Nos últimos
tempos tenho ouvido muitos múrmuros a respeito da Neuroética e da
Neurotecnologia, bem como a veiculação de matérias em diferentes meios a
respeito dos aspectos biológicos da moral e da ética. Os profissionais da área
humanística me parecem todavia calejados pela má interpretação da sociobiologia
de Edward Wilson na década de
1970. Wilson um renomado entomólogo, percebeu semelhanças entre a organização
social de formigas e de outros animais, inclusive de humanos, e aprofundando
seus estudos hipotetizou as bases biológicas dos aspectos sociais,
posteriormente comprovados em diferentes estudos – da molecular à filosofia. Na
época o autor foi hostilizado e ridicularizado pelo meio científico, o medo era
reduzir o tão maravilhoso e complexo comportamento cultural humano a simples
processos biológicos comandado pelos genes. Havia também um temor de haver uma
espécie de segregação social de indivíduos que apresentassem traços físicos que
denunciasse suas falhas de caráter. É óbvio que hoje depois de desvendarmos boa
parte dos mistérios do DNA, sabemos que o substrato genético não significa nada
– ou quase nada – sem os estímulos ambientais para desencadeá-los e que o
comportamento humano se destaca justamente pela flexibilidade de estímulos e
respostas. Contudo, não podemos fechar os olhos para o fato de que se
atualmente temos uma estrutura social complexa, códigos morais e éticos, estes
precisaram de uma base para se aprimorarem e é justamente essa base que
reconhecemos em outros animais (veja no vídeo abaixo como primatas reagem a
pagamentos desiguais).
A
neurociência evoluiu muito rápido nas últimas décadas. Depois do homem ter se
dedicado ao desenvolvimento tecnológico - colonizado o espaço e inventado a
nanotecnologia - se voltou para si e se
dedicou a desvendar seu maior mistério: o cérebro! Concomitantemente ao estudo
da bioquímica cerebral surgiu a neuroimagem e desencadeou áreas questionáveis
tais como: o neuromarketing - visando identificar
aspectos subconscientes relacionados aos desejos do cérebro – a preocupação em
identificar se uma pessoa possui traços cerebrais que possam evidenciar uma maior
propensão para o desenvolvimento de problemas mentais, violência ou doenças
cardíacas; e as temidas aplicações na identificação
preferências sexuais, habilidades específicas, empatia, persistência e
inteligência. Embora se saiba que essas características são observáveis em
outros animais questiona-se se as imagens cerebrais seriam tão precisas a ponto
de categorizar uma pessoa e colocá-la em uma posição extremamente vulnerável
diante da sociedade, empregadores, seguradores, juízes que reduzam a pessoa
apenas às imagens. Deve-se ressaltar o conhecimento de que estímulos elétricos
podem ser bloqueados ou estimulados diante de aspectos biológicos e ambientais.
O homem pretende identificar os pontos exatos na determinação de certas
condutas com intuído inicialmente de tratar doenças como o Parkinson, contudo é
possível que implantes cerebrais contribua para contenção de comportamentos
violentos bem como na melhoria de habilidades cognitivas. É nesse cenário que
entra a neuroética mostrando que
essas questões dignas de filmes de ficção podem estar mais próximas do que
imaginados e precisam ser debatidas antes de que aconteçam. Assim, profissionais
das áreas da Saúde, Educação, Filosofia, Direito, Marketing, Comunicação Social
devem refletir sobre as implicações éticas, legais, educacionais e sociais das
neurociências, assim como nos aspectos associados à natureza da pesquisa em si,
sendo atualmente destacadas
quatro ênfases
das Neurociências: a) Dedicação às questões da liberdade e da responsabilidade,
a base biológica da personalidade e do comportamento social, a escolha e tomada
de decisão e a consciência; b) Debate de questões de responsabilidade pessoal e
criminal, memórias verdadeiras e falsas, a educação e teorias da aprendizagem,
patologia social, privacidade e a previsão de patologia cerebral futura; (c) Reflexão
sobre temas polêmicos como farmacoterapia, cirurgia, as células-tronco, terapia
genética, neuropróteses e parâmetros para orientar a pesquisa e o tratamento; e
(d) Promoção de políticas e discursos públicos amplo e informado, orientação
dos jovens trainees e a promoção da compreensão e da comunicação responsável
dos conhecimentos na mídia.
Mas
seria possível detectar no cérebro a ética de uma pessoa? Sabe-se que a empatia
pode ser comprometida em casos de danos cerebrais (Phineas
Gage) e sabe-se que a conduta moral do ser humano se desenvolve concomitantemente
ao desenvolvimento cognitivo. Segundo Lawrence Kohlberg ocorrem três níveis
sendo o pré-convencional (de 2 a 6 anos) relacionado com a interpretação do
certo ou errado de acordo com normas externas que podem resultar em punição ou
orientar a conduta de acordo com seus interesses. Na fase convencional (idade escolar)
o sujeito gere suas condutas pelas conformidades às regras sociais necessitando
corresponder às expectativas alheias e manutenção das instituições. Na última
fase pós-concencional (adolescência), o sujeito relaciona sua conduta à princípios
éticos universais com uma orientação para o contrato social democrático e princípios
universais de consciência. Obviamente que a moralidade e ética são processos
mentais, logo desencadeados por um substrato orgânico composto por sinais elétricos
e bioquímicos produzidos através se uma base genética que fornece a forma,
contudo que é acionado e modelado (ver
a concepção da epigenética no livro a biologia da crença) pelo ambiente em que
o indivíduo foi gerado e se desenvolveu. O desenvolvimento cognitivo está
intimamente associado ao ambiente social e emocional em que se está inserido. Não
é possível reduzir tudo aos genes ou a morfologia mas também não dá para
negligenciar esse substrato, pois com o avanço das neurociências já e possível identificar
regiões cerebrais relacionadas com determinados comportamentos assim como a bioquímica
cerebral composta pelos neurotransmissores e hormônios que determinam ao juste
do corpo com o ambiente. A bioética se propõe justamente a promover o debate
entre diferentes ciências para que seja possível se utilizar o conhecimento
para promover uma vida de qualidade para um ser humano que vive um eminente conflito
entre suas necessidades biológicas e suas demandas culturais.
Pensando
um pouco vendo como os animais reagem a injustiça e a solidariedade:
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