Corrupção com direito à benefícios: Tudo pelo poder


Série Ensaios: Sociobiologia

Por: Bruna Schaidt, Izadora Oliveira, Ronald Bueno e Sayori Nakayama
Acadêmicos do curso de Biologia



Em 29 de março de 2006, ao conseguir ser “demitida” de um cargo público, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, recebeu pelo menos R$ 145 mil. Ela foi “exonerada” do cargo da diretoria financeira de Itaipu Binacional. Por meio de um acordo com o comando de Itaipu, Gleisi trocou a “exoneração a pedido”, o que de fato ocorreu, pela “exoneração”, ou seja, demissão. Com isso, recebeu, além de férias proporcionais, entre outros, os 40% de indenização sobre o saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), além de poder sacar o próprio FGTS. A assessoria da ministra confirmou ao Estado que ela recebeu a multa de 40% relativa ao FGTS no valor de R$ 41.829,79. Foi informado ainda que ela sacou o fundo, mas Gleisi se recusou a revelar o valor. Pelo cálculo em cima dos 40%, a ministra teria pelo menos R$ 104 mil de FGTS. Ou seja, o “acerto” com Itaipu rendeu a ela cerca de R$ 145 mil em 2006. (Azevedo).


Este ensaio tem por objetivo citar um caso real de corrupção no Brasil repercutido na mídia e esclarecer por que o ser humano traz consigo uma necessidade de fraudar situações e mentir para outros para conseguir alcançar o que deseja, partindo dos pontos psicológicos, biológicos e etológicos.
Precisamos primeiramente entender que a corrupção é um fato que exige uma relação entre dois agentes para ser praticado, um em cada polo: no ativo, o corruptor, aquele que oferece ou promete vantagem indevida a um funcionário público para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício, e, no passivo, o corrompido, o funcionário público que aceita essa oferta ou a solicita, para si ou para outrem, em razão de sua função, direta ou indiretamente, ainda que fora dela, ou antes, de assumi-la. (Milhomens).
    Segundo a ex-Presidente Dilma Rousseff que alegou em um de seus discursos, que “A corrupção não nasceu ontem, é uma senhora idosa e não poupa ninguém”. (Santos). Entende-se, de acordo com Andrade, que a corrupção se trata de um problema que se remete a tempos muito longe dos nossos. Ela existe desde muito antes do descobrimento do Brasil e esteve sempre presente em muitos países e em vários momentos da História. Há quem tome por referência, o primeiro ato de corrupção como a oferta, pela serpente, da maçã em troca simbólica do paraíso pelos prazeres da carne. Lógico que essa hipótese não aconteceu de fato, porém, nos traz uma clarividente noção de que a disposição a se corromper está intrínseca no ser humano, cabendo apenas a ele o discernimento próprio de seus atos. A origem da corrupção tem ligação direta com o aparecimento do Estado. Para Batista, o Estado é o principal responsável pela corrupção e pela violência, cabendo-lhe coibir ou punir os corruptos, exemplarmente, inclusive com pena de morte, se for o caso. Está mais do que provado que a impunidade incentiva ao crime, sobretudo aos crimes bárbaros ou hediondos.
    O medo de morrer ou de ser punido com a pena de morte, é o que mais apavora o homem. O corpo e a mente humanos são feitos para escolher o caminho mais fácil entre dois pontos no tempo e no espaço. É bem documentado, por exemplo, que primatas como os chimpanzés utilizam-se de meios bastante "questionáveis" para manter-se no poder. Não raro o macho alfa estupra, assassina rivais, esquarteja e faz terror com seus opositores. Num cenário no qual ser honesto apresenta diversos empecilhos e em muitas situações uma impossibilidade de existência, qualquer um vira um corrupto latente. Não é que a corrupção seja natural do ser humano, mas o seu princípio é que o é. O princípio da corrupção é obter vantagem pessoal e, como já falamos, o meio mais eficiente para isso é "escolher o caminho mais fácil": seguir as regras exige dedicação, consciência, abdicação pessoal em prol do público e muitas pessoas não têm tendência para isso, pois é custoso em termos de investimento pessoal. (Félix).
   Em um estudo realizado recentemente, pesquisadores demonstraram como um certas substâncias pode afetar nosso organismo, nos induzindo de forma mais ou menos honesta, fazendo com que a desonestidade fosse alterada de acordo com o nível das substâncias presentes no corpo.
    Foi demonstrado em tal estudo que a ocitocina, substância que funciona tanto como hormônio como neurotransmissor, a influência na abordagem social, sendo que oa indivíduos que receberam uma dose intranasal de ocitocina mostraram um nível mais de desonestidade, diferente daqueles que receberam placebo, que também foram desonestos, porém em menos quantidade, desta forma, o grupo que realizou este experimento considerou que o grupo que recebeu a dose de ocitocina demonstrou maiores níveis de desonestidade.
        A sociologia trata a corrupção do dia a dia como uma reflexão da individualidade dos cidadãos uma vez em que a coletividade está em colapso, como caso do trânsito, saúde, educação e não há um equilíbrio e respeito com o outro cidadão e a sociedade é reflexo do coletivo. Também há uma frase de autor desconhecido em que diz que "o mundo que nós vamos deixar para nossos filhos depende dos filhos que deixaremos para o mundo",ou seja, cabe ao coletivo unir esforços para que a corrupção não seja algo aceito como é hoje em dia aceito no Brasil.
            A falta de coletividade e um agravante que é a polaridade política no Brasil da uma ideia de como o coletivo do país está dividido e em colapso, como o caso de uma médica que se negou a dar atendimento a um bebê pois sua mãe era petista, e isto afirma como estamos lidando com pessoas que preferem ter um partido político como um símbolo de caráter e personalidade absoluta.  A corrupção está muito mais associada a um determinado funcionamento ou a falta deste da sociedade brasileira do que dos brasileiros individualmente.
            Psicologicamente a negação (ou justificação) de um problema nos enxuga lágrimas. Ela é feita, portanto, para nos liberar do peso da reprovação social. Também para não afetar nossa autoimagem de que somos íntegros, honrados, honestos etc (vide os Cunhas da política brasileira).     O Brasil hoje não é o único país com governo corrupto, mas é um paraíso para ela. A solução além da mudanças de comportamentos de toda a sociedade, passa pelo reconhecimento dela. Em lugar de esconder pra debaixo do tapete, é necessário dizer o seu nome, a sua dimensão, seus danos e consequencias e assim o processo de "descorrupção" se inicia.
            A corrupção só irá silenciar quando a partir da mudança de comportamento individual incentivar a mudança comportamental do coletivo. A corrupção está ancorada de uma forma que o brasileiro não percebe que ele também é parte da corrupção e sendo assim a visão de que a lei vale para os outros e não para mim está gravemente ligada a impunidade e só será cessada se essas pequenas atitudes perversas também cessarem.
       O caso de Gleisi Roffman nos fez entender que a sua demissão do cargo da diretoria financeira da Itaipu Binacional, se deu para evitar a sua exoneração de tal cargo, obtendo benefícios como férias e autorização de sacar seu FGTS, benefícios estes, que de acordo com a lei, não são autorizados. Gleisi, assim como tantos outros políticos e empresários, fazem tudo o que podem para conseguir arrecadarem para si próprios cada vez mais dinheiro, geralmente se tratando de verba pública.
Como futuros biólogos, notamos aqui uma necessidade quase compulsiva vinda de políticos, de levar vantagem em cima dos cofres públicos. Assim como os animais querem obter poder acerca dos demais da mesma espécie, o ser humano não é diferente. Observamos muitos casos de corrupção no Brasil e no mundo todo, onde a priori das atitudes errôneas tomadas por políticos, é a obtenção de poder sobre outros seres humanos, e riqueza para sustentar seus desejos pessoais. O mundo político brasileiro não está acostumado a prestar contas dos seus atos, muito poucos estão sendo punidos, o que lhes oferece tamanha ousadia para com o dinheiro público. Nessa guerra pelo poder, o cidadão entende que deve haver cargos estatais para manter o Estado, mas deve entender também, que estes políticos só estão cada dia lucrando mais, porque nós os colocamos no poder, e é somente o cidadão que vota nas urnas, que pode mudar esta realidade, seja na hora do voto, ou seja reivindicando seus direitos quando algum ato de corrupção se torna visível.

 


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:


 


ANDRADE, T., X. As possíveis causas da corrupção brasileira. Revista Âmbito Jurídico. Recuperado de http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13754&revista_caderno=27 em 20/06/2016.

AZEVEDO, R., Arranjo para demissão em Itaipu rendeu R$ 145 mil a Gleisi. Revista Veja, Colunistas. 25/08/2011. Recuperado de http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/arranjo-para-demissao-em-itaipu-rendeu-r-145-mil-a-gleisi/ em 20/06/2016.
BATISTA, A. (1983), Corrupção: Fator de Progresso? A Tribuna de Santos/SP, 30/05/1983. Recuperado de http://www.dnit.gov.br/download/institucional/comissao-de-etica/artigos-e-publicacoes/publicacoes/Corrupcao%20no%20Brasil.pdf em 20/06/2016.
Diário de Santa Maria. Entenda por que a corrupção está em nosso DNA. Disponível em . Acesso em 20 de junho de 2016.
FÉLIX, J., D., B., S. Por que é impossível acabar com a corrupção? Site Obvius. Recuperado de http://obviousmag.org/o_sentinela_psiquico/2015/04/por-que-e-impossivel-acabar-com-a-corrupcao.html em 20/06/2016.
Jusbrasil. Corrupção e o mecanismo psicológico da negação. Disponível em . Acesso em 20 de junho de 2016.
MILHOMENS, L., P. Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Corrupção - Um estudo sobre suas origens, sua fiscalização e suas causas em nossos dias. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Recuperado de http://www.amb.com.br/portal/docs/artigos/corrup%C3%A7%C3%A3o_lia_pantoja.pdf em 20/06/2016
O Hormônio que pode torná-lo desonesto. Vieplanyte. Disponível em: <http://pt.vieplanyte.com/neurociencia/o-hormonio-que-pode-torna-lo-desonesto.php>. Acesso em 20 de junho de 2016.
Pragmatismo Político. Médica se recusa a atender nenem que tem mãe petista. Disponível em . Acesso em 22 de junho de 2016.
PsiBr. A Corrupção e a Psicologia do "Caráter" Nacional. Disponível em . Acesso em 22 de junho de 2016.
SANTOS, A., A., M. Entenda por que a corrupção está em nosso DNA. Diário de Santa Maria, 21/03/2015. Recuperado de http://diariodesantamaria.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/noticia/2015/03/entenda-por-que-a-corrupcao-esta-em-nosso-dna-4723208.html em 20/06/2016.