Diga-me com que andas.... e.. Se não andas com ninguém... E sabereis o que eres e se eres feliz!

A revista superinteressante através de Camilla Costa publicou uma matéria bem bacana e um start para várias reflexões: a amizade pode trazer ou tirar a saúde, riqueza e felicidade. O plano de fundo da reportagem foi uma pesquisa da Universidade Harvard iniciada em 1937 com o intuito de acompanhar - através de exames e entrevistas -milhares de pessoas das mais diferentes idades, raças e credos - a fim de compreender quais são os fatores mais importantes para saúde e bem-estar. Depois de 80 anos de coleta de dados, a conclusão foi surpreendente: o fator que mais afetou na saúde das pessoas não foi dinheiro, genética, rotina ou alimentação, mas sim amizade!

Que nós somos animais extremamente sociais já sabemos, logo a aptidão social foi algo determinante na sobrevivência dos nossos ancestrais, assim, alcançá-la nos faz “sentir gostosinho” e automaticamente isso reverte em melhores condições de bem-estar. Evolutivamente a amizade surge em animais sociais para ajudar nas lutas contra rivais, na aquisição de alimentos e no cuidado com os filhotes, sendo essas relações mediadas pelo hormônio ocitocina. A ocitocina é produzida durante o orgasmo, a contração uterina e a amamentação, mas também pode ser produzida quando olhamos a face de um filhote. A amizade nos hominídeos sempre foi fundamental, porém alguns estudiosos acreditam que a fixação da vida em aldeias e vilas, a cerca de 10.000 anos - com a invenção da agricultura - foi mais efetiva, devido a necessidade da colaboração. Então, hominídeos com maiores níveis de ocitocina formaram alianças mais facilmente, maximizando a sobrevivência. O fato das mulheres produzirem mais ocitocina do que o homem faz com que seu cérebro se organize para ter amizades profundas, porém são menos tolerantes. Joe Quirk no seu gostoso livro sobre a evolução do comportamento sexual humano (ver lista ao lado) traz uma visão bem interessante: a mulher se sente atraída pela popularidade do macho. Levando em consideração que evoluímos de tribos semi-nômades, as riquezas que uma pessoa era capaz de reunir se resumia aquilo que ela conseguia carregar ou fazer outros carregarem pra ela. Melhor do que ter objetos era ter pessoas dispostas a lhe fazer favores, isso refletia no papel de liderança e automaticamente tinha acesso aos melhores recursos. Assim, o ninho do homem se tornou mais social do que material, e os hominídeos passaram a competir menos por território do que por posições na hierarquia social, sendo os territórios e as posses símbolos do prestigio social. A atenção da tribo é uma espécie de território psíquico, no qual se faz a colheita dos recursos, que os animais cooperativos precisam para sobreviver: a fama! Nesse cenário, ter amigos é fundamental! Segundo a pesquisa, laços fortes de amizade aumentam a expectativa de vida em até 10 anos, previne uma série de doenças e ajuda mais do que contato com familiares, no entanto, tem um número mínimo: 4 amigos!. Segundo o aspecto biológico da interpretação do comportamento, esse mecanismo se deve ao hormônio ocitocina, que além de estimular as interações, reduz os batimentos cardíacos e a pressão sanguínea e melhora o sistema imunológico.

Um ponto interessante pontuado pela pesquisa foi que amizades mais recentes são mais relevantes do que as antigas, pois a ocitocina dá o impulso inicial às relações e, depois de algum tempo, cede o lugar para o sistema da memória, que age mais rápido. Por isso, tão importante quanto ter amigos do peito é fazer novas amizades durante toda a vida. No entanto, é mais fácil fazer amizades quando somos jovens (reparem que os adolescentes vivem para os amigos!), isso é devido a ocitocina ser produzida mais na juventude. Pessoas mais velhas dedicam menos de 10% do tempo aos amigos em favor de outros interesses que no final do processo não revertem nos mesmos resultados que os amigos poderiam trazer. Uma análise interessante mostrou que ganhar um amigo equivale a receber R$ 134 mil a mais de salário anual. Ou seja, por menos que isso, não vale a pena trocar momentos com seus amigos por hora extra no trabalho. Segundo as pesquisas, quem tem um amigo no trabalho se sente 7 vezes mais envolvido com o que faz, 50% mais satisfeito e até duas vezes mais contente com o pagamento que recebe.

Os amigos têm mais poder sobre as suas atitudes (obesidade, tabagismo, felicidade) do que qualquer outra pessoa, como cônjuge ou familiar. A explicação biológica é a existência de neurônios-espelho, que simulam automaticamente uma ação na nossa cabeça quando vemos alguém executá-la. A explicação etológica: como os homens primitivos precisavam fazer alianças para trabalhar juntos na produção de alimentos a amizade provavelmente tenha sido classificada como prioridade absoluta pelo cérebro. Deve-se lembrar que os amigos fazem bem (ter um amigo contente aumenta a sua chance de ficar feliz em 15,3%), mas também podem fazer mal (cada amigo triste resulta em 7% de chance de colocar o outro para baixo).

Um estudo feito na Universidade de Oxford comparou o tamanho do neocórtex humano com o de outros primatas, cruzando com dados sobre a organização social e chegaram a conclusão a que o número máximo de amigos que uma pessoa consegue ter ao mesmo tempo é de 150, pois é o limite para o cérebro arquivar informações importantes sobre cada uma delas. Ressalva-se que o tamanho médio dos grupos do período neolítico, dos clãs da sociedade pré-industrial, das menores cidades inglesas no século 11 e, até hoje, de comunidades camponesas tradicionais como os amish não ultrapassa as 150 pessoas, confirmando a hipótese.

Atualmente muitas amizades são feitas e reforçadas virtualmente através da internet. Inúmeras pesquisas têm investigado o real e importante papel da ferramenta na manutenção da amizade. Segundo esses dados A internet raramente cria amizades do zero - na maior parte dos casos potencializa relações reais. Todos os estudos apontam que amizades geradas com a internet são mais fracas, pois ainda precisamos estar próximos das pessoas para sentirmos os efeitos benéficos das amizades profundas. Porém, outras evidências têm mostrado que parece que o cérebro pode estar começando a se adaptar, pois um estudo que está sendo realizado na Universidade da Califórnia, tem verificado que ao usar o Twitter, há estimulo da liberação da oxitocina diminuindo os níveis de hormônios como cortisol e ACTH, associados ao estresse. Isso significa que o cérebro pode ter desenvolvido uma nova maneira de interpretar as conversas no Twitter, como sendo presenciais. Poderia ser uma adaptação evolutiva ao uso da internet, ou algo natural e esperado tendo em vista a plasticidade com a qual a natureza nos presenteou?.

Veja a matéria completa: http://super.abril.com.br/cotidiano/amizade-coisas-mais-importantes-nossas-vidas-619643.shtml

http://super.abril.com.br/cotidiano/como-internet-esta-mudando-amizade-619645.shtml

http://super.abril.com.br/cotidiano/fazemos-amigos-619642.shtml