sábado, 3 de junho de 2017

ZOOTERAPIA: Animais que curam doenças?


Série Ensaios: Ética no Uso de Animais e Bem-estar-Animal

Por Milena Lunardon

Acadêmica do curso de Especialização em Conservação da Natureza e Educação Ambiental da PUCPR.




A natureza é algo que sempre atrai a atenção das pessoas, principalmente quando o assunto é relacionado aos animais. De acordo com a Revista Mundo Estranho, os cães podem ajudar na cura da depressão. Os “terapeutas de quatro patas”, servem como um complemento aos tratamentos tradicionais. Labradores e Golden Retrievers são os queridinhos da terapia por sua docilidade e alta treinabilidade, mas não há restrição de raças para atuar nessa área.

Sendo assim, a Zooterapia consiste em uma técnica de reabilitação e reeducação física, psíquica, social e sensorial onde animais são usados como assistentes. É também conhecida como Terapia Assistida por Animais (TAA). Na grande maioria dos casos os animais mais utilizados são os mamíferos (cachorro, gato, coelho, cavalo, golfinho.), contudo há também, o uso de aves, répteis, moluscos e peixes. Essa atividade é desenvolvida principalmente em hospitais, creches, escolas, asilos e presídios devido ao seu público.

As aves por exemplo, auxiliam no desenvolvimento da motricidade, além de encantar aqueles que as observam devido ao belo visual das penas. Já os répteis e os moluscos ajudam principalmente as crianças com TDHA (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), Síndrome de Down, Autismo e Paralisia Cerebral por exigir calma e atenção aos movimentos desses animais. No caso dos peixes, já se comprovou cientificamente que a observação de aquários tem efeito calmante e diminui a ansiedade e o estresse.

A Zooterapia não se trata de uma prática para substituir terapias e tratamentos convencionais, mas um complemento, uma nova linha de pesquisa em atenção à diversidade, para melhorar a qualidade de vida de pessoas comumente ignoradas pela sociedade. Segundo estudos, ela traz benefícios a pessoas de qualquer idade que encaram problemas como autismo, esquizofrenia, psicoses, paralisia cerebral, distúrbios de atenção e aprendizagem, depressão e luto. O simples carinho no animal promove uma descarga de neurotransmissores ligados ao bem-estar, elevando níveis de serotonina e dopamina e diminuindo a pressão arterial e a frequência cardíaca.

Os animais utilizados nessa prática devem passar por exames clínicos (para identificar zoonoses, problemas dermatológicos e ortopédicos), exames laboratoriais (incluindo estudo parasitológico das fezes e hemograma), testes comportamentais (analisando reações a comportamentos agressivos e amigáveis) e uma avaliação na companhia de outros animais ou na presença de muitas pessoas no mesmo ambiente.

O emprego de animais como forma terapêutica teve os primeiros registros a partir do século XVII. No Brasil a TAA aparece de forma expressiva a partir da década de 1980. Mas, somente por volta dos anos 1990 é que foram fundados os primeiros Centros de Atendimento de TAA e onde se iniciaram as primeiras pesquisas científicas sobre o tema. A pioneira da Zooterapia no Brasil foi a psiquiatra Nise da Silveira, que utilizava animais como auxílio no tratamento de pacientes esquizofrênicos. Em homenagem à ela, no ano de 2015 foi lançado o filme “Nise - O coração da Loucura” para retratar melhor a sua história na medicina. Por fim, observa-se que essa prática é recente no país e a cada dia aumenta o número de pessoas atendidas pela Zooterapia.

            No estado do Paraná, por exemplo, a lei de autoria do deputado estadual Marcio Pauliki (PDT) que regulamentou a equoterapia na Polícia Militar, já começa a trazer resultados. A equoterapia promove melhorias na coordenação motora, aumento da autoestima e mais independência de crianças com necessidades especiais. Com a legislação, a PM passa a ter condições de formar parcerias e participar de convênios para receber recursos financeiros. Com isso, o atendimento deve ser ampliado e as filas de espera irão diminuir.

Outro exemplo é o Projeto Alegria Terapia Animal (Pata), desenvolvido por estudantes da UFG, que utiliza a Zooterapia para melhorar o bem-estar de idosos nos asilos. No local, os animais permanecem um tempo preestabelecido para que não sofram os efeitos do estresse encontrado no ambiente. O objetivo da proposta é fortalecer o quadro emocional, ajudar no desenvolvimento físico e promover contentamento e satisfação mental dos envolvidos. Ao se concentrar na atividade realizada com os animais, os idosos retiram o foco de pensamentos e sentimentos negativos. A escolha dos "pet-terapeutas" é feita mediante auxílio de profissionais especializados em comportamento animal. Em seguida, eles iniciam o processo de adestramento baseado nas atividades realizadas no asilo.

Ao tratar-se da Zooterapia é preciso destacar as questões relacionadas com a ética nessa atividade. Vale ressaltar que o bem-estar dos animais é o princípio norteador para isso. Independente da complexidade do sistema nervoso do animal, é uma vida que está em jogo e merece respeito. Alguns animais criam vínculos afetivos rapidamente com os humanos e, sendo assim, o isolamento deles pode acarretar em problemas comportamentais, principalmente destrutivos e agressivos. Também, é preciso respeitar os limites do animal, pois quando estão agitados, cansados e desidratados não irão executar as atividades da melhor forma.

Quando se diz respeito a legislação referente a Zooterapia no Brasil, está em tramitação na Câmara dos Deputados Federais a PL 5.083/2016 que visa à utilização de animais para terapia. Já no estado do Paraná, a Lei 18.918/2016 autoriza a visita de animais domésticos e de estimação em ambientes hospitalares públicos e privados, conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) a fim de promover a melhora dos pacientes.


Eu como futura conservacionista e educadora ambiental acredito que essa atividade pode ser aceitável desde que não promova nenhum tipo de sofrimento ou dano ao animal. Por ser algo recente no país, é necessário um estudo mais aprofundado sobre o tema. Além disso, também é de extrema importância estabelecer a criação de comitês e protocolos específicos para a prática da Zooterapia. Atualmente com toda a tecnologia existente, talvez possam ser criados outros meios que auxiliem essa atividade sem o uso dos animais, contribuindo assim para a melhoria de vida de todos os envolvidos.

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Ética no Uso de Animais e Bem-Estar Animal, tendo como base as obras:


DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/peixes-sao-utilizados-em-terapia-de-criancas-portadoras-de-autismo-1.810111


FISCHER, Marta Luciane; AMORIM ZANATTA, Amanda e  REZENDE ADAMI, Eliana. UM OLHAR DA BIOÉTICA PARA A ZOOTERAPIA. rev.latinoam.bioet. [online]. 2016, vol.16, n.1, pp.174-197. ISSN 1657-4702.  http://dx.doi.org/10.18359/rlbi.1460.

FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2014/08/1505789-terapia-com-repteis-e-moluscos-ajuda-criancas-a-lidar-com-diversidade-e-ganhar-confianca.shtml

INSTITUTO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA ANIMAL. Disponível em: http://patastherapeutas.org/wpcontent/uploads/2015/07/projetos_crianca_em_acao.pdf


SCHARRA, Deila. AVES TERAPEUTAS- A PRESENÇA DAS AVES NA TERAPIA ANIMAL ASSISTIDA. Disponível em: http://patastherapeutas.org/wp-content/uploads/2015/07/artigo_Aves_Terapeutas_-_A_presenca_das_aves_na_terapia_animal_assistida.pdf

TUBALDINI, Ricardo. Zooterapia-pets ajudando no tratamento de pessoas. Disponível em: http://www.cachorrogato.com.br/cachorros/zooterapia/

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