A homossexualidade em diferentes mundos

Série Ensaios: Sociobiologia



Por Thalita Adriana Tavares
Acadêmica do curso Ciências Biológicas da PUC – PR

                  “Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.” - Albert Einstein.
            A jornalista Marina Estarque em abril de 2015, escreve em Carta Capital, alguns casos de casais homossexuais que esperam na fila da adoção. Um dos casos conta a história de Marcos Gladstone e seu parceiro, pais de 2 filhos adotivos. O casal aguarda a chegada de mais uma menina na família, porém a decisão está ameaçada pelo projeto de lei 6583/13, mais conhecido como Estatuto da Família, que define como família apenas casais formados por um homem e uma mulher, ou um dos pais e seus descendentes. Na prática, impede casais homossexuais de se casarem e adotarem crianças – ambos direitos já reconhecidos pela Justiça, mas não previstos em lei. O projeto de lei já possui vários opositores, porém acaba por afastar o interesse dos homossexuais em adotar.  
           
          A homossexualidade é milenar em existências comportamentais, sociais e culturais. No livro Biological Exuberance - Animal Homosexuality and Natural Diversity, o pesquisador Bruce Bagemihl analisou mais de 400 espécies, na maioria mamíferos e aves, todas praticantes de hábitos homossexuais. A pesquisa mostrou, inclusive, que as relações homossexuais na natureza não são fruto de confusão do instinto ou falta de fêmeas. Pode-se dizer que, a maioria dos animais homossexuais é assim porque é.   
            Os comportamentos homossexuais dos animais, às vezes diferenciam-se dos comportamentos homossexuais humanos, pois são desempenhados para uma estratégia de sobrevivência para o grupo em que se inserem, e não por simples prazer.

           O livro considera cinco comportamentos classificados como homossexuais, entre eles o cortejo, que inclui todas os meios que os animais usam para se exibir e conquistar parceiros. O pássaro-lira, bem como o pavão seduzem suas fêmeas exibindo sua grande cauda a elas, no entanto as fêmeas não são as únicas atraídas, machos são observados exibindo suas caudas para outros machos. A afeição é outro critério notado pelo biólogo, expressa o vínculo íntimo com outros indivíduos através de demonstrações de afeto, porém não são consideradas manifestações de sexualidade. A formação de casais nem sempre envolvem seres do mesmo gênero, mais de 70 espécies de aves mantém relações duradouras com indivíduos do mesmo sexo, além de leões e elefantes machos que podem formar laços mais duradouros que casais heterossexuais. A criação de filhotes também é atividade bem comum entre parceiros semelhantes, o pássaro-cantor macho atrai o outro por meio do canto, no início do período reprodutivo, constroem o ninho e cuidam dos ovos e crias abandonados. Por fim, o contato sexual propriamente dito é todo momento em que há estimulação dos órgãos genitais. Bonobos, morsas, golfinhos, libélulas, são exemplos de alguns animais que desempenham atos homossexuais.    
            No quesito histórico, desde a Grécia Antiga, a homossexualidade era uma prática comum entre os guerreiros espartanos. Prestigiados pela valentia, obediência e força, o comportamento homossexual era visto como uma estratégia de sobrevivência na rotina de batalhas. O estreitamento de laços entre os guerreiros fazia com que os mesmos estivessem mais dispostos e mais encorajados a lutar.
            Os pesquisadores Urban Friberg, William Rice e Sergey Gavrilets no periódico científico The Quarterly Review of Biology, afirmam que o fator biológico ligado à homossexualidade se encontra em um conceito conhecido por epigenética, que consiste no estudo das mudanças hereditárias na expressão gênica que não envolve uma mudança na sequência do DNA, são modificações que sinalizam aos genes se eles devem se expressar ou não. Com o modelo proposto no estudo, eles poderiam explicar que a homossexualidade é transmitida através de epimarcas hereditárias, responsáveis por alterar e regular a sensibilidade à testosterona em fetos no útero materno. Além das modificações físicas, a exposição à testosterona é o que poderia também influenciar na orientação sexual do indivíduo.  
            As variações epigenéticas adquiridas durante a vida de um organismo podem ser passadas aos seus descendentes, portanto a hereditariedade explica apenas parte da variação na preferência sexual. A homossexualidade pode ser uma característica geneticamente estabelecida de acordo com os hábitos e o ambiente social que o indivíduo está inserido. As razões, que podem ser sociais, culturais e do ambiente, permanecerão como um tópico de intensa discussão.
         
   No sentido biológico, há uma forte possibilidade de que a homossexualidade seja uma conduta claramente benéfica, segundo Edward Osborne Wilson. O biólogo entomologista discute que a homossexualidade surgiu como elemento importante na organização social humana primitiva, visto que os homossexuais podem ser portadores genéticos de alguns dos raros impulsos altruístas da humanidade. A homossexualidade é sobretudo uma forma de estabelecer vínculos. A predisposição para o caráter homófilo possui uma base genética e os genes se difundiram nas sociedades primitivas devido a vantagem que conferiam a quem os possuísse. Wilson avança com a hipótese de seleção de parentesco para explicar a origem da homossexualidade, segundo a qual os parentes mais próximos dos homossexuais podem ter mais filhos como resultado da sua presença.
            O grande enigma diz respeito ao processo de seleção natural: como homossexuais produzem menos prole do que heterossexuais, por qual razão uma possível variação genética seria mantida ao longo das gerações?
            Os membros homossexuais das sociedades primitivas, livres das obrigações e deveres paternos, eram eficientes em ajudar os parentes mais próximos. Os parentes, beneficiados por taxas mais elevadas de sobrevivência e reprodução, partilhavam com os homossexuais genes alternativos, responsáveis pela aquisição do potencial para preferências homofílicas por uma minoria da população, possibilitando que os genes homossexuais continuassem a difundir-se através de linhagens de descendência colateral, ainda que os próprios homossexuais não tivessem filhos.  
            Devido à grande demanda de estudos associados a homossexualidade, pensamentos e conceitos vêm se modificando com o decorrer do tempo. De acordo com a psicanalista Cynthia Ladvocat, do ponto de vista legal, não existe nenhum impedimento para que homossexuais adotem crianças, pois a sexualidade de cada postulante à adoção não faz parte da avaliação.
            Apesar da polêmica sobre o assunto, é de suma relevância alguns aspectos como o fato de que os pais adotivos escolhem ser pais, superam limites biológicos, procuram os mais diversos métodos em busca da paternidade ou maternidade, em contraste com muitos casais heterossexuais que experenciam de gestações não planejadas. Outro fator é o de que uma grande porcentagem de pais ou mães homossexuais procuram adotar crianças diferentes de suas raças e/ou portadores de deficiências, um gesto bastante gracioso.
            Como futura bióloga, acredito que um comportamento tão antigo, praticado por inúmeros animais, deve ser estudado profundamente para a percepção e entendimento de todas as espécies, inclusive a nossa. O preconceito, a opressão social, a homofobia em geral ainda é muito acentuada, o que afeta de modo direto a adoção por casais homossexuais. As pessoas esquecem que independente do contexto social em que uma criança se encontra, o relevante é promover a essa criança um ambiente saudável, afetivo e que supra as necessidades físicas e psicológicas para o seu bom desenvolvimento, uma vez que a família é a base para a formação do caráter do indivíduo e um dos alicerces para a formação da personalidade do mesmo.
            O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia II se baseando nas seguintes referências: