Por Renata Bicudo Molinari e Amanda Amorim
Zanatta
Mestranda e aluna
especial do Programa
de Pós Graduação em Bioética da PUCPR
“Ativistas retiram mais de 90 cães de casa no Uberaba” “Ativistas de três entidades
retiraram, na tarde desta segunda-feira (25), o último grupo entre mais de 90
cachorros que eram mantidos em uma pequena casa no bairro Uberaba,
em Curitiba. Os cães foram recolhidos em onze resgates desde o início de
novembro, segundo a Associação das Mulheres Vendedoras Autônomas do Paraná (AMVAP), que coordenou a
ação ao lado das ONGs “Salva Bicho”e “SOS
Animau” Curitiba.
De acordo com Lídia Peixer, da AMVPAR,
os animais ficavam em um pequeno terreno que continha canis deteriorados,
montes de entulho e uma casa em condições precárias. Eles eram alimentados por
uma mulher que, segundo a entidade, não mora mais no local e continuava
acumulando cães apesar de não ter mais condições de mantê-los” ... De acordo
com as entidades, os animais saudáveis foram encaminhados para hotéis caninos
da capital paranaense, onde as diárias, que custam por volta de R$ 20, são
financiadas pelas próprias instituições e suas parceiras. Outros foram levados
a uma chácara mantida por uma das ONGs. Já os mais debilitados foram levados a
clínicas veterinárias.”
A relação entre o ser
humano e os cães
se dá há pelo menos 10 mil anos, apesar da origem da domesticação ainda ser
controvérsia, indícios arqueológicos indicam que este fato começou no início da
prática da agricultura, cujos cães forneciam segurança, serviam de alimento ou
vestimenta e o homem lhes davam alimentos e algum tipo de proteção. A relação
entre o homem e o cão é de mutualismo e inúmeros estudos tem
mostrado a efetividade dos mesmos na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Porém,
abandono de animais domesticados se
constitui de um sério problema de saúde pública virtualmente para todas as
cidades do mundo (Detroit, Paris, Berlin, Nova Dheli, Tokyo, São Paulo). Essa problemática se
dá não só devido ao número elevado de procriações, que aumentam
significativamente o risco de transmissão de zoonoses e de possíveis acidentes provocados ou envolvendo esses
animais (como mordedura de animais e atropelamentos dos mesmos), mas também
pelo crescente aumento de pessoas que acabam desenvolvendo um transtorno mental
que as
leva a acumular animais. Um exemplo de pessoas que possuem esta condição,
comumente conhecido como “acumulação de animais”, foi o caso da “Casa dos Esqueletos”,
divulgado na mídia em novembro de 2013. A questão dos acumuladores pode ser
refletida pela associação de compulsão de acúmulo com o princípio da alteridade, uma vez que o
indivíduo não consegue se sensibilizar e a se identificar com a situação
daquele animal ou com a problemática que isso gera à sociedade, passando a acreditar
que está auxiliando não só àqueles seres tirados das ruas, mas também a
sociedade como um todo, sem perceber que está, na realidade, criando um novo
problema e gerando dor e angústia aos animais e causando um incômodo ainda
maior para os moradores próximos devido ao forte cheiro no ambiente, ao barulho
e ao aumento do risco de transmissão de zoonoses devido ao grande número de
animais vivendo em situações precárias de higiene e saúde. Logo, a responsabilidade acerca da problemática
dos animais errantes e dos acumuladores, deveria ser de toda a sociedade e de
seus governantes.
No mundo existem cerca de quinhentos milhões de cachorros, porém cerca de 75% deles estão nas
ruas expostos a todo tipo de doenças, maus-tratos,
fome, sede e às intempéries. Estes dados nos leva a pensar sobre a incongruência da relação entre
humanos e animais não-humanos. Se por um lado os amamos, os mimamos e os
exibimos orgulhosos, por outro nos desfazemos deles no primeiro problema de
saúde, cocô no tapete ou conforme a idade começa a afetá-los. Vivemos em uma
sociedade cuja cultura ainda é antropocêntrica e utilitarista e as pessoas acabam, muitas vezes, adquirindo animais por impulso,
status ou como objeto para presente. Porém, quando este animal não corresponde
às expectativas desejadas pelos “tutores”, eles os descartam. Além de políticas públicas de castração e
vacinação, há ainda a necessidade da conscientização da
população, através de educação ambiental, sobre tutela consciente/responsável e sobre a importância da castração e de não se deixar o animal dar a
famosa “voltinha” sozinho.
O número crescente de abandonos e maus-tratos superam e muito a capacidade
de ONGs, protetores independentes e abrigos de
animais que muitas vezes acabam superlotados, com escassez de alimento e demais
recursos para manter de forma adequada os animais resgatados e contam com
pouquíssima ajuda da sociedade e do governo. As pessoas costumam se distanciar
do problema, atribuindo a responsabilidade sobre os animais errantes aos
protetores, exigindo que estes tomem atitudes para retirar os animais do local,
dar-lhes tratamento e afastá-los de suas vistas. Já que, as incomoda ver seu
sofrimento, mas não querem ter que se envolver realmente com aquilo. No
caso da “Casa dos esqueletos”, mais de 90 cães foram retirados de uma casa no
bairro de Uberaba sob condições precárias de segurança, saúde e alimentação. A
senhora de 52 anos, locatária da casa onde os animais eram mantidos, alega que
começou a recolher cães das ruas quando seu filho faleceu e, por se tratar de
um transtorno mental
onde, na maioria dos casos, o indivíduo não têm condições de tomar decisões racionais e
de tomar conta de si próprios, sendo considerados indivíduos vulneráveis e requerendo atenção e
cuidados, que foram oferecidos pela Secretaria da Saúde de Curitiba que está proporcionando
a ela assistência psicológica. Por sua vez, os animais errantes também se
enquadram no princípio da
vulnerabilidade,
pois ficam suscetíveis às doenças, maus-tratos, fome, sede e expostos às
variações climáticas. Segundo a descrição da protetora
Lídia Peixer (AMVAP),
os animais do caso aqui relatado estavam desnutridos, “em pele e osso” segundo
Lídia, o que deu o nome ao lugar – Casa dos Esqueletos – alguns estavam à beira
da morte, muitos se alimentavam de excrementos. Em esforço
conjunto da Associação das Mulheres
Vendedoras Autônomas do Paraná (AMVAP), do grupo “Salva Bicho” e da ONG “SOS Animau” de
Curitiba que, mesmo sem a autorização judicial para retirada dos animais,
invadiram a casa onde eram mantidos os cães resgatando-os, exemplo do princípio da alteridade
existente por parte dos protetores
envolvidos com a causa em relação aos animais. A
Rede de proteção animal, através de uma
pesquisa sobre acumuladores de animais patrocinada pela Fundação Araucária, já identificou cerca de 130 casos de
acumulação até setembro de 2013, o que indica a necessidade de mais programas
de conscientização da população sobre tutela responsável e programas eficazes
de castração e vacinação dos animais errantes.
Nós, como futuras bioeticistas,
acreditamos que, o especismo e as leis relacionadas a proteção animal tiverem
penalidades tão leves, continuaremos a ver casos de maus-tratos, abandono e
descaso relacionados aos animais não-humanos. Já existe no Paraná e São Paulo
políticas públicas que visam atender psicológica e fisicamente (com a retirada
de entulhos e animais e a limpeza do local) pessoas com o distúrbio de
acumulação, associado a isso, tem-se que haver também campanhas frequentes e
bem elaboradas de conscientização da população a respeito desta problemática e
também sobre tutela consciente, como denunciar situações de acumulação e
maus-tratos/abandono de animais e quais as leis e consequências para quem
comete tais atos. Como diz nossa Constituição, os animais não-humanos são dever
do Estado, mas também são um dever de toda a sociedade, uma vez que nossa
espécie optou por domesticá-los e os tornar dependentes de nós.
O presente ensaio foi
realizado para a disciplina de Temas de Bioética e Bem-estar animal, tendo como
base as seguintes obras:
ASSOCIAÇÃO DAS MULHERES VENDEDORAS AUTÔNOMAS DO PARANÁ
(AMVAP). Disponível em: <
https://www.facebook.com/www.associacaoamvap.com.br> Acesso em 25 nov 2014.
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