberoamericana De Bioética, (27), 01–17, 2025. DOI: https://doi.org/10.14422/rib.i27.y2025.001. Disponível em: https://revistas.comillas.edu/index.php/bioetica-revista-iberoamericana/article/view/21990.

FISCHER, Marta Luciane; PADILHA, Erica; DOS SANTOS, Daihany Silva; FLORZ, Juliana Aparecida Kunierski; ANDRIGHETTI, Letícia; ADAMI, Eliana Rezende. ENSINO SUPERIOR E BIOÉTICA ANIMAL: UM OLHAR SOBRE COSMÉTICOS E MÉTODOS ALTERNATIVOS. ARACÊ, v. 7, n. 8, 2025. DOI: 10.56238/arev7n8-226. Disponível em: https://periodicos.newsciencepubl.com/arace/article/view/7476.

FISCHER, Marta Luciane; ROSANELI, Caroline Filla; SANTOS, Daihany Silva dos; STRAMANTINO, Jaqueline. “Bioética das águas”? os desafios no direito de acesso à água potável pelo Povo Yanomami no Brasil. Agua Y Território, 2025. Artigo aceito, aguardando publicação.

FISCHER, Marta Luciane; SANTOS, Daihany Silva dos. Cidades inteligentes para cidadãos inteligentes: a sinergia entre sabedoria indígena e a bioética ambiental. Submetido ao periódico Espaço Ameríndio.

SANTOS, Daihany Silva dos; CAMPOS, Ana Carolina de; SANDRINI, Carina Del Pinto; SUTILE, Viviane Maria; FISCHER, Marta Luciane. A importância do engajamento comunitário na bioética social e ambiental. In: O E-caminho do diálogo V: A deliberação coletiva em busca da humanização em saúde integral na era digital. Capítulo 19. E-book. Disponível em: https://atenaeditora.com.br/catalogo/ebook/e-caminho-do-dialogo-v-a-deliberacao-coletiva-em-busca-da-humanizacao-em-saude-integral-na-era-digital.

SANTOS, Daihany Silva dos; CAMPOS, Ana Carolina de; TOZO, Julio Rodrigues; FAGUNDES, Maria Leticia; SCHIAVON, Poliana; FISCHER, Marta Luciane. Grupo FOCAL: Qual a causa que te move? In: O E-caminho do diálogo V: A deliberação coletiva em busca da humanização em saúde integral na era digital. Capítulo 20. E-book. Disponível em: https://atenaeditora.com.br/catalogo/ebook/e-caminho-do-dialogo-v-a-deliberacao-coletiva-em-busca-da-humanizacao-em-saude-integral-na-era-digital.

FISCHER, Marta Luciane; CAMPOS, Ana Carolina de; SANDRINI, Carina del Pino; SANTOS, Daihany Silva dos. O direito de os animais conviverem nas cidades: um debate entre a bioética ambiental e as cidades inteligentes. In: BUSSINGUER, Elda Coelho de Azevedo; SARLET, Ingo Wolfgang; TRINDADE, André Karam; RODRIGUES, Ricardo Schneider (org). Estado, regulação e transformação digital: política públicas, vulnerabilidades, mudanças climáticas e bioética. 1 ed. São Paulo: Tirant lo Blanch, 2024. E-book. Disponível em: https://editorial.tirant.com/free_ebooks/E000020005901.pdf.