domingo, 7 de agosto de 2016

Pesca esportiva: Onde está a criatividade humana?



Por Isabelle Christine Strachulski
Bióloga e discente do Curso de Especialização em Conservação da Natureza e Educação Ambiental



No início do ano, em fevereiro, um filhote de golfinho morreu após ser retirado da água para realizar diversas selfies com turistas na praia de Santa Teresita, na Argentina: “O incidente ocorreu alguns dias depois que dois golfinhos foram retirados do mar para fazer as fotos. Um deles não resistiu e morreu de desidratação. As imagens (também colocadas aqui no post) se espalharam pelas redes sociais, causando a indignação de centenas de usuários. A espécie do golfinho em questão (conhecida como toninha, franciscana ou golfinho-do-rio-da-prata) é muito frágil, e está em perigo de extinção”.

A constante busca por locais  e atividades que levem à fuga da vida rotineira, do estresse, do tédio e dos problemas enfrentados todos os dias, apresenta uma demanda em crescente ascensão e que se reflete na sociedade atual (Barboza e Ayrosa, 2013; Abreu et al., 2015), e é neste cenário que se encaixa a pesca esportiva, que tem como finalidade promover o turismo, passatempo e descanso (Portal Brasil, 2012). Ainda, de acordo com Abreu et al., (2015), o elo entre lazer e consumo é perceptível no tema em questão, independente do estilo da pesca, fato este comprovado pelo aumento na procura de equipamentos de última geração, variando desde anzóis afiados a laser até barcos e lanchas de alto desempenho.
No Brasil, mesmo com uma força expressivamente menor, a pesca esportiva tem crescido principalmente em razão da biodiversidade de peixes e variedades de ambientes encontrados, segundo informações do site Caça e Pesca. Entre 1996 a 2011, o número de pescadores licenciados passou de 134.778 para 287.053, mas apesar do seu potencial, economicamente a atividade ainda é pouco explorada (Portal Brasil, 2012). Aqui em Curitiba temos diversos pesque e pague (uma modalidade de pesca esportiva), entre eles pode-se citar o Park Novo Oriente, Estância Aquática e Pesque e Pague do Rei e o Pesque e Pague Mina D’Água.
A legislação brasileira vinculou “Pesca Esportiva” à prática do pesque-e-solte (Portaria IBAMA nº 4, de 19 de março de 2009, Art. 2º). Ambientalistas e administradores de locais de pesca tem a defendido (Animal Ethics), e ao avaliar o dano ao peixe, a maioria restringe ao tempo de manuseio fora d’água, e que o único risco é o de morte por asfixia (Chaves e Freire, 2012). Mas, para contrastar esta ideia, estima-se que mais de 10 milhões de toneladas de animais marinhos sejam capturados a cada ano apenas através desta atividade (Cooke e Cowx, 2004), sendo de longe a prática que mais envolve ferimentos e mortes de animais para a finalidade de entretenimento, pois os alvos (seres sencientes que possuem um sistema nervoso, portanto sentem dor) são perfurados geralmente na mandíbula pelo anzol (peixes pequenos às vezes são empalados como “isca viva”), e deixados muito vulneráveis após o processo, ficando mais suscetíveis a doenças, problemas respiratórios, indefesos contra predadores, ou passam fome por estarem incapazes de comer adequadamente, e acabam morrendo apenas para diversão humana (Animal Ethics).
Eu como bióloga e futura especialista em educação ambiental e conservação acredito que as pessoas que defendem e/ou praticam a pesca esportiva ainda não chegaram no estágio de compreensão do que ela realmente causa para os animais capturados durante a atividade, ou simplesmente ignoram para a prática parecer mais aceitável, enquanto a minoria que luta contra não consegue mudar essa situação, agindo na maioria das vezes de maneira errada e equivocada. Nó somos seres tão criativos, inventamos tantas coisas para quase tudo, colocamos o mundo de cabeça para baixo, com certeza podemos nos divertir de forma saudável, sem que tal brincadeira se torne cruel e paliativa.

O Presente Ensaio foi elaborado para disciplina de Ética no Uso de animais e Bem-estar Animal, tendo como base as obras:

Abreu, A. C. C., Coelho, R. L. F., Filho, A. C., Almeida, M. I. S. (2015). A imagem da pesca esportiva segundo seus praticantes. Pretexto, 16(4), 47-64.
Animal Ethics. Pesca esportiva. Disponível em . Aceso em 3 de agosto de 2016.
Barboza, R. A. & Ayrosa, E. A T. (2013). Um Estudo Empírico sobre a Construção da Identidade Social do Consumidor de Toy Art. Revista de Ciências da Administração, 15(37), 11-21.
Caça e Pesca. Caça e Pesca Esportiva. Disponível em . Acesso em 3 de agosto de 2016.
Chaves, P. T. & Freire, K. M. F. (2012). A pesca esportiva e o pesque-e-solte: pesquisas recentes e recomendações para estudos no Brasil. Bioikos, 26(1), 29-34.
Cooke, S. J. & Cowx, I. G. (2004) “The role of recreational sheries in global sh crises”, BioScience, 54, pp. 857-859.
G1.globo. Multidão tira fotos com golfinho na Argentina e gera polêmica. Disponível em . Acesso em 4 de agosto de 2016.
Portal Brasil. Pesca amadora e esportiva movimenta cadeia do turismo no País. Disponível em < TTP://brasil.gov.br/turismo/2012/03/pesca-amadora-e-esportiva-movimenta-cadeia-do-turismo-no-pais>. Acesso em 5 de agosto de 2016.





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