Bem-Estar-Animal

Você já ouviu falar de bem-estar-animal? O próprio nome se refere a uma ação que qualquer pessoa indagada a respeito irá compreender sobre o que você está falando. Porém, quando perguntamos se “sabe quando o animal está bem”....

Diagnosticar o bem-estar-animal é complicado, pois envolve um conhecimento do comportamento animal e de suas necessidades naturais. Nas últimas semanas eu e a Márcia Cziulik trabalhamos arduamente na elaboração de um curso de especialização em Bem-estar-animal. A idéia veio da falta de cursos similares no mercado brasileiro que habilite e capacite diferentes profissionais que trabalham e convivem com animais a diagnosticar se as condições nas quais eles estão sendo mantidos estão proporcionando bem-estar e como fazer para melhorar essas condições. Essa idéia surgiu a partir da orientação de TCCs como da Silvane Krull com cutias e dos trabalhos da Priscila Tamioso com interação homem-animal e principalmente com o trabalho da Mariana Kugler e da Maria Eugenia Tucunduva, que tem nos possibilitado perceber a necessidade urgentíssima de mais profissionais refletindo sobre o tema.

O fato é que o homem usa” os animais para diferentes funções a muito tempo, e essa prática se desenvolveu junto com sua evolução cultural. Os animais nos servem de alimento, vestuário, produção de trabalho, desenvolvimento tecnológico e obviamente companhia e diversão... Durante muito tempo a assimetria dessa relação permitiu ao homem tratar o animal da forma como lhe fosse mais favorável, porém o avanço das ciências do estudo com comportamento animal, tem nos mostrado que os animais possuem emoções, sentimentos e consciência. Esses novos paradigmas levantaram a questão ética no relacionamento e na forma como tratá-los. Inicialmente o setor de produção e de pesquisa e ensino começaram a trabalhar no estabelecimento de diretrizes para melhoria das condições de cativeiro e uso racional das cobaias.

O setor da produção visa o bem-estar animal mais focado na qualidade do produto final, na diminuição das perdas, mas obviamente que contribuem para diminuir situações terríveis de produção industrial de frangos, porcos e vacas (veja: Vacas dão mais leite quando ganham nome http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL974165-5603,00-VACAS+DAO+MAIS+LEITE+QUANDO+GANHAM+NOME+AFIRMA+PESQUISA+BRITANICA.html... Já os acadêmicos e a indústria têm buscado alternativas no uso de animais para experiências e para aulas. Ainda estamos no começo da caminhada, mas a obrigatoriedade da existência de comitês para avaliarem o uso de animais foi o ponto de partida para a construção dessa consciência.

O uso de animais para entretenimento é muito controvertido, em alguns locais já é proibido o uso de animais em circos, mais ainda são mantidos em parques temáticos, em touradas e em rodeios. O uso de animais para trabalho impulsionou o desenvolvimento das sociedades humanas, possibilitando o surgimento de grandes construções e aumentando a produção de alimentos, além de propiciar o deslocamento por grandes distâncias. Embora, hoje tenhamos equipamentos movidos a motor, os animais ainda são as alternativas mais baratas e muitas vezes cruéis, mesmo nas grandes cidades, carrinheiros reversão cavalos noite e dia para tração dos recicláveis.

O subproduto dos animais como o couro ainda é usado pra vestimenta e artefatos humanos, embora o uso de peles, muitas vezes retiradas de forma cruéis tenha sido combatida nos últimos anos.

O uso dos animais na alimentação, para maioria das pessoas é algo fundamental, mas muitos vegetarianos têm evidenciado a possibilidade da obtenção da proteína por outras formas. A questão talvez não seja nem o uso do animal na alimentação, mas a forma como eles são produzidos. Existem estudos que mostram como sai ecologicamente cara a produção de bovinos, por exemplo.

Os animais também são mantidos nos zoológicos seja para o fim educativo ou de conservação. As condições dos recintos geram uma rotina entediante e uma impossibilidade desses animais expressarem seus comportamentos naturais, o que gera muito estresse. A própria visitação é questionável do ponto de vista da qualidade de vida proporcionada para esses animais, e há quem acredite que em breve zoológicos virtuais interativos serão a alternativa (veja link ao lado). Eu acredito que alternativas assim possibilitaria conhecer muito mais do animal, chegar mais perto, flagrar seu dia-a-dia, sem precisar correr atrás do pavão para pegar uma pena pra fazer brinco ou jogar pedra na onça para ouvir ela rugir (imagens presenciadas por mim no Zôo de Curitiba num domingo a tarde). Os profissionais que trabalham em Zôos ou criadouros científicos têm se preocupado em oferecer um recinto mais rico, com mais alternativas, desafios e entretenimento para os animais. Um exemplo foi no próprio zoológico de Curitiba em que o chimpanzé Bob recebe caixas de cereal e revistas para reavivarem instintos naturais evitando efeitos como depressão, queda de resistência e de imunidade (http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1321351-5598,00 CHIMPANZE+LE+PARA+EVITAR+ESTRESSE+EM+ZOOLOGICO+DE+CURITIBA.html).

Por fim temos o setor de animais de companhia... (Ver reportagem sobre Martin Afonso abaixo), em que o homem busca em outros animais identificar emoções e sentimentos e os tratam bem, bem demais e como humanos, trazendo sérios danos comportamentais e de saúde. Essa é uma relação que devemos discutir e estudar bastante, pois o aparente cuidado pode ser tão ou mais danoso para o animal...

São muitos assuntos que gostaríamos de aprofundar as reflexões e as pesquisas, usar indicativos fisiológicos do estresse, indicativos comportamentais, refletir sobre como e quando usar os animais e em situações em que a manutenção dos animais em cativeiro é necessária como proporcionar melhor qualidade de vida para eles. Há alguns movimentos abolicionistas que não admitem e até criticam as ações de bem-estar-animal, pois acreditam que é uma forma de endossar essa prática. Concordo que o ideal era cada animal ter o seu nicho e toda presa ter a oportunidade de fugir do seu predador. Mas também tenho consciência que o radicalismo não muda a consciência coletiva nem os paradigmas de uma sociedade. Acredito na formação de um grupo de pessoas pensantes, atuantes, idealistas e com vontade de trabalhar mesmo diante dos inúmeros desafios. Por isso nós nos jogamos nessa nova área para contribuir para que um dia exista um mundo ideal, e que as cinco liberdades existam para todos os animais, inclusive para o homem, então vamos em busca de:

Sermos livres de medo e estresse

Sermos livres de fome e de sede

Sermos livres do desconforto

Sermos livres de dor e doenças

Sermos livres para expressar nosso comportamento N A T U R A L