domingo, 24 de fevereiro de 2013

Como saber que eu já sou eu????

Desde que eu li uma matéria da fantástica Suzana Herculano-Houzel na mente e cérebro especial sobre o cérebro intitulada “Novas equações cerebrais” não consigo mais olhar pra minha moçadinha do mesmo jeito. Até então eu estava muito convicta da visão tradicional das etapas de formação do ser humano com marcos importantes: até dois anos - quando começa a desenvolver a linguagem simbólica -  depois até seis anos - quando muda a frequência cerebral e passa a arquivar de forma diferente as memórias -  e, então, até doze anos quando finaliza a fixação do desenvolvimento motor, espacial e da linguagem.  A partir daí, estava tudo pronto, e então, o indivíduo teoricamente não teria mais o que mudar. Então vocês devem estar se perguntando: e toda a turbulência da adolescência? A resposta é simples: os culpados são os hormônios, assim que estabilizarem, irá passar de uma “miniatura de adulto em crise” para um adulto completo! Porém a ciência tem nos mostrado que na verdade o cérebro adolescente ainda irá passar por um longo período - de pelo menos 10 anos - de remodelagem e aprendizagem para formar o adulto que ele irá ser! É de fato o que acontece: uma remodelagem, o cérebro – mais especificamente a massa cinzenta - vai crescendo em decorrência do aumento das sinapses. Então, ao chegar ao limite, começa a diminuir através da eliminação – ou enxugamento - das sinapses excessivas – só fica o que interessa!. A grande novidade é que se acreditava até então que esse processo ocorreria aos três anos, porém o cérebro adolescente ainda continua a produzir uma “matéria prima a ser lapidada” reforçando a importância do ambiente e da experiência para formação do cérebro adulto. Cada região do cérebro vai amadurecendo ao seu tempo, primeiro são as funções sensoriais e depois as espaciais, porém funções cognitivas e emocionais elaboradas começam a ser modeladas depois dos 17 anos e a região cerebral responsável pelos impulsos só amadurece por volta dos 20 anos!.  Outra descoberta interessante é que após as milhares de possibilidades de sinapses terem sido testadas e decididas quais devem ser fixadas, o cérebro passa para um processo de aumento da substância branca subcortical através da mielinização – ou seja, espessamento das fibras nervosas que promovem o isolamento elétrico de cada axónio permitindo conexões mais rápidas e fiéis. No lobo frontal a mielinização melhora a memória de trabalho, no lobo temporal, a facilidade de leitura, porém o córtex frontal é a ultima parte do cérebro a madurecer, isso aos 30 anos! Será que deveríamos rever nossa maior idade legal??? Porém, não mais para 16! 
Essas pesquisas explicam o comportamento adolescente – ou o aborrecente tão temido pelos pais e pela sociedade. Quando pensamos em evolução fica claro o papel do jovem para promover o aprimoramento das estruturas sociais, tecnológicas e culturais. Se em todas as etapas do nosso desenvolvimento fossemos tolerantes; satisfizéssemo-nos com o que tivéssemos; se fossemos tranquilos e vivêssemos bem a solidão, nossa sociedade – e de inúmeros outros animais – estariam fadadas ao fracasso. Mudanças de fase não são fáceis e aprender dói (veja se você se identifica com esse vídeo).... Sair da infância onde qualquer coisa estimula nosso sistema de recompensa e nossa curiosidade e seguirmos as regras hierárquicas nos dá segurança, não é fácil! Mecanismos como impaciência e tédio são estratégias para que o jovem ouse correr riscos, habilidades novas de raciocínio abstrato permite questionar as injustas regras, além de permitir desfrutar uma nova perspectiva da literatura, música, filosofia e começar a perceber a complexidade social, politica, econômica e cultural.  O jovem precisa de estímulos fortes para acionar seu sistema de recompensa, porém o córtex pré-frontal ainda é imaturo, o que incapacita o controle de impulsos e a antecipação dos resultados indesejados. Por isso são taxados de inconsequentes e irresponsáveis. Não podemos esquecer-nos dos novos canais de recepção de ferômonios e hormônios, que logicamente, leva-os a explorarem o fascinante e perigoso mundo das paixões. Se a criança tinha a família como seu referencial, o jovem desenvolve o aprendizado social, adequando seu cérebro para flexibilidade cognitiva, planejamento, autossuficiência e bom humor. As emoções guiam as decisões levando a consolidação da responsabilidade, moral e empatia.
A Etologia mostra não só a importância, mas a fascinante etapa de nossas vidas que é a adolescência... Embora existam muitos adultos com mentes adolescentes – com certeza logo teremos muitas explicações biológicas, etológicas e psicológicas para esse fenômeno – o que mais gostei de todas essas novidades, é a possibilidade de termos alguns anos a mais para sermos jovens, curtimos nossa imaturidade e termos a chance de contribuir para o adulto que queremos ser! Para os pais, lembrem-se que a melhor herança que podes deixar para seus filhos, não são posses, dinheiro, objetos; nem mesmo milhares de cursos ou escolas caras; mas sim uma estrutura emocional e conexões cerebrais que os possibilite ter uma existência saudável, que os capacite a resolver seus problemas com sabedoria, enfrentarem as dificuldades, e desfrutarem das vitórias; Que possam ser adultos confiantes, seguros, sábios, equilibrados e principalmente felizes e, que principalmente, te dê a confiança que fará igual com seus netos, e esses com os bisnetos, e assim sucessivamente...  

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Dá para engarrafar a confiança?



Já há algum tempo que a Etologia vem apoiando estudos Psicológicos, um dos estudos polêmicos atuais é o spray de oxitocina. Já é bem conhecido o papel deste hormônio para os vínculos afetivos sociais e parentais - tanto nos homens como nos demais animais - porém, este hormônio é liberado em diferentes situações. Nas fêmeas basta a visualização de um bebê indefeso e falar para propiciar o aumento desse hormônio - que ocorre em maior abundância do que nos homes. O pico de produção é durante o parto, sendo o hormônio também responsável pelas contrações uterinas e produzidos durante a lactação, sendo o mais importante formador de elos entre mães e bebes. Os machos produzem oxitocina em abundância durante o orgasmo (40% a mais). O importante é que o hormônio é um dos responsáveis tanto pelo aumento de confiança no outro e na determinação do vínculo afetivo entre homens e mulheres. Contudo, parece que alguns homens têm uma falha na produção ou recepção desse hormônio - ressalva-se que em ratazanas da pradraria a oxitocina é a chave para monoganima.  A novidade é que cientistas alemães baseados nessas descobertas criaram o spray nasal de oxicitona e testaram em homens casados e solteiros. O experimento consistia em espirrar o spray e verificar a distância que o homem se aproximava de uma pesquisadora atraente. No caso dos homens casados, a distância mantida foi maior do que no placebo – de 10 a 15 cm. Porém, nos solteiros não houve diferença entre os dois grupos.  Em outro estudo foi evidenciado o aumento de confiança no outro em transações financeiras. 
E daí? Haveria alguma questão ética na utilização desse spray? Talvez o mais preocupante seja a manipulação de massas, porém já somos tão manipulados por outras estratégias tão bem dominadas pelo marketing? Para o bem, espera-se usar o spray no tratamento de pessoas com fobia social. Sabemos o quanto o biológico é relevante no nosso comportamento, principalmente o inconsciente, porém também sabemos que só o biológico não basta. Na dúvida, é possível que muitas esposas usem só um pouquinho, afinal o seguro morreu de velho....

Ética no uso de animais: Ostras: Já se imaginou sendo cozido vivo?



Série Ensaios: Ética no Uso de Animais e Bem-estar Animal

Por Taciana dos Santos Buchuk Cordeiro
Pós-graduanda em Conservação da natureza e educação ambiental

O cultivo de ostras no Brasil não é muito comum, se comparado a alguns países da Europa, a produção no país é pequena, apesar de seu consumo ter aumentado consideravelmente nos últimos três anos, porém seu consumo ainda está se popularizando. A aqüicultura (ciência que estuda e aplica os meios de promover o povoamento de animais aquáticos) está superando atividades agropecuárias no Brasil. As ostras produzidas em fazendas são mais saborosas e, a partir de vários cruzamentos de espécies, a Cassostreas gigas um tipo de ostra japonesa, se adaptou a águas frias, como no estado de Santa Catarina, se reproduzem apenas em laboratório. As ostras Crassostrearhizophorae, nativas do Brasil, ocorrem nas regiões do nordeste do país, em áreas de mangue. As sementes Cassostreas gigas, são desenvolvidas em laboratório e podem ser obtidas em algumas universidades no estado de Santa Catarina, a partir da semente desta primeira, são desenvolvidas as sementes da Crassostrearhizophorae. O tempo de desenvolvimento de uma ostra, para atingir a idade para colheita varia de 18 a 20 meses. Para garantir a qualidade das ostras o governo federal desenvolveu o Programa Nacional de Controle Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves, pois a legislação atual não oferece valores de referencia para moluscos vivos ou consumidos crus. A manipulação desses animais deve ser feita a partir de técnicas que visem conservar os animais, nem sempre são as mais adequadas do ponto de vista do sofrimento desses animais. Isso ocorre com espécies que não tem apelo afetivo, como no caso dos invertebrados.
Os experimentos que utilizam animais devem ser realizados seguindo alguns critérios normativos mínimos, como impor limites a dor e ao sofrimento, garantir tratamento humanitário, fiscalizar instalações e procedimentos, garantir a responsabilidade pública. O que seria dor para um ostra? Por falta de informações não se sabe ao certo o quanto uma ostra pode sofrer, mas o fato de imaginar colocando-a viva em água fervente ou em uma grelha deve ser bem doloroso, assim como podemos escutar os caranguejos se debatendo, tentando fugir de uma panela quando estão sendo preparados para o cozimento. É certo imaginar que alguma dor elas devem sentir! Você já se imaginou sendo cozido vivo, ou queimado? Não deve ser muito agradável!  Como falado anteriormente, por não serem animais que tem aquele apelo afetivo, de ser “fofinho” ou não terem qualquer tipo de expressão de dor ou sofrimento, a idéia de que elas possam sofrem é vaga, mas de alguma maneira elas devem sentir dor. Cabe à população começar a ter essa noção de que todos os animais sofrem de alguma por dor física.  Lembrando que se deve ter cuidado, pois, como todo cultivo de produção, é reconhecido como impactante ambiental.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Ética no Uso de Animais e Bem estar Animal, baseando-se nas seguintes obras:
http://www.cem.ufpr.br/?page_id=59