terça-feira, 22 de setembro de 2015

A biologia do Bullying

Série Ensaios: Sociobiologia

Por Bruno Madalozzo Body
Acadêmico do Curso de Biologia

Num curto vídeo de um minuto e trinta segundos feito numa escola de idiomas no centro de Manaus, Amazonas, vemos uma cena que se repete em diversos colégios e, em nível reduzido, universidades do mundo inteiro. Um adolescente é agredido psicológica e fisicamente enquanto outros alunos e alunas incentivam e se divertem às suas custas. O motivo? Banal... Por causa de um pirulito. Mas, na grande maioria dos casos, não é necessária uma razão coerente para se iniciarem as agressões, basta haver uma pessoa mais frágil e indefesa, um valentão e um grupo de pessoas pelas quais valha a pena o esforço de se exibir.

   
  Diversos são os fatores etológicos que influenciam nas relações interpessoais e consequentes formações de grupo que se dão em diferentes camadas e círculos sociais. Tais fatores são determinados pelas ações realizadas por cada indivíduo e por quais outros participantes daquele convívio foram atingidos por tais ações. Ações benéficas, de altruísmo, são interpretadas e guardadas na memória de uma pessoa se tiveram relevância para ela, sendo assim, haverá um elo entre o benfeitor e o alvo, que futuramente poderá trazer bons frutos, pois forma-se, no subconsciente de cada um, a noção de que é vantajoso possuir aquela relação de cumplicidade; a isso, damos o nome de altruísmo biológico. Isso ocorre em diversas espécies de animais que possuem hábitos sociais, como os bonobos (Pan paniscus), que, similarmente ao homem, utiliza até mesmo o sexo como instrumento de coesão social, o qual é benéfico para a sobrevivência.
     Nós, seres humanos, não temos a necessidade biológica de resistirmos às pressões seletivas naturais iguais às dos bonobos, porém, precisamos sobreviver às pressões sociais às quais estamos sujeitos ao longo de nossa vida. Assim como existem aqueles com os quais possuímos relação de cumplicidade, existem aqueles com os quais possuímos relação antagônica, e o que irá determinar nosso sucesso no convívio em grupo são as adaptações em cada âmbito social.
     A agressão, bem como a cooperação, também possui um importante papel na configuração de grupos, principalmente referente à dominância e submissão, relações observadas, por exemplo, no bullying. Os papéis de agressor e vítima determinam o antagonismo direto, o papel de defensor representa o comportamento de proteção, o qual comumente é mútuo; já os papéis de testemunhas e cúmplices passivos ou ativos definem relações indiretas, porém importantíssimas, pois quem pratica o bullying geralmente tem a intenção de atingir os indivíduos que estão ao redor observando, com o objetivo de adquirir, de preferência, a conivência da maioria ou dos integrantes pertencentes ao que é considerado, pelo agressor, como o melhor grupo para se fazer parte. Entre os chimpanzés-comuns (Pan troglodytes), por exemplo, o comportamento agressivo em grupo se mostrou benéfico na questão reprodutiva, facilitando os indivíduos mais agressivos no momento de acasalar, pois possibilita a ascensão nas castas sociais dos chimpanzés.
     O comportamento agressivo entre animais que precisam resistir às pressões evolutivas, como método de estreitar relacionamentos, é compreensivo, porém, casos como o do aluno agredido com fim de demonstração de força e coesão social é inaceitável, uma vez que possuímos meios cooperativos e mutuamente benéficos de se fazer o mesmo.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia tendo como base as obras:

Hogg, M. A. and Turner, J. C. (1985), Interpersonal attraction, social identification and psychological group formation. Eur. J. Soc. Psychol., 15: 51–66. doi: 10.1002/ejsp.2420150105

de Waal, F.B.M. (1995). Bonobo sex and society: the behavior of a close relative challenges assumptions about male supremacy in human evolution. Scientific American 272: 82-88.
Trivers, R. L., 1971, ‘The Evolution of Reciprocal Altruism’, Quarterly Review of Biology, 46: 35–57.

Salmivalli, C., Lagerspetz, K., Björkqvist, K., Österman, K. and Kaukiainen, A. (1996), Bullying as a group process: Participant roles and their relations to social status within the group. Aggr. Behav., 22: 1–15. doi: 10.1002/(SICI)1098-2337(1996)22:1<1::aid-ab1>3.0.CO;2-T

Gilby IC, Brent LJN, Wroblewski EE, et al. FITNESS BENEFITS OF COALITIONARY AGGRESSION IN MALE CHIMPANZEES. Behavioral ecology and sociobiology. 2013;67(3):373-381. doi:10.1007/s00265-012-1457-6.


University of New Hampshire: http://pubpages.unh.edu/~jel/512/sexes/aggression00.html#Heading2



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