sábado, 19 de setembro de 2015

Da agressividade à violência

Série Ensaios: Sociobiologia

Por Paula Larocca
Acadêmica do curso de Biologia PUCPPR

A Polícia Militar prendeu um homem que agrediu a esposa com um cabo de vassoura em São José do Mantimento (MG), no dia 02/09.
A vítima foi atendida no pronto atendimento municipal e relatou aos policiais que o marido dela havia chegado bêbado em casa. Depois de uma discussão, ele pegou uma vassoura e agrediu a mulher, ferindo-lhe o braço esquerdo.
A companheira contou ainda aos policiais que as agressões pelo autor têm sido constantes, contudo não comunicava a polícia com medo de represálias, já que o marido é uma pessoa agressiva. 


Agressividade, ato impulsivo? Libertação? Territorialismo? Esse ato, já vem de tempos primórdios de todas as espécies. Segundo Freud a agressão em qualquer espécie é um conjunto mal definido de respostas diferentes com controles separados no sistema nervoso, dais quais: a defesa e conquista de território, a afirmação de dominância nos grupos bem organizados, a agressão sexual, os atos de hostilidade pelos quais o desmame é completado, a agressão contra as presas, os contra-ataques defensivos contra predadores e a agressão moralista. Temos instintos sinistros como instintos luminosos. A tendência das sociedades humanas a se fragmentar em grupos rivais fez-nos exageradamente propícios aos preconceitos e as disputas genocidas. Em um ponto de vista ecológico, o comportamento agressivo pode trazer vantagens adaptativas e ser favorecido pela seleção natural ao longo da evolução da espécie. Tal ato pode ter sido agravado, pela velocidade entre a evolução biológica e a evolução cultural, decorrente do início da civilização, que em condições de sobrevivência precárias e de extrema competição por recursos escassos, a seleção natural favoreceria uma reação violenta a uma ameaça externa (outro grupo competindo pelos mesmos recursos, por exemplo), estas são importantes estratégias sociais e podem ser vistas também em outras espécies, envolvendo a predação, proteção do território e de filhotes. Um exemplo marcante foi o ocorrido no Quênia, onde um grupo de leões investiu contra um macho solitário para defender seus filhotes. A aproximação do leão foi percebida como ameaçadora pelos animais, que o atacaram para proteger as crias e assim forçaram o intruso a fugir.
 Na espécie humana, influências neurais, genéticas e bioquímicas predispõem algumas pessoas a reagir agressivamente ao conflito e à provocação, como tais: o álcool, principalmente quando as pessoas são provocadas, reduzindo a autoconsciência. Há também a influência hormonal, principalmente correlacionando ao hormônio sexual masculino, a testosterona, que em pessoas com índices mais altos tendem a ser mais violentas.
Segundo Fromm, a espécie humana apresentaria formas patologicamente exageradas de agressividade, resultantes da desnaturalização do contexto em que o comportamento agressivo ocorre: não mais um ambiente natural, no sentido ecológico da palavra, mas um meio artificial, social e cultural. Há ainda pesquisas atuais nas áreas da genética, relacionando a agressividade na expressão gênica, porém há controversas, muitos dizem que as formas específicas de violência organizada não são herdadas. Nenhum gene diferencia, por exemplo, a prática da tortura, e sim há uma predisposição inata à produção de um aparato cultural da agressão.
A agressividade, ao contrário da violência, inscreve-se dentro do próprio processo de construção da subjetividade, uma vez que seu movimento ajuda a organizar o labirinto identificatório de cada sujeito. Enquanto a agressividade institui o outro em um lugar de autoridade e investido de um certo valor, a violência promove a desqualificação deste valor, anulando este outro.
O comportamento agressivo já foi demonstrando também em elefantes da África do Sul, onde a perturbação social leva a desvios de comportamento entre os jovens. Alguns grupos de elefantes machos que se tornaram órfãos em duas áreas protegidas na África do Sul. Sem elefantes machos mais velhos para mantê-los sob controle, os animais jovens tornaram-se anormalmente agressivos e mataram 107 rinocerontes em um período de 10 anos. Estudos revelaram que os elefantes não só possuem talento e percepção artística, como também demonstram um comportamento muito próximo à cognição humana.

Como formanda em Biologia vejo que apesar da agressividade tornar-se um ato muitas vezes violento, gerando um problema social, principalmente na espécie humana, ele também deve ser entendido como um comportamento natural de todas as espécies, no qual traz vantagens adaptativas no ambiente natural, como exemplos, a predação, busca de recursos, defesa de habitat e comunidade.


O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Etologia II se baseando nas seguintes obras:

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