domingo, 11 de agosto de 2013

Marcelinho culpado ou vítima?... Desde quando os homens atribuiem a culpa a quem lhes convém?



Na semana passado o tema que nos rodeou e intrigou foi o suposto crime cometido por um pré-adolescente que friamente e profissionalmente teria arquitetado a morte dos pais, da avó e da tia, e depois de horas - inclusive depois de ter ido para escola - voltou para casa e se matou. A cada nova conversa inúmeras novas perguntas surgem e tornam a situação mais nebulosa. Imediatamente o crime barbado em véspera do dia dos pais foi atribuído ao menino, fato que desencadeou duas vertentes de discussão. O fato é que enquanto alguns rotulam a criança de psicopata, outros o consideram-na vítima de um sistema familiar que tem negligenciado o desenvolvimento e as necessidades dos seus próprios filhos. É certo ensinar uma criança a atirar, a dirigir e dar elementos para colocar em prática um plano – que em muitos casos (dos 30 anos! Por outro lado, está circulando pela internet um texto que levanta a dúvida dessa acusação, sugerindo a existência de uma armação para distrair a sociedade enquanto o verdadeiro criminoso se safa. E de fato, o cenário é propicio para reflexão do que estamos fazendo com nossos filhos e do que os nossos filhos podem fazer com seus pais; quem é culpado e bandido na condução do rumo da sociedade, dos valores, das dores e da ética?
inclusive já ocorrido em cada um de nós) não passaria da imaginação? É possível detectar problemas emocionais e psicológicos e convertê-los através da educação e da ajuda de profissionais? Nosso sistema penal considera um indivíduo de 13 anos uma criança; cientificamente sabemos que muitos processos cerebrais têm períodos determinados para amadurecer, sendo que pesquisas recentes pontuam que o cérebro está pronto apenas depois
Enquanto pensava nessas coisas estava atualizando minhas aulas – pois começa nessa semana a minha disciplina no Mestrado em BioéticaÉtica no Uso de Animais e Bem-Estar animal. Repassando o histórico da relação humano/animal me deparei com a idade média. Nesse momento o homem tinha uma relação de magia com a natureza, a qual era vista como algo orgânico e sentido como algo vivo. A natureza além de viva e consciente de sua vida, era vista como consciente de seus próprios atos e o ponto mais interessante e que compartilho com vocês nesse momento, eram os julgamentos dos animais criminosos. Isso mesmo, e a base era um versículo bíblico: “E se algum boi escornear homem ou mulher, que morra, o boi será apedrejado certamente, e a sua carne se não comerá; mas o dono do boi será absolvido.” (Êxodo, capítulo 21, versículo 28). Em toda Europa Feudal ocorreram inúmeros julgamentos, com direito a Juiz e Advogados, os animThe criminal prosecution and capital punishment of animals” e vamos lá para alguns interessantes: O mais antigo data de 824 d.C., em que Topeiras foram excomungadas no Vale de Aosta, noroeste da Itália; 1386 Falaise, França: uma porca é condenada a enforcamento em praça pública por ter assassinado uma criança;  Séc. XVI, São Martinho de Laon, França, o juiz Jean Lavoisier também condenou uma porca à morte por ter matado uma criança, contudo os leitões que presenciaram o infanticídio foram absolvidos, tendo em vista que ainda eram muito crianças para entenderem o que estava acontecendo; Séc. XVI, em Autun, França, ratos foram julgados à revelia -  uma vez que não se apresentaram em juízo -  por crime de infestamento das casas e celeiros. Posteriormente outro rato foi condenado ao enforcamento.  Um relato muito interessante refere-se que o Rei grego Pirro (318-272 a.C.) utilizou o testemunho de um cão para chegar aos criminosos do cadáver que ele guardava na estrada. O Rei levou o cão consigo e assim que ele encontrou os soldados que mataram seu dono ele os atacou, então o Rei considerou o reconhecimento e condenou os culpados. 
ais eram julgados, condenados e executados em praça pública, com a aglomeração de pessoas que tinham esses momentos como grandes acontecimentos! Os crimes eram principalmente roubos, homicídios e, pasmem! Crimes sexuais, claro! Pois eram os animais que seduziam os homens a fazê-los. Edward Payson Evans publicou 191 casos de julgamentos em seu livro “
Temos também a comovente história do cão mártir que durante muito tempo foi cultuado como o santo guardião das crianças: o  São Guinefort”. Os fieis rezaram no seu tumulo durante décadas, só em meados do século XX a igreja se deu conta que o santo guardião era um cão e ele foi, então, destituído do título. A história foi a seguinte: o pai foi trabalhar e deixou o bebê sendo guardado pelo cão, o Guinefort. Nesse meio tempo entrou uma cobra na casa, então o cão a matou para proteger o bebê. Quando o pai chegou em casa, viu o sangue derramado pelo chão e pensou que o cão havia atacado a criança, então sem checar, atirou no cão, matando-o. só depois ele entendeu a cena, e ficou muito culpado por matar o cão que salvou seu filho, assim por remorso construiu um mausoléu em memória a Guinerfort, o qual posteriormente passou a ser considerado santo. Em todo esse período foram jugados inúmeros animais como cães, ratos, cavalos, cabras... contudo eram os porcos os mais frequentes tendo em vista o seu porto e a sua proximidade com as pessoas.  
                Enfim, haverá alguma ligação entre essas duas reflexões? Recomendo o filme “Entre a Luz e a trevas” de 1993 Numa época de transição entre a Era das Trevas cedia espaço para as ideias iluministas, a pequena vila Abbeville ainda mantinha a tradição da França medieval, inclusive a de acusar e julgar animais por crimes. O advogado Richard Courtois (Colin Firth) foi contratado pelo governador Seigneur (Nicol Williamson) para ser defensor público e seu primeiro cliente em Abbeville é um porco, acusado de matar uma criança. O porco é de Samira (Amina Annabi), uma linda cigana por quem Courtois se apaixona. Na tentativa de salvar o animal de sua amada, o jovem advogado provoca a ira do governador, que não é favorável a esse romance, já que planeja o casamento entre Courtois e sua filha Filette (Lysette Anthony)

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