Palestra proferida durante I Seminário de Sexo, Amor e
Relacionamento
Promoção: Centro de Estudos do Comportamento – CESCOMP
31/05/2014
Ai o amor!.... Uma sensação tão almejada; um processo mental
compartilhando entre todas as culturas e durante toda a história da humanidade;
Um tema amplamente pesquisado pelos neurocientistas, fisiologias, geneticistas,
psicológicos e filósofos; A inspiração para a maior parte das músicas, poemas,
livros e filmes... A paixão e o amor mudam
a percepção de nós mesmos, nos sentimos abençoados e olhamos a humanidade de
cima, pensando em como deve ser triste passar pela vida e não amar.... Mas de
que amor estamos falando? Existem diferentes tipos de amor: o amor romântico, o
amor maternal, o amor altruísta, o amor pelo material. Na verdade embora exista
diferentes tipos de amor as estruturas cerebrais e os mecanismos envolvidos na
ativação dos comportamentos - seja por receptores e neurotransmissores - são os
mesmos e estão relacionados à evolução das espécies e os novos arranjos sociais
que demandaram vínculos cada vez mais fortes.
Vamos
inicialmente falar então do amor romântico. O amor romântico identificado em
todas as culturas humanas está relacionado ao comportamento reprodutivo... e como
comportamento reprodutivo não entendem-se apenas sexo, mas também: cortejo,
cópula, oviposição/gestação/cuidado parental e altruísmo.
Será o amor um
produto da evolução com intuito de promover a sobrevivência das espécies?
Deve-se considerar que o sexo é considerado uma estratégia reprodutiva cara,
uma vez que demanda gasto energético tanto na produção de gametas quanto nas
estratégias para combiná-los. É comum que animais que não reproduzem viverem
mais, tanto em vermes com mutação, quanto com aranhas. Na aranha-marrom, o
macho virgem pode viver meses, se copula morre poucos dias depois. Além disso
deve-se considerar que o tempo gasto na busca de parceiro poderia ser utilizado
em outras atividades, o animal em cópula pode ser presa fáceis, além dos riscos
de morte envolvendo disputas e a própria idade.
Além disso, a
reprodução sexuada está relacionada com o surgimento da morte
. O sexo e a
origem da morte! Isso mesmo! A reprodução assexuada surgiu primeiro. No
início os seres vivos se reproduziam assexuadamente, contudo em algum momento
da história alguém “inventou” a reprodução sexuada. Não há sombras de dúvidas que essa foi uma das
melhores invenções para promoção da diversidade, e provavelmente, seja o ponto
que diferencia nosso planeta de outros onde a vida pode ter surgido e continua
até hoje na forma de microrganismos. Antes da invenção do sexo, a reprodução
assexuada fazia dos indivíduos seres imortais, pois cada vez que os marcadores
internos de processos de manutenção do organismo se deteriorassem – partindo do
princípio que todos temos um “tempo de vida útil” – eles criavam uma cópia de
si mesmo e começavam tudo de novo. Obviamente que poderia haver mutações
decorrentes do processo, mas mesmo assim propiciava uma diversidade bem menor
do que aquela obtida pela reprodução sexuada. A reprodução assexuada ainda
existe em nós quando constantemente renovamos nossas células, contudo usamos a
reprodução sexuada na formação de um novo ser. A partir do momento que dois
indivíduos decidiram trocar suas informações para formarem um novo ser, esse
novo ser era apenas metade dele, a outra metade contava com uma boa escolha
para o fruto ser muito melhor do que os progenitores. Porém, quando o tempo dos
progenitores acabasse a combinação de genes que o compunha acabava e ela
desapareceria da Terra como a efemeridade de uma fragrância.
Mas
será que nós humanos ainda mantemos padrões instintivos de estratégias sexuais
bem consolidadas na nossa jornada evolutiva? Ou será que temos controle sobre
nossas escolhas de como viver a nossa vida? A literatura nessa área é
vastíssima, há muito e muito tempo a humanidade tem se preocupado em entender o
que rege a sua vida amorosa, pesquisas biológicas, sociológicas, psicológicas,
evolutivas, filosóficas.... Mesmo sabendo disso tudo, ainda somos extremamente
vulneráveis ao que nosso corpo pede! Será que somos movidos por estratégias
reprodutivas relacionadas com nosso desenvolvimento baseado na monogamia intermediada
pela traição?
Para
fazermos um tour por esse universo precisamos incialmente compreender a química
da paixão e que tudo o que envolve essa temática, tanto em nós como nos demais
animais é movida por três elementos: o biológico relacionado com tudo que é
físico, fisiológico, hormonal, nervoso, glandular, muscular, ou seja, tudo que
é corpo, tudo que é mensurável, tudo que produzido pelo nosso organismo e para
tal demanda que haja uma codificação genética, uma fórmula pré-concebida – que
irá colocar em ação uma cascata bioquímica determinantes do nosso
comportamento. A biologia entra nesse cenário para explicar “como” o
comportamento ocorre. O elemento etológico se refere à história, tudo que
nossos antepassados passaram e os que fixaram e promoveu a sobrevivência. Esse
passado envolve tanto o homem primitivo como os demais animais. A etologia
explica “porque” é dessa forma, mesmo que para a humanidade não faça sentido,
diante da modernidade, para nosso corpinho de 100.000 anos é assim mesmo que é
interpretado. E por fim, os elementos psicológicos, que tem a ver com as
características individuais de cada pessoa, suas experiências e vivências que
faz com que o estímulo que dispare todo o mecanismo seja personalizado e as
torne única.
Pra
entendermos melhor, vamos então aos “porquês”. A primeira coisa que deve ficar
claro é a diferença entre paixão e amor e seus papéis no contexto reprodutivo. Amor
e paixão são biologicamente movidos por combinações e tipos de substâncias
químicas distintas, justamente por terem funções distintas em cada uma das
fases do comportamento reprodutivo. A paixão é biológica, irracional e
instintiva. É modelada por hormônios do grupo das catecolaminas que tem ação
semelhante às anfetaminas. Qualquer um que já tomou medicamento para emagrecer
que continha essa substância pode facilmente relatar seu principal efeito:
aumento de atividade! O organismo sobre o efeito dessas substâncias fica totalmente
ligado e cheio de energia. Mas porque isso aconteceria com os animais? Simples!
A primeira coisa que precisa ficar claro é que por mais simples e instintivo
que seja o animal eles não copulam com qualquer um, é necessário que haja uma
identificação e uma motivação para tal. Tanto machos quanto fêmeas possuem
capacidades seletivas, embora isso varie em grau dependendo da espécie. A
questão é que a natureza coloca nos animais padrões para identificação da tampa
da sua panela. Muitas vezes esses referenciais são biológicos mesmo, e nós
respondemos a eles inconscientemente. Porém, em espécies que detêm um
componente forte do aprendizado – como nós e os mamíferos superiores - pode
haver uma agregação de critérios e valores condicionados à experiência prévia
determinando os estímulos que desencadearão o gatilho da paixão, mesmo que
ainda seja realizado inconscientemente. Enfim, o fato é que quando encontramos
a pantufa velha para nosso pé cansado nosso corpo reage com um forte sinal de
alerta, afinal não é fácil encontrar um parceiro em potencial mesmo em grandes
aglomerações. O ser em estado de paixão
se sente único, pensa obsessivamente no outro, mostra sinais de dependência
emocional, sente ciúmes, medo de rejeição, ansiedade de separação, reordena
suas prioridades. São sentimentos incontroláveis e irracionais. Nesse momento
hormônios são acionados para direcionarem toda a atenção para o alvo em
potencial, e uma criteriosa mas extremamente rápida avaliação é feita.
Diferentes sinais corporais são usados pelos milhões de espécies existente no
nosso planeta, mas em geral são expressões físicas que denunciam a saúde e
potencial reprodutivo. No mundo natural, um bom sistema imunológico é
fundamental, pois será ele que possibilitará maior ou menor chance de
sobrevivência da tão amada prole e cujo investimento não pode ser em vão. Desta
forma, se faz tão necessário o cortejo, é nesse momento em que as primeiras
impressões são comprovadas através de rituais fixados. Quanto mais impressões
forem comprovadas, mas catecolamninas são produzidas e cada vez mais as
atenções se direcionam para o ser especial. Nesse momento para quê comer? Para
que dormir? Nada mais importa apenas ter a minha alma gêmea só pra mim. A
paixão é um desequilíbrio orgânico total, que só se restaura na presença do ser
amado. Muitos hormônios estão envolvidos nessa fase dentre eles a adrenalina,
cortisol, testosterona, estrogênio, dopamina, noroadrenalina e serotonina. A
dopamina tem papel no humor, afeto, motivação, prazer e recompensa. A duração
do cortejo também depende das espécies, enquanto em algumas precisam de apenas
poucos minutos de exibição de vigor físico e atributos genéticos e materiais
são suficientes, outras como os albatrozes namoram por sete anos. A visão
clássica da etologia via esse momento como uma associação harmoniosa entre o
casal, consolidando ligações e identificação. Atualmente a etologia é menos
romântica e avalia toda interação como um conflito de interesses, em que cada
indivíduo visa proporcionar o seu reequilíbrio. Usando diferentes estratégias
para induzir o outro a satisfazer seus desejos num emocionante jogo de
manipulações.
Para
compreender como funciona o mundo biológico da sedução é fundamental determinar
os papéis dos sexos e na maioria das espécies, o fato da fêmea possuir o gameta
muito maior do que o macho e com um investimento enérgico maior, faz com que o
recurso seja mais valioso e, assim, deve avaliar melhor a possível reprodução,
principalmente em espécies com cuidado parental ou mamíferos que devem carregar
os filhotes dentro do próprio corpo, tornando-se mais vulneráveis às doenças ou
predação. Acredita-se que a competição
ao longo do tempo em busca da maior quantidade de espermatozoides, foi
sequencialmente aumentando em número e diminuindo em tamanho. Ressalva-se,
obviamente, que existem exceções.
A seleção
sexual é baseada em recursos genéticos ou materiais. Obviamente que se a fêmea
possui um bom território e dá conta de se alimentar e de cuidar sozinha da sua
prole, ela vai selecionar o macho pelos genes. Porém, se a fêmea é totalmente
dependente ela vai preferir um macho com um bom território e disposto a abrir
mão da sua liberdade para ajudar a cuidar do seu filhote. Na maioria das
espécies há um balanço desses dois critérios, contudo algumas são bem
extremistas. Embora a fêmea seja o sexo mais interessado na seleção, o macho
também atribui valor às fêmeas, principalmente quanto a disponibilidade de
fêmeas é alta. Se a proporção for diferente ou a qualidade das fêmeas for
desigual poderá desencadear a competição e disputa, muitas vezes ritualizadas,
que serve como mais um critério para seleção.
As fêmeas
sofrem muito na natureza quando tem que escolher, principalmente quando sabem
da responsabilidade da escolha. Então, normalmente as fêmeas têm dificuldade
nesse quesito. A natureza deu uma atribuição muito séria, saber se aquele macho
é o correto e se vale a pena doar seu valioso óvulo, e aí vem o dilema:
acasalar e errar e ter que arcar sozinha com erro condenando toda sua
existência ou esperar e correr o risco de não encontrar outro. A avaliação do
macho pode ser dar por presunção quando se usa os denominados sinais sexuais
honestos, na realidade esses sinais já foram determinados ao longo da evolução
e hoje instintivamente e inconscientemente o casal avalia a sua saúde e
capacidade reprodutiva. Esses sinais em geral são indicativos de um bom sistema
imunológico e dentre eles podemos destacar:
Os ferômonios
sem dúvida se constituem de peça fundamental no jogo do amor de todas as
espécies, mesmo em nós que diminuímos muito nossa capacidade olfativa. Embora
as mulheres possuam uma capacidade maior do que o homem e tenham ovulação
oculta, os homens podem ficar mais ciumentos, afetivos, carinhosos e amorosos
dependendo da fase da ovulação da parceira. Os animais possuem uma impressão
digital de cheiro, são odores que estão relacionados com o sistema imunológico,
detector de vírus e bactérias. Quando o casal se cheira o corpo faz uma análise
bioquímica testando a compatibilidade genética, quando mais parecidos forem em
termos de MHC mais repulsa haverá, pois a prole desse casal pode nascer com uma
baixa variabilidade imunológica e ser muito susceptível à doenças e infecções.
Assim, quando maior a diferença, maior a atração. Inúmeros testes já foram feitos em que
pessoas sentiam o cheiro de camisas suadas e escolhem as que mais agradam. O
MHC também está presente na saliva, assim a cada beijo, uma bateria de testes
são feitos confirmando, ou não, que suas primeiras impressões estavam corretas.
Sem dúvida nenhuma que o beijo é o momento mais erótico do sexo, e tão
importante, que é renegado por aqueles que não querem se envolver. Ressalva-se
que o beijo tem outras funções, principalmente nas fases posteriores a
avaliação do parceiro. Um detalhe importante é que o uso de pílulas anticoncepcionais
pode diminuir os sinais sexuais bem como a recepção. Pesquisas mostram que o
cheiro do androstenol pode modificar a química corporal da mulher tornando-as
mais relaxadas, podendo até estimular a liberação do óvulo. O sêmen possui
açúcares, aminoácidos, colesterol, enzimas, proteínas, muco, testotorena,
estradiol, opióides, oxitocina, prolactina e protaglandinas que deixam menos
deprimidas, mas tem que ser sem camisinha. O consumo da carne pelo homem
diminui a atratividade. O interessante que em homossexuais ocorre atração pelo
odor do mesmo sexo. Odores de mulheres lactantes também estimula a ovulação. O
estradiol – determinante para fertilização, mesmo que a fêmea ovule – é
detectado pelo homem e determinante da atratividade.
Dentre os
sinais honestos destaca-se também a coloração, os machos de aves geralmente são
mais coloridos, mostrando sua saúde no brilho das penas e mostrando sua
habilidade de sobrevivência mesmo atraindo os predadores. Na espécie humana há
hipóteses que os homens preferem as loiras e os olhos azuis. As explicações
estariam no primeiro caso relacionado como uma forma mais certa de identificar
a idade, como as fêmeas mais jovens são as preferidas por causa do potencial
reprodutivo, assim que envelhece os cabelos loiros escurecem com a idade; é uma
mutação que atraiu por ser diferente, e se alastrou. Já cabelos longos, é um
registro honesto do que comeu, do estresse e de doenças e inclusive se já teve
filho, além de promover os odores. Já olhos azuis deixam a pupila mais
evidente, assim os machos conseguem detectar o interesse da fêmea, As mesmas
teorias dizem que as fêmeas já preferem os olhos mais escuros, pois sinais
muito evidentes de desejo sexual, pode constrangê-las. Também é reconhecido que
a cor vermelha é atraente. Os sons emitidos também demostram saúde. Pesquisas
mostram a importância do tom da voz, por isso machos e fêmeas possuem timbres
distintos que estão relacionados com a quantidade de testosterona e estrogênio
marcando a masculinidade e feminidade. Pesquisas mostram que durante a ovulação
a frequência da voz feminina fica mais atraente para os machos.
A simetria
indica que eficiência no início da reprodução – divisão do embrião – e isso
demonstra a boa qualidade dos gametas e maior chance de sucesso, principalmente
relacionado com sistema imunológico. No caso de aves a simetria da cauda, por
exemplo, também é um elemento de habilidade de voo. Em humanos inúmeros estudos
com preferência já foram realizados mostrando a importância da simetria. Essa
proporção perfeita é conhecida como proporção áurea e explorada por artistas em
busca de uma ética perfeita. Dizem que os homens preferem os seios grandes,
pois assim como o cabelo loiro seria um bom sinal de idade, pois não se
sustentam com a idade. Porém a simetria de proporção dos músculos e entre as
partes do corpo, como o quadril nas mulheres, também são considerados como
sinais honestos. As curvas e proporção permite avaliação a longas distâncias. A
altura e comprimento das pernas são bons critérios de saúde uma vez que pernas
curtas indicam mais possibilidade de doenças cardiovasculares e obesidade, fato
que torna salto alto sensual. Já mulheres preferem homens altos, apenas 1% é
mais alta. Há teóricos acreditam que esteja relacionado com tamanho do pênis.
Muitas fêmeas
avaliam a força do macho e automaticamente a habilidade do macho em cuidar dela
e da sua prole, através da “pegada”. Isso se aplica também em humanos, sendo a
linha entre uma boa pegada e uma agressão muito tênue e muitas vezes difícil da
mulher perceber. Segundo muitas
pesquisas a avaliação da beleza se centra em três quesitos: a normalidade
(familiaridade e tem a ver com o local onde se cresceu), a simetria
(estabilidade evolutiva) e o dimorfismo (nível hormonal). A testosterona é
responsável pelas mandíbulas e maçãs do rosto proeminentes, sobrancelhas mais
grossas, narizes maiores, olhos menores e lábios mais finos, pelos faciais.
Assim rostos masculinos mais rudes sinalizam além de um bom sistema
imunológico, maior fertilidade de status social. Já o estrogênio modela os
traços finos femininos, lábios grossos e voz aguda. Mulheres robustas possuem três vezes de
engravidar. Segundo as pesquisas são necessários apenas 13 milissegundos para
fazer toda essa avaliação. O estradiol é determinante para fertilização, mesmo
que a fêmea ovule, e os homens conseguem detectar o hormônio que determina a
atratividade.
Na avaliação
material, a fêmea vai pesar as habilidades do macho como provedor e capacidade
de ajudar a cuidar da prole. Nesse quesito é analisado a qualidade do ninho,
muitas vezes o macho tem que se dedicar muito, na exibição sexual e
posicionamento hierárquico. Muitas fêmeas no reino animal precisam ganhar
presentes para se acasalar e para avaliar a capacidade de alimentação de seus
filhotes, devem primeiro ser alimentadas. Os sinais
sexuais são selecionados ao longo do tempo aumentando cada vez mais a sua expressão,
justamente para que não haja fraude. Se num primeiro momento a fêmea da ave do
paraíso avaliada a sua cauda relacionando com capacidade de voo, ela a cada
geração selecionou a maior, chegando num ponto que ela tem dificuldade para
voar, e agora avalia a capacidade de sobrevivência mesmo diante dessa
característica exagerada. O mesmo é visto na força do leão marinho. Contudo
deve-se considerar que na nossa espécie, esses sinais já não são mais honestos,
pois o fato de termos criados tinturas, silicone e outras formas de denunciar
sinais desejados sem serem reais, é um engano ao instinto. Se questiona se os
humanos também teriam estruturas exageradas como essas? Na verdade em humanos o
pênis é uma estrutura grande quando comparamos com outros primatas como gorila
e orangotango, provavelmente devido à seleção e a todo peso que ainda é dado a
essa característica. Acredita-se que a generosidade, inteligência,
criatividade, cooperação, comunicação, fala e outros atributos humanos
exagerados quando comparados com outros animais, seja produtos de uma seleção
sexual.
Bom... mesmo a fêmea tendo todos esses critérios
biológicos definidos dentro dela, ela ainda fica insegura se está ou não
fazendo um bom negócio. Se tudo fosso apenas biológico, estaria tudo certo.
Contudo temos um paradoxo, pois ao mesmo tempo que nosso corpo busca o mais
diferente geneticamente ele procura um igual culturalmente. E daí a questão se
complica. Pois deverá adequar os atributos selecionados em um parceiro que tem as
mesmas crenças, os mesmos valores, a mesma criação. Antigamente isso até era
fácil, porém com a globalização passou a ser um problema enorme. E daí como
saber se é ou não o macho certo para quem posso doar meus óvulos? Devemos então
passar para o segundo critério de avaliação, a comparação. Porém não dá para
ficar comparando sempre até se sentir segura. Na natureza há uma média, entre
as passarinhas, elas fazem em torno de quatro comparações e daí decide. Pois se
demorar muito pode concluir que o ideal era o primeiro e ele já não estar mais
disponível. Então melhor pegar o melhor de três, e se lá na frente pintar outra
oportunidade eu vejo o que fazer. Para entender
as estratégias reprodutivas, é necessário entender os sistemas de acasalamento,
a monogamia pode ser temporária ou permanente, mas também existe a poligamia
que é a associação de um macho com várias fêmeas, uma fêmea com vários machos
ou todo mundo com todo mundo. A monogamia extrema é rara, apenas animais como
alguns vermes que se fundem com o corpo da fêmea, dará a certeza que não irá
trair. Além disso precisa considerar que existe a monogamia social e a
genética. A monogamia surgiu pois apenas um dos pais não dava conta de criar a
prole sozinho, precisando da ajuda do parceiro. Logo há um acordo entre o casal
de ficarem juntos até os filhotes estarem criados, mas não está escrito que não
pode rolar uma pulada de cerca, desde que escondida. Logo, a monogamia não é
automática, ela deve ser imposta, pela força, medo, ameaças. Algumas espécies
que são mais vulneráveis preferem se acomodar com o parceiro, mesmo que não
seja dos melhores, do que se arriscar em aventuras extraconjugais.
A monogamia é
muito comum em aves, mais de 90% são monogâmicas, mas especialmente em aves
cujos os filhotes nascem muito prematuros e totalmente dependente dos pais,
assim enquanto uma procura alimento o outro deve ficar no ninho cuidando dos
filhotes. Esse nascimento prematuro tem a ver com o tamanho das aves que
diminuíram. Aves como galinhas, não precisam do macho para ajudar alimentar e
os filhotes nascem maiores, assim ela dá conta sozinha, dispensa o macho. Em
mamíferos, as fêmeas não precisam de ajuda para alimentar, logo, só
permanecerão com o macho caso não consigam cuidar sozinhas da segurança da
prole. Já em peixes, como a fecundação é externa e o macho tem mais certeza da
paternidade, muitos deles se encarregam de cuidar sozinhos. No caso dos
humanos, nós desvirtuamos dos mamíferos, pois em decorrência da modificação da
nossa postura e do aumento do nosso crânio, nossos filhotes nascem muito
prematuros quando comparados com outros mamíferos como cavalos por exemplo. Assim
mesmo que a fêmea amamentar, precisa do macho para buscar alimento, pois não
consegue carregar o bebe e buscar alimentos. Então.....
agora entramos na segunda fase do relacionamento o amor, que é modelada por
substâncias químicas totalmente diferentes da fase da paixão e que tem uma
função totalmente diferente. Segundo
algumas pesquisas a paixão dura de 18 a 36 meses e tem a ver com a saturação
das células cerebrais criando uma tolerância aos neurotransmissores. Depois que
o organismo identificou e confirmou as potencialidades do parceiro ele precisa
tomar uma decisão e se unir com uma meta em comum. A qual na natureza é a reprodução.
Nesse momento toda a euforia precisa ser alterada para estados de confiança e
calma, pois o casal precisa estar unido e confiante no acordo estabelecido
entre eles e estarem dispostos a abrir mão da sua liberdade pela sobrevivência
da prole. Nossa estratégia reprodutiva é muito parecida com das aves por causa
da monogamia. Nessa fase predomina
hormônios do grupo das endorfinas que são como as morfinas que anestesiam. Há
também aqui muita oxitocina, reatando os elos e possibilitando o sentimento de
amor entre o casal, entre pais e filhos e entre irmãos. A oxitocina é conhecida
como o hormônio do amor e da confiança. As mulheres produzem mais do que homens
e são mais sensíveis por ter mais estrogênio. Normalmente apenas ver um rosto
infantil já libera a produção da oxitocina despertando um desejo de cuidar.
Isso é importante em grupos sociais. Mas a mulher também produz oxitocina ao
falar, por isso conversar é importante no estabelecimento de elos afetivos. A
mulher produz muita oxitocina durante o parto, esse hormônio leva a contração
do útero e faz com que a fêmea sinta um amor intenso pelo filhote, mesmo ele
trazendo toda a dor que sentiu no parto e que logo é esquecida. A oxitocina
também é produzida durante a amamentação e vai aumentando cada vez mais o elo
entre mãe e bebe. Os machos produzem muito oxitocina durante o sexo e no
orgasmo, por isso o sexo é tão importante no estabelecimento de elos,
tornando-os mais generosos e apegados ao lar. A vasopressina é um
neurotransmissor também importante para formação de elos. Alguns machos,
possuem poucos receptores para vasopressina, e não se apegam tanto à
família. Atualmente pesquisas tem
mostrado que a inalação da ocitocina aumenta a confiança no outro. O Toque –
homem reage diferente da mulher ao toque de estranhos. O toque tem um contexto
importante na reação de elos e na produção de oxitocina e automaticamente
aumento de confiança. Pesquisas mostram que dormir de conchinha faz bem para o
sistema imunológico, pois diminui o nível de estresse. O beijo é uma constante
pois produz oxitocina e cortisol. Segundo pesquisas os homens tendem a beijar
mais para ganhar favores sexuais ou se reconciliar, enquanto as mulheres buscam
estabelecer e monitorar o status do relacionamento. Segundo a percepção popular
a mulher deve ser dobrada para se entregar ao sexo e o homem ao casamento, por
isso quando duas lésbicas se conhecem dizem que no primeiro encontro rola um
café, e no segundo o caminhão de mudança e no caso de gays no primeiro encontro
sexo, e no segundo, qual seu nome? Maximizando os processos naturais de cada
um.
Quando se fala em cópula-exta-par
em machos deve-se considerar que ele não faz toda essa análise evolutiva, o que
move o macho para traição é a satisfação imediata. Obviamente que ele deverá
pesar também o risco imediato, tanto de perda de tempo e energia, quanto risco de
morrer na disputa. Mas deve-se considerar que quanto menos tempo o macho passa
com a parceira para pular a cerca, ele está deixando-a à disposição de outros
machos. Quando mais a risco a fêmea oferece de traição, mais ele cuida. Os
machos mais atraentes cuidam menos, é como se houvesse uma compensação, já tem
bons genes, logo não precisa cuidar. Quanto menos atrativos, mais ele se dedica
ao lar. Se vive em um lugar com muitas fêmeas, trai mais, agora se o local tem
muitos predadores, melhor ficar cuidando da casa. Os machos não traem por terem
problemas, mas por ser divertido. A
monogamia atualmente é considerada uma estratégia-mito. Antigamente os
pesquisadores se encantavam com o amor que as aves demostravam, formando as
vezes casais para vida toda, inclusive ficando viúvos até a morte. Contudo,
durante uma pesquisa de controle populacional de um pássaro que causava danos
econômicos, se descobriu que o mais fiel casal, não era tão fiel assim. A
invenção dos métodos de detecção de paternidade possibilitou a queda da
monogamia e o surgimento de uma nova denominação: a estratégia mista, chamada
de CEP = cópula-extra-par. Em
algumas aves é visto que pelo menos 5% das cópulas ocorrem com vizinhos e que
8% dos filhotes não são filhos do que se acha pai. Também foi visto a cópula múltipla
com frequência, o que antigamente se acreditava estar relacionada com relação
de elos, hoje se sabe ter a ver com a maior chance de fertilização do macho que
copulou por último. Pesquisas mostram que no Brasil 51% dos homens e 26% das
mulheres traem seus parceiros. Tanto macho quanto a fêmea perde com a traição e
eles tentarão ao máximo coibir o parceiro. Mas em algumas situações algumas
fêmeas aceitam ser a outra, é preciso pesar o que vale mais a pena ter o seu
próprio macho, mas com baixo valor e perspectivas de sucesso para prole, ou
dividir um excelente macho com outra fêmea. Deve-se considerar que machos que
detêm mais de uma fêmea possuem características bem melhores, e como a
proporção natural de machos e fêmea é de 1:1, para cada 10 machos poligênicos,
teremos 9 solteiros.
Já as fêmeas
traem por vários motivos, ela pode ter sido seduzida, coagida, coparticipante
ou iniciadora do processo. E pode estar reivindicando os benefícios genéticos e
materiais que busca para sua prole garantindo fertilidade e seleção. Quando tem
uma ninhada pequena, aumenta a chance de trair na próxima estação reprodutiva.
Elas e eles preferem trair com casados, ele porque deixa o filho para o marido
criar e ela por ter garantia de que já passou pelo controle de qualidade de
outra, e também por que preferem trair com os dominantes, e eles geralmente são
casados, além disso encontrar o melhor parceiro requer tempo e energia, que pode
ser minimizado. Como as espécies territoriais, se ligam muito no material, pode
perder na questão genética, então as chances de trair são maiores. Algumas como
as protisturas pinguins traem em troca de pedras para ninhos. As CEPS são mais
comuns em fêmeas, pois para trair o macho tem que ter bala na agulha, a fêmea
não. Se a fêmea já tem como intenção se separar, as chances de trair são
maiores. Fêmeas bem alimentadas, traem menos. Muitas vezes copulam com outros
machos em busca de favores sexuais e poder entrar no território. Muitas vezes
deixar o macho em dúvida de quem é o pai, evita infanticídio. Quando menor
diversidade tiver, menos trai. A traição é sexo rápido, dispensando todo os
rituais que exigiu do marido. Trai quando fica em dúvida da escolha, tem
preferência por forasteiros. Aspectos culturais visam garantir a fidelidade da
fêmea para acalmar o marido. A fêmea também mantém a copula intra-par visando
tanto reatar elos, quando garantir a fidelidade do macho. Machos e
Fêmeas evitam ser traídos. Os machos têm um desconfiomêtro melhor para detectar
a traição do que as fêmeas. Os machos têm como opção a agressão, forçar a
cópula da fêmea, cuidar menos da prole ou deixar a parceira. O fato é que
quanto mais certeza o macho tem da fidelidade, mais ele cuida. Muitos machos
são zelosos, e em um ambiente de alto risco ele só garante a fidelidade da
fêmea, se literalmente ficar grudado nela. Mas também pode usar estratégicas
como pio de alarmar, tampões, injeção de espermatozoides, feromônios
antiafrodisíado, cópula frequente e adaptação do pênis para retirada de
espermatozoides precedentes. As fêmeas também evitam a traição, é o ciúmes, que
sinalizam que tem donas, mata os filhotes da amante, bate no macho, solicita
sexto na frente da amante, segue o parceiro, solicita sexo frequente, mantem a
sincronia no cio ou se torna uma largadora de ovos.
Bom chegamos
em um ponto crucial. Depois de todos esses argumentos científicos relacionados
com a seleção e todos os inúmeros critérios possíveis de serem utilizados para
deixar a fêmea mais segura na sua escolha, ela ainda está uma dúvida. Neste
caso, ela pode usar uma estratégia que tem sido muito pesquisa e comprovada em
inúmeras espécies anima, inclusive no homem que é a seleção críptica da fêmea:
a atual guerra de espermas. Hoje se sabe que os espermatozoides não são todos
iguais, eles variam em forma e função e, também, que devem ser verdadeiros
guerreiros, pois deve superar muitos obstáculos mecânicos e químicos para
chegar até o tão sonhado óvulo. Existem espermatozoides bloqueadores, matadores
e fertilizadores, cuja combinação e concentração no ejaculado varia conforme o
objetivo. Os fertilizadores representam apenas uma pequena fração e são os que
de fato irão fertilizar os demais compõe um exército que fará a cobertura. Há
também um tipo programado de espermatozoide que serve para destruir os
fertilizadores, são produzidos em situação de estresse. Os machos possuem então
estratégias para driblar a guerra de espermas, dentre elas destaca-se o sexo
oral, presente em quase todas as espécies e servem para identificar uma cópula
prévia. A masturbação para manter o exército sempre pronto para combate, o sexo
de rotina, o movimento do pênis para retirada de espermas velho ou potencial
invasor e o sexo forçado. O estupro é uma estratégia comum a todas as espécies
e tem a ver com a incapacidade de disputa legal pela fêmea.
Para entender
a guerra de espermas precisamos entender como é a morfologia da fêmea, nesse
caso estou exemplificando uma mulher, mas poderia ser outra fêmea. O útero é
uma estrutura que parece uma esponja, com várias criptas. Durante a copula de
300 milhões de espermatozoides liberados, metade será expelido pelo próprio
movimento da vagina. Dos que sobraram 147 milhões serão destruídos pelos glóbulos
brancos da fêmea. Apenas 1 milhão chega até as criptas e 20 mil vai para área
de repouso e fica esperando o óvulo passar. Os bloqueadores ocupam os espaços
para não deixar com que outro potencial macho se aproveite, e os matadores
fazem a ronda. Na área de repouso os espermatozoides podem ficar vivos por
cerca de cinco dias. Espermatozoides masculinos são mais rápidos, porém menos
resistentes e os femininos mais lentos, porém mais resistentes. Há também uma relação entre o ph vaginal e a
seleção do espermatozoide favorecendo um ou outro. Caso a fêmea copule com
outro macho, haverá uma guerra dos espermatozoides, prevalecendo o mais forte.
Por isso o que copula por último tem mais chances. Se o macho ejacula 1 vez por semana ira
disponibiliza 400 milhões de espermatozoides que demoram 2 meses para serem
produzidos. Caso o casal queria uma fertilização e fazem muito sexo, pode ter
um efeito contrário pois espermatozoides demais pode matar o óvulo. O sexo de rotina e a segurança na fidelidade
da fêmea também atrapalham. Outro ponto importante nesse momento é o orgasmo,
pois durante essa fase o útero abaixa e absorve mais fácil os espermatozoides,
contudo esse movimento do útero demora 1 a 2 minutos depois do clímax, porém
depois que ele sobre produz uma capa de muco que dificulta a entrada dos
espermatozoides. As chances de fertilidade durante o orgasmo é de 50 a 90%. Quase
uma em cada três mulheres nunca atingiram o orgasmo, parece ter uma relação com
a genética e juntamente com questões ambientais e emocionais pode estar
relacionada com a seleção sexual. Deve-se lembrar que não é apenas a ovulação
da fêmea que é oculta, mas o clitóris também e esse é mais um desafio para o
teste de qualidade do macho.Mesmo depois
de toda essa batalha do espermatozoide para chegar até o óvulo e conseguir
fertiliza-lo, ainda tem um longo caminho até a nidação. E o corpo da fêmea e as
condições do embrião determinarão ou não a fixação do mesmo. Uma análise
matemática é realizada cujos parâmetros bioquímicos e psicológicos podem ser
determinantes. Em espécies cujo macho compete pela fêmea, e a força e saúde do
macho é fundamental, o corpo da fêmea rejeita embriões masculinos se ela
estiver desnutrida ou se não confiar tanto na capacidade do marido. Mas mesmo
depois da nidação, embriões masculinos e femininos terão desenvolvimento igual
até mais ou menos o terceiro mês, cuja produção de testosterona para os
masculinos mudará o rumo do desenvolvimento dos órgãos genitais e de seus
cérebros, equívocos cometidos por causas genéticas, ambientais ou psicológicas
podem fazer com que meninos nasçam com cabeça de meninas ou vice-versa.
Diante de toda
essa contextualização se questiona o que seria natural para o humano. Nós temos
alguns atributos normais para nós como a união em pares, o casamento, o harém,
o sexo escondido, a ovulação oculta e a menopausa. Se acredita que nossa
ovulação oculta, vem do risco do parto.
Acredita-se que inicialmente nós tínhamos um sistema de acasalamento
promiscuo que visava a proteção da prole, mas que mudamos para monogamia por
precisar de todo cuidado de um parceiro apenas. Existem várias teorias que tentam explicar
como chegamos ao sistema predominante. Nesse cenário nossas ancestrais seriam
como os chimpanzés, teoricamente teria um macho alfa, mas que escondido
copulava com outros, para que assim houvesse uma dúvida de quem era o pai e
todos ajudassem a cuidar. Contudo a ovulação oculta surgida colocou o macho em
dúvida de quando a fêmea estava ovulando e deveria ficar próximo o tempo todo
para garantir a ovulação. Dessa forma a fêmea conseguiu atrair um macho só para
si que a ajudasse a cuidar da sua prole e assim... surgiu o amor!
Sugestão de Leitura e referências de obras usadas na concepção desse
texto: