Na verdade a ideia não é nova, há muito tempo sabemos que a descoberta do fogo foi um grande marco na nossa evolução, porém esse mês Ana Carolina Prado assina uma matéria superinteressante na superinteressante que mostra a publicação de uma nova teoria para explicar a rápida evolução humana. O autor é Richard Wrangham, um antropólogo de Harvard, pesquisador e provador dos hábitos alimentares de chimpanzés no Gombe, verificou que os primatas consumiam alimentos excessivamente amargos, duros e fibrosos e
que lhe deixava com fome o dia inteiro. No ano passado publicou o livro chamado “Pegando Fogo - Por Que Cozinhar Nos Tornou Humanos” lançado agora no Brasil, no qual defende que nós não apenas começamos a cozinhar bem antes de nos tornarmos humanos como nos tornamos humanos por causa do consumo de alimentos cozidos. Na verdade, a forma como o fogo foi descoberto é um grande mistério, uma vez que comportamentos não são fossilizados. O que se acredita até então é que faíscas produzidas sem querer pelo atrito entre duas pedras ou através de um raio tenha despertado a curiosidade de nossos ancestrais. Provavelmente esse fato ocorreu a quase 2 milhões de anos atrás (ainda com o
Homo erectus), só lembrando que nossa espécie (
Homo sapiens) tem cerca de 200 mil anos. A grande sacada foi quando algum hominídeo passou a usar o fogo não apenas para aquecer e iluminar, mas também para cozinhar. A partir desse momento a digestão ficou muito mais fácil, além da eliminação de microorganismos, sendo possível ter alimentos mais saudáveis e retirar mais energia dos mesmos, uma vez que o calor quebra as moléculas, fazendo com que suas ligações internas se enfraqueçam e fiquem mais expostas à ação das enzimas digestivas. Assim, desapareceu a necessidade de ter bocas, maxilares, estômagos e intestinos muito grandes. Toda a energia anteriormente dispensada na digestão passou a ser direcionada para o desenvolvimento do nosso cérebro. Outro ponto evolutivo favorável foi o aprimoramento do comportamento social, pois a comida cozida trouxe a economia de tempo (se tivéssemos a dieta de um chimpanzé deveríamos ficar cerca de 5 horas do nosso dia mastigando, contra os 36 minutos atuais), assim o cozimento uniu as pessoas ao redor do fogo (que também protegia contra o frio e predadores) e estimulou a socialização, permitindo que se sentissem mais confortáveis umas com as outras, reduzindo a agressividade. O autor também acredita que o cozimento foi um impulsionador da monogamia, pois como cozinhar demanda tempo e trabalho, colocaria a cozinheira solitária exposta a ladrões famintos. Logo, laços conjugais resolviam o problema e resultavam em vantagem para os dois lados. A mulher não teria os alimentos roubados, e o marido garantia uma refeição quando voltasse para casa - e ambos teriam a certeza de um parceiro sexual.
Na nossa sociedade atual existe um movimento denominado de crudívoro – constituído por pessoas que voluntariamente optam por uma dieta crua por acreditar que terão uma saúde melhor, porém os contrários a essa ideia acreditam que à medida que a proporção de alimentos crus aumenta na dieta, o índice de massa corporal (a relação entre o peso e a altura de uma pessoa) diminui, podendo o adepto perder 10 quilos ao passar de uma dieta cozida para uma dieta crua. Isso não é totalmente bom, pois além de comprometer o estoque de energia, parece afetar na função reprodutiva
Entrevista com o autor: http://sergyovitro.blogspot.com/2010/05/entrevista-richard-wrangham.html
Contato com autor: http://www.iq.harvard.edu/people/richard_wrangham
Sinopse do Livro: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?isbn=9788537801963&sid=911108179121211545948214011
Entrevista com um Crudívoro: http://www.centrovegetariano.org/Article-425-Entrevista%2Bao%2Bcrud%25EDvoro%2BLu%25EDs%2BGuerreiro.html
Veja a matéria completa da Super: http://super.abril.com.br/ciencia/panela-viemos-614296.shtml
Estou participando de um projeto que visa elaborar um pequeno curso (10 horas/aula) para jovens e adultos cujo tema é "Alimentação e Saúde". Como História é a minha disciplina, este texto veio muito a calhar. Já tinha lido a entrevista do primatólogo na Folha de São Paulo, mas achei inacesível para o público em questão. A versão deste blog ajudou a resolver a questão. Parabéns e obrigado.
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