Terão os Hormônios efeitos também sobre o comportamento animal?

Série Ensaios: Aplicando a Etologia no dia-a-dia

Terão os Hormônios efeitos também sobre o comportamento animal?

Por Camila Rojo Moro

Etologia é o ramo da ciência que estuda o comportamento dos animais. Denominamos de comportamento aquilo que percebemos das reações de um animal ao ambiente que o cerca e que por sua vez, são influenciadas por fatores internos, dentre eles os hormônios. Conforme Guyton & Hall (2005) “Um hormônio é uma substância química secretada nos líquidos internos do corpo por uma célula ou por um grupo de células e que exerce efeito fisiológico de controle sobre outras células do corpo.” Segundo Lipner, “A origem da palavra hormônio é grega, HORMAO, que significa estímulo, movimento. Foram os fisiologistas Ernest Starling e William Bayliss, ambos britânicos, que identificaram as substâncias denominadas hormônios, em 1902”. Desde então pesquisadores tem se debruçado para conhecer a origem, a constituição íntima e as funções de cada molécula produzida pelas células corporais que atuam determinando estímulos ou inibições em células, tecidos ou órgãos a distância daquela que a produziu. Atualmente as pesquisas tentam mapear desde a variação dos níveis de corticoesteroides ao longo das estações do ano até a influência de galantamina no aprendizado em ratos. Cordeiro de Souza relata que, os sistemas hormonais constituem importantes mecanismos de controle fisiológico, regulando respostas integradas que envolvem o funcionamento visceral e somático nos organismos animais. Sensação de fome, de frio, de perigo, perpetuação da espécie são fatores que receberão uma resposta pelo organismo do animal que será mediada através de hormônios. Da mesma forma que os hormônios atuam regulando as funções celulares nos mecanismos de sustentação da vida, há evidências científicas hoje de que a ação hormonal também interfere em aspectos mentais definem comportamentos, pois interferem em sítios específicos do cérebro, sendo responsáveis pela estabilidade do humor, prazer, desejos, autocontrole, agressividade, doçura.

Como exemplo, na mulher, a ciclicidade hormonal leva à possibilidade de seduzir, conquistar e lutar por seu parceiro, própria da fase estrogênica e ovulatória, sendo que no período pós-ovulatório a progesterona lhe dá a possibilidade de se preservar e recolher para gestar o produto da concepção. .A progesterona, a prolactina e a ocitocina exercem papel importante na possibilidade de maternidade. Com altos níveis de progesterona a mulher se acalma, é capaz de executar suas atividades com doçura e ainda permanecer atenta ao bebê e à família. Já a prolactina trará a possibilidade de amamentar juntamente com a ocitocina, sendo a interação destes dois hormônios extremamente importante para os cuidados com o bebê e os cuidados com o lar. Além disso, verificou-se que durante a gestação, os hormônios próprios desta determinam alterações neuronais na área do hipocampo. (Kinsley et al, 2006). A ciclicidade hormonal no homem é menos definida. Homens com níveis de testosterona excessivamente altos dificilmente terão doçura e a leveza para doação de seu espaço e de seu tempo. A testosterona estabelece a força de competição, projetos e a visão de força diante do medo. Já a queda desta não será a única causa do envelhecimento masculino, mas certamente é um dos grandes elementos da depressão no idoso, da falta de coragem de reagir às perdas e da perda do desejo sexual. Dessa forma, tem sido utilizada na terapia da depressão masculina. (Kanayama et al, 2007). Além desses, hormônios produzidos na neuro-hipófise, tireóide, supra-renais, entre outras glândulas, também interferem na modulação do humor dos animais. Por exemplo, há estudos que demonstram a serotonina, substância mediadora química no SNC, afetando o comportomento social; outros estudos tem encontrado associação de entre níveis basais e máximos de cortisol e comportamento anormalmente agressivo (Cremniter et al, 1994). O comportamento dos animais está relacionado com a ação de diferentes hormônios e mediadores químicos sobre seu organismo, todavia esses também podem ser afetados, no caso da espécie humana, por disposições psicológicas que podem refrear ou acentuar os efeitos comportamentais daquelas substâncias.