segunda-feira, 2 de julho de 2012

Libras.... Quem não se comunica se trumbica?


Já preconizava o saudoso chacrinha e eis que o mundo girou e girou e estamos na era da comunicação: redes sociais, internet de alta velocidade com bandas larguíssimas, telefonia 3G, 4G, 5000G, SMS, MSN, Foursquare, Instagram, emoticons, Google Tradutor, enfim... tudo o que o mundo globalizado precisava, correto? Sei não! Mesmo diante de todas essas ferramentas práticas, modernas e eficientes de comunicação, o maior problema das pessoas é justamente a comunicação. As pessoas estão se matando de solidão e depressão em megalópoles com mais de 20 milhões de habitantes. As pessoas em qualquer lugar do mundo dominam o inglês, mas não conseguem falar de suas próprias emoções e sentimentos.
Ao analisarmos o processo de comunicação nos animais, nos surpreendemos como podem com tão poucos “recursos” transmitirem tantas e tão eficientes informações. O nosso ancestral provavelmente tinha muito a dizer antes de desenvolver um aparelho fonador que possibilitasse uma fantástica combinação de sons que capacitou o homem a criar sons para tudo que existe materialmente e mentalmente, dando surgimento desta forma para linguagem simbólica. A nossa estrutura cerebral reflexiva vem dessa simbologia, o dar sentido as coisas do mundo ao verbalizar os seus significados. Embora tudo que exista no mundo atinja diferentes órgãos sensoriais- uma maçã, por exemplo, tem forma, cheiro, cor, textura, sabor, seu nome falado, escrito e as lembranças associadas - o simbolismo falado e escrito tem um peso enorme na nossa evolução. Por isso mesmo, a forma que uma criança antes dos dois anos vê o mundo se parece tanto com outros mamíferos como primatas e cães. O seria sido de nós se não tivéssemos desenvolvido o nosso aparelho fonador? Iriamos conscientemente usar mais o olfato, o tato e quem sabe a linguagem corporal?
            Ao nos depararmos com pessoas que impossibilitadas de usarem um ou mais órgão do sentido, principalmente desde o nascimento, tentamos inutilmente entender como percebem o mundo. Até temos uma noção como os cegos, surdos ou cegos-surdos percebem o mundo, mas não atingiremos essa compreensão assim como não conseguiremos para morcegos, cães ou golfinhos. Como etóloga e ser humano - cuja visão tem um peso muito grande na percepção do mundo - avalio a linguagem corporal dos animais para compreender o que estão querendo comunicar, mesmo sabendo da parcialidade desses referenciais. Por isso mesmo, sempre tive muita curiosidade de conhecer a linguagem das libras. Nesse semestre tive a oportunidade de fazer um curso de libras, e simplesmente amei. Além da professora Maria Lourdes Della Coletta Marquette ter sido fantástica na forma como nos introduziu no universo dos surdos, transmitiu um respeito e um amor tão grande por eles, que não tem como não sair maravilhada de suas aulas.
            A utilização da linguagem corporal, não apenas através da configuração das mãos, mas também pelo ponto de articulação, movimento, direcionalidade e expressões faciais e corporais, as palavras se transformam em sinais e a sintaxe dessas palavras formam frases, poemas, músicas. Palavras vividas com uma essência que me parece muito mais natural do que a linguagem simbólica que criamos. Como será que pensam os surdos? Com movimentos de mãos? Com imagens? Com cores? Como percebem o mundo? Será que, como nós, precisam dar sentido a tudo? Essas questões podem até fazer parte da nossa natureza em querer contextualizar e simbolizar tudo, porém não é o mais importante. O mundo, as cidades, o sistema de educação estão estruturados para pessoas que possuem seus sensoriais perfeitos, por isso a falta de acessibilidade promove o isolamento de surdo, cegos, cadeirantes, idosos...  Porém essas pessoas também querem se comunicar com mundo por isso que pessoas como a Lourdes são tão importantes na nossa sociedade promovendo essa ligação entre pessoas que podem até não perceberem o mundo igual, mas que devem compreender que antes de elaboramos nosso sistema fonador, a natureza nos presenteou com as emoções e esse elo de comunicação não podemos perder com nenhum ser vivo!



   

Um comentário:

  1. Gosto muito de teu blogue. Sou professora de Libras e pesquisadora da tradução e interpretação de língua de sinais (fui intérprete muitos anos). E, também, adoro animais e sou fascinada pela etologia que, a meu ver, nos abrange, como animais humanos. Parabéns!
    (p.s.: cegos-surdos, o termo convencionado é surdocego)

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