quarta-feira, 22 de junho de 2016

Zika, microcefalia e aborto: É correto impedir uma mãe de escolher ter ou não esse filho?


Série Ensaios: Sociobiologia

por Dayane Kichel, Gabriela Saldanha Lilia Itue Ota e Nathalia M. Meyer

Graduandas do Curso de Ciências Biológicas






O comportamento social refere-se à interação entre dois ou mais indivíduos da mesma espécie. A formação de grupos sociais é uma necessidade natural entre muitos grupos de animais, que se organizam a fim de exercerem funções especificas.  A motivação para que os animais vivam em um mesmo espaço vem das vantagens que esse comportamento traz como, por exemplo: garantir proteção, alimentação e reprodução, facilitando a  sobrevivência. O tema do presente ensaio é o amor pelo filhote, ou melhor dizendo a falta de amor, o cuidado dos pais para com o filhote requer um gasto de energia extra de ambas as partes, esse cuidado é de total importância para sobrevivência do filhote nos primeiros dias de vida, esse cuidado parental surgiu com os primeiros animais de sangue quente, assim os filhotes possuem maiores chances de sobreviver. 

Estudos demonstram que o cuidado parental pode ter várias origens como gravidez psicológica, comportamento cooperativo ou alta produção de ocitocina, sendo o último a resposta mais viável que justifica um gasto alto de energia a um filhote não biológico. Seja nos humanos ou entre os animais, ser mãe também significa a sobrevivência de uma espécie, a continuidade da vida. A maternidade é uma maneira da mulher se integrar definitivamente com seu filho gerado a fim de proporcionar a ele condições adequadas para a sobrevivência além de oferecer educação e prepará-lo para a vida.

O Brasil é um dos países com uma das maiores populações religiosas do mundo. Grande parte são cristãos e para eles o aborto é um pecado gravíssimo, a não ser que ocorra somente em caso de estupro ou quando a mãe está em risco de vida. Em todos esses anos se discute sobre esse assunto, pois, muitas mulheres dizem ter direito de decidirem seu próprio corpo. Porém, nos últimos anos com o aparecimento de uma doença que está causando graves sequelas aos fetos, algumas mulheres acabem “mudando” de ideia, é uma epidemia chamada de Zika que pode causar microcefalia. Uma criança afetada por essa doença terá muitos problemas mentais e físicos.

E daí vem a pergunta: uma mãe que descobre que seu filho está com microcefalia, ela deve escolher ter ou não esse filho?

Muitos homens estão abandonando suas mulheres por conta das crianças com microcefalia, aqueles que não abandonam no começo, acabam abandonando com o tempo, pois as condições e as rotinas pesadas para se criar um filho com microcefalia, infelizmente não são todos que querem e que conseguem. As mulheres só querem o direito de abortar uma criança que possui esse problema, até porque como foi dito acima, não são todas que possuem condições suficientes para sustentar uma criança com essas características.

O motivo para um abandono pode vir de diversas formas. Quando uma mãe não tem condições financeiras, quando ocorre depressão pós-parto, quando ela sofre agressões dentro de casa, por medo de não serem aceitas e normalmente essas mães que possuem essa capacidade de abandonar seu filho, geralmente são usuárias de drogas e não criaram um vínculo com o bebê durante a gestação. Porém, muitas mães abandonam por saberem que não vão conseguir criar o filho de uma maneira adequada. Sendo assim, elas veem o abandono como a melhor forma de salvá-lo. Muitas mães nessas situações acabam não abandonando fisicamente os filhos mais abandonam de forma afetiva, isso pode ocorrer pela morte do parceiro ou pela criança vir com alguma deficiência física ou mental.

            Um dos principais motivos para o abandono do filhote seria quando a mãe percebe que sua cria não vai sobreviver, e ela os repudia, se concentrando na próxima cria, para gerar novos descendentes, mais aptos para levar a espécie adiante. Se o ambiente estiver carregado de fatores de estresse ou com incidentes perturbadores, a mãe pode interpretar isto como situações de perigo, abandonando sua prole, para garantir sua sobrevivência e uma reprodução futura.

            No debate ocorrido com formandos de biologia todos se posicionaram contra o abandono e a opinião comum foi que provavelmente as atitudes da mãe quando abandona seu filho são psicológicas e hormonais. Muitos acreditam que a insegurança, o medo de deixá-lo em uma instituição e o não vínculo com o bebe influência muito o psicológico, fazendo com que a mãe tome atitudes inadequadas.  Para os futuros biólogos, a realização de mais campanhas contra o abandono e principalmente reuniões de apoio para essas mulheres se faz muito necessária, assim as mães ficariam mais conscientes de que uma vida não se deve ser jogada em uma lata de lixo e saberiam lidar melhor com as dificuldades de criar uma criança com microcefalia. Acreditamos também que o fator principal da ligação feita pela mãe com o bebê, vem da produção de hormônios, o que gera apego e a proteção ao filhote e algumas vezes pelo estresse cotidiano, do ambiente a mãe acaba tendo reações contrárias a esses hormônios, o que faz com que ela não crie esse vínculo, fazendo com que o abandono seja uma atitude de alto preservação sem sentimentos envolvidos.

 O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:

Borsa J. C. (2007) Considerações acerca da relação Mãe-Bebê da Gestação ao Puerpério. Contemporânea - Psicanálise e Transdisciplinaridade, Porto Alegre, n.02.

Agman, M. (1999). Intervenções psicológicas em neonatologia. In D. B. Wanderley (Org.), Agora eu era o rei: Os entraves da prematuridade. Salvador, BA: Ágalma.

Winnicott, D. W. (1994). A experiência mãe-bebê de mutualidade. In C. Winnicott, Explorações psicanalíticas: D. W. Winnicott. Porto Alegre. (Trabalho original publicado em 1969)

Bowlby, J. (1984). Apego e perda: apego (Vol. 1). São Paulo: Martins Fontes.

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