Ética no uso de animais: Animais selvagens treinados para shows – parques aquáticos



Série Ensaios: Ética no Uso de Animais e Bem-estar animal
Por Thabata de Quadros Luchtenberg Martins
Pós-graduanda do Curso de Conservação da Natureza e Educação Ambiental

Estamos vivendo em uma época em que se fala muito em meio ambiente e seus problemas que nós causamos, sem culpa. Fala-se também em sustentabilidade, conservação da natureza, preservação e achamos que trazendo para perto de nós os animais silvestres, estaremos mais próximos da natureza que tanto falamos. Aos que não têm animais em casa acabam por buscar onde estes animais estão disponíveis para ver e tocar. Este “ecoturismo” tem crescido de uma forma estupidamente rápida, movimentando a economia turística e atraindo cada vez mais crianças e adultos. Poder tocar um golfinho, nadar com ele é o sonho de toda criança e logicamente seus pais o fazem pagando ingressos caríssimos para dar uma aula de “educação ambiental” ao filho. Mas onde está a educação ambiental? Manter animais dóceis e inteligentes em cativeiro, separando-os de sua família, impossibilitando a comunicação entre eles simplesmente por entretenimento. Agindo desta forma, os pais influenciam seus filhos a terem animais enclausurados para sua diversão, largados assim que a criança cresça e esqueça que o animal precisa de um bom tratamento e carinho. Um dos fundamentos dos argumentos contra golfinhos em cativeiros é que esses seres são altamente inteligentes seres são altamente inteligentes. Ironicamente, é exatamente por serem inteligentes é que estes cetáceos são alvos da indústria de parques marinhos, pois eles podem entender comandos dado por humanos e aprender truques para o entretenimento das massas (CLAYTON, 2012).  Enclausurando estes animais entre paredes de concreto impossibilita a comunicação entre eles, os deixando desnorteados, sem interesse na cópula e reprodução. Existem casos de golfinhos de cativeiro que se suicidam, batendo sua cabeça contra o concreto, por não aguentarem sobreviver devido ao trabalho forçado e por serem separados de suas famílias. 
Segundo CLAYTON (2012), Phoenix e Akeakamai, dois golfinhos cativos mantidos no Hawaii que foram treinados em linguagem visual e acústica por meio de sinais dados com as mãos. Os sinais referiam-se a objetos, ações, propriedades, e relações entre objetos. Estes animais, de inteligência excepcional compreendiam até frases formadas a partir do vocabulário inglês, obedecendo e entendendo o que deveria ser feito perfeitamente. O primeiro registro de golfinhos em cativeiros foi em 1913, quando C. H. Townsend, curador do aquário de New York começou a treinar golfinhos para atração turística. Primeiramente foram cinco golfinhos, que sobreviveram apenas 21 meses no cativeiro. O primeiro espetáculo envolvendo golfinhos foi em 1938 com o Marine Studios na Flórida. Felizmente nos países desenvolvidos a frequência do público em parques marinhos têm decaído vagarosamente, mas os países em desenvolvimento este tipo de prática têm crescido rapidamente como no Caribe, com vários estabelecimentos que permitem nadar com o golfinho, no México, e sul do pacífico. Nessas regiões normalmente não existe legislação estabelecendo regras para manter golfinhos em cativeiro ou os que têm legislação, não são rigorosamente executadas. A taxa de mortalidade e o comportamento anormal dos golfinhos cativos são prova de que a falta de estimulação lhes causa desgaste terrível. O espaço também é uma questão importante, pois normalmente os golfinhos nadam até 80 quilômetros por dia, o que é impossível fazer dentro de um aquário pequeno, causando queimaduras na pele do animal, por ser muito raso. Ao privar os golfinhos de comida, seus treinadores os induzem a comportamentos repetitivos e antinaturais enquanto se apresentam para o público. A fome leva o golfinho a ignorar seus instintos naturais mais básicos. Os visitantes nem sempre entendem que o tão famoso “sorriso” do golfinho não reflete seu estado emocional. É simplesmente o formato de sua boca. É importante ressaltar que para viabilizar este tipo de entretenimento, é necessário uma grande demanda de golfinhos vivos que são arrancados de suas famílias em caçadas sangrentas, onde mais da metade morrem no transporte, devido aos ferimentos causados pelas redes de captura e os que sobrevivem morrem rapidamente devido a infecções intestinais e problemas causados pelo cloro. Este tipo de prática acontece com frequência no do Japão, centenas de animais não selecionados para serem vendidos vivos são abatidos cruelmente por sua carne. Recentemente foi inaugurado o aquário marinho na Turquia, contando com a presença da Sara (Figura 1 e 2), a morsa treinada para imitar seu treinador. Suas presas foram arrancadas, mesmo que não apresentem risco ao ser humano. Este animal necessita estar na água para se deslocar normalmente, deslocam-se mal em terra, utilizando as nadadeiras anteriores e andando quase aos saltos (Wikipédia, 2012).
Esta apresentação rendeu muitas risadas e aplausos, mas ela não pareceu estar feliz, apenas obedecendo pois não havia outra alternativa. Não podemos esquecer do mais famoso parque aquático do mundo: o SeaWorld. Em 2012 cinco orcas foram nomeadas como autoras de um processo na justiça americana que argumenta sobre os direitos de proteção contra a escravidão, contra SeaWorld. A equipe jurídica do SeaWorld classifica o caso como um desperdício de tempo e dinheiro, pois não acreditam que estejam causando maus tratos às baleias. A organização diz que as orcas Tilikum, Katina, Kasatka, Ulises e Corky são tratadas como escravas, porque vivem em tanques e são forçadas a fazer várias apresentações diárias nos parques SeaWorld na Califórnia e na Flórida. "Pela primeira vez na história de nossa nação, um tribunal federal ouviu os argumentos sobre se seres vivos, que respiram e sentem, têm direitos ou podem ser escravizados simplesmente porque não nasceram humanos", disse Jeffrey Kerr, advogado que representa as cinco orcas. Existem diversas formas de divertir-se na natureza. Uma delas é fazer passeios de barco para observação destes animais, como acontece em Garopaba, onde é possível ver as baleias francas e seus filhotes, quando vêm para o Brasil reproduzir-se ou terem seus filhotes. Em Fernando de Noronha também é possível nadar muito próximo aos golfinhos sem toca-los, sem incomodá-los dentro de seu habitat natural. Ainda há muito a fazer, muito a se falar. A população está muito longe de saber o que realmente acontece nos bastidores desses shows aquáticos. E a melhor forma de transparecer, é lutar pelos direitos todo e qualquer animal silvestre que necessita viver em seu hábitat para ter qualidade de vida. Há um relato de um estudante brasileiro que trabalhou no SeaWorld e conviveu com a dor dos animais presos a um tanque e percebeu a carência dos golfinhos ao tentar comunicar-se com eles. Em países como o Japão ainda há uma força muito grande do governo, que caça esses animais desenfreadamente e ameaça de morte os ativistas que lutam pelos direitos dos animais. No documentário “The Cove” esta realidade é retratada por um ativista que se esconde para poder lutar e sobreviver por estes animais, é ameaçado constantemente, pois o governo esconde todas as atrocidades que comete contra a natureza. Expõe o abate de mais de 20.000 golfinhos na costa do Japão anualmente. Para quem não pode lutar literalmente por estes animais, uma ótima atitude é não frequentar lugares que exibam animais silvestres como ecoturismo e disseminar esta ideia e modo de vida que não precisa causar sofrimento aos animais para sentir-se feliz e próximos à natureza.

Esse ensaio foi elaborado para disciplina de Ética no Uso de Animais e Bem Estar Animal sendo baseado nas obras:
CLAYTON, Valdelane Azevedo. O Comércio Internacional de Golfinhos Selvagens. Disponível no link: http://www.abolicionismoanimal.org.br/artigos/ocomrciointernacionaldegolfinhosselvagens.pdf. Acesso em 30 de outubro de 2012.

O sofrimento dos golfinhos cativos. Disponível no link: < http://www.wspabrasil.org/helping/animalfriendlyliving/sofrimento-dos-golfinhos-cativos.aspx >. Acesso em 29 de outubro de 2012.
Blog da Pink. Show inaugura aquário na Turquia. Disponível no link: < http://pink.dornbeast.com/?m=200812 >. Acesso em 29 de outubro de 2012.
WIKIPÉDIA. Morsa. Disponível no link: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Morsa >. Acesso em 29 de outubro de 2012.
BBC Brasil. Cinco orcas 'processam' parque aquático por escravidão. Disponível no link: < http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/meioambiente/cinco-orcas-processam-parque-aquatico-por-escravidao/n1597617232249.html >. Acesso em 29 de outubro de 2012.
CUNHA, Rodrigo Vieira da. A baleia Orca e a falta que faz a liberdade. Disponível no link: < http://afichacaiu.wordpress.com/about/ >. Acesso em 06 de novembro de 2012.
Videos ilustrativos:
É possível notar o pequeno espaço do tanque para uma baleia e golfinhos, quem dirá para mais. Comportamento repetitivo, imitação do treinador dentre outras características que representem que o animal está sendo manipulado em busca de comida e aprovação de seu treinador:

Mergulho com gilfinhos em Fernando de Noronha, onde é possível conviver com estes animais dóceis sem interferir no habitat natural.

Sofrimento e crueldade na caça de golfinhos para venda da carne e criação em cativeiro como em parques aquáticos.

Reportagem sobre a morte da treinadora. Onde também é informado que a baleia que a matou tem 30 anos, nasceu em liberdade, mas foi capturada ainda filhote para ser utilizada em shows aquáticos.

Treinador com uma orca é surpreendido quando ela agarra seu pé, submerge e fica por longos minutos o segurando. Felizmente o treinador não morreu.
El ataque de una orca en un parque acuático