sábado, 19 de setembro de 2015

Igualdade Desigual

Séries Ensaios: Sociobiologia

Por: Gustavo da Silva Torres
Acadêmico do curso de Bacharelado em Biologia da PUCPR.

Em 1941, a aviadora russa Marina Raskova recebeu o comando de organizar um esquadrão composto exclusivamente de mulheres. Seja piloto, mecânica ou engenheira, o objetivo era que nenhuma posição fosse ocupada por homens. Infelizmente, logo encontraram problemas, seja pela inexistência de uniforme e equipamento apropriado para mulheres, ou pelo descaso com que eram tratadas pelos demais soldados, afinal de contas, na vista de muitos, estar na guerra era a função de homens.
Este caso de segregação e tantos outros, tem sido motivo de discussão constante com o passar dos anos; mas essa separação esta de todo errada? A observação de diferentes casos pode contribuir para o avanço em direção a um consenso.
Por um lado, podemos observar a separação presente em esportes, onde a maior produção de testosterona em homens (por volta de 10 a 20 vezes mais do que em mulheres), facilita o desenvolvimento de massa muscular, o que pode, em diversas categorias, gerar uma vantagem para o gênero masculino.
Porém, este é um aspecto que pode ser caracterizado simplesmente por sermos mamíferos, um grupo de animais onde é comum a ocorrência de machos maiores que fêmeas, consequência evolutiva do hábito predominantemente masculino de defender grupo e território, sendo que alguns animais, elefantes por exemplo, machos podem chegar a ter o dobro do peso das fêmeas. Este é um resultado da ocorrência constante em mamíferos, incluindo nosso antepassados, de um modelo familiar onde o macho é responsável pela proteção do grupo, de modo que um porte superior poderia contribuir na execução desta função.
Contudo, na vida em sociedade o aspecto físico não é o único a ser observado, deve-se também acompanhar as diferenças mentais, sendo este o maior ponto de debate. Diversas pesquisas apontam a diferença nos métodos de percepção entre os gêneros, denotando quais as porções do cérebro usadas e como estas estão conectadas, onde mulheres apresentam grande quantidade de conexões entre os hemisférios do cérebro, enquanto o homem apresenta uma maioria de interações cerebrais em pólos distintos. Mas em nenhum caso a morfologia cerebral é considerada um fator determinístico de comportamento, sendo contabilizada mais como um direcionador de reação e percepção.
Seriam então as diferenças comportamentais apenas um resultado da criação do indivíduo? Acabaríamos com as diferenças se quando crianças, meninos e meninas tivessem as mesmas experiências?
Não exatamente, já que em diversos fatores a resposta está ligada ao gênero. Psicólogos denotam que homens e mulheres respondem de forma diferente ao estresse, onde mulheres buscam ajuda, homens tendem a se isolar, além de reagirem a situações encontradas de forma diferente; Se confrontados com uma pessoa em problema, mulheres têm a tendência de confortar o indivíduo, enquanto homens apresentam uma preferência por buscar uma resolução para o problema.
Outro caso que contribui para demonstrar que o pensamento de gêneros diferentes não funciona da mesma forma, seria o fato de que homens apresentam o peculiar hábito de tomar atitudes mais arriscadas quando uma mulher está por perto, talvez um instinto reminiscente de nossos antepassados, onde tomar riscos poderia levar ao descobrimento de novas fontes de recursos ou afastar predadores.
E novamente, nenhum destes fatores apresenta uma limitação as capacidades de um indivíduo, então o que causa esta diferença? o que leva as pessoas a terem expectativa e atitudes diferentes?
Por fim, o regimento de bombardeios 588 da URSS, organizado por Raskova, a única mulher russa condecorada antes da segunda guerra mundial, e apelidado pelos esquadrões inimigos de bruxas da noite, obteve um  registro extenso de missões bem sucedidas, e  as pilotos receberam no total 23 medalhas de Heróis da União Soviética, a maior condecoração de honra possível na união soviética. Não seria isso uma prova de que gênero não é fator limitante? Ou que pelo menos podemos superar os limites que nos são colocados através de esforço e dedicação? Infelizmente, o hábito de segregar está presente na sociedade atual, e talvez, com novos descobrimentos e mais pessoas desafiando o padrão, conheçamos o que esta certo ou errado na divisão atual, já que a igualdade nem sempre é positiva, e como resultado, cheguemos a uma sociedade igual, porém justa.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia baseando-se nas obras:

Ingalhalikar, Madhura, et al. "Sex differences in the structural connectome of the human brain." Proceedings of the National Academy of Sciences 111.2 (2014): 823-828.

Shannon, Graeme, et al. "The consequences of body size dimorphism: are African elephants sexually segregated at the habitat scale?." Behaviour 143.9 (2006): 1145-1168.

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