Sai tristeza....

Evolutivamente falando...

Ruffié (1982) termina seu livro sobre sociobiologia falando da angústia e da felicidade. Segundo o autor somos espécies demasiados conscientes para sermos felizes. Muito provavelmente nossos antepassados vivam na angústia, uma vez que não conheciam uma série de coisa e tantas outras, não compreendiam. Provavelmente temiam o futuro, pois só eles, entre toso os seres vivos (até provem o contrário), conseguiam imaginar. Assim, a angústia foi o motor da evolução cultural e desencadeou a investigação e a invenção, uma vez que a busca pelo entendimento melhorou as técnicas e proporcionou uma existência mais segura. Provavelmente uma humanidade feliz teria desaparecido, ou seja, se fossemos macaquinhos felizes e saltitantes teríamos continuado nas florestas pulando de galho em galho a mercê dos caprichos da natureza. O progresso é o fruto da inquietação, embora o homem ainda busque responder questões quanto ao desconhecido, ao futuro, a morte e ao sentido da vida. Porém, infelizmente, não apenas para compreende-las e ter uma vida liberta, mas para poder dominá-las. Para Ruffie, as religiões nasceram a partir de problemas que o conhecimento não pode resolver, no entanto, continuamos a ser escravos das paixões e a nossa razão some diante dos “instintos”; queremos acumular bens materiais, em vez que consagrarmos à partilha e à criação.
Razão, Emoção e Ação em Cena: A Mente Humana sob um Olhar Evolucionista - http://www.scielo.br/pdf/ptp/v22n1/29844.pdf

Tristeza, melancolia ou depressão?


Na visão da neurocientista Suzana Herculano-Houzel (obra: fique bem com seu cérebro), o que temos de mais fabuloso é o que fazemos com nossas experiências, e as lembranças do que vivemos conduzirá nosso comportamento. As emoções alegria e tristeza são fundamentais, pois elas educam o cérebro a buscar sempre o bem-estar (a homeostase metabólica – tudo em equilíbrio dentro do corpo... nossa meta diária de sobrevivência). Enquanto o prazer e a felicidade destacam as experiências que deram certo, a tristeza indica o que foi doloroso, logo, que deve ser evitado. Suzana exemplifica “quando magoamos alguém e somos magoados, a tristeza que sentimos é um sinal para que o cérebro reveja a sua maneira de interagir com os outros” e completa que até mesmo a tristeza antecipada é relevante, pois faz com que tomemos precauções. Devemos, então, aprender com a tristeza a evitar o que nos faz mal. A tristeza, é assim um excelente momento para reflexão, em que o corpo dá uma “parada” para decidir as atitudes que deveremos tomar.

O que acontece no cérebro??

Segundo Suzana se algo ruim acontece o cérebro produz sensações negativas reduzindo a motivação. A ativação do córtex cingulado anterior avisa sobre alguma uma situação indesejada ou infeliz e resulta em respostas de estresse, preparando o corpo para atacar ou fugir e as modificações do corpo gera sofrimento. Simultaneamente o sistema de recompensa é desativado, o córtex pré-frontal fica mais ativo, justamente para remoer os acontecimentos e avaliar a situação. Enquanto a ativação do córtex subgenual diminui os movimentos, já para tornar o comportamento mais retraído e passivo. Suzana chama a atenção para algo muito importante que devemos respeitar esse momento, pois esse recolhimento evita que nos exponhamos a novas experiências ruins, justamente em um momento em que estamos frágeis. Assim, ao diminuir os estímulos externos, ocorre a introspecção, que deve ser usada para entender a razão da tristeza. Nesses momentos o choro, é excelente, pois alivia a tensão gerada pelo estresse. Mas essa sensação boa de “calmante” vem só quando paramos de chorar. Pois, enquanto estamos chorando estamos ativando a amígdala, aumentamos batimentos cardíacos e pressão arterial, intensificando o estresse e a tristeza

A Depressão...

A depressão é um dos quatro distúrbios psiquiátricos mais freqüentes no Brasil. Segundo Suzana, a depressão, pode ser definida como um tipo de tristeza que dura semanas, não tem uma razão e é acompanhada de falta de motivação, de prazer, insônia ou sonolência e é ruim... ocorre um excesso anormal de ativação das regiões do cérebro envolvidas na produção da tristezas e de respostas ao estresse. O cérebro em depressão fica predisposto à tristeza, assim, até mesmo estímulos neutros, são percebidos como tristes e negativos, dificultando a felicidade e facilitando a tristeza. A neurocientista chama a atenção que a depressão não é exclusividade da espécie humana, por ficar ruminando pensamentos ruins. Cães, gatos, macacos e ratos podem desenvolver depressão em decorrência de episódios de estresse crônico e principalmente em situações e mudanças bruscas na rotina do animal, confinamento e impossibilidade de realização das atividades normais de sua espécie.
Musicoterapia para cães deprimidos: http://veterinariosnodiva.com.br/books/musicoterapia-para-caes-com-depressao.pdf
A Depressão propriamente dita ocorre quando há uma deficiência na produção de neuro-hormônios no cérebro. Substâncias como a Serotonina são as responsáveis para oferecer aos humanos a sensação de bem estar. Porém, salvo problemas genéticos, pode ser estimulada a produção no próprio cérebro, cuidando da alimentação e atividade física.

O estresse....

A evolução criou o estresse para preparar o corpo para uma situação de emergência, como a estratégia permitiu a sobrevivência dos nossos antepassados, e ficou incorporada. O problema é que atualmente ao invés de usarmos só para emergência deixamos o mecanismo ligado o tempo todo. Segundo Suzana preocupações crônicas com salário, segurança, relacionamentos não estavam nos planos da evolução. Se o estresse dura mais de uma hora, o nível de cortisol se eleva demais e para de aumentar as defesas do corpo, causa hipertensão, impotência sexual, diminuição da fertilidade, aumento de peso e no cérebro desencadeia ansiedade e a depressão.

Pesquisas...

Um pesquisa desenvolvida pela equipe de Emma Adam, da Northwestern University, em Illinois verificou que pessoas que vão para a cama sentindo tristeza e solidão acordam com níveis altos do hormônio cortisol, o qual aumenta a energia e age como um estimulante do organismo. O hormônio cortisol ajuda o organismo a elevar os índices de açúcar no sangue, aumenta a pressão sangüínea e provoca mudanças no humor e na memória. Os níveis de cortisol são normalmente altos quando as pessoas acordam, aumentam durante os próximos 30 minutos e caem na hora de dormir. Assim, uma pessoa vai para a cama sentindo solidão e tristeza, recebe uma injeção de hormônio na manhã para dar a energia para enfrentar o dia. Assim, os mecanismos do estresse são programados para traduzir a experiência social em ação biológica. É como se os hormônios fossem condutores entre o mundo exterior e os nossos mundos internos de forma que possamos responder melhor ao nosso contexto social.
Uma pesquisa realizada pelo psiquiatra Vinicius Guandalini Guapo na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da USP verificou que a mulher reconhece mais expressões de emoções do que homens. As mulheres na fase menstrual, quando o estrogênio e a progesterona estão em baixa, reconheceram a raiva e a tristeza com mais precisão do que as mulheres em outras fases e do que os homens. Uma vez que o estrogênio se relaciona com a serotonina, um grande modulador de processamento de emoção. Esse é provavelmente o motivo pelo qual mulheres com queda abrupta de estrogênio têm maior risco de episódios depressivos e de ansiedade, como nas fases pré-menstrual, pós-parto e menopausa.
Hormônios sexuais femininos e transtornos do humor = http://www.ipub.ufrj.br/documentos/artigohormonio1_05.pdf