Por Isabelle
Christine Strachulski
Bióloga e discente do Curso de Especialização em
Conservação da Natureza e Educação Ambiental
No
início do ano, em fevereiro, um filhote de golfinho morreu após ser retirado da
água para realizar diversas selfies
com turistas na praia de Santa Teresita, na Argentina: “O incidente ocorreu
alguns dias depois que dois golfinhos foram retirados do mar para fazer as
fotos. Um deles não resistiu e morreu de desidratação. As imagens (também
colocadas aqui no post) se espalharam pelas redes sociais, causando a
indignação de centenas de usuários. A espécie do golfinho em questão (conhecida
como toninha, franciscana ou golfinho-do-rio-da-prata) é muito frágil, e está em perigo de
extinção”.
A
constante busca por locais e atividades que
levem à fuga da vida rotineira, do estresse, do tédio e dos problemas enfrentados todos
os dias, apresenta uma demanda em crescente ascensão e que se reflete na
sociedade atual (Barboza e Ayrosa, 2013; Abreu et al., 2015), e é neste cenário que se encaixa a pesca esportiva, que tem como finalidade promover o
turismo, passatempo e descanso (Portal Brasil, 2012). Ainda, de acordo com
Abreu et al., (2015), o elo entre
lazer e consumo é perceptível no tema em questão, independente do estilo da
pesca, fato este comprovado pelo aumento na procura de equipamentos de última geração, variando desde anzóis afiados a laser
até barcos e lanchas de alto desempenho.
No
Brasil, mesmo com uma força expressivamente menor, a pesca esportiva tem crescido
principalmente em razão da biodiversidade de peixes e variedades de ambientes encontrados, segundo
informações do site Caça e Pesca. Entre 1996 a 2011, o número de pescadores licenciados
passou de 134.778 para 287.053, mas apesar do seu potencial, economicamente a
atividade ainda é pouco explorada (Portal Brasil, 2012). Aqui em Curitiba temos
diversos pesque e pague (uma modalidade de pesca esportiva), entre eles pode-se
citar o Park Novo Oriente, Estância
Aquática e Pesque e Pague do Rei
e o Pesque e Pague Mina D’Água.
A
legislação brasileira vinculou “Pesca Esportiva” à prática do pesque-e-solte (Portaria IBAMA nº 4, de 19 de março de
2009, Art. 2º). Ambientalistas
e administradores de locais de pesca tem a defendido (Animal Ethics), e ao
avaliar o dano ao peixe, a maioria restringe ao tempo de manuseio fora d’água,
e que o único risco é o de morte por asfixia (Chaves e Freire, 2012). Mas, para
contrastar esta ideia, estima-se que mais de 10 milhões de toneladas de animais
marinhos sejam capturados a cada ano apenas através desta atividade (Cooke e
Cowx, 2004), sendo de longe a prática que mais envolve ferimentos e mortes de
animais para a finalidade de entretenimento, pois os alvos (seres sencientes
que possuem um sistema nervoso, portanto sentem dor) são perfurados
geralmente na mandíbula pelo anzol (peixes pequenos às vezes são empalados como
“isca viva”), e deixados muito vulneráveis após o
processo, ficando mais suscetíveis a doenças, problemas respiratórios,
indefesos contra predadores, ou passam fome por estarem incapazes de comer
adequadamente, e acabam morrendo apenas para diversão humana (Animal Ethics).
Eu
como bióloga e futura especialista em educação ambiental e conservação acredito
que as pessoas que defendem e/ou praticam a pesca esportiva ainda não chegaram
no estágio de compreensão do que ela realmente causa para os animais capturados
durante a atividade, ou simplesmente ignoram para a prática parecer mais
aceitável, enquanto a minoria que luta contra não consegue mudar essa situação,
agindo na maioria das vezes de maneira errada e equivocada. Nó somos seres tão
criativos, inventamos tantas coisas para quase tudo, colocamos o mundo de
cabeça para baixo, com certeza podemos nos divertir de forma saudável, sem que tal
brincadeira se torne cruel e paliativa.
O Presente Ensaio foi elaborado para
disciplina de Ética no Uso de animais e Bem-estar Animal, tendo como base as
obras:
Abreu, A. C. C., Coelho, R. L. F.,
Filho, A. C., Almeida, M. I. S. (2015). A imagem da pesca esportiva segundo
seus praticantes. Pretexto, 16(4), 47-64.
Animal Ethics. Pesca esportiva.
Disponível em . Aceso em 3
de agosto de 2016.
Barboza, R. A. & Ayrosa, E. A T.
(2013). Um Estudo Empírico sobre a Construção da Identidade Social do
Consumidor de Toy Art. Revista de
Ciências da Administração, 15(37), 11-21.
Caça e Pesca. Caça e Pesca Esportiva.
Disponível em .
Acesso em 3 de agosto de 2016.
Chaves, P. T. & Freire, K. M. F. (2012).
A pesca esportiva e o pesque-e-solte: pesquisas recentes e recomendações para
estudos no Brasil. Bioikos, 26(1), 29-34.
Cooke, S. J.
& Cowx, I. G. (2004) “The role of recreational fisheries in global fish crises”, BioScience,
54, pp. 857-859.
G1.globo. Multidão tira fotos com
golfinho na Argentina e gera polêmica. Disponível em .
Acesso em 4 de agosto de 2016.
Portal Brasil. Pesca amadora e esportiva
movimenta cadeia do turismo no País. Disponível em < TTP://brasil.gov.br/turismo/2012/03/pesca-amadora-e-esportiva-movimenta-cadeia-do-turismo-no-pais>.
Acesso em 5 de agosto de 2016.
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