por Bruna Rosa, Camila Moro, Dayana Ceccon
acadêmicas do curso de ciências biológicas
O cuidado parental é
constituído por um repertório de comportamentos exibidos pelos pais para com a prole -
tendo como objetivo assegurar a sobrevivência de seus descendentes (Trivers,
1972) - aumentando assim, o sucesso reprodutivo da espécie. Esse cuidado pode ter início antes do nascimento da prole,
como no caso de preparo de ninhos, tocas e outros abrigos para receber filhotes
ou ovos, ou após o nascimento, cuidando da
alimentação, abrigo e protegendo contra predadores. Todavia, o custo com
o cuidado parental pode reduzir a capacidade dos pais em investir em outras
proles (Trivers, 1972).
Os animais podem
apresentar múltiplos padrões de cuidado parental, que são convenientemente agrupados
em quatro categorias: cuidado biparental, o qual ambos os sexos cuidam da prole;
cuidado uniparental por fêmeas; cuidado uniparental por machos; ou nenhum
cuidado (Webb et al. 1999). Embora em muitas espécies de aves o cuidado
seja biparental, no reino animal como um todo as fêmeas têm maior probabilidade
de apresentar cuidado com a prole do que os machos. Mas essa regra tem exceções,
visto que o cuidado parental oferecido apenas pelo macho é comum entre peixes,
por exemplo (Alcock, 2011). Entre as aranhas-do-mar são
os machos que carregam os ovos fertilizados numa estrutura localizada sob suas
pernas, transportando-os e protegendo-os até a sua eclosão. A seleção
natural favorece o cuidado biparental quando apenas um membro do par reprodutor
não é capaz de suprir todas as necessidades dos filhotes sem ajuda. O
investimento biparental surge principalmente quando a confiança da paternidade
é alta para os dois sexos, aumentando significativamente o sucesso reprodutivo
da fêmea e do macho. Sob altas taxas de predação, além de garantir a proteção
da ninhada, o cuidado biparental também parece ser uma forma de manter o
parceiro por perto caso a ninhada não sobreviva (Medeiros,2010).
Em diversas espécies de mamíferos, o filhote
ao nascer é bastante imaturo, possuindo os sistemas termo-regulador e
sensoriais pouco desenvolvidos e a incapacidade de se alimentar sem auxílio.
Estas espécies são chamadas altriciais, e são totalmente dependentes do leite
materno para seu desenvolvimento e sobrevivência (Rosenblatt, 1992). Em cetáceos, o longo
período de gestação, lactação e intervalo de gravidez resultam em um intenso
cuidado parental e forte vínculo da fêmea com sua prole. Em delfinídeos, logo
após o nascimento o filhote acompanha a mãe constantemente e esta aproximação
torna-se menor conforme o repertório comportamental do filhote torna-se mais
amplo e diversificado.
A prolactina é aumentada toda vez que as mães
ou os pais estejam envolvidos em cuidados de prole. O colostro e o leite
promovem a proteção imunológica, que é considerada um dos mais importantes
efeitos maternos. Ao lamber seus filhotes, mães mamíferas se expõem aos mesmos
agentes patogênicos de seus bebês e fabricam os anticorpos certos. A ocitocina
tem como função provocar as contrações da musculatura no parto, mas está também
envolvida em respostas prazerosas subjetivas de estar junto, como no contato
físico na amamentação, no namoro e na sexualidade. Em espécies nas quais
relações afiliativas entre os sexos traduzem aumento da sobrevivência infantil
existem muito mais receptores para a ocitocina. Três novidades acompanharam a
lactação: a ligação especifica a um dos sexos; o fato de se tornar um fator a
mais intensificando a competição entre os machos; e a prolongada intimidade
entre mães e bebês (Bussab, 2002).
Há também casos de
rejeição ao filhote, levantando pontos como: infanticídio, aborto e abandono; que
leva ao questionamento do motivo para a ocorrência destes comportamentos. Em
espécies que adotam procriação cooperativa, as mães são especialmente sensíveis
à presença ou ausência de indivíduos capazes de ajudar. Em várias espécies de
roedores, a chegada de um macho estranho potencialmente infanticida, fêmeas grávidas
reagem reabsorvendo seus embriões. Abortos espontâneos tendem a ocorrer em
primatas, em situações semelhantes. Em muitos exemplos, em circunstâncias
desfavoráveis, como na ausência de um companheiro, na falta de ajudantes, ou na
vigência de posição pouco propicia na hierarquia do grupo, mães abandonam sua
prole logo após o nascimento (Bussab, 2002).
O tema aborto levanta
uma série de discussões legais, éticas e morais, religiosas e científicas,
envolvendo a questão de vida e morte. Ocorreu um caso, no dia 23/04/2012, no
Município de Brejo Santo (Ceará), de uma mulher que escondia a gravidez do
marido e praticou um aborto ocultando o feto, de oito meses, debaixo da cama em
sua casa. A polícia está investigando como um suposto caso de
infanticídio, pois o bebê estava dentro de uma caixa de papelão enrolado no
cordão umbilical e cheio de marcas de espancamentos e lesões corporais,
principalmente nas pernas. A mãe do bebê sofria de depressão. Foi publicada, dia
24/04/2012 no Diário Oficial da União, a ata do julgamento do Supremo Tribunal
Federal que considerou que o aborto de fetos anencéfalos não pode serconsiderado crime. A partir de agora, a decisão é válida em todo o País e qualquer
gestante de anencéfalo poderá pedir a interrupção da gravidez.
Segundo
especialistas, o instinto materno permite que animais domésticos e até os
selvagens cuidem de crias órfãs. O comportamento de adoção entre animais não é
anormal, sendo mais comum entre animais que vivem em grupos. Casos curiosos
aconteceram no Zoológico e no Passeio Público em Curitiba, em 2009, como a Ararajuba que adotou o filhote deArara-nobre, e a interação entre um macaco-prego e duas macacas-aranhas. Embora não seja tão comum quanto em
animais da mesma espécie, também existem histórias sobre animais que adotam filhotes
de espécie diferente, como no caso do chimpanzé que adotou dois filhotes de
tigres brancos num zoológico na China. Os felinos foram separados de sua mãe,
que ficou agressiva após a passagem de um furacão pela região.
Portanto,
as diferenças no cuidado parental e nos sistemas de acasalamento entre espécies
podem ser correlacionadas com diferenças nas restrições fisiológicas e na
ecologia. A fertilização interna e outras especializações, como a lactação,
predispõem as fêmeas ao cuidado parental, enquanto a defesa territorial, a
fertilização externa e a necessidade de que ambos os pais cuidem dos filhotes
predispõem os machos a esse comportamento (Krebs, 1996). Nós, formandas em Biologia, concluimos
que o cuidado parental ocorre para aumentar a chance de desenvolvimento e
sobrevivência do filhote, já que este nasce frágil e necessita de proteção. Uma
das estratégias deste comportamento é o desenvolvimento do amor pelo filhote,
já que sabe-se que este laço é o mais forte de todos e é ocasionado
principalmente pelo hormônio ocitocina. No caso
do abandono cremos que a mãe percebe que o filhote não vai sobreviver no
ambiente que se encontra. Já o infanticídio pode ocorrer quando novos machos se
tornam o macho dominante e, instintivamente, matam os filhotes anteriores a sua
dominação. Isto ocorre, na maioria dos casos, pela necessidade do macho alfa
perpetuar o seu código genético. O motivo do aborto é evitar o gasto de
energia para dar à luz a um filhote que está "condenado". Além disso,
a interrupção da gravidez ajuda a fêmea a engravidar mais rápido do novo líder
do grupo.
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