O mundo voltou os olhares para o Rio de Janeiro
na semana que passou em decorrência da Rio+20 - Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável. Embora tenha havido inúmeras críticas a
respeito da forma como se deu a geração dos documentos oficiais e a mídia tenha
dado espaço para que cientistas contrários à causa pudessem se expressar, os
movimentos paralelos cumpriram, a meu ver, o papel mais importante, não só
levantando a reflexão de pontos importantes pela sociedade, como também
provocando os legisladores e gestores.
A sustentabilidade - tema do encontro –
levantou a discussão sobre poluição, conservação e manejo dos recursos naturais
e geração de energia. Porém um dos pontos que eu imaginei que seria debatido e parece
que passou despercebido foi a questão do “Bem Estar Animal”. Não apenas as abordagens relativas à
biodiversidade como um todo - cujos mas as questões envolvidas com o uso dos
animais pelo homem. Nessa questão três movimentos se destacaram, a ONG
internacional WSPA
que defende o bem-estar dos animais de produção e o manifesto
dos Veganos.
A WSPA trouxe a proposta da criação
sustentável de animais de produção visando tanto o futuro do meio ambiente quanto
dos sistemas econômicos. A ideia foi mostrar a preocupação com os animais, com
os seres humanos e com o planeta como um todo. Segundo os ativistas, em todo o
mundo, fazendas que se preocupam com a sustentabilidade e com o bem-estar dos
seus animais já vêm provando todos os dias os animais que são criados em
melhores condições geram benefícios tanto para as pessoas, quanto para os
animais e para o planeta. Logo, sugerem que esses benefícios da criação humanitária
devem ser incluídos na
agenda da Rio+20 a fim de convencer os governantes a sensibilizarem com a melhoria
das condições de vida de todos os seres, através do momento “Pegada Animal”
– campanha que será lançada em Março no Brasil com intuito de informar e conscientizar as pessoas sobre como
os hábitos alimentares da população influenciam a questão do desenvolvimento
sustentável, da agropecuária sustentável, uma vez que segundo informação do
Departamento de Ciência e Agropecuária Humanitária da organização, existem
atualmente mais de 63 bilhões de animais que fazem parte da cadeia de produção
em todo o mundo. Assim, desde já pontuam
cinco ações que os governantes podem realizar imediatamente para protegerem os
recursos naturais do planeta através de práticas de produção e de criação mais
eficientes:
1.
Apoiarem e investirem em pesquisa e
desenvolvimento, visando a demonstrar como métodos humanitários de criação
de animais ajudam a proteger e a desenvolver economias rurais;
2.
Reconhecerem que boas práticas e políticas locais
e globais de criação animal são fundamentais para salvaguardar o bem-estar
das pessoas, dos animais e do planeta como um todo;
3.
Darem apoio formal aos criadores que optarem
por métodos humanitários, oferecendo incentivos e contribuindo para a criação
de políticas de financiamento;
4.
Evidenciarem a importância das fazendas
sustentáveis para o desenvolvimento econômico do país;
5.
Incentivarem os consumidores a optarem por
produtos provenientes de sistemas que adotem boas práticas nas criações de
animais.
A Associação
Ambientalista Ecoforça, com sede em Curitiba participou da Cúpula dos Povos
integrando o Fórum Permanente da Agenda 21 Paraná e o Comitê Paranaense para a
Rio+20 - Com o objetivos de incentivar o
estabelecimento de um novo paradigma de relações entre as pessoas
e as demais espécies com as quais compartilham a existência no planeta,
defendendo o fim do uso e da exploração dos animais para benefício humano.
Para
a Rio+20, a ONG decidiu levar a Campanha 4 Motivos, lançada em setembro de 2009
em reunião ordinária do Fórum Permanente da Agenda 21 e também uma campanha
contra o uso de animais em rodeios, prática que vem crescendo no estado do
Paraná e exige os esforços de todos para que seja desestimulada. A Ecoforça
constata a ausência do movimento de defesa dos animais na Rio+20, compreendendo
que o dia-a-dia das atividades socorristas e da defesa dos animais de companhia
ocupa quase que integralmente as atividades da maioria das ONGs e ativistas e
consome 100% dos seus recursos financeiros. Os integrantes desse movimento não
concordam com as ideias e ações pregados pelos bem-estariastas que segundo sua
visão mascaram e institucionaliza a exploração dos animais ao estabelecerem critérios
rigorosos na criação.
No dia 16.06.2012 ocorreu em uma das laterais do
Riocentro um protesto veganos composto por 70 pessoas de 17 países da
América Latina. Não vou questionar aqui os métodos utilizados na maioria dos os
protestos, pois acredito que existem formas mais científicas e efetivas de se
expressar, mas também sem que cada causa tem a sua maturidade e cada fase de
desenvolvimento demanda uma linguagem e é melhor do que não fazer nada. No caso
dos veganos manifestantes vestidos com fantasias de porco, galo, vaca e urso, distribuíram
sanduíches produzidos sem agrotóxicos e sem ingredientes de origem animal, além
de panfletos informativos. Os manifestantes quiseram mostrar que a
sustentabilidade depende da mudança de comportamento de cada
pessoa e que a sustentabilidade está diretamente relacionada com o modo de vida
e com o que se come. Segundo os ativistas A alimentação vegan representa uma economia
de 95% do consumo de energia em relação à produção e ao preparo de
alimentos convencionais
Mesmo sendo nos eventos paralelos a participação da
causa animal foi muito pequena e discreta, tendo em vista a urgência e
necessidade em se debater esses pontos. Questões polêmicas que estão hoje sendo
discutidas pela academia, legisladores, gestores e sociedade e que estão
diretamente ligadas à sustentabilidade, utilização consciente e racional dos
recursos naturais e respeito pela vida, foram negligenciado em prol que
questões mais economicamente “relevantes”. Não que essas questões não sejam
importantes, porém enquanto não entendemos o que significa cada vida
e a importância individual que cada uma delas tem para o funcionamento global
do sistema, estaremos sendo falhos nas nossas percepções e atuações.