Série
Ensaios: Sociobiologia
Por Ana Carolina Kojima,
Aynara Cristiana, Marily Pascoaloto, Mirella Genso, Pedro Henrique Ramos, Ramon
Petry, Nadine Calzolari e Sofia Farhat; Thiago Fischer de Oliveira juraszek
A 04 de Agosto de 2017 foi vinculada na
revista Carta Capital uma notícia
sobre a agressão sofrida por um imigrante árabe residente no país há quatro
anos. Mohamed Ali, vendedor de esfihas em Copacabana (RJ), foi ameaçado de
agressão por um homem que gritava repetidas vezes frases xenofóbicas como:
“Saia do meu país”, “Nosso país está sendo invadido por esses homens bomba que
matam crianças”.
A respeito do ocorrido, Mohamed declarou em suas redes sociais:
“Fui humilhado, estou aqui há três anos (na época do ocorrido) e vim pro Brasil porque eles abriram as portas para todos
os refugiados. Todos os meus amigos estão trabalhando. Estamos trabalhando
arduamente.
Estou muito sentido porque nunca
pensei que isso pudesse acontecer comigo"" Vim com amor, porque os
amigos sempre diziam que o Brasil aceita muito outras culturas e religiões e as
pessoas são amáveis e todos os refugiados procuram paz. Não sou terrorista, se
eu fosse, eu não estaria aqui, estaria lá lutando como eles fazem".
Para
uma reflexão a respeito da xenofobia,
convido-lhe a um mergulho no mundo celular, entretanto sem humanizar células,
apenas (em um neologismo)
“celularizando” o homem. Assim como nas sociedades, o corpo humano precisa de
fatores de identificação. No meio
celular, a identificação do self
e nonself é realizada por
complexos proteicos presentes em todas as células nucleadas, chamado HLA-I.
Essas proteínas do HLA estão presentes no gene MHC (6p21.3), sendo a principal
responsável pela ativação celular de linfócitos T CD4 e/ou CD8 + (HLA-II e
HLA-I).
Em contextos infecciosos,
o antígeno ou microrganismo que adentraram
o corpo, são fagocitados localmente, pelos macrófagos ou outras células
fagocíticas, que possuem a capacidade de apresentar o antígeno aos linfócitos T
CD4+ e CD8+. Além disso, outros componentes da imunidade humoral e sistema
complemento podem ser ativados, assim como o tecido lesionado liberar compostos
quimiotáticos e/ou inflamatórios, mas focaremos apenas na imunidade celular. Ao
identificar que uma célula não pertence ao corpo, os linfócitos (T helper) ativados tendem a orquestrar a
imunidade no combate ao patógeno, antígeno, ou objeto invasor em questão.
Entretanto, o sistema nem sempre
funciona da maneira correta, seja por problemas genéticos ou ambientais,
podemos desenvolver as chamadas doenças autoimunes. E eis que chegamos ao cerne
da questão: da mesma maneira que células podem não reconhecer a semelhança em
seus HLAs o homem pode esquecer-se da alteridade, como observado no caso de
Mohamed. A falta de identificação com a causa alheia torna o homem mais
propenso a ataques desmedidos e suas “quimiocinas” podem chamar mais pessoas
para tal resposta.
É possível estabelecer paralelos
entre os eventos celulares, os grupos de espécies e suas disputas (por
território, por fêmeas, por alimentos, pela liderança) e as práticas
xenofóbicas entre grupos culturais.
Assim
como descrito por Sigmund
Freud e Le Bon, as massas tendem a perder a capacidade de autorreflexão
e agir de maneira até mesmo imoral pela causa coletiva. Nesse contexto, gera-se
a agressividade, que, biologicamente, está associada a uma ameaça e com
ativação do sistema nervoso simpático, no mecanismo de luta ou fuga. O cérebro
recebe o estímulo, mas a cognição o torna ameaçador, mesmo sem ser uma situação
de medo real, como no caso de Mohamed.
No caso do Brasil, tal situação
tende a se agravar, já que o país tem inúmeras dificuldades de assistência
hospitalar, educacional, na segurança pública, altas taxas de desemprego. Mais
uma vez, na comparação com as células, identificamos o estranho; como os chimpanzés, temos uma identidade no bando que se opõe àqueles que nos ameaçam!
Logo, geramos ataques aos estrangeiros.
Entretanto, somos dotados de cognição e a globalização
e a tecnologia permitem um avanço exponencial no número de indivíduos
pertencentes a nossa “aldeia”, assim sendo, é vital trabalhar a cognição e a
educação, a fim de evitar que essas situações de xenofobia voltem a ocorrer.
O presente ensaio foi
elaborado para disciplina de Etologia tendo como base as obras:
https://www.cartacapital.com.br/politica/saia-do-meu-pais-agressao-a-refugiado-no-rio-expoe-a-xenofobia-no-brasil
http://www.scielo.br/pdf/tce/v21n4/27.pdf
http://bdm.unb.br/bitstream/10483/1744/1/2011_FranciscoMatosdaSilva.pdf
http://ctcusp.org/pdf/references2000/37.pdf
http://www.scielo.br/pdf/eins/v13n1/pt_1679-4508-eins-1679-45082015RB3122.pdf
http://www.scielo.br/pdf/eins/2015nahead/pt_1679-4508-eins-1679-45082015RB3123.pdf
http://www.scielo.br/pdf/eins/v13n1/pt_1679-4508-eins-1679-45082015RB3122.pdf
http://www.scielo.br/pdf/eins/2015nahead/pt_1679-4508-eins-1679-45082015RB3123.pdf
http://www.scielo.br/pdf/abd/v79n6/a02v79n6.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbr/v55n3/0482-5004-rbr-55-03-0197.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbr/v55n3/0482-5004-rbr-55-03-0197.pdf