sábado, 13 de agosto de 2011

O sentido da linguagem

Essa semana discutimos na disciplina de Etologia – tanto na Psciologia quanto na Biologia - o papel dos sentidos na determinação dos comportamentos. Refletimos sobre a importância de cada um deles pra nós e para outros animais. Um ponto interessante foi que falamos bastante sobre o papel da linguagem simbólica na nossa evolução e justamente no final da semana fui presenteada com uma excelente, surpreendente e fascinante palestra de Gabriel Perissé promovida pela Editora Champagnat da PUCPR. Perissé proporcionou uma viagem ao meu passado, quando os livros eram meus melhores amigos. Não que não sejam hoje! A diferença é que hoje na fila de leituras obrigatórias estão os livros técnicos, artigos, Teses, TCC, reportagens, notícias... e aqueles deliciosos romances e poesias que de fato propiciavam o auto-conhecimento ficaram mais distantes. Na “minha época” os filmes não eram tão acessíveis, então líamos, tínhamos que exercitar o cérebro para criar todos cenários e emoções associados com os símbolos que entravam pela nossa retina - invertidos obviamente - acionando diferentes regiões do cérebro. Hoje nos filmes as imagens estão prontas, as emoções então prontas. Precisamos apenas sentar na frente da imagem e absorver. Será que o cérebro fica mais preguiçoso?

E a linguagem simbólica? Para cada objeto (orgânico ou não) presente nesse mundo temos muitos mecanismos sensoriais relacionados. Uma criança antes de apresentar a sua linguagem verbal apresenta reações comportamentais análogas a mamíferos superiores como primatas, golfinhos e cães. Tudo começa a mudar a partir dos dois anos. Até lá os processos mentais são de fato muito parecidos com os outros animais? Elas conhecem os objetos, associam a eles lembranças, sentimentos, utilidades, variações e um som que o representa, ou seja, o nome de cada um deles que pode obviamente variar com o idioma e com a cultura. Opa! Os animais também se comunicam com sons! Claro que sim... mugidos, latidos, rangidos, cantos, assovios... obtidos por estruturas especiais como a siringe das aves ou apenas por percussão como o ranger de estruturas corporais, como faz o grilo. Hoje a tecnologia nos permite reconhecer diferentes sons numa mesma espécie e até mesmo características individuais, inclusive em invertebrados como aranhas.

Voltando para o ser humano, os eventos evolutivos que nos fez assumir uma postura bípede, também modificou nosso aparato fonológico e permitiu que pudéssemos criar sons muito mais refinados por dar mais espaço para movimentação da língua. Hum! Agora coco e cocô não têm o mesmo sentindo, embora os sons sejam muito parecidos. Será que o ser humano começou a falar nesse momento? Eu acredito que não, pra mim que os nossos ancestrais tinham muito pra falar, só não tinham como! Nesse ponto começa uma luta desigual com os outros animais.

O segundo passo foi a necessidade de exteriorizar o que se passava na mente. Fico imaginando o homem da caverna povoado de pensamentos, medos, anseios, imaginação e tudo ali dentro... até que descobriram que poderiam colocá-los nas paredes de suas cavernas, descobriram tintas – de excelentíssima qualidade, diga-se de passagem – e começaram a falar com os seres que viviam em suas mentes. Agora nesse momento como uma criança que já associa ao objeto a forma, utilidade, som audível, som executado (associando movimentos musculares do aparelho fonador) associa também um símbolo abstrato! É o começo da linguagem escrita. Desse ponto foi um pulo criar “desenhos” que denominados de letras para representar “simbologicamente” sons. e logo em seguida associar mais o movimento dos musculos dos braços e mãos envolvidos no desenho do símbolo, com tudo que já estava pronto! O homem não precisa mais guardar apenas na sua cabeça as suas lembranças, idéias, sonhos.... ele cria um cérebro externo, um cérebro coletivo! Olhando o ponto de vista animal, parece tão desleal! Como posso competir de igual para igual com outras espécies, se elas só têm o seu cérebro, e nós criamos os livros. Como diz Perissé, quando colocamos nossa mente no papel, nunca mais morremos. A mente dos chimpanzés morre... ele pode até deixar seus genes e o ensinar o que aprendeu para seus descendentes, mas e tudo o que viveu? tudo o que sentiu? Nunca saberemos....

Vocês podem estar se perguntando se os animais podem se comunicar por linguagem simbólica? Claro que podem, basta o homem ensinar e eles aprendem a associar processos mentais a símbolos e dizerem as suas vontades... sugiro lerem Alex e euLink e O parente mais próximo e a conhecerem um pouco dos trabalhos desenvolvidos na USP pela equipe por prof. Cesar Ades com animais como a cadela Sophia. Os resultados são fantásticos. E fica a pergunta: os animais não falam nada por que não tem nada pra dizer (como diria o cãozinho do JETA) ou por que não têm como? É óbvio que nós biólogos, veterinários, zootecnólogos, psicólogos e as milhares de pessoas que convivem com animais - conseguimos aprender um pouquinho como compreender o que passa na mente dos animais. E se eles pudessem falar e escrever?(veja o vídeo da Pambinisha no final)

As neurociências já mostraram que ao lermos, acionamos regiões do cérebro que nos permite a viver uma situação como se fosse real. Quando pensamos acionamos a linguagem verbal, a qual embora seja associada a nosso racional, não podemos esquecer que a maior parte das interações nossas outros indivíduos é determinada ainda pela linguagem não verbral (sugiro verem o seriado Lie to me). Termino essa reflexão com a minha ídola Temple Grandin, uma estudiosa do bem-estar animal que tem um tipo de autismo que não permite pensar com palavras, apenas com imagens e ela acredita que seja assim que os animais vêm o mundo.

Enfim... já que a natureza nos brindou com a linguagem simbólica e os livros além de nos trazer conhecimento, é uma oportunidade para vivermos tantas vidas em uma única. Vamos aproveitar! Boa Leitura! Novamente agradeço a Ana Barros pela oportunidade!




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