Série Ensaios: Ética no Uso de Animais e Bem-estar-Animal
Por Milena Lunardon
Acadêmica
do curso de Especialização em Conservação da Natureza e Educação Ambiental da
PUCPR.
A natureza é algo que sempre atrai a
atenção das pessoas, principalmente quando o assunto é relacionado aos animais.
De acordo com a Revista Mundo Estranho, os cães podem ajudar na cura da
depressão. Os “terapeutas de quatro patas”, servem como um complemento aos
tratamentos tradicionais. Labradores
e Golden
Retrievers são os queridinhos da terapia por sua docilidade e alta
treinabilidade, mas não há restrição de raças para atuar nessa área.
Sendo assim, a Zooterapia consiste
em uma técnica de reabilitação e reeducação física, psíquica,
social e sensorial onde animais são usados como assistentes. É também conhecida
como Terapia Assistida por Animais (TAA).
Na grande maioria dos casos os animais mais utilizados são os mamíferos
(cachorro, gato, coelho, cavalo, golfinho.), contudo há também, o uso de aves,
répteis, moluscos e peixes. Essa atividade é desenvolvida principalmente em hospitais, creches, escolas, asilos e presídios devido ao seu público.
As aves por exemplo, auxiliam no desenvolvimento
da motricidade, além de encantar aqueles que as observam devido ao belo visual
das penas. Já os répteis e os moluscos ajudam principalmente as crianças com
TDHA (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), Síndrome de Down,
Autismo e Paralisia Cerebral por exigir calma e atenção aos movimentos desses
animais. No caso dos peixes, já se comprovou cientificamente que a observação
de aquários tem efeito calmante e diminui a ansiedade e o estresse.
A Zooterapia não se trata de uma prática para
substituir terapias e tratamentos convencionais, mas um complemento, uma nova
linha de pesquisa em atenção à diversidade, para melhorar a qualidade de vida
de pessoas comumente ignoradas pela sociedade. Segundo estudos, ela
traz benefícios a pessoas de qualquer idade que encaram problemas como autismo,
esquizofrenia, psicoses, paralisia cerebral, distúrbios de atenção e
aprendizagem, depressão e luto. O simples carinho no animal promove uma
descarga de neurotransmissores ligados ao bem-estar, elevando níveis de
serotonina e dopamina e diminuindo a pressão arterial e a frequência cardíaca.
Os animais utilizados nessa prática devem passar por exames
clínicos (para identificar zoonoses, problemas dermatológicos e ortopédicos),
exames laboratoriais (incluindo estudo parasitológico das fezes e hemograma),
testes comportamentais (analisando reações a comportamentos agressivos e
amigáveis) e uma avaliação na companhia de outros animais ou na presença de
muitas pessoas no mesmo ambiente.
O emprego de animais como forma terapêutica teve
os primeiros registros a partir do século XVII.
No Brasil a TAA aparece de forma expressiva a partir da década de 1980. Mas,
somente por volta dos anos 1990
é que foram fundados os primeiros Centros de Atendimento de TAA e onde se iniciaram as primeiras pesquisas científicas sobre o tema. A
pioneira da Zooterapia no Brasil foi a psiquiatra Nise
da Silveira, que utilizava animais como auxílio no tratamento de pacientes esquizofrênicos.
Em homenagem à ela, no ano de 2015 foi lançado o filme “Nise - O coração da
Loucura” para retratar melhor a sua história na medicina. Por fim,
observa-se que essa prática é recente no país e a cada dia aumenta o número de
pessoas atendidas pela Zooterapia.
No estado do
Paraná, por exemplo, a lei de autoria do deputado estadual Marcio Pauliki (PDT) que regulamentou a
equoterapia na Polícia Militar, já começa a trazer resultados. A equoterapia
promove melhorias na coordenação motora, aumento da autoestima e mais
independência de crianças com necessidades especiais. Com a legislação, a PM
passa a ter condições de formar parcerias e participar de convênios para
receber recursos financeiros. Com isso, o atendimento deve ser ampliado e as
filas de espera irão diminuir.
Outro exemplo é o Projeto
Alegria Terapia Animal (Pata), desenvolvido
por estudantes da UFG, que utiliza a Zooterapia para melhorar o bem-estar de
idosos nos asilos. No local, os animais permanecem um tempo preestabelecido
para que não sofram os efeitos do estresse encontrado no ambiente. O objetivo da proposta é fortalecer o quadro emocional, ajudar
no desenvolvimento físico e promover contentamento e satisfação mental dos
envolvidos. Ao se concentrar na atividade realizada com os animais, os idosos
retiram o foco de pensamentos e sentimentos negativos. A escolha dos
"pet-terapeutas" é feita mediante auxílio de profissionais
especializados em comportamento animal. Em seguida, eles iniciam o processo de
adestramento baseado nas atividades realizadas no asilo.
Ao tratar-se da Zooterapia é preciso
destacar as questões relacionadas com a ética nessa atividade. Vale ressaltar
que o bem-estar dos animais é o princípio norteador para isso. Independente da
complexidade do sistema nervoso do animal, é uma vida que está em jogo e merece
respeito. Alguns animais criam vínculos afetivos rapidamente com os humanos e,
sendo assim, o isolamento deles pode acarretar em problemas comportamentais,
principalmente destrutivos e agressivos. Também, é preciso respeitar os limites
do animal, pois quando estão agitados, cansados e desidratados não irão
executar as atividades da melhor forma.
Quando se diz respeito a legislação referente a
Zooterapia no Brasil, está em tramitação na Câmara dos Deputados Federais a PL
5.083/2016 que visa à utilização de animais para terapia.
Já no estado do Paraná, a Lei
18.918/2016 autoriza a visita de animais domésticos e de
estimação em ambientes hospitalares públicos e privados, conveniados ao Sistema
Único de Saúde (SUS) a fim de promover a melhora dos pacientes.
Eu como futura conservacionista e educadora
ambiental acredito que essa atividade pode ser aceitável desde que não promova
nenhum tipo de sofrimento ou dano ao animal. Por ser algo recente no país, é
necessário um estudo mais aprofundado sobre o tema. Além disso, também é de
extrema importância estabelecer a criação de comitês e protocolos específicos
para a prática da Zooterapia. Atualmente com toda a tecnologia existente,
talvez possam ser criados outros meios que auxiliem essa atividade sem o uso
dos animais, contribuindo assim para a melhoria de vida de todos os envolvidos.
O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Ética no Uso
de Animais e Bem-Estar Animal, tendo como base as obras:
DIÁRIO DOS CAMPOS. Disponível em: http://www.diariodoscampos.com.br/politica/2017/05/lei-permite-que-pm-amplie-atendimento-de-equoterapia/2362920/
DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/peixes-sao-utilizados-em-terapia-de-criancas-portadoras-de-autismo-1.810111
DO MAIS GOIÁS. Disponível em: http://www.emaisgoias.com.br/estudantes-da-ufg-criam-projeto-que-promove-interacao-de-idosos-com-caes-e-gatos/
FISCHER, Marta Luciane; AMORIM ZANATTA, Amanda e REZENDE
ADAMI, Eliana. UM OLHAR DA BIOÉTICA PARA A ZOOTERAPIA. rev.latinoam.bioet.
[online]. 2016, vol.16, n.1, pp.174-197. ISSN 1657-4702. http://dx.doi.org/10.18359/rlbi.1460.
FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2014/08/1505789-terapia-com-repteis-e-moluscos-ajuda-criancas-a-lidar-com-diversidade-e-ganhar-confianca.shtml
INSTITUTO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA ANIMAL. Disponível em: http://patastherapeutas.org/wpcontent/uploads/2015/07/projetos_crianca_em_acao.pdf
REVISTA MUNDO ESTRANHO. Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/mundo-animal/caes-podem-ajudar-a-curar-depressao/
SCHARRA, Deila. AVES TERAPEUTAS- A PRESENÇA DAS AVES NA TERAPIA
ANIMAL ASSISTIDA. Disponível em: http://patastherapeutas.org/wp-content/uploads/2015/07/artigo_Aves_Terapeutas_-_A_presenca_das_aves_na_terapia_animal_assistida.pdf
TUBALDINI, Ricardo. Zooterapia-pets ajudando no tratamento de
pessoas. Disponível em: http://www.cachorrogato.com.br/cachorros/zooterapia/
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