Na semana passado
o tema que nos rodeou e intrigou foi o suposto crime cometido por um
pré-adolescente que friamente e profissionalmente teria arquitetado a morte
dos pais, da avó e da tia, e depois de horas - inclusive depois de ter ido para
escola - voltou para casa e se matou. A cada nova conversa inúmeras novas
perguntas surgem e tornam a situação mais nebulosa. Imediatamente o crime barbado
em véspera do dia dos pais foi atribuído ao menino, fato que desencadeou duas
vertentes de discussão. O fato é que enquanto alguns rotulam a criança de psicopata, outros o
consideram-na vítima de um sistema familiar que tem negligenciado o
desenvolvimento e as necessidades dos seus próprios filhos. É certo ensinar uma
criança a atirar, a dirigir e dar elementos para colocar em prática um plano –
que em muitos casos (dos
30 anos! Por outro lado, está circulando pela internet um texto que levanta
a dúvida dessa acusação, sugerindo a existência de uma armação para distrair a
sociedade enquanto o verdadeiro criminoso se safa. E de fato, o cenário é
propicio para reflexão do que estamos fazendo com nossos filhos e do que os
nossos filhos podem fazer com seus pais; quem é culpado e bandido na condução
do rumo da sociedade, dos valores, das dores e da ética?
inclusive já ocorrido em cada um de nós) não passaria da
imaginação? É possível detectar problemas emocionais e psicológicos e
convertê-los através da educação e da ajuda de profissionais? Nosso sistema
penal considera um indivíduo de 13 anos uma criança; cientificamente sabemos que
muitos processos cerebrais têm períodos determinados para amadurecer, sendo que
pesquisas recentes pontuam que o cérebro está pronto apenas depois
Enquanto
pensava nessas coisas estava atualizando minhas aulas – pois começa nessa
semana a minha disciplina no Mestrado em Bioética – Ética no Uso de Animais e Bem-Estar animal.
Repassando o histórico da relação humano/animal me deparei com a idade média. Nesse momento o homem
tinha uma relação de magia com a
natureza, a qual era vista como algo orgânico e sentido como algo vivo. A
natureza além de viva e consciente de sua vida, era vista como consciente de
seus próprios atos e o ponto mais interessante e que compartilho com vocês
nesse momento, eram os julgamentos
dos animais criminosos. Isso mesmo, e a base era um versículo bíblico: “E se algum boi
escornear homem ou mulher, que morra, o boi será apedrejado certamente, e a sua
carne se não comerá; mas o dono do boi será absolvido.” (Êxodo,
capítulo 21, versículo 28). Em toda Europa Feudal ocorreram inúmeros
julgamentos, com direito a Juiz e Advogados, os animThe criminal
prosecution and capital punishment of animals” e vamos lá para alguns
interessantes: O mais antigo data de 824 d.C., em que Topeiras foram
excomungadas no Vale de Aosta, noroeste da Itália; 1386 Falaise, França: uma
porca é condenada a enforcamento em praça pública por ter assassinado uma
criança; Séc.
XVI, São Martinho de Laon, França, o juiz Jean Lavoisier também condenou uma
porca à morte por ter matado uma criança, contudo os leitões que presenciaram o
infanticídio foram absolvidos, tendo em vista que ainda eram muito crianças
para entenderem o que estava acontecendo; Séc. XVI, em Autun, França, ratos
foram julgados à revelia - uma vez que não
se apresentaram em juízo - por crime de infestamento
das casas e celeiros. Posteriormente outro rato foi condenado ao enforcamento. Um relato muito interessante refere-se que o Rei
grego Pirro (318-272 a.C.) utilizou o testemunho de um cão para chegar aos
criminosos do cadáver que ele guardava na estrada. O Rei levou o cão consigo e
assim que ele encontrou os soldados que mataram seu dono ele os atacou, então o
Rei considerou o reconhecimento e condenou os culpados.
ais eram julgados,
condenados e executados em praça pública, com a aglomeração de pessoas que tinham
esses momentos como grandes acontecimentos! Os crimes eram principalmente
roubos, homicídios e, pasmem! Crimes sexuais, claro! Pois eram os animais que
seduziam os homens a fazê-los. Edward Payson Evans publicou 191 casos de
julgamentos em seu livro “
Temos também a
comovente história do cão mártir que durante muito tempo foi cultuado como o
santo guardião das crianças: o “São
Guinefort”. Os fieis rezaram no seu tumulo durante décadas, só em meados do
século XX a igreja se deu conta que o santo guardião era um cão e ele foi,
então, destituído do título. A história foi a seguinte: o pai foi trabalhar e
deixou o bebê sendo guardado pelo cão, o Guinefort. Nesse meio tempo entrou uma
cobra na casa, então o cão a matou para proteger o bebê. Quando o pai chegou em
casa, viu o sangue derramado pelo chão e pensou que o cão havia atacado a
criança, então sem checar, atirou no cão, matando-o. só depois ele entendeu a
cena, e ficou muito culpado por matar o cão que salvou seu filho, assim por remorso
construiu um mausoléu em memória a Guinerfort, o qual posteriormente passou a
ser considerado santo. Em todo esse período foram jugados inúmeros animais como
cães, ratos, cavalos, cabras... contudo eram os porcos os mais frequentes tendo
em vista o seu porto e a sua proximidade com as pessoas.
Enfim,
haverá alguma ligação entre essas duas reflexões? Recomendo o filme “Entre a Luz e a trevas” de 1993 “Numa época de
transição entre a Era das Trevas cedia espaço para as ideias iluministas, a
pequena vila Abbeville ainda mantinha a tradição da França medieval, inclusive
a de acusar e julgar animais por crimes. O advogado Richard Courtois (Colin
Firth) foi contratado pelo governador Seigneur (Nicol Williamson) para ser
defensor público e seu primeiro cliente em Abbeville é um porco, acusado de matar
uma criança. O porco é de Samira (Amina Annabi), uma linda cigana por quem
Courtois se apaixona. Na tentativa de salvar o animal de sua amada, o jovem
advogado provoca a ira do governador, que não é favorável a esse romance, já
que planeja o casamento entre Courtois e sua filha Filette (Lysette Anthony)”
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