Por Marta Luciane
Fischer
Docente do Programa de
Pós-Graduação em Bioética PUCPR
Nas últimas semanas todas as redes sociais e as demais mídias têm
se referido ao caso “de
que cor é esse vestido?” Incluindo o telejornal
de maior repercussão nacional cujos apresentadores discutiam ao vivo qual
era a sua percepção. O caso começou com uma solicitação de ajuda postada por
uma jovem escocesa no TumblrSwiked
questionando se os amigos percebiam o vestido branco com dourado ou azul com
preto. Devido ao efeito de uma ilusão
de ótica a resposta não é unanime, o que gerou uma massiva participação - digna
dos contemporâneos virais que
atingem o milhões de internautas no mundo todo em poucas horas. Segundo
especialista o Bevil
Conway em entrevista à Wired, a percepção da cor do vestido varia com o
horário do dia. Embora a cor original seja azul e preto, o cérebro percebe como
branco e dourado, uma vez que visa descontar o viés cromático do eixo da luz,
uma vez que a luz muda de cor ao longo do dia - sendo rosada ao amanhecer, azul
e branco ao meio dia e avermelhada no pôr do sol.
Para mim o mais interessante de todo esse
movimento não é a surpresa com o efeito natural, como o ser humano não tem
controle de suas percepções e pode ser enganado pelo seu próprio cérebro – os quais
são pontos que dariam uma ampla discussão -
mas a memética por traz da questão. Participar, opinar, compartilhar e reconhecer
o assunto quando levantado na TV, na rádio, nas postagens, nas conversas... O evolucionista Richard Dawkins
introduziu a terminologia memes para fragmentos de pensamentos que são
transmitidos entre as pessoas – tal como vírus – e que ao se estabelecerem em
um determinado número de mentes – são perpetuados por gerações dando origem à
cultura. Esse tema é estudado pela original sociobiologia
e atual psicológica evolucionista. Com a consolidação e ampliação da internet e
das redes sociais a propagação viral foi muito mais eficiente, transformando-se
em uma verdadeira pandemia
mimética: Milhões de infectados em segundos! E o que representa esse fenômeno? Quando
a pessoa identifica o meme sente-se inserida socialmente e isso traz uma
sensação de pertencimento – uma das sensações mais desejadas pelos animais
sociais – e um norteador das buscas existenciais de um cérebro que tem uma
autonomia maior do que desejávamos. A
linguagem simbólica nos diferencia dos nossos próximos irmãos animais, uma vez
que nos permite conceituar objetos reais e questões subjetivas – as “ideias” formadas
por junções de símbolos são como elementos que permeiam as mentes – conectando-se
e desconectando-se – quando um novo conceito “entra” na mente ele procura
outros similares para ver um sentido naquilo que se conceitua. Esses fragmentos
de “ideias” ou memes é que nos dão a compreensão do que somos e do que os
outros são. Assim ao propagar um meme cria-se uma conexão. Contudo, vejo que o
fenômeno proporcionado pela impiedosa internet traz a sensação de conexão de
uma forma estrondosa, mas digamos, um tanto “artificial”, parece-me que faltam
outros elementos. Então, assim como a intensidade é imensa, a duração é
terrivelmente curta. Obrigando ao indivíduo estar atento ao que acontece
naquele momento! Pois se ele não compreende o que se diz por estar à parte do
meme, é excluído ou se sente excluído do grupo e se passa a compartilhar logo
após o momento do clímax, é taxado de chato e desatualizado. Uau novos softwares
em hardwares antigos... e assim segue a humanidade com seu paradoxo
existencial: como rodar uma mente tão moderna em um corpinho de 100.000 anos?
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