Série Ensaios: Ética no uso de animais e
bem estar animal
Por Audia Brito Rodrigues de Almeida
Pós-graduanda em Conservação da Natureza e
Educação Ambiental
A utilização de animais para fins didáticos é uma prática muito antiga, que surgiu da
necessidade do ser humano estudar e conhecer o funcionamento do corpo humano e
animal em todos os seus aspectos. As práticas de ensino mais comuns com animais
são a vivissecção, ou seja, qualquer intervenção ou estudo
em animal vivo, e a dissecação, estudo utilizando animais já mortos. Essa
prática começou a ser questionada pelos filósofos do século XVIII e XIV, com o
início da discussão a respeito da senciência dos animais (capacidade de sentir dor,
medo, angústia, estresse e sensações agradáveis, como os seres humanos) - pois
até aquele momento, os animais eram tratados como meras máquinas naturais a
serviço do homem, pensamento baseado no antropocentrismo (Fin e Rigatto, 2007). Atualmente essa prática ainda vem sendo
utilizada em Universidades de todo o mundo, embora muitos alunos e até mesmo
alguns professores, pesquisadores e grande parte da sociedade sejam contra a
utilização de animais para fins educacionais e de pesquisa. Cada vez mais temas
como bem-estar animal e bioética, ganharam espaço nas discussões dentro do universo acadêmico. Esses
conflitos éticos começaram a ocorrer com mais intensidade após vários alunos
universitários não aceitarem participar de aulas práticas com animais, a partir
desses fatos, outros estudantes tomaram coragem para expor seus princípios
éticos e morais a respeito do tema (Pinto e Rímoli, 2005). Outro problema que
está sendo observado em alunos que utilizam animais em aulas é a
dessensibilização dos estudantes em relação aos animais. Nesse sentido, muitos
autores (Zanetti, 2009; Cardozo e Vicente, 2007; Greif, 2003) condenam a utilização de animais em
aulas, pois afirmam que a razão principal dessa prática é aprender uma teoria
que já é conhecida e apenas repetí-la sem outras novidades. Portanto, sugerem
que novas práticas de ensino sejam criadas, visando a substituição dos animais
em aulas.
Os animais são utilizados em várias aulas
práticas dos cursos das áreas biológicas e da saúde, nas disciplinas de
anatomia, fisiologia, farmacologia, zoologia, psicologia, dentre outras. Como
exemplo de uso de animais para fins didáticos, pode-se citar o uso de camundongos e ratos em aulas práticas de psicologia, em que esses animais, na maioria das
vezes provenientes de biotérios, são submetidos a privações de vários
tipos, à dor e estímulos para estudo de comportamento. Nesse sentido, podemos
questionar do ponto de vista ético como fica o bem-estar desses animais, pois
entende-se que nenhum ser pode viver bem em condições desfavoráveis, vivendo em
um hábitat totalmente diferente do natural, ou sendo submetidos a dor, fome,
privações e estresses.
No Brasil, o uso de
animais para fins didáticos foi regulamentado pelo Projeto de Lei (PL) nº
1.153-A de 1995 (Projeto de lei sobre pesquisa em animais) e pela Lei 9.605 de 12
de fevereiro de 1998 (Lei de crimes ambientais). A primeira, regulamenta o
inciso VII, do § 1º do art. 225 da Constituição Federal de 1988, dispondo sobre
a utilização de animais em atividade de ensino, pesquisa e experimentação e dá
outras providências, e a segunda foi regulamentada pelo Decreto Lei nº
3.179/99, que no seu art. 32 determina pena de detenção de três meses a um ano
e multa, para aqueles que praticarem ato de abuso, maus-tratos, ferirem ou
mutilarem animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos.
Incorrendo nesta mesma pena quem realizar experiência dolorosa ou crueldade em
animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem
recursos alternativos. Há ainda a Lei n° 11.794
de 08 de outubro de 2008, que restringe a utilização de animais para fins
educacionais às instituições de ensino superior e técnicas de nível médio na
área biomédica. Considerando
a ética e o bem-estar dos animais, vemos que há uma urgente necessidade de
substituição dos animais nas aulas práticas, pois conforme a Declaração
Universal dos Direitos dos Animais, a
experimentação animal, que implica um sofrimento físico, é incompatível com os
direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou
qualquer outra e defende que as técnicas substitutivas devem ser utilizadas e
desenvolvidas. No caso dos camundongos e ratos utilizados em aulas práticas de
psicologia, há outras alternativas de ensino, cujos alunos podem aprender sobre
os comportamentos animais, sem necessariamente utilizarem animais vivos, como
por exemplo, softwares, programas computacionais, vídeos, dentre outros. Como
exemplo de alternativa para substituição dos animais nas aulas de
psicologia, pode-se citar o software Sniffy o o rato virtual. No entanto, há divergências no meio acadêmico quanto a substituição de
animais reais pelos animais virtuais, ma vez que alunos e professores
argumentam sobre a necessidade de lidar com a imprevisibilidade de
comportamentos de um rato real. Porém, essa e outras
técnicas podem ser aperfeiçoadas e usadas para evitarmos a utilização de
animais em aulas e procedimentos didáticos, e garantirmos uma melhor qualidade
de vida e bem-estar a eles e consequentemente a nós mesmos.
Esse ensaio foi elaborado para a disciplina
de Ética no uso de Animais e Bem-Estar animal, tendo como base as obras:
CARDOZO,
E.;VICENTE C.C. Considerações éticas, legais e científicas para a substituição
da coleta e uso de animais vivos nas disciplinas de Ciências Biológicas e
Ciências afins nas universidades brasileiras. Artigo de revisão. Saúde e
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ù.ú cada vez mais se percebe que parte da humanidade está se tornando insensível e irracional. Veja bem, psicólogos querem estudar os sentimentos humanos e de animais e não percebem que estão perdendo os próprios sentimentos. Se o caso for utilizar um animal como experiência, já chegamos ao ponto em que colocar um professor destes ou docente no lugar seria a mesma coisa. ¬¬ ser-humano desumano querendo entender sentimentos que nem cultiva.
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