Série Ensaios: Sociobiologia
Por Paula Larocca
Acadêmica do curso de Biologia PUCPPR
A Polícia Militar prendeu um homem que agrediu a esposa com um cabo de
vassoura em São José do Mantimento (MG), no dia 02/09.
A vítima foi atendida no pronto atendimento municipal e relatou aos
policiais que o marido dela havia chegado bêbado em casa. Depois de uma
discussão, ele pegou uma vassoura e agrediu a mulher, ferindo-lhe o braço
esquerdo.
A companheira contou ainda aos policiais que as agressões pelo autor têm
sido constantes, contudo não comunicava a polícia com medo de represálias, já
que o marido é uma pessoa agressiva.
Agressividade, ato
impulsivo? Libertação? Territorialismo? Esse ato, já vem de tempos primórdios
de todas as espécies. Segundo Freud a agressão em qualquer espécie é um conjunto mal definido
de respostas diferentes com controles separados no sistema nervoso, dais quais:
a defesa e conquista de território, a afirmação de dominância nos grupos bem
organizados, a agressão sexual, os atos de hostilidade pelos quais o desmame é
completado, a agressão contra as presas, os contra-ataques defensivos contra
predadores e a agressão moralista. Temos
instintos sinistros como instintos luminosos. A tendência das sociedades
humanas a se fragmentar em grupos rivais fez-nos exageradamente propícios aos
preconceitos e as disputas genocidas. Em um ponto de vista ecológico, o
comportamento agressivo pode trazer vantagens adaptativas e ser favorecido pela
seleção natural ao longo da evolução da espécie. Tal
ato pode ter sido agravado, pela velocidade entre a evolução biológica e a evolução cultural,
decorrente do início da civilização, que em condições de sobrevivência
precárias e de extrema competição por recursos escassos, a seleção natural
favoreceria uma reação violenta a uma ameaça externa (outro grupo competindo
pelos mesmos recursos, por exemplo), estas são importantes estratégias sociais
e podem ser vistas também em outras espécies, envolvendo a predação,
proteção do território e de filhotes. Um exemplo marcante foi o ocorrido no Quênia, onde um grupo de leões investiu contra um macho solitário
para defender seus filhotes. A aproximação do leão foi percebida como
ameaçadora pelos animais, que o atacaram para proteger as crias e assim
forçaram o intruso a fugir.
Na espécie humana, influências
neurais, genéticas e bioquímicas predispõem algumas pessoas a reagir
agressivamente ao conflito e à provocação, como tais: o álcool, principalmente
quando as pessoas são provocadas, reduzindo a autoconsciência. Há também a
influência hormonal, principalmente correlacionando ao hormônio sexual
masculino, a testosterona, que em pessoas com
índices mais altos tendem a ser mais violentas.
Segundo Fromm, a espécie humana
apresentaria formas patologicamente exageradas de agressividade, resultantes da
desnaturalização do contexto em que o comportamento agressivo ocorre: não mais
um ambiente natural, no sentido ecológico da palavra, mas um meio artificial,
social e cultural. Há ainda pesquisas atuais nas áreas da genética,
relacionando a agressividade na expressão gênica, porém há
controversas, muitos dizem que as formas específicas de violência organizada
não são herdadas. Nenhum gene diferencia, por exemplo, a prática da tortura,
e sim há uma predisposição inata à produção de um aparato cultural da agressão.
A agressividade, ao contrário da violência, inscreve-se dentro do
próprio processo de construção da subjetividade, uma vez que seu movimento
ajuda a organizar o labirinto identificatório de cada sujeito. Enquanto a
agressividade institui o outro em um lugar de autoridade e investido de um
certo valor, a violência promove a desqualificação deste valor, anulando este
outro.
O comportamento
agressivo já foi demonstrando também em elefantes da África do Sul, onde a perturbação social leva a desvios de comportamento
entre os jovens. Alguns grupos de elefantes machos que se tornaram órfãos em
duas áreas protegidas na África do Sul. Sem elefantes machos mais velhos para
mantê-los sob controle, os animais jovens tornaram-se anormalmente agressivos e
mataram 107 rinocerontes em um período de 10 anos. Estudos revelaram que os
elefantes não só possuem talento e percepção artística, como também demonstram
um comportamento muito próximo à cognição humana.
Como
formanda em Biologia vejo que apesar da agressividade tornar-se um ato muitas
vezes violento, gerando um problema social, principalmente na espécie humana,
ele também deve ser entendido como um comportamento natural de todas as espécies,
no qual traz vantagens adaptativas no ambiente natural, como exemplos, a
predação, busca de recursos, defesa de habitat e comunidade.
O
presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Etologia II se baseando nas
seguintes obras:
Nenhum comentário:
Postar um comentário