quinta-feira, 28 de abril de 2011

HOMOSSEXUALISMO – OPÇÃO, ESTRATÉGIA OU EVOLUÇÃO?

Ana Luiza D. M. Furlanetto, Fernanda Groth, Jéssica Jansen e Priscila Crete

Graduandas do Curso de Biologia - PUCPR

P

or que animais se dedicariam a comportamentos sexuais que não resultariam em sua reprodução, não produzindo descendentes que poderiam perpetuar a sua herança genética? Entender parte dos mistérios associados com as alterações genéticas e fisiológicas com esse tipo comportamento é o objetivo desse ensaio.

Em uma abordagem interacionista, considera-se que a orientação sexual é resultado da interação de fenômenos que têm lugar aos níveis genético, epigenético (fatores biológicos não-genéticos) e mêmico que são comportamentos que sofrem intensas ações culturais (FORASTIERI, 2006).

Estudos filogenéticos mostram que o comportamento homossexual não é recente. Segundo Moreira Filho (2008) a homossexualidade é tratada na história desde os primórdios da humanidade até os dias atuais, não é algo ‘moderno’, e mesmo antes de Cristo já se verificavam a existência de relações homossexuais. Como, na nossa espécie, o comportamento homossexual estar associada à manutenção da coesão social e no fortalecimento das relações entre indivíduos de uma mesma população. Um possível exemplo desse comportamento seriam as interações entre os guerreiros de Esparta, na Grécia antiga (BORGES, 2010). O “desacoplamento do comportamento sexual da mera reprodução, quando o sexo ganhou funções sociais diversas para os grupos humanos” (FORASTIERI, 2006). Porém alguns pesquisadores duvidam da teoria da relação social, demonstrando o exemplo de pingüins gays que negam copular com fêmeas, se unindo com outro macho para a vida toda. Uma quantidade significativa de trabalhos científicos vem confirmando que a homossexualidade permanente ocorre tanto em espécies monogâmicas e não monogâmicas.

Uma das preocupações em estudar por meio de comparações o homem e os animais é a garantia em separar os comportamentos homólogos e análagos como é o caso, por exemplo, certos vermes marinhos (Moniliformis dubius) cometem o chamado ‘estupro homossexual’. Os primatas apresentam comportamento sexual aparentemente homólogo ao comportamento homossexual humano como penetração anal, monta, masturbação mútua ou não, felação e contato genital. Esse comportamento é apresentado mais notavelmente entre jovens geralmente em jogos de submissão e dominância. (FORASTIERI, 2006). Logo mostrar a base biológica e identificar os fatores que os selecionaram é uma das grandes questões. (FORASTIERI, 2006).

Deve-se salientar no entanto que o comportamento sexual dos macacos, não incluem elementos cognitivos para a caracterização da orientação sexual, pois o comportamento homossexual exclusivo é um fenômeno ainda não observado em primatas não-humanos. (FORASTIERI, 2006). Porém tanto a homossexualidade como a bissexualidade são comuns no reino animal (GORDON, 2007), no entando a motivação para esse comportamento ainda não é compreendido na sua totalidade. Segundo o pesquisador Bagemihl (1999), em seus estudos de comportamento sexual de quase 1500 espécies, essa atitude nem sempre é ligada ao sexo. Em uma exposição “Homossexualidade animal”, no Museu de História Natural de Oslo, dizem que muitas vezes sexo é uma questão de prazer, ao invés de procriação, e que isso se aplica a animais do mesmo sexo, assim como os sexos opostos.

Os Bonobos têm uma sociedade matriarcal, incomum entre os símios, é uma espécie completamente bissexual. Tanto os machos como as fêmeas realizam atos tanto heterossexuais como homossexuais. Aproximadamente 60% da atividade sexual da espécie são entre duas ou mais fêmeas. Esses primatas fazem sexo para resolver conflitos, pedido de desculpas, ou para obtenção de prazer. Passam boa parte do dia se estimulando, e sexo oral é extremamente comum. As fêmeas possuem clitóris bem maior do que a das humanas, atingem o orgasmo com extrema facilidade.

Petter Bockman descreveu o

comportamento de girafas, onde 9 de 10 girafas faziam o emparelhamento entre machos. Cada macho que cheirava uma fêmea era identificada como sexo, enquanto as relações anais com orgasmo entre machos mostravam quem possuía maior dominância ou saudações. Em aves, por exemplo, pode ser uma estratégia de garantir a sobrevivência da espécie, como ocorre em cisnes negros, onde se formam trios temporários para se conseguir ovos das fêmeas e depois os machos a expulsam, pois são casais monogâmicos e os animais ficam anos juntos. Um número maior de cisnes cresce mais nestas circunstâncias, sobrevivendo até a fase adulta, do que se fossem criados por heterossexuais. Assim os dois machos podem defender uma área maior de terreno. Nos flamingos, dois machos podem manter um território muito mais do que um par heterossexual, garantindo mais a sobrevivência da espécie.

Os golfinhos-nariz-de-garrafa também é uma espécie bissexual, utilizam o seu “nariz de garrafa” para estimulação das genitálias dos colegas, com isso pode-se fortalecer as amizades. Os bisões americanos montam em seus pares para reforçar a hierarquia, tanto macho com macho, em que pode até haver penetração, mostrando a dominância bem como a montaria entre fêmeas, sendo esse mais raro. Outro fator que estimula o comportamento homossexual na espécie é a falta de opção. Se o acesso às fêmeas é difícil (e elas só estão disponíveis para o acasalamento uma vez por ano), sobra para outro macho desprevenido que estiver por perto.

Como mencionado nos exemplos anteriores, os estudos atuais, vem apontando a função do comportamento homossexual como pacificadora do grupo, seja evitando agressão, criando escalas de submissão ou formando alianças. Ou seja, tudo indica que a homossexualidade está estreitamente ligada à evolução de comportamentos sociais mais complexos, provavelmente agindo como redutora da agressividade entre machos. Se aceitamos os primatas atuais como grupos de comportamentos semelhantes ao nossos ancestrais e levarmos em conta a nossa complicada relações sociais é bem provável que tenhamos um dos maiores índice de homossexualidade (FORASTIERI, 2006).

A criança que futuramente será um homem homossexual apresenta mais características de submissão do que de feminilidade na infância. Não há, contudo, uma relação necessária entre atipicidade de gênero na infância e orientação homossexual (FORASTIERI, 2006). Porém os homossexuais podem ser os portadores genéticos de alguns dos raros impulsos altruísticos da humanidade, um comportamento nitidamente benéfico e importante na organização social humana primitiva. (WILSON, 1981).

VANTAGENS DA HOMOSSEXUALIDADE

*diminuir as tensões e a agressividade e auxiliar na manutenção da coesão social e no fortalecimento das relações entre indivíduos de uma mesma população.

*Esse comportamento pode também auxiliar na criação da prole desses animais, facilitando a alimentação e proteção dos filhotes. É provável que a formação desses casais também confira aos animais proteção contra predadores e um maior sucesso na caça de suas presas. Assim, esse tipo de comportamento estaria associado com um processo de seleção consanguínea.

*Uma explicação alternativa alega que esse comportamento diminuiria agressões e conflitos entre sexos. Um exemplo é observado nos peixes mexicanos Girardinichthys multiradiatus, que simulam a aparência de fêmeas para evitar a agressão de machos maiores e, ao mesmo tempo, garantir o acesso a fêmeas.

*Uma interação interessante entre indivíduos do mesmo sexo é observada entre cobras-garter (Thamnophis sirtalis parietalis). Nesses animais, alguns machos mimetizam o tamanho, os comportamentos e os ferômonios de fêmeas para poderem atrair outros machos e, assim, obter aquecimento e proteção.

Essa propriedade homófilica, exemplo, homem com características masculinas gostar de homem com características masculinas, pode ser a chave do significado biológico. A homosexualidade é acima de tudo uma forma de união; sendo assim coerente com maior parte do comportamento heterossexual. Essa predisposição para a homofilia poderia vem apresentando com uma base genética e esses genes tendo-se espalhado nas sociedades primitivas, nos leva a concluir que é devido a vantagem que conferia e que é um de alguma forma ‘natural’ (WILSON, 1981). E a sua alta freqüência seria improvável que esta venha sendo resposta de uma mutação aleatória (FORASTIERI, 2006).

Como um traço da homossexualidade pode ser tramsmitido? Se é: (1) ligado de alguma forma ao gene (2) tem um impacto negativo sobre o sucesso reprodutivo.

Se os homossexuais estavam tendo tantos filhos quanto os heterossexuais, com a mudança nas relações sociais na atualidade, pode ser que o traço tenha sua freqüência gradativamente diminuída nas populações humanas. Porém esse(s) gene(s) devem trazer alguma outra vantagem para ter conseguido ser mantido ao longo das gerações. Entre as vantagens hipotéticas sugeridas, encontram-se as seguintes:

(1) Vantagem do heterozigoto: Alelos deletérios para reprodução em homozigose podem persistir caso haja vantagem seletiva para o heterozigoto. Machos tendem a exercer relações de dominação nos grupos em que vivem, de forma que animais excessivamente dominantes em tantos conflitos que suas chances de sobrevivência e reprodução bem sucedida poderiam ser diminuídas. Assim, poderia ser vantajosa para alguns indivíduos uma tendência de dominação moderada como os Heterozigotos para esse(s) gene(

A homossexualidade pode vir por um desvio comportamental ou genético, em que o indivíduo, homem ou mulher tornar-se homossexual durante o desenvolvimento intra-uterino, em que um dos fatores principais é a quantidade de testosterona (hormônio masculino) que será recebido pelo feto, determinando numa fase mais madura se o seu sexo será oposto, ou tenderá ao seu (MOREIRA FILHO, 2008; NETO, 2008; DIAMOND, 1999). Os reais efeitos da testosterona e seus derivados químicos variam segundo a idade, órgão e a espécie. Mesmo assim, a diferença genética total entre homens e mulheres é modesta, apesar das grandes conseqüências a que dá origem. O feto pode ser feminino, e por inibição do sinal de bloqueio do hormônio, o bebê continua recebendo a testosterona como se fosse do sexo masculino, e assim o indivíduo nascerá com o corpo de mulher, porém com uma mentalidade masculina, o oposto também ocorre (DIAMOND, 1999).

Sergey Gavrilets e William Rice, da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, têm estudado os genes que podem influenciar o homossexualismo humano. Esses pesquisadores têm observado que esse comportamento, como seria de se esperar, é bastante complexo e está associado com um grande número de genes. Mas ainda não é possível apontar, para a nossa espécie, razões adaptativas associadas a esse comportamento. E para além de eventuais fatores biológicos que possam estar associados à orientação sexual na espécie humana, devemos ter sempre em mente que ela é influenciada também por inúmeros fatores ambientais e pela história de vida de cada indivíduo.

Nesse sentido, a compreensão dos papéis dos diversos tipos de relacionamentos entre indivíduos do mesmo sexo e a adaptação ecológica e evolutiva das populações nas quais esse fenômeno ocorre pode enriquecer a nossa compreensão sobre como a seleção natural molda as interações sociais, a reprodução e mesmo a morfologia das espécies.

(2) A persistência de genes que, de certa forma, contribuíssem para a homossexualidade seria causada, para alguns pesquisadores, pelo altruísmo das pessoas homossexuais.

Segundo Wilson (1981), fundador da sociobiologia, homossexuais poderiam ser portadores genéticos de impulsos altruísticos raros na espécie.

(3) Alelos ligados ao cromossomo X, que confeririam maior vantagem reprodutiva a fêmeas do que a machos, também foram considerados como possíveis fatores relacionados à homossexualidade. Estudos relatam que, geralmente, as pessoas não-heterossexuais têm parentes não-heterossexuais do lado materno, ou seja, é uma herança materna.

Já analisados então as possíveis causas para a manutenção de uma base genética para a homossexualidade durante a evolução (a questão adaptativa), vamos então partir para analise das contribuições dos estudos sobre fatores genéticos associados ao traço (a questão estrutural).

Uma das maneiras mais utilizadas para analisar a participação de componentes biológicos e ambientais é o estudo em gêmeos. Quando comparada a hereditariedade dos genes homossexuais entre irmãos o componente genético se mostra forte: Em relação à determinação genética para a orientação sexual, uma vez que gêmeos dizigóticos e irmãos não-gêmeos do sexo masculino deveriam apresentar as mesmas proporções de concordância, e não diferenças tão grandes como as relatadas (de 24% para 13%). Logo, pode-se argumentar, nesta base, que um componente ambiental deve estar fortemente implicado no desenvolvimento do traço, pois 43% dos gêmeos monozigóticos, mostrado discordância para a orientação sexual. Logo, fatores ambientais podem ter sido a causa de tal discordância.

A compreensão da contribuição genética, hormonal, neurofisiológica e social para a orientação sexual humana tem se acumulado, nas últimas décadas. Alguns estudos que analisam a orientação sexual de gêmeos monozigóticos, dizigóticos e irmãos adotivos indicam que a tendência à homossexualidade possui um componente hereditário e poderia conferir ganhos adaptativos, pelo menos para homossexuais masculinos.

Há indícios da ocorrência de uma associação entre a homossexualidade e genes presentes no braço longo do cromossomo X (Xq28). Brian Mutanski, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH), realizou um estudo com 456 indivíduos de 146 famílias que possuem dois ou mais irmãos homossexuais. Os resultados indicam que várias regiões dos cromossomos não sexuais também influenciam o comportamento homossexual. Contudo, a equipe de Mutanski não observou uma associação entre a região Xq28 e a homossexualidade (BORGES, 2010).

Pesquisas com a mosca da fruta, mostram que nessa espécie, uma das alterações mais estudadas ocorre no gene conhecido como genderblind (algo como ‘cego para o gênero’, em inglês), associado com os níveis extracelulares de glutamato. Esse neurotransmissor regula o processamento da informação feromonal nos neurônios cerebrais dos machos de drosófila, e a alteração torna esses insetos incapazes de distinguir indivíduos do sexo oposto (BORGES, 2010).

A associação entre homossexualidade e ativação por feromônios também está no foco de vários pesquisadores, como, por exemplo, Ivanka Salic, da Universidade Kariolisnka (Suécia). Segundo Salic, nos cérebros de homossexuais do sexo masculino, há regiões ativadas em resposta os derivados da testosterona, e que apresentam propriedades similares às dos feromônios. E no caso das mulheres derivados do estrogênio (BORGES, 2010).

Ainda há enorme desconhecimento em relação a características genéticas e às numerosas influências do ambiente sobre a orientação sexual de cada indivíduo. Apesar da enorme complexidade associada às manifestações comportamentais em nossa espécie, algumas das hipóteses citadas anteriormente para justificar relações homossexuais entre animais podem ser também aventadas para explicar esse comportamento entre os humanos (BORGES, 2010).

Esse ensaio foi elaborado na disciplina de Etologia e baseado nos textos abaixo:

BBC NEWS - Oslo gay animal show draws crowds. Outubro de 2006. Disponível em: http://news.bbc.co.uk/2/hi/6066606.stm. Acessado em 4 abril de 2011.

BRUCE BAGEMIHL. Biological Exuberance: Animal Homosexuality and Natural Diversity, St. Martin's Press, 1999.

BORGES, Jerry Carvalho. Os segredos no fim do arco-íris. Revista Ciência Hoje. Junho de 2010. Disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/por-dentro-das-celulas/os-segredos-no-fim-do-arco-iris/?searchterm=Os segredos no fim do arco-íris. Acesso em 13 Abril de 2011.

DIAMOND, J. M. Por que o sexo é divertido? A Evolução da Sexualidade Humana. P 49 – 50. 1999.

Encyclopedia Encydia beta. Disponível em: http://pt.encydia.com/es/Homosexualidad_em_animais. Acessado em 29 de março do 2011.

Folha.com – Galinha choca donos ao ‘mudar de sexo’ no Reino Unido. Publcado em: 01 de abril de 2011. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/bbc/896915-galinha-choca-donos-ao-mudar-de-sexo-no-reino-unido.shtml. Acessado 02 abril de 2011.

Folha.com – Golfinho faz sexo gay para manter amigo; veja ranking animal. Publicado em: 20 de agosto de 2010. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/785884-golfinho-faz-sexo-gay-para-manter-amigo-veja-ranking-animal.shtml. Acessado dia 02 de abril de 2011.

FORASTIERI V. Orientações Sexuais, Evolução E Genética. 2006. Candombá – Revista Virtual, v.2, n. 1, p. 50-60.

GORDON, DR DENNIS ‘Catalogue of Life’ reaches one million species. National Institute of Water and Atmospheric Research.

MOREIRA FILHO, F. C. A Homossexualidade e a Sua História. 2008. Disponível em: http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1645/1568. Acesso em: 18 abril 2011.

NETO, A. V. L. História da Homossexualidade. 2008. Disponível em: http://www.revistaladoa.com.br/website/artigo.asp. Acesso em 19 abril 2011.

WILSON, E.O. Da natureza humana. São Paulo: EDUSP, 263p. 1981.

domingo, 17 de abril de 2011

Diga-me com que andas.... e.. Se não andas com ninguém... E sabereis o que eres e se eres feliz!

A revista superinteressante através de Camilla Costa publicou uma matéria bem bacana e um start para várias reflexões: a amizade pode trazer ou tirar a saúde, riqueza e felicidade. O plano de fundo da reportagem foi uma pesquisa da Universidade Harvard iniciada em 1937 com o intuito de acompanhar - através de exames e entrevistas -milhares de pessoas das mais diferentes idades, raças e credos - a fim de compreender quais são os fatores mais importantes para saúde e bem-estar. Depois de 80 anos de coleta de dados, a conclusão foi surpreendente: o fator que mais afetou na saúde das pessoas não foi dinheiro, genética, rotina ou alimentação, mas sim amizade!

Que nós somos animais extremamente sociais já sabemos, logo a aptidão social foi algo determinante na sobrevivência dos nossos ancestrais, assim, alcançá-la nos faz “sentir gostosinho” e automaticamente isso reverte em melhores condições de bem-estar. Evolutivamente a amizade surge em animais sociais para ajudar nas lutas contra rivais, na aquisição de alimentos e no cuidado com os filhotes, sendo essas relações mediadas pelo hormônio ocitocina. A ocitocina é produzida durante o orgasmo, a contração uterina e a amamentação, mas também pode ser produzida quando olhamos a face de um filhote. A amizade nos hominídeos sempre foi fundamental, porém alguns estudiosos acreditam que a fixação da vida em aldeias e vilas, a cerca de 10.000 anos - com a invenção da agricultura - foi mais efetiva, devido a necessidade da colaboração. Então, hominídeos com maiores níveis de ocitocina formaram alianças mais facilmente, maximizando a sobrevivência. O fato das mulheres produzirem mais ocitocina do que o homem faz com que seu cérebro se organize para ter amizades profundas, porém são menos tolerantes. Joe Quirk no seu gostoso livro sobre a evolução do comportamento sexual humano (ver lista ao lado) traz uma visão bem interessante: a mulher se sente atraída pela popularidade do macho. Levando em consideração que evoluímos de tribos semi-nômades, as riquezas que uma pessoa era capaz de reunir se resumia aquilo que ela conseguia carregar ou fazer outros carregarem pra ela. Melhor do que ter objetos era ter pessoas dispostas a lhe fazer favores, isso refletia no papel de liderança e automaticamente tinha acesso aos melhores recursos. Assim, o ninho do homem se tornou mais social do que material, e os hominídeos passaram a competir menos por território do que por posições na hierarquia social, sendo os territórios e as posses símbolos do prestigio social. A atenção da tribo é uma espécie de território psíquico, no qual se faz a colheita dos recursos, que os animais cooperativos precisam para sobreviver: a fama! Nesse cenário, ter amigos é fundamental! Segundo a pesquisa, laços fortes de amizade aumentam a expectativa de vida em até 10 anos, previne uma série de doenças e ajuda mais do que contato com familiares, no entanto, tem um número mínimo: 4 amigos!. Segundo o aspecto biológico da interpretação do comportamento, esse mecanismo se deve ao hormônio ocitocina, que além de estimular as interações, reduz os batimentos cardíacos e a pressão sanguínea e melhora o sistema imunológico.

Um ponto interessante pontuado pela pesquisa foi que amizades mais recentes são mais relevantes do que as antigas, pois a ocitocina dá o impulso inicial às relações e, depois de algum tempo, cede o lugar para o sistema da memória, que age mais rápido. Por isso, tão importante quanto ter amigos do peito é fazer novas amizades durante toda a vida. No entanto, é mais fácil fazer amizades quando somos jovens (reparem que os adolescentes vivem para os amigos!), isso é devido a ocitocina ser produzida mais na juventude. Pessoas mais velhas dedicam menos de 10% do tempo aos amigos em favor de outros interesses que no final do processo não revertem nos mesmos resultados que os amigos poderiam trazer. Uma análise interessante mostrou que ganhar um amigo equivale a receber R$ 134 mil a mais de salário anual. Ou seja, por menos que isso, não vale a pena trocar momentos com seus amigos por hora extra no trabalho. Segundo as pesquisas, quem tem um amigo no trabalho se sente 7 vezes mais envolvido com o que faz, 50% mais satisfeito e até duas vezes mais contente com o pagamento que recebe.

Os amigos têm mais poder sobre as suas atitudes (obesidade, tabagismo, felicidade) do que qualquer outra pessoa, como cônjuge ou familiar. A explicação biológica é a existência de neurônios-espelho, que simulam automaticamente uma ação na nossa cabeça quando vemos alguém executá-la. A explicação etológica: como os homens primitivos precisavam fazer alianças para trabalhar juntos na produção de alimentos a amizade provavelmente tenha sido classificada como prioridade absoluta pelo cérebro. Deve-se lembrar que os amigos fazem bem (ter um amigo contente aumenta a sua chance de ficar feliz em 15,3%), mas também podem fazer mal (cada amigo triste resulta em 7% de chance de colocar o outro para baixo).

Um estudo feito na Universidade de Oxford comparou o tamanho do neocórtex humano com o de outros primatas, cruzando com dados sobre a organização social e chegaram a conclusão a que o número máximo de amigos que uma pessoa consegue ter ao mesmo tempo é de 150, pois é o limite para o cérebro arquivar informações importantes sobre cada uma delas. Ressalva-se que o tamanho médio dos grupos do período neolítico, dos clãs da sociedade pré-industrial, das menores cidades inglesas no século 11 e, até hoje, de comunidades camponesas tradicionais como os amish não ultrapassa as 150 pessoas, confirmando a hipótese.

Atualmente muitas amizades são feitas e reforçadas virtualmente através da internet. Inúmeras pesquisas têm investigado o real e importante papel da ferramenta na manutenção da amizade. Segundo esses dados A internet raramente cria amizades do zero - na maior parte dos casos potencializa relações reais. Todos os estudos apontam que amizades geradas com a internet são mais fracas, pois ainda precisamos estar próximos das pessoas para sentirmos os efeitos benéficos das amizades profundas. Porém, outras evidências têm mostrado que parece que o cérebro pode estar começando a se adaptar, pois um estudo que está sendo realizado na Universidade da Califórnia, tem verificado que ao usar o Twitter, há estimulo da liberação da oxitocina diminuindo os níveis de hormônios como cortisol e ACTH, associados ao estresse. Isso significa que o cérebro pode ter desenvolvido uma nova maneira de interpretar as conversas no Twitter, como sendo presenciais. Poderia ser uma adaptação evolutiva ao uso da internet, ou algo natural e esperado tendo em vista a plasticidade com a qual a natureza nos presenteou?.

Veja a matéria completa: http://super.abril.com.br/cotidiano/amizade-coisas-mais-importantes-nossas-vidas-619643.shtml

http://super.abril.com.br/cotidiano/como-internet-esta-mudando-amizade-619645.shtml

http://super.abril.com.br/cotidiano/fazemos-amigos-619642.shtml