Série Ensaios: Sociobiologia
Por Bruno Madalozzo Body
Acadêmico do Curso de Biologia
Num curto vídeo de um minuto e
trinta segundos feito numa escola de idiomas no centro de Manaus, Amazonas,
vemos uma cena que se repete em diversos colégios e, em
nível reduzido, universidades do mundo inteiro. Um adolescente é agredido
psicológica e fisicamente enquanto outros alunos e alunas incentivam e se
divertem às suas custas. O motivo? Banal... Por causa de um pirulito. Mas, na
grande maioria dos casos, não é necessária uma razão coerente para se iniciarem
as agressões, basta haver uma pessoa mais frágil e indefesa, um valentão e um
grupo de pessoas pelas quais valha a pena o esforço de se exibir.
Diversos são os fatores etológicos que influenciam nas relações interpessoais e consequentes formações de grupo que se dão em diferentes camadas e círculos sociais. Tais fatores são determinados pelas ações realizadas por cada indivíduo e por quais outros participantes daquele convívio foram atingidos por tais ações. Ações benéficas, de altruísmo, são interpretadas e guardadas na memória de uma pessoa se tiveram relevância para ela, sendo assim, haverá um elo entre o benfeitor e o alvo, que futuramente poderá trazer bons frutos, pois forma-se, no subconsciente de cada um, a noção de que é vantajoso possuir aquela relação de cumplicidade; a isso, damos o nome de altruísmo biológico. Isso ocorre em diversas espécies de animais que possuem hábitos sociais, como os bonobos (Pan paniscus), que, similarmente ao homem, utiliza até mesmo o sexo como instrumento de coesão social, o qual é benéfico para a sobrevivência.
Nós, seres humanos, não
temos a necessidade biológica de resistirmos às pressões seletivas naturais
iguais às dos bonobos, porém, precisamos sobreviver às pressões sociais às
quais estamos sujeitos ao longo de nossa vida. Assim como existem aqueles com
os quais possuímos relação de cumplicidade, existem aqueles com os quais
possuímos relação antagônica, e o que irá determinar nosso sucesso no convívio
em grupo são as adaptações em cada âmbito social.
A agressão,
bem como a cooperação, também possui um importante papel na configuração de
grupos, principalmente referente à dominância e submissão, relações observadas,
por exemplo, no bullying.
Os papéis
de agressor e vítima determinam o antagonismo direto, o papel de defensor representa
o comportamento de proteção, o qual comumente é mútuo; já os papéis de
testemunhas e cúmplices passivos ou ativos definem relações indiretas, porém
importantíssimas, pois quem pratica o bullying geralmente tem a intenção de
atingir os indivíduos que estão ao redor observando, com o objetivo de
adquirir, de preferência, a conivência da maioria ou dos integrantes
pertencentes ao que é considerado, pelo agressor, como o melhor grupo para se
fazer parte. Entre os chimpanzés-comuns (Pan troglodytes), por exemplo, o comportamento
agressivo em grupo se mostrou benéfico na questão reprodutiva, facilitando os
indivíduos mais agressivos no momento de acasalar, pois possibilita a ascensão
nas castas sociais dos chimpanzés.
O comportamento
agressivo entre animais que precisam resistir às pressões evolutivas, como
método de estreitar relacionamentos, é compreensivo, porém, casos
como o do aluno agredido com fim de demonstração de força e coesão social é
inaceitável, uma vez que possuímos meios cooperativos e mutuamente benéficos de
se fazer o mesmo.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia tendo
como base as obras:
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M. A. and Turner, J. C. (1985), Interpersonal attraction, social identification
and psychological group formation. Eur. J. Soc. Psychol., 15: 51–66.
doi: 10.1002/ejsp.2420150105
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Trivers, R. L., 1971, ‘The
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Salmivalli,
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Gilby IC,
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Hampshire: http://pubpages.unh.edu/~jel/512/sexes/aggression00.html#Heading2
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