Por Cristiano Chiaramonti
Economista, Mestre Sustentabilidade Sócio Econômica, Graduando Ciências Biológicas e
Aspirante a Bioeticista
A Bioética como um campo do conhecimento busca compreender os diversos saberes na construção da necessidade de cada núcleo pensante, reunindo conclusões em torno de uma problemática, como a ambiental, por exemplo. Assim percebe as demandas efetivas para a continuação, solução e compreensão de um determinado problema, para constituição de novos caminhos no aprimoramento de propostas que abarcam visões de vários atores da biodiversidade.
Penso que mais importante do que a discussão em torno de uma problemática, é pensar que a Bioética como ferramenta pode ser efetivamente uma proposta que compõem fundamentos para o alargamento nas formas de compreender o contexto, inserindo todos os atores e seus representantes, mostrando, elevando, trazendo para a discussão entidades que não falam a nossa linguagem, mas que precisam ser ouvidas dentro das decisões as quais sua importância se mostra fundamental para a continuidade das relações complexas.
Digo isso pois, se entendermos um rio por meio de uma visão linear, compreendemos entre vários outros fatores que ele passa a ser um recurso natural para a conveniência de uma sociedade, podemos entender também que a sua preservação pode ser a salvação de muitas espécies, inclusive a humana, que mantê-lo saudável as custas da compreensão humana é viável para responder a nossa necessidade como sociedade, podemos dar vários destinos e entender que essa relação é importante para manter a espécie humana, ou seja, algo que consiga trazer benefícios e perpetuidade para a sociedade enquanto consumidora desses recursos, o rio como fim e não como meio.
O rio é parte de uma totalidade que todos os seres humanos e não humanos estão compondo. O rio tem dignidade, tem existência, tem importância como ator que participa, que vive, que pertence a uma biodiversidade. Ele precisa falar e mais, precisa ser ouvido, a sua história nos contam coisas importantes sobre nós e nossas relações.
Assim, penso que a Bioética deve propor formas de escutar esses atores, o rio na discussão acadêmica dificilmente tem voz, geralmente está sendo representado por uma disciplina que por meio da sua verdade defende o que acredita ser certo, um axioma disciplinar.
O Ecólogo quer preservar, o Economista utiliza-lo como recurso, o Biólogo para entender a Biodiversidade, o Pedagogo como educação para gerações futuras, o Historiador como conto e exemplo de diversidade, o Geólogo as suas nascentes, suas formas, suas curvas. Cada um terá a sua verdade imposta e seu interesse voltado para o que acredita ser importante ao rio, mas pergunto, onde está o rio nessa discussão, que linguagem ele está falando e nos mostrando, uma linguagem que não é a nossa, respondendo por meio de uma adversidade onde nem sempre é entendida, somente após a teia da complexidade propor respostas na sua maioria incompreensíveis e pior, o retorno a essas perguntas não demandam interesses as ciências departamentalizadas. Assim, espera-se que a Bioética, consiga além de entender cada núcleo pensante das disciplinas por meio da multidisciplinaridade, eleve a discussão trazendo as vozes, a música que o rio proporciona, evidenciando as suas dores, os seus pensamentos, as suas necessidades e mais do que isso, que ele seja um ator tão responsável para a continuidade como somos nós humanos.
Essa proposta precisa ser percebida por meio da interdisciplinaridade, avançando assim na questão da multidisciplinaridade, caminhando para quem sabe um dia entender a transdisciplinaridade na prática. Não devemos pensar na voz do rio como resposta a uma compreensão e sim, a proporção complexa que define as suas realizações e relações em um ecossistema, daí a crítica a multidisciplinaridade que não consegue efetivamente cumprir esse papel como a interdisciplinaridade.
A Bioética multidisciplinar propõe discussões entre esses atores, mas não provoca mudanças em seu núcleo, uma discussão que proporciona domínio em torno de determinado assunto, mas o núcleo de cada disciplina não se modifica, percebe a necessidade do outro, mas continua sendo algo externo a sua matriz de conhecimento, vejamos, cada ideia compõem um fluxo maior de verdades, mas o núcleo pensante de cada participante permanece o mesmo, a certeza não muda, a verdade continua.
A Interdisciplinaridade avança nessa discussão entre as disciplinas, a Bioética fundamentalmente nessa visão propõe mudanças por meio das emergências, que são criadas das demandas/perguntas de cada núcleo, compondo verdades que produzem recursividade retroagindo em todas as disciplinas mudando o ponto de vista sobre o rio. Alarga a compreensão de discutir somente o assunto, nessa preposição o conhecimento construído retroagi na busca de novos caminhos, modificando o núcleo dos saberes de cada disciplina, seria como, os atores envolvidos na discussão propondo mudanças, o resultado dessas propostas constrói verdades/emergências que mudam os saberes das disciplinas, muda a percepção de cada um pela importância do rio, ouvindo a sua voz as suas verdades.
A Transdisciplinaridade na visão ainda pouco perfeita e compreendida pelas Ciências, é muito mais complexa, não pela dificuldade, mais sim pela forma e adversidade que ocorre, onde corpo, mente e alma estão ocupando o mesmo espaço, propostas que transversam a compreensão da composição em torno da recursividade e da totalidade, como se as disciplinas estivessem compondo o mesmo pensamento mas cada uma com a sua identidade, caminhando para o mesmo objetivo utilizando simultaneamente pensamentos aleatórios de acordo com a sua matriz de saber, da sua formação, um processo continuo de completa transformação, nada estático, uma pluralidade móvel que compõem verdades a todo o momento e proporcionam uma complexidade de informações, onde cada uma vai se encaixando e construindo novas identidades/verdades.
Diversas disciplinas ocupando o mesmo espaço, no mesmo tempo, dentro de uma mesma garagem, não poderíamos pensar assim a Bioética departamentalizada em disciplinas de saberes e sim, uma composição única de verdades por meio dos saberes onde se compõem visões antagônicas que se complementam na forma de como escutar o rio.
Essa pequena reflexão, mesmo que ainda preliminar e filosófica, uma abordagem epistemológica na construção dos saberes, como Economista de formação, futuro Biólogo, um aspirante a Bioeticista, espero que muita coisa seja revista, compreendida, o caminho é longo, mas não podemos continuar a acreditar que a humanidade é o centro das coisas, a complexidade das relações, o contexto de nossas vidas precisa ser revisto, pensando em proporcionar a todos formas de evidenciar a sua importância nessa teia da vida.
O presente ensaio foi elaborado baseando-se nas obras: Introdução ao Pensamento Complexo e O Método I: a Natureza da Natureza de Edgar Morin, Políticas da Natureza de Bruno Latour e por fim Uma Outra Ciência é Possível de Isabelle Stengers.
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