terça-feira, 27 de setembro de 2011

Bem Estar Animal

Série Ensaios: Aplicando a Etologia no dia-a-diaLink

Bem Estar Animal

Por Luciane Lourenço de Lima Gulinoski


Atualmente, a necessidade de se manter em cativeiro indivíduos das mais variadas espécies de animais é inegável e se justifica por pesquisa, educação ambiental, conservação e criação de animais de produção e de companhia. Apesar de alguns animais viverem em cativeiros é necessária a observação do bem-estar do mesmo. O bem-estar de um animal se refere à sua qualidade de vida, o que por sua vez, envolve diversos elementos como, por exemplo, saúde, felicidade longevidade e diferentes pessoas os classificam com diferentes graus de importância. Hancocks (1971 in Kreger et al., 1998 apud Rita, 2004, pg. 5) afirma que num esforço de prevenir doenças, os animais em cativeiro eram normalmente mantidos em instalações de cimento e azulejo para permitir uma limpeza fácil, porém Morris (1964), Myer-Holzapfel (1968), Hediger (1969), Erwin e Deni (1979 in Kreger et al., 1998 apud Rita, 2005) citam que nesse contexto de ambiente inapropriado e restrito os animais desenvolviam comportamentos atípicos para a espécie, como por exemplo, deslocamento estereotípico, letargia e regurgitação e reingestão de comida. Wemelsfelder & Birke (1999 apud, Rita, 2004) cita que se descobriu que, quanto mais rico o ambiente, mais oportunidades comportamentais o animal apresenta e mais versátil o seu repertório comportamental se torna, Petherick e Rushen (1999 apud Rita, 2004) afirma que animais restringidos de desempenharem o seu repertório de padrões comportamentais, sofrem da mesma maneira que se forem sujeitos a privação de requerimentos físicos, como o alimento e a água. Para o bem estar de um animal em cativeiro pode-se enriquecer o ambiente em que vivem. Enriquecimento ambiental é um processo onde um ambiente mais complexo e interativo é criado para melhorar a qualidade de vida dos animais mantidos em cativeiro, permitindo que assim eles possam apresentar comportamentos mais naturais de sua espécie. Na prática o enriquecimento ambiental consiste na introdução de variedades criativas, originais e simples nos recintos. O tipo de alimento e a maneira como ele é oferecido (camuflado inteiro ou congelado), assim como a introdução de vegetação, barreiras visuais, substratos, estruturas para se pendurar ou se balançar (como cordas, troncos ou mangueiras de bombeiro), sons com vocalizações, ervas aromáticas, fezes de outros animais são maneiras de se enriquecer recintos. Pesquisadores da Fundação Jardim Zoológico (Riozoo), do Rio de Janeiro, e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) analisaram o comportamento de pequenos felinos brasileiros, como o gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) e o gato-maracajá (Leopardus wiedii), e propuseram alternativas para melhorar o bem-estar das espécies e diversificar o comportamento desses animais em cativeiro. Para estimular um comportamento mais diversificado dos animais, a equipe adicionou odores de canela e erva-de-gato (Nepeta cataria) em diversos pontos das jaulas. Os resultados da pesquisa indicaram que, apesar do tempo de interação dos animais com os novos odores ser relativamente pequeno, influenciou uma mudança de comportamento dessas espécies (ENTRETENIMENTO PARA ANIMAIS DE CATIVEIRO – INSTITUTO CIÊNCIA HOJE ). Hötzel e Machado (2004) , afirmam que alguns dos principais fatores que podem influenciar o bem estar na criação de animais de fazenda estão relacionadas às praticas de manejo. Nos sistemas intensivos os animais são submetidos a formas de transporte e manejo pré-abate inadequados e as mutilações realizadas no manejo de rotina. No mesmo trabalho Hötzel e Machado (2004) citam que grande parte da pesquisa aplicada ao bem estar animal está centrada nos efeitos do ambiente, ou seja, alojamento e manejo. Animais de companhia – cuidar proteger aborda o problema da falta de bem estar animal no caso de animais de companhia. Muitos donos de animais de estimação não se preocupam com a reprodução de seus animais o que aumenta o número de animais perdidos e soltos nas ruas. A falta de preocupação com a segurança também não é abordada ou questionada, existe muito sofrimento em grande parte de animais de estimação. Etologia estuda o comportamento animal. A Etologia é uma combinação de estudos de laboratório e de campo com um forte caráter interdisciplinar, combinando conhecimentos de neuroanatomia, ecologia e evolução. O conhecimento científico do comportamento animal – algo relativamente novo na história humana – leva-nos a ver os animais como organismos dotados de seus próprios atributos e não dos nossos. No lugar de presumirmos que os animais “pensam como nós”, devemos isso sim, é “pensar como eles”, com frieza e objetividade. Somente assim descobriremos a verdade (ETOLOGIA ). O biólogo tem um papel muito importante no bem estar animal e no enriquecimento ambiental para animais em cativeiro, pois através da etologia consegue saber como cada espécie se comporta no meio ambiente e o que fazer para essa espécie em cativeiro ter uma vida parecida com animais da mesma espécie que são livres.

Este ensaio foi baseado nas obras:

HÖTZEL, M.J.; MACHADO Fº, L.C. P. Bem-estar animal na agricultura do século XXI. Revista de Etologia- versão impressa ISSN 1517-2805 v. 6 n. 1 São Paulo, 2004.

RITA, H.M.D.M.L. Bem-estar animal numa situação de cativeiro: o exemplo de uma família de gibões-siamango (Symphalangus syndactylus). 2004. 30 folhas. Trabalho de conclusão de curso – Universidade de Évora - 2004.

http://www.cativobemestaranimal.com.br/enriquecimento.html

http://www.cativobemestaranimal.com.br/saiba-mais/bem-estar-animal/

http://www.pelosanimais.org.pt/files/leaflets/animais_companhia.pdf

http://www.ebah.com.br/content/ABAAABR7gAG/etologia

http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2008/253/entretenimento-para-animais-de-cativeiro)

sábado, 24 de setembro de 2011

Terão os Hormônios efeitos também sobre o comportamento animal?

Série Ensaios: Aplicando a Etologia no dia-a-dia

Terão os Hormônios efeitos também sobre o comportamento animal?

Por Camila Rojo Moro

Etologia é o ramo da ciência que estuda o comportamento dos animais. Denominamos de comportamento aquilo que percebemos das reações de um animal ao ambiente que o cerca e que por sua vez, são influenciadas por fatores internos, dentre eles os hormônios. Conforme Guyton & Hall (2005) “Um hormônio é uma substância química secretada nos líquidos internos do corpo por uma célula ou por um grupo de células e que exerce efeito fisiológico de controle sobre outras células do corpo.” Segundo Lipner, “A origem da palavra hormônio é grega, HORMAO, que significa estímulo, movimento. Foram os fisiologistas Ernest Starling e William Bayliss, ambos britânicos, que identificaram as substâncias denominadas hormônios, em 1902”. Desde então pesquisadores tem se debruçado para conhecer a origem, a constituição íntima e as funções de cada molécula produzida pelas células corporais que atuam determinando estímulos ou inibições em células, tecidos ou órgãos a distância daquela que a produziu. Atualmente as pesquisas tentam mapear desde a variação dos níveis de corticoesteroides ao longo das estações do ano até a influência de galantamina no aprendizado em ratos. Cordeiro de Souza relata que, os sistemas hormonais constituem importantes mecanismos de controle fisiológico, regulando respostas integradas que envolvem o funcionamento visceral e somático nos organismos animais. Sensação de fome, de frio, de perigo, perpetuação da espécie são fatores que receberão uma resposta pelo organismo do animal que será mediada através de hormônios. Da mesma forma que os hormônios atuam regulando as funções celulares nos mecanismos de sustentação da vida, há evidências científicas hoje de que a ação hormonal também interfere em aspectos mentais definem comportamentos, pois interferem em sítios específicos do cérebro, sendo responsáveis pela estabilidade do humor, prazer, desejos, autocontrole, agressividade, doçura.

Como exemplo, na mulher, a ciclicidade hormonal leva à possibilidade de seduzir, conquistar e lutar por seu parceiro, própria da fase estrogênica e ovulatória, sendo que no período pós-ovulatório a progesterona lhe dá a possibilidade de se preservar e recolher para gestar o produto da concepção. .A progesterona, a prolactina e a ocitocina exercem papel importante na possibilidade de maternidade. Com altos níveis de progesterona a mulher se acalma, é capaz de executar suas atividades com doçura e ainda permanecer atenta ao bebê e à família. Já a prolactina trará a possibilidade de amamentar juntamente com a ocitocina, sendo a interação destes dois hormônios extremamente importante para os cuidados com o bebê e os cuidados com o lar. Além disso, verificou-se que durante a gestação, os hormônios próprios desta determinam alterações neuronais na área do hipocampo. (Kinsley et al, 2006). A ciclicidade hormonal no homem é menos definida. Homens com níveis de testosterona excessivamente altos dificilmente terão doçura e a leveza para doação de seu espaço e de seu tempo. A testosterona estabelece a força de competição, projetos e a visão de força diante do medo. Já a queda desta não será a única causa do envelhecimento masculino, mas certamente é um dos grandes elementos da depressão no idoso, da falta de coragem de reagir às perdas e da perda do desejo sexual. Dessa forma, tem sido utilizada na terapia da depressão masculina. (Kanayama et al, 2007). Além desses, hormônios produzidos na neuro-hipófise, tireóide, supra-renais, entre outras glândulas, também interferem na modulação do humor dos animais. Por exemplo, há estudos que demonstram a serotonina, substância mediadora química no SNC, afetando o comportomento social; outros estudos tem encontrado associação de entre níveis basais e máximos de cortisol e comportamento anormalmente agressivo (Cremniter et al, 1994). O comportamento dos animais está relacionado com a ação de diferentes hormônios e mediadores químicos sobre seu organismo, todavia esses também podem ser afetados, no caso da espécie humana, por disposições psicológicas que podem refrear ou acentuar os efeitos comportamentais daquelas substâncias.


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

As faces do comportamento agressivo – uma Análise Biológica

Série Ensaios: Sociobilogia

As faces do comportamento agressivo – uma Análise Biológica

Por Bianca K. Canestraro, Cyntia W. David, Johnny W. L. Neves, Luana C. Oliveira

Segundo Sigmund Freud (1856-1939) agressividade é o conjunto de tendências presentes em todos os indivíduos, que se manifesta em comportamentos reais ou fantasiosos que objetivam prejudicar, destruir ou humilhar o outro. Na teoria da psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960) agressividade é a força que promove uma radical desorganização e fragmentação da psique. A Agressividade é constitucional e necessária para auto-conservação e conservação da espécie, porque possibilita nos posicionarmos nas situações e construirmos coisas. Ela está relacionada à ação, todos os seres humanos (e inclusive os animais) trazem consigo um impulso agressivo. A agressividade é um comportamento emocional que faz parte da afetividade de todas as pessoas, portanto, é algo natural (Paulon, 2009).

Marcas inequívocas de golpes confirmam a ocorrência de episódios de agressão física desde a época dos Australopithecus, há mais de um milhão de anos, até a idade moderna, em todo o mundo. Foram encontrados, por exemplo, mais de um crânio desses antepassados distantes do Homo sapiens com uma espécie peculiar de fratura que consiste em duas depressões muito próximas uma da outra na parte superior da calota craniana. Em associação com esses crânios recuperaram-se úmeros de antílopes cujos côndilos articulares encaixavam-se perfeitamente nessas depressões, sugerindo fortemente que eles haviam sido utilizados para a aplicação dos golpes (Wells, 1964). Porém, as definições de agressividade e violência em diferentes culturas podem, e são tratadas de acordo com a norma empregada. Como por exemplo: em algumas culturas a agressão física a mulheres e crianças como forma disciplinar é aceito por ser considerado um meio regulador eficiente (Walker , 1997).

Nas sociedades ocidentais, bastante competitivas, a agressividade costuma ser aceita e estimulada quando esta vale como sinônimo de iniciativa, ambição, decisão ou coragem. É um tipo de comportamento normal que se manifesta nos primeiros anos de vida. Na infância, a agressividade é uma forma encontrada pelas crianças para chamar a atenção para si, é uma espécie de reação que adquire quando está à frente de algum acontecimento que faz com que se sintam frágeis e inseguras. Na fase adulta, a agressividade se manifesta ainda como reação a fatos que aparentemente induzem o indivíduo à disputa e ainda a sentimentos. A agressividade é uma qualidade natural, humana ou animal, que tem a função de defesa diante dos perigos enfrentados e dos ataques recebidos. Agressividade e medo são emoções fundamentais na sustentação de processos decisórios, são formas de nos protegermos, de dar limites, em família ou no trabalho. A ação está na agressividade, e a reação na violência (Paulon, 2009).

Segundo Paulon (2009), a agressividade humana é classificada em: 1º. Agressão hostil (hostilidade): agressão hostil é emocional e geralmente impulsiva; 2º. Agressão instrumental: é aquela em que é planejada visa um objeto, que tem por fim conseguir algo independentemente do dano que possa causar; 3º. Agressão direta: o comportamento agressivo dirige-se à pessoa ou ao objeto que justifica a agressão; 4º. Agressão deslocada: o sujeito dirige a agressão a um alvo que não é responsável pela causa que lhe deu origem; 5º. Auto-agressão: o sujeito desloca a agressão para si próprio; 6º. Agressão aberta: este tipo de agressão, que se

pode manifestar pela violência física ou psicológica, é explicita; 7º. Agressão dissimulada: este tipo de agressão recorre a meios não abertos para agredir; 8º. Agressão inibida: o sujeito não manifesta agressão para com o outro, mas dirige-se a si próprio.

O controle da agressão requer um sistema nervoso sintonizado com as exigências ambientais, capaz de testar adequadamente a realidade, com um juízo crítico preservado e que não esteja comprometido por doenças de qualquer espécie ou pela interferência de drogas de abuso. Para que o cérebro funcione adequadamente na vida adulta, o mesmo deve ser protegidoLink durante a infância e adolescência de fatores que prejudicam seu desenvolvimento, lesem os neurônios ou interfiram com a formação das conexões sinápticas. Para que o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) responda efetivamente aos estressores vitais os mecanismos de resposta ao estresse devem ser protegidos de estímulos para os quais ainda são imaturos (Niehoff , 1999).

Em termos de comportamento violento as descobertas mais recentes tratam especialmente das questões do comportamento agressivo impulsivo e as alterações nos neurotransmissores, hormônios e os fatores genéticos envolvidos. Esses estudos evidenciam a participação principal de serotonina e noradrenalina, e secundária de outros neurotransmissores com funções inibitórias, sobre o funcionamento de neurônios, como a dopamina e o ácido gama aminobutírico (GABA). Mais recentemente, tem-se tentado verificar a interação dos vários neurotransmissores entre si e com outras substâncias, como hormônios ou agentes com funções de neuromodulação. Algumas pesquisas em seres humanos, bem como estudos em animais, têm sugerido que os andrógenos podem ter um papel na agressão. Entretanto, a natureza desta modulação não é clara. Um estudo conduzido por Bonson et al. (1994) sugere que, quando ratos que se tornaram dominantes após administração de testosterona, receberam agonistas da serotonina, apresentaram uma diminuição dose-dependente da agressividade. Tal informação sugere que os sistemas serotonérgicos podem interagir com esteróides sexuais para regular o comportamento agressivo.

A atividade da tireóide parece ter uma correlação com a conduta agressiva. Foi descoberto que uma atividade excessiva no funcionamento da tireóide está relacionada a uma diminuição do sistema simpático em grupos de indivíduos do sexo masculino com diferentes formas de desvio psicossocial (Whybrow e Prange Jr. 1981; Moss et al. 1986). As causas da conduta agressiva são influenciadas por vários fatores biológicos complexos. Estes sistemas biológicos funcionam de forma integrada, resultando, assim, na expressão do comportamento agressivo impulsivo. Assim como a neurotransmissão é um diálogo entre as células do SNC, o comportamento é um diálogo entre o passado e o presente e entre a experiência e a fisiologia.


O comportamento agressivo é muito discutido atualmente, um bom exemplo é a polêmica Lei da Palmada, a qual, segundo o Art. 18 , estabelece o direito da criança e do adolescente a não serem submetidos a qualquer forma de punição corporal, mediante a adoção de castigos moderados ou imoderados, sob a alegação de quaisquer propósitos, ainda que pedagógicos, e se verificada a hipótese de punição corporal, os pais, professores ou responsáveis ficarão sujeitos às medidas previstas nesta Lei. Além da covardia que está presente no ato de bater em alguém mais fraco, a violência não é, definitivamente, um bom instrumento de disciplina. Ela perde o seu efeito a longo prazo e a criança, aos poucos, teme menos a agressão física. Com o tempo, a tendência dos pais é ainda bater mais, na busca dos efeitos que haviam conseguido anteriormente. O resultado desse aumento da violência pode trazer seqüelas físicas e psicológicas permanentes para as crianças. Os filhos também vão se afastando gradualmente de seus pais, pois a agressão física, em vez de fazer a criança pensar no que fez, desperta-lhe a raiva contra aquele que a agrediu. Ao ser punida fisicamente, a criança tem a sua auto-estima comprometida – passa a se enxergar como alguém que não tem valor. Esse sentimento pode comprometer a imagem que faz de si pelo resto da vida, influenciando negativamente sua atitude durante a adolescência até a vida profissional. Como a criança pode se sentir tranqüila quando sua segurança depende de uma pessoa que facilmente perde o controle e a agride? Ela também passa a omitir dos pais os seus erros, com medo da punição, e sente-se como se tivesse pago por seu erro – e acredita que por isso pode cometê-lo novamente (Paranhos , 2001).

Outro tema polêmico é o Bullying. O termo Bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotada por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima. O Bullying é um problema universal que atinge quase todas as pessoas, famílias, escolas, trabalhos ou comunidades em um momento ou outro, independentemente da idade, sexo, raça, religião ou status sócio-econômico. Não se restringe apenas as escolas, a questão do assédio moral é mais ampla e atinge constantemente toda sociedade, ocasionando graves problemas de saúde mental e no bem-estar social. Os efeitos do bullying podem durar uma vida. As formas de bullying podem trazer graves consequências psicológicas e comportamentais aos alunos que sofrem esse tipo de agressão. Esses traumas podem ir além do período escolar, visto que muitos adultos, ainda trazem a consequência de uma vida escolar sofrida com a prática do bullying. Os problemas mais comuns são: Sintomas psicossomáticos (sintomas físicos como dor de cabeça, cansaço, insônia, dificuldade de concentração, palpitações, alergias, crise de asma, tremores, entre outros), transtorno do pânico (medo e ansiedade, acompanhada de sintomas físicos, como: taquicardia, calafrios, dilatação da pupila), fobia escolar, fobia social, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), depressão, anorexia, bulimia, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Um caso de Bullyng recente que ficou famoso foi o de Casey Heynes, que após sofrer intimidação decidiu revidar.

A influência do mundo eletrônico no comportamento agressivo, seja por meio de filmes, programas de televisão ou jogos eletrônicos também vêm sendo muito estudada e discutida. Um estudo norte-americano sugere que exposições prolongadas a videogames violentos podem insensibilizar o cérebro, o que poderia levar um jovem a não saber mais distinguir o efeito real da violência. Passar horas jogando um videogame violento pode afetar a maneira como seu cérebro funciona, causando problemas na transmissão de sinais entre células nervosas e diminuindo a atividade cerebral. Os estudos condizem com outro feito recentemente nos Estados Unidos, o qual mostrou que disputar jogos com violência interativa eleva muito mais, e bem mais rápido, os níveis de agressividade do que assistir a filmes violentos. Os pesquisadores, da Iowa State University, pediram a 210 estudantes que disputassem jogos violentos, como Wolfestein 3D e Doom, ou Myst, um jogo não-violento. Após 15 minutos, eles eram passados para outro jogo no qual podiam punir seu oponente com uma buzina ensurdecedora. As buzinadas mais prolongadas vinham dos que haviam disputado os jogos violentos.

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Jogos como Doom, Duke Nuken, Cargmagedon, Counter Strike, GTA e Postal foram proibidos em vários países devido ao seu conteúdo violento, sendo estes já associados a diversos episódios como do estudante que disparou tiros de submetralhadora numa platéia de 40 pessoas num cinema em São Paulo, repetindo exatamente as mesmas seqüências do jogo Duke Nuken. Porém ele também era viciado além do Crack e Cocaína, indicando que não apenas o game levou aos atos, mas que as drogas fizeram com que ele trouxesse o jogo para sua realidade. Ou como o caso dos jovens que mataram 12 colegas e um professor antes de se suicidarem, no Colorado, crime associado com a influência do jogo Doom. Muitas pessoas vêm os jogos como uma forma de escapar da realidade, seja ela boa ou ruim. O grande problema não é a influência direta dos jogos, mas sim a condição psicológica do jogador, pois pessoas comuns e sem outros distúrbios não se deixam ser afetadas. O problema é quando o jogador passa a ver este mundo de fantasia como sua própria realidade, muitas vezes por sofrerem com problemas psicológicos ou uso de drogas.

Nós, como formandos em Biologia, percebemos que as diversas formas de agressividade são intrínsecas e naturais ao Homo sapiens. No entanto, os fatores que podem desencadeá-la dependem tanto das condições psicológicas e fisiológicas do indivíduo quanto das condições do meio em que ele se insere, podendo contribuir mais ou menos para a manifestação da atitude agressiva.

O presente ensaio foi baseado nas obras:

1- BONSON, K. R. et al. (1994). Serotonergic control of androgen-induced dominance. Pharmacology, Biochemistry, and Behavior, v. 49, n. 2, p. 313-322.

2- GAUER, G. C. Personalidade e conduta violenta. Civitas - Revista de Ciências Sociais. Ano 1, nº 2, dez. 2001

3- HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001

4- KREBS, J. R.; DAVIES, N. B. 1995. An introduction to animal ecology. Blackwell Science, New York, 420p.

5- LEAL, L. M. Violência e agressividade humana. http://www.apavv.org.br/artigos/art23.htm

6- Lei da Palmada. PROJETO DE LEI Nº 2654 /2003 (Da Deputada Maria do Rosário) http://www.fia.rj.gov.br/legislacao/leidapalmada.pdf

7- LESSA, A.: ‘Arqueologia da agressividade humana: a violência sob uma perspectiva paleoepidemiológica’. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, vol. 11(2): 279-96, maio-ago. 2004.

8- MOBERG, G. P. 1999. When does stress become distress? Lab. Anim., 28: 22-26.

9- MOSS, H. B. et al. (1986). Enhanced thyrotropin response to thyrotropin releasing hormone in boys at risk for development of alcoholism: preliminary findings. Archives of General Psychiatry, v. 43, n. 12, p. 1137-1142.

10- National Center of Child Abuse and Neglect (s. d.). National child abuse and neglect statistical fact sheet

11- National Clearinghouse on Child Abuse and Neglect Information

12- National Criminal Justice Reference Service, Feb. 1996. www.ncjrs.org

13- National Institute of Justice (1996). The cycle of violence revisited (on-line report).

14- Niehoff, D. (1999) The Biology of Violence. New York: The Free Press.

15- PARANHOS, C. 2001. Palmada fora-da-lei. Revista Super Interessante. N º161.

16- PAULON, W. 2009. Agressividade e psicanálise

17- RAVANELLO, M; LISBOA, S. Saúde A biologia da agressividade: Falha cerebral aumenta em 50% as chances do indivíduo se tornar um criminoso. A Notícia. n° 68. Junho. 2008.

18- WALKER, P. 1997 'Wife beating, boxing, and broken noses: skeletal evidence for the cultural patterning of violence'. Em D. L. Martin et al. (org.). Troubled times: violence and warfare in the past. Amsterdã, Gordon and Breach Publishers, pp. 145-75.

19- WELLS, C. 1964. Ossos, corpos e doenças. Lisboa, Editorial Verbo.

20- WHYBROW, P. C.; PRANGE JR., A. J. (1981). A hypothesis of thiroid B catecholamine receptorinteraction. Archives of General Psychiatry, v. 38, n. 1, p. 106-113.

21- WINDOM, C. S.; MAXFIELD, A. (1996) A prospective examination of risk for violence among abused and neglected children. Annals of the New York Academy of Sciences, v.794, p. 224-237.