Essa semana foi intensa pra mim, tanto física quanto mentalmente... Simultaneamente ministrei um curso de ética no uso de animais e bem-estar animal e participei de um congresso de direito animal... uau!
Na primeira situação convivi uma semana com mestrandos e doutorandos biólogos, veterinários e oceanógrafos que buscaram na disciplina consolidar percepções e toparam construir um ponto de reflexão ético com relação ao uso dos animais. Do outro lado - pela primeira vez na minha vida acadêmica - me deparei com pensamentos extremamente focalizados em um lado da questão. Não que não seja importante que em algumas situações deva existir foco, aprofundamento e disseminação de suas próprias ideias, mas me senti em uma situação extremamente desconfortável, pois ainda somos os humanos decidindo o que é o melhor para os animais... mesmo que a intenção seja genuína!
Eu amo os animais e como bióloga obviamente queria que todos estivessem exatamente no lugar que a natureza determinou que eles estivessem – o que deve se considerar a evolução dos animais domésticos associados ao homem. Porém como zoóloga evolucionista também sei que é utopia e até muito antropocêntrico vivermos a parte da natureza, totalmente isolados dos animais. Na natureza os animais têm parcerias, se usam como alimentos, e têm atitudes bem “cruéis” como as larvas dos parasitoides que devoram as aranhas lentamente. É a teia da vida... Concordo também que o que fazemos com os animais é cruel: subjugar, judiar, desrespeitar mesmo tendo provas substanciais de que nossos processos mentais - como aqueles relacionados com as emoções - são homólogos e podem até diferirem em grau, mas não diferem em tipo.
No curso senti uma sintonia bacana com os futuros doutores do nosso país, o centro de formação e disseminação de paradigmas fundamentados. Tenho certeza de que eles serão profissionais diferentes e farão escolas. No congresso me senti discriminada por – segundo as definições dos animalistas – eu ser uma bem-estarista. Todos que amam os animais se preocupam com eles e se mobilizam para promover a mudança devem estar do mesmo lado. É lógico que eu, assim como meus colegas acadêmicos ou que trabalham ligados à saúde humana, por exemplo, estamos preocupados com os animais. Na nossa concepção alguns usos de animais deveriam ser totalmente banidos como o uso de animais para entretenimento e trabalho, animais selvagens como pet, experimentações abusivas, controle de pragas cruéis, e por aí vai. Mas é lógico também que o próprio percurso evolutivo que a natureza nos conduziu até aqui, a reflexão ética é um resultado desse processo. Novamente reforço que na natureza os mecanismos empregados pelos animais para atingir os seus objetivos muitas vezes pode parecer cruel ao olhar humano: parasitas modificam o comportamento de seus hospedeiros para atingir os seus objetivos, inclusive dos humanos. Nós não estamos a parte da natureza, e somos vulneráveis a parasitas, às bactérias, aos predadores e até mesmo às emoções dos animais, o que nos faz estar aqui agora refletindo no que de bom podemos oferecer a eles.
Eu defendo e dissemino sim o Bem-Estar Animal, por que sei que é utopia acreditar que viveremos num mundo sem os animais. No congresso em várias situações foi pontuado que os comitês de éticas dentro dos centros de pesquisa funcionam como maquiagem e endossam as atrocidades feitas nas experimentações. Pois, deixo registrado aqui o meu testemunho. A pesar de sempre amar os animais e trabalhar com comportamento, a minha transformação ética se deu depois que comecei a fazer parte do comitê, e sinto que isso se deu com meus colegas também. É lógica que a avaliação dos projetos é técnica guiada por protocolos, mas muda paradigmas, muda comportamento, muda atitude, sim. Tanto que dei um salto na minha vida profissional e decidi dividir os meus tradicionais estudos com ecologia comportamental de invertebrados, para estudos de bem-estar de vertebrados e paralelamente me propus a disseminar os conhecimentos atuais sobre emoções dos animais, para que assim, cada vez mais pesquisadores e profissionais possam propiciar e multiplicar essa nova ciência.
Os animais nos fazem bem em diferentes meios e nós devemos fazer bem para eles também. Por algum acaso da natureza somos nós que estamos hoje aparentemente no “poder” (para refletir sobre as coisas de outro ângulo sugiro assistirem a heptologia do planeta dos macacos), não devemos esquecer que nossa espécie está no planeta apenas à 200 mil anos, bem menos que de muitos outros hominídeos que já se foram, ou seja, estamos ainda no meio da história. E sem dúvida estamos no meio da história, no momento da mudança, acredito sim que as coisas serão muito diferentes no futuro. Concordo com muitas colocações dos “abolicionistas” e dos “bem-estaristas”, dos “biocêntricos” e dos “ecocêntricos”, independe do rótulo que estão lhe dando – aliás sou favorável sempre a quebra dos rótulos - todas essas ideias, ações, sentimentos serão fundamentais e me sinto muito feliz por fazer parte desse momento histórico e deixar a minha contribuição.
Estive no congresso também, adorei estar lá, não entendi seu ponto de vista, por favor explique.
ResponderExcluirConcordo com com você ... Enquanto ficamos pensando se afinal de contas os abolicionistas ou os bem-estaristas estão certos ou errados, continumaos perpetuando uma visão centrada em nós mesmos! ("Qual é a posição em que eu vou ser visto como o mais certo aos olhos dos meus coespecíficos"). E nesta postura, os animais continuam esperando que a gente faça alguma coisa! Que a gente tente parar de comer carne, tente não usar couro, tente não caçar, não usar produtos testados em animais, denunciar maus tratos, adotar animais abandonados e que busque o máximo de bem-estar para os que continuam confinados!Isso para mim deve ser independente da nossa bela posição filosófica...
ResponderExcluirFOI JUSTAMENTE ISSO QUE FOI DITO NO CONGRESSO EM CURITIBA, PARA CADA UM AGIR E ASSIM AS ATITUDES INDIVIDUAIS SE TORNAREM COLETIVAS, CADA UM QUE TEM ATITUDE É ATIVISTA!
ResponderExcluirOlá, como vai?
ResponderExcluirEntão, também acho algumas idéias utópicas com relação ao "abolicionismo" das outras espécies. Eu costumo ter uma visão meio pessimista quanto a essas questões envolvendo o "desabrochar" da consciência e empatia dos humanos, principalmente para com os outros animais. Eu acho que sempre que ouver um "conflito" de interesses nós sempre iremos estabelecer nosso limite de compaixão a essa fronteira. Por essa razão existem muito mais pessoas contra a caça do que contra o abate de animais para consumo. Quando a mudança tem que exigir uma mudança pessoal as pessoas tendem a virar o rosto e fazer que não é com elas. E quando não viram o rosto costumam defender medidas que lhes de algum conforto de consciencia (um engano na verdade) tal como acontece com o "abate humanitário".
Essas são algumas das razões pela qual eu torço o nariz quando alguem me fala de bem-estarismo. Seria um bem estar do animal e de nossa consciência?
Mas por outro lado, apesar de discordar do pensamento das pessoas que costumam defender o bem-estarismo também discordo de algumas coisas do pensamento abolicionista. É impossivél nós vivermos sem manter relação alguma com os animais, essa idéia é absurda de tão utópica.
O que sempre me faz pensar quando se fala em bem estar animal, é o que nos levou a esse estágio em que nos sentimos no direito , de não só utilizar os animais para inúmeros fins, como também subjugar e maltratar. Sempre chego na mesma conclusão: Nós somos criados sempre ouvindo que fomos criados a imagem e semelhança de alguém que é perfeito e não comete erros, e que ao contrário de outros animais, temos alma. E que tudo isso justifica as ações que estamos tendo. Acho quando falamos em bem estar, o primeiro aspecto que devemos levar em consideração é que não somos especiais, somos animais que estão lutando por sua sobrevivência. E o segundo fator é: levando isso em consideração, até que ponto tudo que fazemos é tão errado? E aí que entra a reflexão de que nossa capacidade imensa de raciocínio lógico, deve nos levar a pensar que destratar um animal nos faz muito pior do que qualquer ato dito "cruel" que qualquer animal não humano possa cometer.
ResponderExcluirSem contar no absurdo que é dar diferentes valores aos diferentes animais. Por exemplo: um rato criado em biotério tem menos direito de viver do que um animal selvagem. Ou um vertebrado vale mais do que um invertebrado quando se trata de direitos. mas com certeza essa é uma questão que ficará para um futuro mais distante, levando em conta que o bem estar animal ainda é algo recente.