Frustração - boa ou má?

Você está preparado para perder? De uma maneira bem realista todos os seres vivos já nascem perdendo: o próprio tempo de vida.

Uma das emoções mais difíceis de lidar é a frustração, ou seja, a expectativa que não foi preenchida ou correspondida é um sentimento que se desenvolve quando nos vemos privados de uma satisfação que nos parece legítima e se transforma em sentimento de derrota e fracasso. Na verdade, esse é o preço da nossa herança - a capacidade de transcender e a nossa consciência.

Há quem defenda a idéia que problemas são eventos externos e as emoções internas e que o grande triunfo do se humano é poder ter o controle de deixar os eventos externos afetar o mundo interior. Se o conhecimento liberta e de antemão você já sabe que a frustração é uma realidade em um mundo sem possibilidade de controle total, então você pode diminuir o impacto criando menos expectativas nas coisas. Mas isso não vai justamente contra tudo aquilo que criamos?
Perceber que nem todos os nossos desejos podem ser satisfeitos e ter a consciência de que tudo na vida tem o momento certo para acontecer é o primeiro passo para aprender a lidar com a frustração. Assim, levanta a questão do que teria sido mais favorável para a evolução do Homo sapiens: tomar o controle do mundo e viver estressado ou se livrar do controle da própria vida e relaxar?

Por mais paradoxal que pareça, um dos requisitos fundamentais para alcançar o sucesso, é justamente aprender a lidar com a falta de sucesso, pois o medo da frustração impede a ação. Assim, se o lidar com a frustração pode ser algo aprendido, moldado, exercitado, nada melhor do que começar na infância. Quando os pais antecipam os desejos da criança faz com que desenvolva uma baixa resistência à frustração, resultando em adolescentes voluntariosos e adultos infantilizados. Ballone (Ballone GJ - Depressão e Frustração - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, 2006) questiona se a tendência do ser humano - filogeneticamente falando - é vir a ser uma espécie onde o nível de serotonina ou qualquer outro neurotransmissor envolvido na depressão é fisiologicamente insuficiente para a vida em sociedade que o próprio ser humano criou?. E ainda, se a tendência da sociedade humana é evoluir para uma situação em que os recursos naturais e fisiológicos do sistema nervoso do ser humano serão insuficientes? o que intriga o autor é saber o que está errado: a capacidade de adaptação ou a necessidade de adaptação humana à sua própria sociedade? Será insuficiente ou exagerada a necessidade de adaptação? O que o autor tem visto e se preocupado é com a utilização de antidepressivos para melhorar sua qualidade de vida emocional. Segundo Ballone “A qualidade existencial humana, ultrapassa em muito a área da medicina, da psiquiatria e da psicologia. Este é um tema que fortemente diz respeito à sociologia, à antropologia e, principalmente, à política e à economia”



E os animais? Se frustram? Claro que sim! Toda espécie tem a sua expectativa, realiza um comportamento em decorrência de um estimulo que deverá acarretar em uma resposta. Se não dá certo, há uma frustração. Inclusive o Dr. Pet em seus adestramentos alerta que a exigência de uma atividade muito completa por parte de um animal pode gerar uma frustração a qual diminuirá a motivação no próximo treinamento. A pesquisadora Irenilza de Alencar Naas (Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicampo) realizou um trabalho na criação de um software que desvenda a linguagem animal, através da identificação de estados de medo, fome, frio ou frustração com o objetivo de aumentar as condições de bem-estar animal e reduzir perdas na criação. Segundo Tatiana de Melo (IstoE - http://jornaldosbichos.blogspot.com/2009/06/macacos-se-arrependem-diz-pesquisa.html) em primatas já foi constatado a exibição do arrependimento, o qual pode ser seguido de planejamento para acertos futuros. A Depressão e a tristeza pela perda de uma recompensa resultam em uma intensa atividade neurológica e as escolhas equivocadas e as oportunidades perdidas podem ser processadas como base decisões mais positivas. No ano passado, Ben Hayden - Universidade de Duke - divulgou que os macacos também aprendem com as escolhas erradas. No teste os animais tinham de escolher - entre objetos iguais - aquele que lhes resultaria na melhor recompensa. Quando os macacos selecionavam um cubo - entre oito cubos idênticos - todos acendiam a cor verdadeira e o prêmio correspondente. Os animais aprenderam rapidamente a associar o prêmio de que mais gostavam (suco) à cor verde e o prêmio de menor significância (água) às demais cores. A pesquisa mostrou imensa atividade dos neurônios no córtex cingular anterior (ACC) - mesma região cerebral responsável pelos processos de pensamentos imaginativos que ocorrem quando alguém se arrepende – o processo está ligado à capacidade de fantasiar para tolerar uma frustração e não agir impulsivamente. As pessoas costumam experimentar a sensação de frustração e remorso quando se dá conta que poderia ter tomado uma outra decisão. Provavelmente, os macacos não têm a consciência do remorso, mas o comportamento deles demonstra que são capazes de entender o que poderia ocorrer se tomassem outra decisão!