O que eu Fiz para mercer ser Fervido Vivo???



Semana passada assisti o episódio 11 da versão brasileira do reality “Master Chef” e a prova de eliminação foi um tanto, digamos assim, reflexiva. Os participantes deveriam abater caranguejos vivos!!! Entre o choros e expressões de desespero, os jurados principalmente liderados pela Renomada Chef Paola Carosella argumentavam que eles como Chefs deveriam estar preparados para TUDO! A primeira instrução do Chef Henrique Fogaça foi para que agissem com respeito aos caranguejos do mangue, que poderiam ser mortos com a faca (bem no meio da caraça ou na dobra do abdome); poderiam colocar o animal em uma panela com água fria, ligar o fogo e deixar a água ir fervendo e eles morrendo lentamente; porém para ser mais humano poderiam colocar o caranguejo no freezer ou no gelo que ele iria ficando anestesiado e depois ele deveria ser colocado na panela quente. Paola fez um discurso da hipocrisia dos consumidores de carne de mercado que se sentem confortáveis em consumirem a carne limpa e desvinculada de um animal, porém que também são originárias de um ser vivo que teve que ser abatido. Segundo a explanação filosófica da Chef, a cozinha envolve criar, cultivar, plantar, abater, cozinhar completando um ciclo orgânico que sempre foi dessa forma. Conforme Paola frisou, embora matar um ser vivo possa ser aterrorizante, há uma chance de se libertar da culpa: honrando a vida do animal pela forma como o mesmo será abatido e pelo respeito, cuidado e dedicação ao prato que vai ser produzido através dele.  Eu vejo com bons olhos a iniciativa de pelo menos levantar a reflexão sobre consumo de carne, principalmente a questão do respeito e o repúdio ao desperdício. Gostaria muito de saber como foi a orientação da produção do programa para elaboração desse texto e se já faz parte do script do próprio programa - que é originário de países que já possuem uma outra mentalidade com relação ao respeito aos animais. 
Porém, acredito que como veículo de comunicação - originário de concessão pública e formadores de opinião -  poderiam ser repassadas informações mais atualizadas sobre a senescência animal e a exigência de métodos humanitários de abate. Pois não foi o que ocorreu! Mesmo diante do emocionante discurso -  pelo menos para os adeptos da consolidação da Bioética no dia-a-dia. O desconhecimento dos participantes fez com que muitos animais sofressem e foi possível presenciar além da aflição dos animais, o constrangimento dos participantes, e imagino que também do público, tendo-me como parâmetro.  Embora a legislação brasileira não regulamente a forma de abate ou eutanásia de invertebrados (CFbio e Lei Arouca), estudos têm indicado que esses animais possuem consciência da dor física e mental, consequentemente sofrendo de verdade. Alguns pesquisadores preocupados com o bem-estar animal e humano vêm estudando técnicas de abate humanitário, dentre elas destaca-se o choque elétrico na água para abate de crustáceos, sendo destacado, inclusive, que posteriormente a carne solta mais fácil. Caso se opte pelo resfriamento, é altamente condenado – pelo menos para peixes, anfíbios e répteis – os quais assim como os crustáceos são ectotérmicos – o congelamento rápido, pois a formação de cristais de gelo no sangue/hemolínfa poderiam gerar muita dor. Sendo, para tal necessário um lento processo de resfriamento da água até a anestesia do animal. Essas informações e orientações, somadas com o estímulo à busca de informações sobre como os outros animais utilizados no programa foram criados, transportados e abatidos poderia ter sido uma excelente contribuição do programa para a população - que a princípio só tem um parâmetro para o consumo: o preço! Á medida que a sociedade passa a exigir procedimentos mais éticos dos seus fornecedores, o mercado acompanha as demandas. Já existem muitas empresas que fazem a certificação e produtos denominados “orgânicos” que podem ser um passo para mudanças de conduta com relação a forma como tratamos os animais.  
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