Homem, animal e planta: estudos que demonstram a capacidade de interação entre eles
por Bruna Oliveira Machado
A Ecologia comportamental ou etoecologia – estuda a adaptação da conduta de um organismo ao meio em que ele vive, podendo ser chamada também de sociobiologia. As ferramentas etológicas empregadas na ecologia comportamental podem auxiliar na compreensão da natureza das relações animais-plantas, evidenciando o papel ecológico das espécies, os tipos de interações e seus resultados, a estrutura trófica da teia estabelecida, assim como os reflexos da pressão de seleção, a heterogeneidade de habitat e a variação geográfica. A difusão desta ciência se deve ao entomologista e biólogo americano Edward Osborne Wilson e à sua obra “Sociologia: a nova síntese”, publicada em 1975. Wilson estudou meticulosamente o comportamento de insetos sociais (tanto que se especializou em formigas) e julgou pertinente unir os conceitos do comportamento social humano com conceitos da biologia, analisando todos os aspectos que apresentam em comum.
A introdução do termo Etnoecologia na literatura científica está situada no ano de 1954, com a dissertação de Harold Conklin sobre a relação entre uma população das Filipinas com as plantas por ela manejadas. O estudo de Conklin enfatiza o reconhecimento dos ambientes na relação entre pessoas e plantas. Este estudo contribuiu para uma mudança no foco investigativo, em direção ao entendimento do ponto de vista nativo ou local (Nazarea, 1999), indo além de uma perspectiva meramente cognitiva, predominante na época.
Outra perspectiva da Etnoecologia é oferecida por Gragson e Blount (1999) segundo os quais a etnoecologia é usada para cobrir toda uma gama de estudos de história natural derivados de populações locais e incluindo outras áreas de estudo como a Etnobiologia, a Etnobotânica, a Etnoentomologia e a Etnozoologia, mas não se restringindo à história natural a partir de uma perspectiva antropológica.
A partir da década de 1990, dois acadêmicos de Harvard, John Tooby e Leda Cosmides retomaram muitos pontos defendidos pela sociobiologia e criaram a psicologia evolutiva. O zoólogo inglês Matt Ridley define esta corrente psicológica da seguinte maneira: “Foi uma tentativa de fundir o melhor do nativismo (funcionalismo) de Chomsky – a ideia de que a mente não pode aprender a não ser que tenha rudimentos de conhecimento inato – com o melhor do selecionismo da sociobiologia: a forma de compreender uma parte da mente é entender o que a seleção natural planejou que ela fizesse.” (Ridley, 2003).
A natureza das relações com o ambiente é nitidamente marcada pelas concepções/ representações dos indivíduos, desenvolvendo um significativo sistema informacional sobre as espécies e o ambiente, o que se traduz nos saberes, crenças e práticas culturais relacionadas com o ambiente de cada lugar. Dentro desse contexto, podemos citar a Etnozoologia é o estudo multidisciplinar das relações entre as culturas humanas e o os animais. Isso inclui a classificação e nomenclatura das formas zoológicas através do conhecimento popular e o uso de animais domésticos e selvagens.
Como exemplo, podemos citar insetos que dependem de árvores e vice-versa. Nesse contexto se destaca a pesquisa Biodiversidade Interativa: a ecologia comportamental e de interações como base para o entendimento das redes tróficas que mantém a viabilidade das comunidades naturais. Segundo o estudo, o néctar extrafloral é o tipo de alimento que mais comumente as plantas oferecem para as formigas. Há muitas definições para nectários extraflorais, mas aquela que define estes nectários como sendo aqueles que não estão envolvidos com a polinização talvez seja a mais simples e correta. A presença de nectários extraflorais já foi descrita em mais de 93 famílias de angiospermas e pelo menos 2.200 espécies de plantas. Estas glândulas secretam néctar que atrai formigas de muitos taxa principalmente Myrmicinae, Formicinae e Dolichoderinae. Alguns autores têm demonstrado que as associações entre formigas e nectários extraflorais são benéficas para as plantas. Nestes casos as formigas que se alimentam nestes nectários protegem as plantas contra a ação de diversos herbívoros. Apesar disso, O'Dowd & Catchpole (1983) e Rashbrook et al. (1992) mostraram que em alguns sistemas as formigas não diminuem a herbivoria de plantas com nectários extraflorais. Assim sendo, o papel dos nectários extraflorais contra a herbivoria é ainda assunto de discussões.
Eu, como graduanda em Biologia, Acredito que a ecologia comportamental permite avaliar como um determinado comportamento pode maximizar a aptidão dos indivíduos que o apresentam e possibilita quantificar suas variações na população. Nesse sentido, os métodos etológicos associados às técnicas clássicas ou modernas das áreas de botânica, zoologia e genética, podem ser empregados na solução de questões ecológicas, que se referem principalmente ao significado das interações animais-plantas.
Esse ensaio foi baseado nas obras:
Etologia: Princípios e reflexões – Antônio Souto. 3ª Ed. Editora universitária UFPE.
Nazarea, V. 1999. Ethnoecology: situated knowledge/located lives. University of Arizona Press, Tucson.
O'dowd, D.J., Catchpole, E.A. Ants and extrafloral nectaries: no evidence for plant protection in Helichrysum spp. - ant interactions. Oecologia 59:191- 200, 1983.
Press, Norman. P. 13-16. Gragson, T. L. e Blount, B. G. 1999. Ethnoecology: knowledge, resources, and rights. University of Georgia Press, Athens.
Rashbrook, V.K., Compton, S.G., Lawton, J.H. Ant-herbivore interactions: reasons for the absence of benefits to a fern with foliar nectaries. Ecology 73 (6): 2167-2174, 1992.
Ridley, Matt, O que nos faz humanos, Editora Record: São Paulo, 2003
Biodiversidade Interativa: a ecologia comportamental e de interações como base para o entendimento das redes tróficas que mantém a viabilidade das comunidades naturais. Disponível em: <http://www.leci.ib.ufu.br/pdf/UFU%2030%20Biodiversidade%20Interativa%20Del-Claro.pdf>; acesso em 21/08/20110.
Ecologia comportamental: uma ferramenta para a compreensão das relações animais-plantas. Disponível em: <http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2883467> acesso em: 21/08/2011).
Sociobiologia. Disponível em: <http://www.infoescola.com/biologia/sociobiologia/> acesso em 24/08/2011.
A psicologia evolutiva. Disponível em:<http://www.consciencia.org/a-psicologia-evolutiva>acesso em 24/08/2011.
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