Série
Ensaios: Sociobiologia
por Ana
Carolina Franken
Acadêmica
do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas – PUCPR
Recentemente, o grupo Boticário,
empresa de cosméticos e perfumes brasileira, lançou uma propaganda de Dia dos
Namorados cujos protagonistas formam casais homo/heterossexuais. No
entanto, seu lançamento gerou extrema
polêmica em diversas redes sociais, que além de gerar um alvo de
protestos, resultou em ameaças à marca. Não somente alvo de críticas, a
propaganda recebeu muitos elogios pela atitude não homofóbica da empresa,
igualando assim os gêneros e escolhas sexuais. Surge então a pergunta: quais as
causas responsáveis de tamanha indignação para com casais homossexuais, uma vez
que esta situação está presente no mundo atual desde a antiguidade?
Tratando desta questão em termos de
interações sociais, a complexa organização social vivida por animais não
humanos parece estar diretamente ligada à sobrevivência física (Gahagan, 1976).
Dentre as categorias, uma dela envolve comportamentos associados ao sexo e a
reprodução, sendo aquele, portanto, um foco de interação e da estrutura social
(Gahagan, 1976). Ainda, segundo o mesmo autor, este comportamento, embora
possua componentes comuns no mundo, possui ideias incomuns sobre o
comportamento sexual. Tais ideias podem estar associadas a questões culturais,
políticas e religiosas. No entanto, em termos de questões biológicas, a
homossexualidade não é um fenômeno recente, aparecendo na antiguidade em
paralelo à flexibilização comportamental em relação ao sexo, quando este passou
a desempenhar funções sociais nos grupos humanos (Forastieri, 2006). Existe
então a possibilidade deste comportamento ter evoluído em benefícios
relacionados à organização social humana (Wilson, 1981) e não humana. Como
exemplo, primatas, cujo grupo é constantemente alvo de exemplos sobre a
homossexualidade em animais não humanos, possuem comportamentos distintos entre
os grupos do “novo
mundo” e do “velho mundo”; no
entanto, este grupo não trouxe até o momento revelações acerca das questões
homossexuais humanas (Forastieri, 2006). Outro exemplo é a espécie Pan paniscus, o bonobo, cujos comportamentos
sexuais mais se assemelham ao de humanos (Menezes, 2005), porém, não possui
funções exclusivamente reprodutivas, e sim, funções apaziguadoras e afetivas
entre os indivíduos do grupo (Waal, 1997). Logo, conclui-se que a
homossexualidade é, além de tudo, uma forma de união, consolidando assim
relações afetivas, tendo como origens fatores naturais, acima de tudo (Wilson,
1981).
Sempre ligado ao contexto social, este
comportamento passou a desempenhar diferentes
funções nos grupos, desde ações
pacificadoras, como mencionado acima (Forastieri, 2006), cuidado
parental em caso de rejeição de filhotes (do UOL, 2014; Redação
Super, 1999), controle de natalidade em um contexto “natural”, facilidade do
estabelecimento de laços sociais (Bailey & Zuk, 2009), entre outros. No
caso ações pacificadoras, este comportamento pode intensificar ou reduzir conflitos
e agressões intrassexuais; no sucesso reprodutivo, fornecendo práticas aos
jovens, melhorando seu desempenho na corte e busca de um parceiro heterossexual
(Bailey & Zuk, 2009). Ainda, na obtenção de prazer, no estabelecimento de
hierarquias e no favorecimento em trabalhos em equipe (Judson, 2003 apud Menezes, 2005). Relacionadas ao
grupo como um todo, estes indivíduos podem ter impulsionado a procriação de
filhotes em casais heterossexuais, no momento em que outras ocupações
domésticas lhe foram dadas (Wilson, 1981). Uma hipótese sugerida é a “de
seleção por parentesco”, onde o papel de eficiência aos parentes próximos foi beneficiado
(Wilson, 1981).
Eu,
como formanda em biologia, acredito
que questões de relevante interesse da população, ligadas a fatores polêmicos
ou incontestáveis, devem ser tratadas como uma condição pré-existente no mundo,
tendo evoluído por algum motivo específico. Neste contexto, diferentes linhas
de estudo procuram entender e compreender as justificativas da homossexualidade
na sociedade humana e não humana, deixando de lado, por vezes, o lado biológico
e o seu papel na evolução como um todo. Logo, conclui-se que, em paralelo às
palavras citadas por Wilson (1981), tão desigual e sádico seria encontrar
motivos biológicos para a aceitação deste grupo no contexto social atual, assim
como manter a discriminação e o preconceito moral e ético baseados em
suposições como “indivíduos biologicamente anormais”.
Este estudo foi elaborado para a
disciplina de Etologia II, baseado nas obras:
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