Já preconizava o saudoso chacrinha e eis que o mundo
girou e girou e estamos na era da comunicação: redes sociais, internet de alta
velocidade com bandas larguíssimas, telefonia 3G, 4G, 5000G, SMS, MSN, Foursquare,
Instagram,
emoticons, Google Tradutor, enfim... tudo o que o mundo globalizado precisava, correto?
Sei não! Mesmo diante de todas essas ferramentas práticas, modernas e
eficientes de comunicação, o maior problema das pessoas é justamente a
comunicação. As pessoas estão se matando de solidão e depressão em megalópoles
com mais de 20 milhões de habitantes. As pessoas em qualquer lugar do mundo
dominam o inglês, mas não conseguem falar de suas próprias emoções e
sentimentos.
Ao analisarmos o processo de comunicação nos
animais, nos surpreendemos como podem com tão poucos “recursos” transmitirem
tantas e tão eficientes informações. O nosso ancestral provavelmente tinha
muito a dizer antes de desenvolver um aparelho fonador que
possibilitasse uma fantástica combinação de sons que capacitou o homem a criar
sons para tudo que existe materialmente e mentalmente, dando surgimento desta
forma para linguagem
simbólica. A nossa estrutura cerebral reflexiva vem dessa simbologia, o dar
sentido as coisas do mundo ao verbalizar os seus significados. Embora tudo que
exista no mundo atinja diferentes órgãos sensoriais- uma maçã, por exemplo, tem
forma, cheiro, cor, textura, sabor, seu nome falado, escrito e as lembranças
associadas - o simbolismo falado e escrito tem um peso enorme na nossa
evolução. Por isso mesmo, a forma que uma criança antes dos dois anos vê o
mundo se parece tanto com outros mamíferos como primatas e cães. O seria sido
de nós se não tivéssemos desenvolvido o nosso aparelho fonador? Iriamos
conscientemente usar mais o olfato, o tato e quem sabe a linguagem corporal?
Ao
nos depararmos com pessoas que impossibilitadas de usarem um ou mais órgão do
sentido, principalmente desde o nascimento, tentamos inutilmente entender como
percebem o mundo. Até temos uma noção como os cegos, surdos ou cegos-surdos
percebem o mundo, mas não atingiremos essa compreensão assim como não
conseguiremos para morcegos, cães ou golfinhos. Como etóloga e ser humano -
cuja visão tem um peso muito grande na percepção do mundo - avalio a linguagem
corporal dos animais para compreender o que estão querendo comunicar, mesmo
sabendo da parcialidade desses referenciais. Por isso mesmo, sempre tive muita
curiosidade de conhecer a linguagem das libras. Nesse semestre tive a oportunidade
de fazer um curso de libras, e simplesmente amei. Além da professora Maria
Lourdes Della Coletta Marquette ter sido fantástica na forma como nos
introduziu no universo dos surdos, transmitiu um respeito e um amor tão grande
por eles, que não tem como não sair maravilhada de suas aulas.
A
utilização da linguagem corporal, não apenas através da configuração das mãos,
mas também pelo ponto de articulação, movimento, direcionalidade e expressões
faciais e corporais, as palavras se transformam em sinais e a sintaxe dessas palavras
formam frases, poemas, músicas. Palavras vividas com uma essência que me parece muito mais
natural do que a linguagem simbólica que criamos. Como será que pensam os
surdos? Com movimentos de mãos? Com imagens? Com cores? Como percebem o mundo?
Será que, como nós, precisam dar sentido a tudo? Essas questões podem até fazer
parte da nossa natureza em querer contextualizar e simbolizar tudo, porém não é
o mais importante. O mundo, as cidades, o sistema de educação estão
estruturados para pessoas que possuem seus sensoriais perfeitos, por isso a
falta de acessibilidade promove o isolamento de surdo, cegos, cadeirantes,
idosos... Porém essas pessoas também
querem se comunicar com mundo por isso que pessoas como a Lourdes são tão
importantes na nossa sociedade promovendo essa ligação entre pessoas que podem
até não perceberem o mundo igual, mas que devem compreender que antes de
elaboramos nosso sistema fonador, a natureza nos presenteou com as emoções e
esse elo de comunicação não podemos perder com nenhum ser vivo!
Gosto muito de teu blogue. Sou professora de Libras e pesquisadora da tradução e interpretação de língua de sinais (fui intérprete muitos anos). E, também, adoro animais e sou fascinada pela etologia que, a meu ver, nos abrange, como animais humanos. Parabéns!
ResponderExcluir(p.s.: cegos-surdos, o termo convencionado é surdocego)