Série Ensaios:
Sociobiologia
por:
Nayara
Dotti, Tábata Carvalho e Taline Gonçalves.
Acadêmicas
do Curso de Ciências Biológicas
Casos de imoralidade levam alguns
indivíduos a acreditarem que tem o direito de fazer justiça com as próprias
mãos, eliminando os que agiram de forma errada ou imoral da sociedade. Um
acontecimento recente foi o caso da Fabiana que morreu devido graves ferimentos
após ser amarrada e espancada de forma covarde por dezenas de moradores do
bairro de Morrinhos em Guarujá-SP. No início do mês de maio de 2014. Fabiane
foi acusada de realizar sequestro de crianças para rituais de magia negra. O
fato ocorreu após o boato ser divulgado em redes sociais. Seu marido contou aos
policiais que ela sofria de transtorno bipolar e o caso não passa de boatos e
um grande e penoso mal entendido. “Fazer
justiça com as próprias mãos” não é um fato atual, antigamente os casos de
imoralidade eram também resolvidos pela sociedade, como por exemplo, nos casos de bruxaria em que a
sociedade condenava as bruxas a morrerem queimadas em praças publicas por
praticarem atividades religiosas distintas. Mas para que entendamos a
imoralidade de casos como esse temos que compreender como surgiu nossa vida em
sociedade.
A vida social
surgiu com a necessidade do indivíduo de viver em grupo e como consequência, os
indivíduos que fizeram essa escolha em sua caminhada evolutiva abriram mão de
sua liberdade. Ou seja, para poderem permanecer naquele grupo passaram a
apresentar comportamento de submissão aos seus líderes e obedecer às regras do
bando. A vida social
também trouxe suas vantagens, e entre elas estão o maior nível de
proteção dos indivíduos, a facilidade na busca e captura de
alimentos, divisão das tarefas que antes eram todas
desempenhadas por um único indivíduo, aumento da taxa de sobrevivência e de
reprodução bem como do tempo de vida. Por definição, comportamento
social é a interação do indivíduo com outros
organismos, ou seja, envolve a interação do indivíduo com o comportamento
dos outros em relação a um ambiente comum.
A vida social
beneficiou muitas espécies e trouxe como resultado da evolução da comunicação e
da interação o surgimento de agrupamentos e de sociedades
complexas. Para formação de grupos há necessidade de estímulos
agregadores e segregadores, estes que respectivamente irão
agregar os grupos, ou seja, fazer com que o bando tenha objetivos em comum
como, por exemplo, disputa de território, captura de alimento e cultura e
religião (no caso dos humanos) ou irão separar/diferenciar os grupos. Estes
estímulos auxiliarão na identificação dos respectivos indivíduos de cada grupo e
isso evitará a perda dos elementos que compõem o grupo bem como a diferenciação
do estranho onde este não entra e pode ser agredido se avançar limites
estabelecidos.
Acredita-se que um desses estímulos seja o de
senso moral, podendo ser dividido em justiça, liberdade, lealdade e autoridade. Estes sentimentos fazem parte do que chamamos
de código ético. A vida em sociedade
nos obrigou a estabelecer limites.
Quando consideramos que senso moral é transmitido de geração a geração, temos
que considerar as variações na educação de individuo para individuo, pois a
conduta e as ideias usadas pelos pais foram basicamente diferentes, a essência
tende a ser a mesma, mas o resultado não. Deve-se destacar também que cada
indivíduo tem sua particularidade, sendo a maioria de sua herança genética.
A moral é uma destas características,
que foi adquirida ao longo do tempo e influenciada diretamente com a evolução
das espécies (Haid, 2006). Com isso percebemos que casos de estupro, adultério, fornicação, incesto e fraude são fatos imorais e fora do
comum ao qual nos foi imposto desde os tempos da caverna, onde não era possível
se reproduzir com um irmão, se um macho adquiria uma fêmea como sua em casos de
espécies monogâmicas ela deveria continuar sendo sua, para que os filhos
gerados por ela carregassem apenas seus genes. E pensando nisso passamos a
acreditar que a moral tende a ser uma estratégia da natureza, não apenas voltada para
a reprodução, mas sim visando sua proteção, como por exemplo, quando se vive em
sociedade não se deve enganar ou fraudar um individuo com maior poder. E atualmente
continuamos alimentando o senso moral, vivendo em uma sociedade onde matar,
roubar, enganar e abusar do próximo é imoral e alguns casos, ilegal.
O mesmo ocorre com cachorros,
quando cometem algo errado costumam abaixar a cabeça, olham com culpa, então
como eles sabem o que é certo e errado? Geralmente quando possuem filhotes os canídeos brincam com o
objetivo de ensinar aos filhotes regras sociais, permitindo que o comportamento
social deles no futuro seja bem sucedido. Algumas atitudes como tolerância e perdão ficam evidentes quando esses animais brincam em grupo. Essa
estrutura é muito parecida com a nossa, e observa-se que essas brincadeiras
seguem quatro regras para que não se torne uma briga: comunicação clara, bons
modos, admitir que errou e não mentir. “Do ponto de vista evolutivo, a violação de regras
sociais de não enganar e não machucar estabelecidas durante as brincadeiras não faz bem para a perpetuação dos
genes. O jogo honesto e divertido para todos pode ser entendido como uma
adaptação evoluída que permite aos indivíduos formar e manter os vínculos
sociais. Assim como acontece com os humanos, os canídeos formam intrincadas
redes de relacionamentos, desenvolvem normas básicas da justiça que guiam o
jogo social entre semelhantes e se apoiam em regras de conduta capazes de manter
a sociedade estável. Em última instância, o objetivo é garantir a sobrevivência
de cada indivíduo. Essa inteligência moral é evidente tanto em animais
selvagens quanto em cães domesticados“ (Bekoff &
Pierce, 2013).
Não muito distante do caso
apresentado inicialmente observamos a eliminação de animais que tentam fraudar
a comunidade em que vivem da mesma forma como ocorre com os humanos. Em um
estudo realizado por Tibbetts e Izzo (2010) foram realizados testes que
avaliaram a capacidade de luta no comportamento de vespas da espécie Polister dominulos. Os pesquisadores
perceberam certa “trapaça” nos sinais de luta desses insetos, alguns indivíduos,
antes do combate, sinalizam ser mais forte do que realmente são. Durante o
estudo foram alterados os sinais de luta e os sinais de comportamento agressivo,
como resultado foi possível perceber que os indivíduos com alterações nos
sinais comportamentais acabaram sendo mais agredidos e tiveram dificuldades
sócias e de dominância diferente dos indivíduos controles e indivíduos com
sinais de comportamento mais fraco, estes que não receberam nenhum tipo de
agressão. Essa pesquisa teve como objetivo avaliar o comportamento de luta entre
os indivíduos desonestos e seus rivais, bem como a dificuldade de formações
sociais.
O fato da sociedade fazer justiça
com as próprias mãos é uma tentativa de eliminar o que nos é diferente. Caso não
condiz com nossas regras de sociedade não é considerado certo - isso porque a necessidade de proteção
estabelecida nos Homo sapiens continua forte. Mesmo que hoje não precisamos brigar por comida,
ou disputar um único macho para reprodução - eliminar o que pode afetar nossa
vida em sociedade acaba ocorrendo como instinto de proteção, a busca por
justiça como no caso relatado nesse ensaio mostra que o senso moral não é
adquirido através do convívio em sociedade e sim, está gravado em nossos genes
herdados e tem como objetivo a proteção e a reprodução. Com isso podemos
observar que a moral quando encarada em termos biológicos, assim como as regras
e os códigos éticos não apareceram de repente, elas foram sendo adquiridas e desenvolvidas para reger
decisões impulsivas que ajudam a sobrevivência em um mundo perigoso.
Nós
formandas em Biologia acreditamos que os genes
atuam em geral na maneira como os seres humanos e animais enfrentam as
situações morais e imorais, porém o ambiente e a cultura também tem sua parcela
de influência no comportamento de cada indivíduo frente a um problema.
Atualmente os grupos estão extremamente separados e diversificados e isso faz
com que as regras de conduta sejam claramente bem distintas. Então, mesmo que
grande parte da moral seja estabelecida geneticamente o individuo acaba
moldando seu senso moral em busca da sobrevivência na sociedade em que se
encontra.
O presente ensaio foi elaborado para Disciplina de Etologia e Baseado
nas seguintes obras:
Bekoff, Mark; Pierce, Jessica. 2013. A ética do cachorro. Scientific
American: Mente e Cérebro. Disponível em: http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/a_etica_do_cachorro.html#.Ui473eCeiH4.facebook.
Genética da Moral. Capítulo 3.
Haid, Jhonathan. La hipotesis de la felicidade: La busqueda de verdades modernas em la sabiduria antiga. Gedisa. 2006.
Moral. Dicionário Informal. Disponível em: http://ww.dicionarioinformal.com.br/moral/
Tibbetts, A. Elizabeth & Izzo, Amanda. 2010. Social Punishment of Dishonest Signalers Caused by Mismatch between
Signal and Behavior. Current biology. p. 1637-40.
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