Série Ensaios: Sociobiologia
por Dayane Kichel, Gabriela
Saldanha Lilia Itue Ota e Nathalia M. Meyer
Graduandas do Curso de Ciências Biológicas
O comportamento social refere-se à interação entre dois ou mais indivíduos
da mesma espécie. A formação de grupos sociais
é uma necessidade natural entre muitos grupos de animais, que se organizam a fim de exercerem
funções especificas. A motivação para que os animais vivam em um
mesmo espaço vem das vantagens que esse comportamento traz como, por exemplo: garantir proteção, alimentação e reprodução, facilitando a sobrevivência.
O tema do presente ensaio
é o amor pelo filhote, ou melhor dizendo a falta de amor, o cuidado dos pais
para com o filhote requer um gasto de energia extra de ambas as partes, esse
cuidado é de total importância para sobrevivência do filhote nos primeiros dias
de vida, esse cuidado parental surgiu com os primeiros animais de
sangue quente, assim os filhotes possuem maiores chances de sobreviver.
Estudos demonstram que o
cuidado parental pode ter várias origens como gravidez psicológica,
comportamento cooperativo ou alta produção de ocitocina, sendo o último a
resposta mais viável que justifica um gasto alto de energia a um filhote não
biológico. Seja nos humanos ou
entre os animais, ser mãe também significa a sobrevivência de uma espécie, a
continuidade da vida. A maternidade é uma maneira da mulher se integrar definitivamente
com seu filho gerado a fim de proporcionar a ele condições adequadas para a
sobrevivência além de oferecer educação e prepará-lo para a vida.
O Brasil é um dos países com
uma das maiores populações religiosas do mundo. Grande parte são cristãos e
para eles o aborto é um pecado gravíssimo, a não ser que ocorra somente em caso
de estupro ou quando a mãe está em risco de vida. Em todos esses anos se discute
sobre esse assunto, pois, muitas mulheres dizem ter direito de decidirem seu próprio
corpo. Porém, nos últimos anos com o aparecimento de uma doença que está causando
graves sequelas aos fetos, algumas mulheres acabem “mudando” de ideia, é uma
epidemia chamada de Zika que pode causar microcefalia. Uma criança afetada por essa
doença terá muitos problemas mentais e físicos.
E daí vem a pergunta: uma
mãe que descobre que seu filho está com microcefalia, ela deve escolher ter ou
não esse filho?
Muitos homens estão
abandonando suas mulheres por conta das crianças com microcefalia, aqueles que
não abandonam no começo, acabam abandonando com o tempo, pois as condições e as
rotinas pesadas para se criar um filho com microcefalia, infelizmente não são todos que querem
e que conseguem. As mulheres só querem o direito de abortar uma criança que
possui esse problema, até porque como foi dito acima, não são todas que possuem condições suficientes para sustentar uma criança com essas características.
O motivo para um abandono
pode vir de diversas formas. Quando uma mãe não tem condições financeiras,
quando ocorre depressão pós-parto, quando ela sofre agressões dentro de casa,
por medo de não serem aceitas e normalmente essas mães que possuem essa
capacidade de abandonar seu filho, geralmente são usuárias de drogas e não
criaram um vínculo com o bebê durante a gestação. Porém, muitas mães abandonam por saberem
que não vão conseguir criar o filho de uma maneira adequada. Sendo assim, elas
veem o abandono como a melhor forma de salvá-lo. Muitas mães nessas situações
acabam não abandonando fisicamente os filhos mais abandonam de forma afetiva, isso pode ocorrer pela morte do
parceiro ou pela criança vir com alguma deficiência física ou mental.
Um
dos principais motivos para o abandono do filhote seria quando a mãe percebe
que sua cria não vai sobreviver, e ela os repudia, se concentrando na próxima
cria, para gerar novos descendentes, mais aptos para levar a espécie adiante.
Se o ambiente estiver carregado de fatores de estresse ou com incidentes
perturbadores, a mãe pode interpretar isto como situações de perigo,
abandonando sua prole, para garantir sua sobrevivência e uma reprodução futura.
No
debate ocorrido com formandos de biologia todos se posicionaram contra o abandono e a opinião comum foi que
provavelmente as atitudes da mãe quando abandona seu filho são psicológicas e
hormonais. Muitos acreditam que a insegurança, o medo de deixá-lo em uma
instituição e o não vínculo com o bebe influência muito o psicológico, fazendo
com que a mãe tome atitudes inadequadas. Para
os futuros biólogos, a realização de mais campanhas contra o abandono e principalmente
reuniões de apoio para essas mulheres se faz muito necessária, assim as mães
ficariam mais conscientes de que uma vida não se deve ser jogada em uma lata de
lixo e saberiam lidar melhor com as dificuldades de criar uma criança com
microcefalia. Acreditamos também que o fator principal da ligação feita pela mãe
com o bebê, vem da produção de hormônios, o que gera apego e a proteção ao
filhote e algumas vezes pelo estresse cotidiano, do ambiente a mãe acaba tendo
reações contrárias a esses hormônios, o que faz com que ela não crie esse vínculo,
fazendo com que o abandono seja uma atitude de alto preservação sem sentimentos
envolvidos.
O presente
ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:
Borsa
J. C. (2007) Considerações acerca da
relação Mãe-Bebê da Gestação ao Puerpério. Contemporânea - Psicanálise e
Transdisciplinaridade, Porto Alegre, n.02.
Agman, M. (1999). Intervenções psicológicas em neonatologia. In D. B. Wanderley
(Org.), Agora eu era o rei: Os
entraves da prematuridade. Salvador, BA: Ágalma.
Winnicott, D. W. (1994). A experiência mãe-bebê de mutualidade. In C. Winnicott, Explorações psicanalíticas: D. W.
Winnicott. Porto Alegre. (Trabalho original publicado em 1969)
Bowlby, J. (1984). Apego e perda: apego (Vol. 1). São Paulo: Martins Fontes.
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