Séries Ensaios: Sociobiologia
Por: Gustavo da Silva
Torres
Acadêmico do curso
de Bacharelado em Biologia da PUCPR.
Em 1941, a aviadora russa Marina Raskova recebeu o comando de
organizar um esquadrão composto exclusivamente de mulheres. Seja piloto,
mecânica ou engenheira, o objetivo era que nenhuma posição fosse ocupada por
homens. Infelizmente, logo encontraram problemas, seja pela inexistência de
uniforme e equipamento apropriado para mulheres, ou pelo descaso com que eram
tratadas pelos demais soldados, afinal de contas, na vista de muitos, estar na
guerra era a função de homens.
Este
caso de segregação e tantos outros, tem sido motivo de discussão constante com
o passar dos anos; mas essa separação esta de todo errada? A observação de
diferentes casos pode contribuir para o avanço em direção a um consenso.
Por
um lado, podemos observar a separação presente em esportes, onde a maior
produção de testosterona em homens (por
volta de 10 a 20 vezes mais do que em mulheres), facilita o desenvolvimento de
massa muscular, o que pode, em diversas categorias, gerar uma vantagem para o
gênero masculino.
Porém,
este é um aspecto que pode ser caracterizado simplesmente por sermos mamíferos,
um grupo de animais onde é comum a ocorrência de machos maiores que fêmeas,
consequência evolutiva do hábito predominantemente masculino de defender grupo
e território, sendo que alguns animais, elefantes por exemplo, machos podem
chegar a ter o dobro do peso das fêmeas. Este é um resultado da ocorrência
constante em mamíferos, incluindo nosso antepassados, de um modelo familiar
onde o macho é responsável pela proteção do grupo, de modo que um porte
superior poderia contribuir na execução desta função.
Contudo,
na vida em sociedade o aspecto físico não é o único a ser observado, deve-se
também acompanhar as diferenças mentais, sendo este o maior ponto de debate.
Diversas pesquisas apontam a diferença nos métodos de percepção entre os
gêneros, denotando quais as porções do cérebro
usadas e como estas estão conectadas, onde mulheres apresentam grande
quantidade de conexões entre os hemisférios do cérebro, enquanto o homem
apresenta uma maioria de interações cerebrais em pólos distintos. Mas em nenhum
caso a morfologia cerebral é considerada um fator determinístico de
comportamento, sendo contabilizada mais como um direcionador de reação e
percepção.
Seriam
então as diferenças comportamentais apenas um resultado da criação do
indivíduo? Acabaríamos com as diferenças se quando crianças, meninos e meninas
tivessem as mesmas experiências?
Não
exatamente, já que em diversos fatores a resposta está ligada ao gênero.
Psicólogos denotam que homens e mulheres respondem de forma
diferente ao estresse,
onde mulheres buscam ajuda, homens tendem a se isolar, além de reagirem a
situações encontradas de forma diferente; Se confrontados com uma pessoa em
problema, mulheres têm a tendência de confortar o indivíduo, enquanto homens
apresentam uma preferência por buscar uma resolução para o problema.
Outro
caso que contribui para demonstrar que o pensamento de gêneros diferentes não
funciona da mesma forma, seria o fato de que homens apresentam o peculiar
hábito de tomar atitudes mais arriscadas quando uma mulher está por perto,
talvez um instinto reminiscente de nossos antepassados, onde tomar riscos
poderia levar ao descobrimento de novas fontes de recursos ou afastar predadores.
E
novamente, nenhum destes fatores apresenta uma limitação as capacidades de um
indivíduo, então o que causa esta diferença? o que leva as pessoas a terem
expectativa e atitudes diferentes?
Por
fim, o regimento de
bombardeios 588
da URSS, organizado por Raskova, a única mulher russa condecorada antes da
segunda guerra mundial, e apelidado pelos esquadrões inimigos de bruxas da noite, obteve um registro extenso de missões bem sucedidas, e as pilotos receberam no total 23 medalhas de
Heróis da União Soviética, a maior condecoração de honra possível na união
soviética. Não seria isso uma prova de que gênero não é fator limitante? Ou que
pelo menos podemos superar os limites que nos são colocados através de esforço
e dedicação? Infelizmente, o hábito de segregar está presente na sociedade
atual, e talvez, com novos descobrimentos e mais pessoas desafiando o padrão,
conheçamos o que esta certo ou errado na divisão atual, já que a igualdade nem
sempre é positiva, e como resultado, cheguemos a uma sociedade igual, porém
justa.
O
presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia baseando-se nas
obras:
Ingalhalikar,
Madhura, et al. "Sex differences in the structural
connectome of the human brain." Proceedings of the National Academy of
Sciences 111.2 (2014): 823-828.
Shannon, Graeme, et al. "The consequences of body size dimorphism:
are African elephants sexually segregated at the habitat scale?." Behaviour 143.9 (2006): 1145-1168.
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