Por Natalia Aline Soares Artigas
Bióloga, Pós-Graduada em Educação Ambiental e Mestranda
do curso de Bioética da PUCPR
No ano passado o Zoológico do Rio
de Janeiro fechou as portas para visitação do público, o caso foi notícia em
janeiro e segundo o site do UOL o zoológico foi fechado pelo IBAMA (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) devido às más
condições de funcionamento do local.
Em Curitiba, o zoológico é bem
movimentado,
principalmente em finais de semana e feriados, quando a população aproveita
para passear com os filhos e a família, se divertir e ter um dia animado. Mais
será que é possível ter contato com a natureza e não prejudicá-la? Nós podemos
conhecer os animais ou se aproximar deles sem que sejam prejudicados?
A utilização de animais para
entretenimento vem de muito tempo, eles foram
utilizados em circo, como forma de divertimento, até em arenas para matar
gladiadores. Nós, ao vermos os animais, sentimos um prazer enorme, seu tamanho,
suas cores, seu jeito, nossa aproximação, tudo isso nos impressiona. Esse
sentimento vem de muito tempo e compõe um processo denominado de Biofilia pelo Biólogo
Edward Wilson. A Biofilia se constitui da necessidade do ser humano de entrar
em contato com as outras formas de vida, sendo esta determinante para sua saúde
biopsicossocial. É possível analisar essa aproximação apenas observando pessoas
passeando pelos parques da cidade, porém, esse mesmo ser que está ali passeando
é aquele que destrói a natureza em pequenos gestos, sem respeitá-la.
Como seres conscientes ou não, será
que conseguimos identificar qual é a nossa relação com a natureza? O que
sentimos por ela? Se damos o devido respeito que ela merece? Pela Teoria de Kohlberg sobre o
desenvolvimento moral das pessoas é possível analisar em qual etapa do
desenvolvimento nós estamos, sendo que, segundo alguns estudiosos de sua teoria,
nós podemos estar em vários níveis ao mesmo tempo se colocarmos em prática dilemas diferentes do
nosso cotidiano. Essa teoria sugere seis estágios de raciocínio moral, que é
distribuído em três níveis (pré-convencional, convencional e pós-convencional),
no primeiro nível a pessoa é mais egoísta e visa os seus interesses; no
segundo, o ser humano segue as leis impostas pela sociedade; e no terceiro
nível visa-se a igualdade, sendo este quase impossível para a grande maioria da
população, onde um dos exemplos seria o Buda.
Além de sabermos qual é o nosso nível moral para determinadas
situações, é importante darmos outras soluções de substituição para essa
dependência da natureza. O contato com os animais e com a natureza pode
acontecer de outras formas, alguns zoológicos, por exemplo, já apresentam
melhores formas de preservação dos
animais
mesmo em cativeiro, com um recinto
maior e tentando fazer com que os animais não vejam e nem escutem os “chamados”
dos humanos e também com enriquecimento
ambiental
que leva ao bem-estar animal.
O Parque das Aves é um exemplo de
local onde nós podemos andar entre os animais sem que eles
estejam presos
em uma pequena jaula como na maioria dos zoológicos. Outra opção são os Parques Temáticos em que não apenas
os animais que conhecemos são representados em estátuas e podem se movimentar,
mais também outras espécies que não conviveram com os seres humanos (dinossauros) ou até aqueles
que fazem parte da nossa imaginação. Claro que existe
uma característica em comum entre esses dois últimos exemplos citados, que é o
fato de o visitante precisar pagar um ingresso para conhecer esses ambientes,
isso não seria tão ruim se pensarmos que dessa forma as pessoas teriam mais
cuidado e mais respeito dentro de um ambiente mais diversificado, é o caso do Zoológico de Gramado, um dos melhores do Brasil que
segundo o próprio site do zoo “traz um novo conceito de zoológicos, bem-estar
animal, pesquisa, educação e conservação ambiental”.
Eu como bióloga, educadora ambiental
e mestranda do curso de Bioética, acredito que essas opções são viáveis e uma
boa estratégia para substituir a exibição de animais. Não estou dizendo para
extinguirmos os zoológicos, pois a educação ambiental e a conservação
dos animais é essencial para sua não extinção, porém, o ideal é um ambiente
adequado para sua sobrevivência, com espaço amplo, que se assemelhe com seu
habitat, alimentação adequada e enriquecimento ambiental, além disso, se a
visitação for controlada de alguma forma os animais não irão apresentar
estereotipias. Além do mais, a ética nos diz que animais não humanos são seres
sencientes que não apresentam capacidade de se defender, isso se constitui em implicações morais que devem ser
analisados com a ajuda da bioética ambiental.
O presente ensaio
foi elaborado para o Programa de Pós-Graduação em Bioética da PUCPR, baseando-se
nas seguintes fontes: