quarta-feira, 14 de junho de 2017

Zológicos: Há uma questão ética a ser debatida?

Série Ensaios: Ética no Uso de Animais e Bem-estar-Animal

Por  Amanda Liara De Azambuja Corrêa Selivon
Acadêmica do curso de Conservação Ambiental E Educação Ambiental



Gostaria de começar salientando o caso da menina puxada ao tanque por leão-marinho que aconteceu, no final de Maio de 2017, quando a garota ignorou o animal que estava próximo e sentou em uma mureta, quando quase que instantaneamente o animal saltou, agarrando-a pelo vestido e a puxou para dentro, na cidade de Richmond (Columbia Britânica, Canadá). A menina ficou com uma marca possivelmente provocada pela mordida desse animal que contém uma bactéria chamada de Mycoplasma phocacerebrale, cujo deve ser tratada imediatamente com antibióticos. O pai da menina que pulou no tanque para salvá-la disse que aprendeu uma grande lição quanto a segurança. O que poderia ter impedido este incidente? Maior cuidado com a proximidade dos animais ao nosso redor, placas sinalizadoras para não se aproximar e respeitar certa distância, ou, até mesmo, uma proteção entre o ser humano e o animal.
    
 Os primeiros zoológicos foram criados em Viena em 1752, posteriormente em Paris em 1793 e Londres em 1826. Uma mentalidade que é originada desde os tempos dos egípcios, chineses e astecas que passaram a manter animais capturados em suas viagens presos em seus templos como símbolo social, de força e poder. A utilização de animais desde os primórdios dos tempos foi utilizado por motivos de lazer e diversão humana, sem princípios éticos. 
     As principais questões éticas a serem consideradas são o respeito a preservação da liberdade comportamental dos animais, mesmo em cativeiro, há programas como o enriquecimento ambiental, viveiros para convivência com outros animais presentes no mesmo bioma e nível moral para determinadas situações como a reprodução em laboratório e o desenvolvimento de espécies híbridas.    
      De acordo com os 340 membros da Associação Européia de Zoológicos e Aquários (EAZA) são regidos por um estatuto comum, e, teoricamente, tem como objetivos a conservação, a pesquisa científica e a educação ambiental. Porém ainda existem espaços, fora dos 1300 registrados em associações profissionais, que ficam a margem desse controle, com o único propósito de aumentar as visitas e os lucros. Grandes especialistas como o primatólogo e estudioso do comportamento animal Frans de Waal apontam que existem diferentes tipos de zoológicos, alguns que pela sua  utilidade podem ser  considerados “bons”. Os que não cumprem os padrões porque são pequenos, tem muita interação com o público, ou realizam pouco esforço pedagógico precisam ser fechados. Os bons zoológios aproximam as crianças da natureza e educam a respeito dos animais exóticos muito melhor que qualquer vídeo, além de conscientizar as pessoas do valor desses animais e podem ajudar na sua conservação.
   
  Alguns zoológicos como por exemplo o Zoo XXI, são a favor de planos de conservação in loco, criar um modelo de reprodução nesses espaços com um habitat para protegê-los, transformando a visão dos zoológicos atuais em uma nova perspectiva, através dos seguintes planos de ação:
·         Um zoológico que seja mais indígeno, com a criação de um centro de recuperação e educação para a vida selvagem.
·         Um zoológico que seja mais cívico; em que as decisões serão feitas a partir de comitê de profissionais da área em foco, instituições de sensibilização em favor dos animais nas cidades.
·         Um zoológico que seja mais divertido, equipado com fascinantes tecnologias visuais que permitem que você conheça melhor os animais se comportando de maneira natural em seu habitat.
·         Um zoológico que seja mais científico e mais educacional.

     Segundo Jesús Fernández, presidente da AIZA, a Associação ibérica de Zoológicos e Aquários, existem mais de 17.000 espécies ameaçadas de extinção e o trabalho do zoológico consiste em manter exemplares saudáveis de cada uma delas. A diretora do zoológico de Barcelona, Carme Lanuza, aponta o caminho com menos animais, menos espécies, mais espaço e um modelo mais fundamentado na conservação e na pedagogia.
   
  Um relatório sobre os zoológicos da UE elaborado pela Born Free Foundation, uma sociedade britânica que pesquisa a situação dos animais em cativeiro, concluía que apenas 0,23% dos animais enjaulados na Europa estão extintos na natureza, 3,53% estão em grave perigo de extinção e 6,28% em perigo. Por outro lado, também existem zoológicos modelares como o Gerald Durrell na ilha de Jersey, onde as estatísticas se invertem em até 90%. A instituição mantém projetos em 18 países e foi capaz de reintroduzir numerosas espécies como o mico-leão-dourado, a pomba-rosada da ilha Maurício, os morcegos da ilha Rodrigues, os íbis calvos de Marrocos ou espécies da fauna local de Jersey.
     Os zoológicos devem resgatar o conceito de preservação priorizando o bem-estar animal, sendo um local destinado a um sério aprendizado e estudo de espécies em risco de extinção, destinado a investigação científica e também com a função de abrigo para animais selvagens apreendidos por tráfico ilícito ou vítimas de maus-tratos.
          O Parque das Aves é um excelente exemplo de um novo modelo de Zoológico, além de ser um centro internacionalmente reconhecido de recuperação e conservação de aves, está localizado em meio a rica e exuberante Mata Atlântica, contemplando 1320 aves que abrangem cerca de 143 espécies diferentes. São 16,5 hectares de para formar o melhor habitat para os animais.
A Fundação Zoobotânica administra o Museu de Ciências Naturais, assim como o Jardim Botânico e o Zoológico de Sapucaia do Sul. Ela custa cerca de R$ 26 milhões por ano, o que equivale a 0,04% do total de gastos do Executivo. Entre as atividades, está o monitoramento das espécies em extinção no estado. A instituição também é a única a fornecer veneno de serpentes para produção de soro antiofídico no Sul do país. São 350 cobras. Acredito que neste sentido, falta muita ética em relação a conservação ambiental e é mais um claro exemplo da ação do homem tornando o assunto vulnerável e insignificante.
     Há uma Lei Federal 7173/83, de uma forma bastante ampla, impõe as dimensões dos Jardins Zoológicos e das respectivas instalações a fim de que atendam os requisitos mínimos de habitabilidade, sanidade e segurança de cada espécie, e, assim, possa suprir a demanda do público que busca vivência com o animal selvagem. Caso encontre comportamentos anormais, possa direcionar experiências negativas em forma de rejeição a instituição. Bem, como para programas de conservação que visem tanto a reintrodução, quanto a manutenção da reprodução de espécies em cativeiro.  Para ter acesso a lista de Zoológicos e Aquários do Brasil, a Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil (SZB), cadastrou por regiões do Brasil.
            Eu como futura conservacionista e educadora ambiental acredito que estamos em um processo evolutivo bio sociologicamente na relação comportamental entre homem e animal. Desde os primórdios dos tempos houve uma busca racional da compreensão da natureza pelo homem, através de estudos com dissecação, vivisseção dos animais vivos. Ao longo do tempo, esta relação de visão e tratamento em relação aos animais foi se modificando, como por exemplo, com a decisão de uso de anestesia para experimentos em animais e procedimentos laboratoriais que evitam grandes sofrimentos na hora do abate. Portanto, mesmo após certa consideração, ainda hoje os animais são classificados juridicamente pelo Código Civil como coisa fungível e semovente nos casos em que possuam “proprietários” e no caso dos que não possuam, tornam-se sujeitos a apropriação de qualquer pessoa, podendo-se fazer o que quiser com o “objeto”apropriado.  “Não se pode ver como coisa seres viventes, pois tais elementos mostram a existência de vida não apenas no plano moral e psíquico, mas também biológico, mecânico, como podem alguns preferir, e vice-versa. O conhecimento jurídico-dogmático hoje encontra-se ultrapassado, não apenas em função de animais considerados inteligentes, mas sim em função de todos os seres sensientes, capazes de sentir, cada um a seu modo [...]” (CARDOSO, 2007, p.132) [sic]. Assim como o homem também encontra-se em evolução e continua na busca de um sistema adequado para a melhor forma de bem viver e se relacionar, acredito que com o caminhar da evolução conseguiremos unir tecnologia, meio ambiente e ética de uma maneira benéfica para todas as formas de vida.
           

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Ética no Uso de Animais e Bem-Estar-Animal, tendo como base as obras:

CARDOSO, Haydeé Fernanda. Os animais e o Direito: novos paradigmas. Revista Animal Brasileira de Direito (Brazilian Animal Rights Review), ano 2 - 2007, p.137.

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